Amor, morte, poesia, política, actualidade, futebol, efemérides, solidão, paz, humor, musica...tudo e nada; Here we talk about life, love, death, On this day in History, poetry, politics, football (soccer), solitude, peace, humour, music ... nothing and all.
Não me lembro do dia em que nasci; não sei em que dia morrerei. Vem, minha doce amiga, vamos beber deste copo e esquecer a nossa incurável ignorância.
(Omar Kayyam)
... Verdadeiro valor não dão à gente: Melhor é merecê-los sem os ter Que possuí-los sem os merecer. (Os Lusíadas XCIII, Camões)
Um dia inventei-te, às vezes reinvento-te,
noutras não sei quem és, mas estás sempre comigo!
How extremely stupid not to have thought of that!
Que imensa estupidez não ter pensado nisso antes!
(Thomas Henry Husley)
Meu amor meu amor
meu corpo em movimento
minha voz à procura
do seu próprio lamento.
Meu limão de amargura meu punhal a escrever
nós parámos o tempo não sabemos morrer
e nascemos nascemos
do nosso entristecer.
Meu amor meu amor
meu pássaro cinzento,
a chorar a lonjura,
do nosso afastamento
Meu amor meu amor
meu nó de sofrimento
minha mó de ternura
minha nau de tormento
este mar não tem cura este céu não tem ar
nós parámos o vento não sabemos nadar
e morremos morremos
devagar devagar.
José Carlos Pereira Ary dos Santos (n. em São Sebastião da Pedreira, Lisboa, a 7 de Dezembro de 1936 — m. 18 de Janeiro de 1984)
Quando Lisboa anoitece Como um veleiro sem velas Alfama toda parece Uma casa sem janelas Aonde o povo arrefece
É numa água-furtada No espaço roubado à mágoa Que Alfama fica fechada Em quatro paredes de água Quatro paredes de pranto
Quatro muros de ansiedade Que à noite fazem o canto Que se acende na cidade Fechada em seu desencanto Alfama cheira a saudade
Alfama não cheira a fado Cheira a povo, a solidão, Cheira a silêncio magoado Sabe a tristeza com pão Alfama não cheira a fado Mas não tem outra canção.
Minha mãe que não tenho meu lençol de linho de carinho de distância água memória viva do retrato que às vezes mata a sede da infância.
Ai água que não bebo em vez do fel qua a pouco e pouco me atormenta a língua. Ai fonte que não oiço ai mãe ai mel da flor do corpo que me traz à míngua.
De que Egito vieste? De qual Ganges? De qual pai tão distante me pariste minha mão minha dívida de sangue minha razão de ser violento e triste.
Minha mãe que não tenho minha força sumo da fúria que fechei por dentro serás sibila virgem buda corça ou apenas um mundo em que não entro?
Minha mãe que não tenho inventa-me primeiro: constrói a casa a lenha e o jardim e deixa que o teu fumo que o teu cheiro te façam conceber dentro de mim.
Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia
Meu amor, meu amor Minha estrela da tarde Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde Meu amor, meu amor Eu não tenho a certeza Se tu és a alegria ou se és a tristeza Meu amor, meu amor Eu não tenho a certeza
Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram
Meu amor, meu amor Minha estrela da tarde Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde Meu amor, meu amor Eu não tenho a certeza Se tu és a alegria ou se és a tristeza Meu amor, meu amor Eu não tenho a certeza
Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!
José Carlos Pereira Ary dos Santos (n. em São Sebastião da Pedreira, Lisboa, a 7 de Dezembro de 1936 — m. 18 de Janeiro de 1984)
Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia
Meu amor, meu amor Minha estrela da tarde Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde Meu amor, meu amor Eu não tenho a certeza Se tu és a alegria ou se és a tristeza Meu amor, meu amor Eu não tenho a certeza
Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram
Meu amor, meu amor Minha estrela da tarde Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde Meu amor, meu amor Eu não tenho a certeza Se tu és a alegria ou se és a tristeza Meu amor, meu amor Eu não tenho a certeza
Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!
