Um Filme de TOM GRIES
Com Charlton Heston, Joan Hackett, Donald Pleasence, Lee Majors, Bruce Dern, Ben Johnson, Slim Pickens, etc.
EUA / 108 min / COR /
16X9 (1.85:1)
Estreia na GB (Londres) a 14/12/1967
Estreia nos EUA a 10/4/1968
Estreia em MOÇAMBIQUE (LM, Teatro Manuel Rodrigues) a 27/4/1969
Depois de terem, durante muitos anos, cantado a epopeia da descoberta do Oeste, os americanos resolveram-se a escrever-lhe a história. Entre a epopeia e a história tal-qual foi vivida, no seu dia-a-dia quotidiano, começou a debater-se o western realmente ianque. Os realizadores começaram a aprofundar a descrição serena de um Oeste nem sempre grandioso, nem sempre heróico, nem sempre jovem. "Will Penny" prolonga o caminho aberto por Ford, Mann e Peckinpah, indo ao encontro do cowboy solitário, desiludido e velho (Will Penny tem 50 anos e recusa o amor que se lhe oferece, por medo, por impossibilidade, mas também porque se sente um homem ultrapassado). Em "Will Penny" não existe acção épica, nem violência explosiva, não há grandes cometimentos nem façanhas a imortalizar. Tom Gries preferiu a tudo isso um bom naco de paisagen inóspita, com neve, frio e vento, preferiu os sorrisos, as pequenas dores, as desilusões diárias, as fraquezas consentidas. Às violentas cenas de pancadaria usuais, preferiu a luta corpo a corpo, imprecisa, incaracterística e desgastante. À luta com as mãos (perguntam a Will Penny: «tu não sabes combater com as mãos?...»), antepõe-lhe a eficácia de uma frigideira na cabeça ou de um pontapé na cara. Ao jovem combativo e vitorioso (que concretiza o ideal americano) prefere Gries o velho sem família, ressequido por dentro e por fora. Ao happy-end possível (e que até nem escandalizaria, nas circunstâncias em que termina o filme) prefere o desencontro irreversível, a solidão conscientemente assumida. Ao brilhantismo gritante de tantos e tantos exemplos prefere Tom Gries (que com 45 anos de idade, aqui se estreava no cinema, vindo da TV) o documentarismo escrupuloso, feito de pequenos apontamentos, de pormenores, de elementos dispersos.
Para a realização deste filme simples, Tom Gries (1922-1977) rodeou-se de uma óptima equipa de trabalho: um fotógrafo esplêndido, Lucien Ballard (1904-1988), de um músico inspirado, David Raksin (1912-2004) e de um grupo de intérpretes notáveis, com Charlton Heston (1923-2008) a compor, uma vez mais, uma figura vigorosa, entrelaçada de nervos e emoção. Mesmo os seus muitos detractores (por razões essencialmente políticas, note-se) tiveram sempre muita dificuldade em não reconhecer os méritos óbvios desse actor incontornável que durante toda a sua brilhante carreira se desdobrou de filme para filme, com uma versatilidade verdadeiramente invulgar. Ao seu lado, Donald Pleasence (1919-1995) compõe uma personagem memorável, um pregador homicida e louco, e Joan Hackett, uma actriz que morreu muito cedo, apenas com 49 anos (1934-1983) completa o trio principal com a sua habitual presença muito pouco convencional e sempre perfeccionista. "Will Penny", no final da sua visualização, irá entusiasmar os apreciadores do bom cinema, daquele que é sinónimo de inteligência, maturidade estilística e fluência narrativa, que o guardarão na memória durante muitos e bons anos. Ao contrário dos fãs dos westerns tradicionais, onde imperam a violência epidérmica e os efeitos imediatos e fáceis, que rapidamente terão tendência a esquecê-lo.
CURIOSIDADES:
- «The script for "Will Penny" was one of the best I ever read. It made a marvelous westen», referiu um dia Charlton Heston, que nunca escondeu a sua preferência por este filme, de entre toda a sua filmografia.
- Bruce Dern referiu a propósito de ter trabalhado com Heston neste filme: «I got to really like the guy. A lot of people told me that I wouldn't like him, but I liked him, and he tried very hard. I mean, "Will Penny" is far and away the best thing he's ever done.»
- Eva Marie Saint e Lee Remick recusaram o papel de Catherine Allen.
- O argumento é baseado no episódio "Line Camp" (também dirigido por Tom Gries) da série televisiva "The Westerner" (criada por Sam Peckinpah em 1960).
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