Um filme de Christopher Smith
Com Melissa George, Joshua McIvor, Jack Taylor, Michael Dorman, Henry Nixon, Rachael Carpani, Emma Lung, etc.
GB-AUSTRÁLIA / 99 min / 16X9 (2.35:1)
Estreia na GB em 27/8/2009
(Film 4 Frightfest)
Estreia nos EUA a 24/10/2009
(Screamfest Film Festival)
Estreia em PORTUGAL a 3/10/2010
(Motel Horror Film Festival)
Jess [to Tommy]: «Oh you're just having a bad dream, that's
all baby. That's all it was. Bad dreams make you think you're seeing things
that you haven't. You know what I do when I have a bad dream? I close my eyes
and I think of something nice - like being here with you»
Jess
(Melissa George), mãe solteira de
uma criança autista, embarca com uns amigos num pequeno iate para gozarem um
dia de Verão ao largo da Flórida. É uma solarenga manhã de sábado, mas a
passeata em breve se irá tornar no pior dos pesadelos. Inexplicavelmente o
vento deixa de se fazer sentir e pouco depois uma violenta tempestade irrompe
do nada virando a pequena embarcação. Um dos seis velejadores desaparece no mar
e os cinco sobreviventes ficam sentados em cima do casco, virado do avesso, à
espera de uma eventual salvação. Salvação que chega pouco depois, na forma de
um navio antigo, de nome Aeolus (o deus dos ventos na mitologia grega). Sobem
aliviados pela escada lateral, mas rapidamente se vêm imersos numa grande
inquietação, ao constatarem a inexistência de vivalma a bordo. Jess,
em particular, é assolada por sensações contínuas de “déjà vu” ao percorrer os
longos e desertos corredores (inspirados por certo em “The Shining” de Kubrick - e não são a única referência ao filme do
mestre). Os acontecimentos precipitam-se e as mortes começam a suceder-se…
Christopher Smith, realizador inglês nascido em
Bristol [1970], tinha assinado até agora apenas duas longas-metragens, ambas
localizadas nos domínios do filme de horror: “Creep / O Túnel do Medo” [2004] e “Severance / Mutilados” [2006]. Este seu terceiro trabalho (onde, à
semelhança dos antecessores, assina de igual modo o argumento) afasta-se um
tanto ou quanto do género, constituindo-se antes num excitante thriller psicológico. Nunca exibido
comercialmente em Portugal (apenas passou no Motel de 2010), “Triangle” (“Triângulo do Medo” no
Brasil) é um daqueles filmes que, mal acabados de ver, nos dão de imediato uma
grande vontade de os revermos logo de seguida. Estou a lembrar-me de “The Sixth Sense” [1999], “Memento” [2000], “Identity” [2003], “Shutter
Island” [2010] ou "Source Code" [2011], por exemplo. Tudo filmes que apenas no seu términus nos dão "a chave do enigma". Como acontece neste também.
É
difícil falar de “Triangle” sem caír de imediato nos chamados spoilers. Mas pode-se falar num filme
circular, vicioso, onde a sensação de “déjà vu” é levada a extremos inusitados
e onde o suspense se relaciona directamente com situações vividas em moto-contínuo (perpetuum mobile, em latim),
mas sempre de modos e perspectivas diferentes. Jess é o centro à volta do qual
tudo gira, mas um centro mutável, em constante disseminação. No final a maioria
das peças do puzzle encaixam na
perfeição (daí a necessidade já referida de uma segunda visão), mas felizmente nem
tudo tem uma explicação óbvia, ficando muita coisa entregue à interpretação de
cada espectador. E isso apesar de Christopher
Smith ter construído o seu filme de um modo extremamente sólido e coerente.
É
inútil, portanto, tentar racionalizar-se este filme que, de certo modo, poderá
ser visto como uma metáfora sobre a punição. Segundo o próprio realizador, “Triangle”
é uma espécie de pesadelo que só a heroína, Jess, pode compreender. Certo, podemos
não ter direito à plenitude dessa compreensão, mas isso não impede que possamos
usufruir do prazer que é assistirmos a este pedaço de cinema. Um filme
diferente, original, inteligentemente escrito e habilmente realizado, com uma fotografia luminosa, interpretado por uma magnífica (e convincente) Melissa George (a actriz australiana de “The Amityville Horror” [2005],
“30 Days of Night” [2007] ou “The
Betrayed” [2008]) e pautado por uma banda-sonora envolvente, lembrando por
vezes a colaboração Hitchcock-Hermann, que tantos frutos deu no passado. Será
preciso acrescentar mais alguma coisa para irem a correr encomendar o DVD ou o
Blu-ray à vossa loja preferida da internet?