José Carlos Ary dos Santos (n. em Lisboa a 7 Dez. 1937; m. 18 Jan 1984)
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O 102º Jantar de Amizade UNICEPE a realizar hoje, segunda feira 18 de Janeiro, pelas 19h 45m tem por tema "ARY, saudade e combate".
O escritor César Príncipe intervirá sobre a obra de Ary - que sempre se recusou a ser um "poeta castrado" - e assinalará os 76 anos da Revolta da Marinha Grande, um marco na luta do povo português contra o salazarismo. A actriz Cidália Santos e o actor Amílcar Mendes darão voz a poemas de Ary. A entrada é livre.
Paralelamente decorre uma exposição fotográfica sobre o Poeta de Abril.
A partir das 21h30m a entrada é livre. Para o jantar, às 19h45m, é necessária a inscrição, pessoalmente ou para o e-mail Unicepe@net.novis.pt
Tu que dormes a noite na calçada de relento Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento És meu irmão amigo És meu irmão
E tu que dormes só no pesadelo do ciúme Numa cama de raiva com lençóis feitros de lume E sofres o Natal da solidão sem um queixume És meu irmão amigo És meu irmão
Natal é em Dezembro Mas em Maio pode ser Natal é em Setembro É quando um homem quiser Natal é quando nasce uma vida a amanhecer Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher
Tu que inventas ternura e brinquedos para dar Tu que inventas bonecas e combóios de luar E mentes ao teu filho por não os poderes comprar És meu irmão amigo És meu irmão
E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei És meu irmão amigo És meu irmão
Natal é em Dezembro Mas em Maio pode ser Natal é em Setembro É quando um homem quiser Natal é quando nasce uma vida a amanhecer Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher
Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia
Meu amor, meu amor Minha estrela da tarde Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde Meu amor, meu amor Eu não tenho a certeza Se tu és a alegria ou se és a tristeza Meu amor, meu amor Eu não tenho a certeza
Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram
Meu amor, meu amor Minha estrela da tarde Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde Meu amor, meu amor Eu não tenho a certeza Se tu és a alegria ou se és a tristeza Meu amor, meu amor Eu não tenho a certeza
Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!
José Carlos Ary dos Santos (n. em Lisboa a 7 Dez. 1936; m. 18 Jan 1984)
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«Isso mesmo: rasgando o desespero com gritos e com cóleras, juntando a sua voz à voz do imenso protestar colectivo - eis Ary dos Santos: cabotino, espectaculoso, truculento, corajoso como poucos; cabeça alevantada, punho cerrado e erguido, olhar de fogo, a chispa indomável de uma labareda interior que o consumia: E, também; um grande poeta - acentue-se: Um grande poeta português, da linhagem de um Guerra Junqueiro, de um Gomes Leal, de um Cesário Verde ou de um Gabriel Marujo ou de um Linhares Barbosa (porque não?), todos na mesma fileira, todos eles empenhados, de uma maneira ou de outra, em restituir a voz àqueles a quem a voz tinham roubado» (Baptista Bastos daqui).
Carlos do Carmo canta José Carlos Ary dos Santos:
Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia
Meu amor, meu amor Minha estrela da tarde Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde Meu amor, meu amor Eu não tenho a certeza Se tu és a alegria ou se és a tristeza Meu amor, meu amor Eu não tenho a certeza
Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram
Meu amor, meu amor Minha estrela da tarde Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde Meu amor, meu amor Eu não tenho a certeza Se tu és a alegria ou se és a tristeza Meu amor, meu amor Eu não tenho a certeza
Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!
Os putos
Uma bola de pano, num charco Um sorriso traquina, um chuto Na ladeira a correr, um arco O céu no olhar, dum puto.
