Um filme de RICHARD CURTIS
Com Hugh Grant, Colin Firth, Liam Neeson, Emma Thompson, Lúcia Moniz, Martine McCutcheon, Bill Nighy, Andrew Lincoln, Laura Linney, Alan Rickman, Billy Bob Thornton, Heike Makatsch, Rowan Atkinson, Joanna Page, Martin Freeman, etc.
UK-US-FRANCE
/ 135 min / COR /
16X9 (2.35:1)
16X9 (2.35:1)
Estreia
no CANADÁ: 7/9/2003 (Toronto Festival)
Estreia
nos EUA: 6/11/2003
Estreia
em PORTUGAL: 14/11/2003
“Four Weddings And A Funeral” (1994), “Notting
Hill” (1999), “Bridget Jones’s Diary” (2001): três comédias românticas muito populares, cujos enredos beneficiaram, e muito, da escrita da mesma
pessoa: o argumentista e produtor neo-zelandês Richard Curtis (nascido em Wellington, a 8 de Novembro de 1956, mas naturalizado britânico),
que aqui se aventurava no seu primeiro filme como realizador. Voltaria depois a
dirigir mais duas comédias (onde, como habitualmente, assina os respectivos
argumentos): “The Boat That Rocked” (2009) e “About Time” (2013), sem que
nenhuma delas conseguisse atingir o brilhantismo desta sua estreia. Passaram-se
entretanto 12 anos e “Love Actually”
parece cada vez mais condenado a
partilhar o lugar que até agora só “It’s A Wonderful Life” (1946) tinha
legítimo acesso: o do filme natalício por excelência. Cinquenta e sete anos
separam estas duas pérolas do cinema. E por isso, “Love Actually” ainda é capaz de ser preterido a favor do filme de
Capra. Mas daqui a mais meio século, quem sabe o que acontecerá? Eu já não
estarei por cá para o comprovar, mas acredito que nessa altura seja muito difícil
eleger entre os dois o companheiro ideal para um dia de Natal. A solução,
provavelmente, será optar-se por uma sessão dupla…
“Love Actually” é uma delícia de filme, uma
autêntica festa dos sentidos, na qual podemos participar sózinhos ou (bem)
acompanhados: o resultado será sempre a mesma sensação de felicidade. Como
escreveu o meu querido amigo Sérgio Vaz no seu blogue “50 anos de filmes”, «é um dos melhores filmes que já foram feitos na história. É para se
rever sempre que a gente se sentir triste, angustiado, desesperançado, achando
que a humanidade é uma invenção que não deu certo (…) É um filme inteligente,
feito para maiores de idade. É absolutamente cheio de simpatia pelas pessoas,
com aquele olhar com que, no auge do flower
power, do faça amor não faça guerra, Donovan pedia para que as pessoas
enxergassem os outros seres humanos, seus pequenos erros, falhas, defeitos,
imprecisões, dúvidas – be not hard for life is short and nothing is given to
men.»
Mas
afinal de que trata “Love Actually”, para ser assim um filme tão especial? De muitas coisas, de muitas situações, incluídas numa dezena de histórias
paralelas, que ocorrem em Londres, nas semanas que antecedem a quadra
natalícia. É o aspirante a estrela rock (Billy
Nighy) que promete actuar nu na televisão caso a sua canção (uma versão natalícia de “Love Is All Around”, tema
popularizado nos anos 60 pelo grupo britânico The Troggs) chegue a nº 1 do hit-parade (e não é que chega mesmo?): é
o casal à beira da infidelidade conjugal (Emma
Thompson e Alan Rickman), devido
ao assédio sexual que a boazona da secretária (Heike Makatsch) do marido lhe vai fazendo descaradamente; um
escritor (Colin Firth) que depois de
apanhar a mulher em flagrante com o próprio irmão, se retira para o campo,
vindo depois a apaixonar-se pela empregada portuguesa (Lúcia Moniz); um viúvo recente (Liam Neeson), que procura ajudar o pequeno enteado (Thomas Sangster) na conquista das
atenções de uma garota americana; o tímido padrinho de casamento (Andrew Lincoln, que sete anos mais
tarde viria a encarnar a personagem principal da série de grande sucesso “The
Walking Dead”) que morre de amores pela noiva (Keira Knightley) do seu melhor amigo (a declaração silenciosa de
amor, apenas com recurso a cartazes, é um dos pontos altos do filme); a dupla
de actores de filmes pornográficos (Martin
Freeman e Joanna Page) que
sentem dificuldades em iniciarem um relacionamento amoroso; a empregada de uma
editora (Laura Linney) que troca o
colega de trabalho (Rodrigo Santoro)
para prestar assistência a um irmão demente; o garanhão (Kris Marshall) que parte para os Estados Unidos em busca do maior
número possível de americanas fogozas; o primeiro-ministro britânico (Hugh Grant) que manda o presidente
americano foder-se e se apaixona pela sua gerente de catering (Martine McCutcheon).
