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segunda-feira, junho 18, 2012

TRIANGLE (2009)


TRIÂNGULO DO MEDO
Um filme de Christopher Smith

Com Melissa George, Joshua McIvor, Jack Taylor, Michael Dorman, Henry Nixon, Rachael Carpani, Emma Lung, etc.


GB-AUSTRÁLIA / 99 min / 16X9 (2.35:1)



Estreia na GB em 27/8/2009
(Film 4 Frightfest)
Estreia nos EUA a 24/10/2009
(Screamfest Film Festival)
Estreia em PORTUGAL a 3/10/2010
(Motel Horror Film Festival)

Jess [to Tommy]: «Oh you're just having a bad dream, that's all baby. That's all it was. Bad dreams make you think you're seeing things that you haven't. You know what I do when I have a bad dream? I close my eyes and I think of something nice - like being here with you»

Jess (Melissa George), mãe solteira de uma criança autista, embarca com uns amigos num pequeno iate para gozarem um dia de Verão ao largo da Flórida. É uma solarenga manhã de sábado, mas a passeata em breve se irá tornar no pior dos pesadelos. Inexplicavelmente o vento deixa de se fazer sentir e pouco depois uma violenta tempestade irrompe do nada virando a pequena embarcação. Um dos seis velejadores desaparece no mar e os cinco sobreviventes ficam sentados em cima do casco, virado do avesso, à espera de uma eventual salvação. Salvação que chega pouco depois, na forma de um navio antigo, de nome Aeolus (o deus dos ventos na mitologia grega). Sobem aliviados pela escada lateral, mas rapidamente se vêm imersos numa grande inquietação, ao constatarem a inexistência de vivalma a bordo. Jess, em particular, é assolada por sensações contínuas de “déjà vu” ao percorrer os longos e desertos corredores (inspirados por certo em “The Shining” de Kubrick - e não são a única referência ao filme do mestre). Os acontecimentos precipitam-se e as mortes começam a suceder-se…
Christopher Smith, realizador inglês nascido em Bristol [1970], tinha assinado até agora apenas duas longas-metragens, ambas localizadas nos domínios do filme de horror: “Creep / O Túnel do Medo” [2004] e “Severance / Mutilados” [2006]. Este seu terceiro trabalho (onde, à semelhança dos antecessores, assina de igual modo o argumento) afasta-se um tanto ou quanto do género, constituindo-se antes num excitante thriller psicológico. Nunca exibido comercialmente em Portugal (apenas passou no Motel de 2010), “Triangle” (“Triângulo do Medo” no Brasil) é um daqueles filmes que, mal acabados de ver, nos dão de imediato uma grande vontade de os revermos logo de seguida. Estou a lembrar-me de “The Sixth Sense” [1999], “Memento” [2000], “Identity” [2003], “Shutter Island” [2010] ou "Source Code" [2011], por exemplo. Tudo filmes que apenas no seu términus nos dão "a chave do enigma". Como acontece neste também.
É difícil falar de “Triangle” sem caír de imediato nos chamados spoilers. Mas pode-se falar num filme circular, vicioso, onde a sensação de “déjà vu” é levada a extremos inusitados e onde o suspense se relaciona directamente com situações vividas em moto-contínuo (perpetuum mobile, em latim), mas sempre de modos e perspectivas diferentes. Jess é o centro à volta do qual tudo gira, mas um centro mutável, em constante disseminação. No final a maioria das peças do puzzle encaixam na perfeição (daí a necessidade já referida de uma segunda visão), mas felizmente nem tudo tem uma explicação óbvia, ficando muita coisa entregue à interpretação de cada espectador. E isso apesar de Christopher Smith ter construído o seu filme de um modo extremamente sólido e coerente.
É inútil, portanto, tentar racionalizar-se este filme que, de certo modo, poderá ser visto como uma metáfora sobre a punição. Segundo o próprio realizador, “Triangle” é uma espécie de pesadelo que só a heroína, Jess, pode compreender. Certo, podemos não ter direito à plenitude dessa compreensão, mas isso não impede que possamos usufruir do prazer que é assistirmos a este pedaço de cinema. Um filme diferente, original, inteligentemente escrito e habilmente realizado, com uma fotografia luminosa, interpretado por uma magnífica (e convincente) Melissa George (a actriz australiana de “The Amityville Horror” [2005], “30 Days of Night” [2007] ou “The Betrayed” [2008]) e pautado por uma banda-sonora envolvente, lembrando por vezes a colaboração Hitchcock-Hermann, que tantos frutos deu no passado. Será preciso acrescentar mais alguma coisa para irem a correr encomendar o DVD ou o Blu-ray à vossa loja preferida da internet?