Uma fisga que atira a esperança Um pardal de calções, astuto E a força de ser criança Contra a força dum chui, que é bruto.
Parecem bandos de pardais à solta Os putos, os putos São como índios, capitães da malta Os putos, os putos Mas quando a tarde cai Vai-se a revolta Sentam-se ao colo do pai É a ternura que volta E ouvem-no a falar do homem novo São os putos deste povo A aprenderem a ser homens.
As caricas brilhando na mão A vontade que salta ao eixo Um puto que diz que não Se a porrada vier não deixo
Um berlinde abafado na escola Um pião na algibeira sem cor Um puto que pede esmola Porque a fome lhe abafa a dor.
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Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia
Meu amor, meu amor Minha estrela da tarde Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde Meu amor, meu amor Eu não tenho a certeza Se tu és a alegria ou se és a tristeza Meu amor, meu amor Eu não tenho a certeza
Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram
Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!"
Meu amor meu amor meu corpo em movimento minha voz à procura do seu próprio lamento.
Meu limão de amargura meu punhal a crescer nós parámos o tempo não sabemos morrer e nascemos nascemos do nosso entristecer.
Meu amor meu amor meu pássaro cinzento A chorar a lonjura do nosso afastamento
Meu amor meu amor meu nó de sofrimento minha mó de ternura minha nau de tormento
Este mar não tem cura este céu não tem ar nós parámos o vento não sabemos nadar e morremos morremos devagar devagar.
José Carlos Ary dos Santos (n. em Lisboa a 7 Dez. 1936; m. 18 Jan 1984)
Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia
Meu amor, meu amor Minha estrela da tarde Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde Meu amor, meu amor Eu não tenho a certeza Se tu és a alegria ou se és a tristeza Meu amor, meu amor Eu não tenho a certeza
Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram
Meu amor, meu amor Minha estrela da tarde Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde Meu amor, meu amor Eu não tenho a certeza Se tu és a alegria ou se és a tristeza Meu amor, meu amor Eu não tenho a certeza
Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!
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Com um beijinho para a Tally minha amiga secreta na iniciativa da Comunidade dos Blogueiros. No âmbito da mesma iniciativa gostava ainda de agradecer os lindos presentes da amiga Maria Jorge Aloh Mary .
Tu que dormes a noite na calçada de relento Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento És meu irmão amigo És meu irmão
E tu que dormes só no pesadelo do ciúme Numa cama de raiva com lençóis feitos de lume E sofres o Natal da solidão sem um queixume És meu irmão amigo És meu irmão
Natal é em Dezembro Mas em Maio pode ser Natal é em Setembro É quando um homem quiser Natal é quando nasce uma vida a amanhecer Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher
Tu que inventas ternura e brinquedos para dar Tu que inventas bonecas e comboios de luar E mentes ao teu filho por não os poderes comprar És meu irmão amigo És meu irmão
E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei És meu irmão amigo És meu irmão
Natal é em Dezembro Mas em Maio pode ser Natal é em Setembro É quando um homem quiser Natal é quando nasce uma vida a amanhecer Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher
Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia
Meu amor, meu amor Minha estrela da tarde Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde Meu amor, meu amor Eu não tenho a certeza Se tu és a alegria ou se és a tristeza Meu amor, meu amor Eu não tenho a certeza
Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram
Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!"
Meu amor meu amor meu corpo em movimento minha voz à procura do seu próprio lamento.
Meu limão de amargura meu punhal a crescer nós parámos o tempo não sabemos morrer e nascemos nascemos do nosso entristecer.
Meu amor meu amor meu pássaro cinzento A chorar a lonjura do nosso afastamento
Meu amor meu amor meu nó de sofrimento minha mó de ternura minha nau de tormento
Este mar não tem cura este céu não tem ar nós parámos o vento não sabemos nadar e morremos morremos devagar devagar.
José Carlos Ary dos Santos (n. em Lisboa a 7 Dez. 1936; m. 18 Jan 1984)