Sejamos
claros: “Love Actually” está cheio
de imprecisões, de coisas que nunca aconteceriam na vida real. Alguma vez um
primeiro-ministro iria de porta em porta em busca da funcionária
pela qual se sentia atraído? Ou dois actores de filmes pornográficos teriam
qualquer problema em fornicar fora dos estúdios? Alguma mulher deitaria tudo a
perder com o homem que deseja, só para cuidar do irmão? Após conseguir atingir
o estrelato, algum cantor iria passar o Natal a sós com o amigo de longa data?
E a caricatura que o filme faz dos portugueses, tem algum cabimento? Mas a
verdade…, a verdade é que deitamos tudo isso para trás das costas, trocamos o
inverosímil pelo prazer que o filme nos faz sentir, pelo optimismo que
extravasa. Por uma vez, queremos acreditar que, apesar de todas aquelas complicações
amorosas, tudo acaba bem, e que o mundo é mesmo assim. Não é nada, bem o
sabemos, mas o que é que isso importa?
CURIOSIDADES:
-
As filmagens no aeroporto de Heathrow (início e final do filme) foram feitas
sem recurso a quaisquer figurantes, durante uma semana. A inclusão dos vários
sketches foi devidamente autorizada pelas pessoas envolvidas.
-
Durante uma conferência de imprensa, Hugh
Grant volta-se para o presidente dos Estados Unidos e atira-lhe um sonoro Fuck-off. Tony Blair,
na altura o verdadeiro primeiro
ministro britânico, foi questionado sobre a situação, tendo respondido: «I know there’s a bit of us that would like
me to do a Hugh Grant in “Love Actually” and tell America where to get off. But
the difference between a good film and real life is that in real life there’s
the next day, the next year, the next lifetime to contemplate the ruinous
consequences of easy applause»
- O
DVD do filme foi o video mais alugado em Inglaterra em 2004.
- O
personagem de Liam Neeson, Daniel,
que perde a mulher ainda jovem, é vidrado na Claudia Schiffer. Em tom de
brincadeira até diz que uma das condições que a mulher lhe impôs para ir ao
funeral dela, era que fosse acompanhado pela supermodelo. Quase no fim do
filme, após a festa de Natal, Daniel trava conhecimento com a mãe de um colega
do enteado, mostrando interesse num eventual caso futuro. Ora, quem interpreta
esse papel é precisamente Claudia Schiffer, que recebeu 200 mil libras apenas
por essa pequena aparição.
- Emma Thompson e Hugh Grant são irmãos no filme. Mas já foram amantes no filme “Sensibilidade
e Bom Senso” (1995)
- Bill Nighy ganhou o BAFTA para o melhor
actor secundário. Emma Thompson
também foi nomeada para a categoria de melhor actriz secundária, mas viria a
perder para Renée Zellweger em “Cold Mountain”. O filme teve ainda duas
nomeações para os Globos de Ouro, nas categorias de melhor comédia ou musical e
melhor argumento (Richard Curtis).
Ver outros prémios aqui.
- A banda-sonora de “Love Actually” está recheada de belas canções, destacando-se (indicam-se
os intérpretes entre parênteses): “All You Need Is Love” (Lynden David Hall), “Turn
Me On” (Norah Jones), “Songbird” (Eva Cassidy), “Both Sides Now” (Joni
Mitchell), “White Christmas” (Otis Redding), “All I Want For Christmas Is You”
(Olivia Olson), “God Only Knows” (Beach Boys), e, claro, “Christmas Is All
Around” (Bill Nighy).