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quinta-feira, fevereiro 02, 2012

THE END OF THE AFFAIR (1999)

O FIM DA  AVENTURA
Um Filme de NEIL JORDAN




Com Ralph Fiennes, Julianne Moore, Stephen Rea


GB-EUA / 102 min / COR / 
16X9 (1.85:1)


Estreia nos EUA a 2/12/1999
Estreia em Portugal a 18/2/2000



Diz-se da eternidade que é, não uma extensão do tempo, 
mas uma ausência dele.
Os amantes ciumentos são mais respeitáveis e menos ridículos que os maridos ciumentos. Os amantes traídos sáo trágicos, nunca são cómicos. (Graham Green)

Maurice: «I'm jealous of this stocking»
Sarah: «Why?»
Maurice: «Because it does what I can't. Kisses your whole leg.
And I'm jealous of this button»
Sarah: «Poor, innocent button»
Maurice: «It's not innocent at all. It's with you all day. I'm not»
Sarah: «I suppose you're jealous of my shoes?»
Maurice: «Yes»
Sarah: «Why?»
Maurice: «Because they'll take you away from me»

Esta é a segunda e feliz adaptação ao cinema de “The End of the Affair”, um dos melhores romances de Graham Greene, cuja narrativa semi-autobiográfica dramatiza a relação do autor com Catherine Walston. Em 1955, Edward Dmytryk fez a primeira versão com Van Johnson e Deborah Kerr nos principais papéis. Neil Jordan pode agora considerar-se com mais sorte ao poder contar com Ralph Fiennes e sobretudo Julianne Moore para os papeis dos dois amantes. Sem esquecer Stephen Rea, que compõe de igual modo magistral a figura do marido enganado cujo amor pela mulher é capaz de aguentar qualquer sacrifício.
Esta é uma história de amor. Do amor das personagens, do amor dado pelos intérpretes, do amor pelos curtos segundos que só o cinema parece conseguir filmar. Mas todo o filme gira também à volta da culpa, essa consequência natural de um catolicismo tortuoso, tão comum na época e uma das imagens de marca dos romances de Greene. Culpa de amar e ser amado, culpa de desejar a felicidade por cima das convenções mundanas. Os personagens movem-se em terrenos desgastados pela moral vigente, que faz cansar e até desesperar quem procura libertar-se da tutela do divino e viver simplesmente uma vida terrena, em toda a sua plenitude.
Neil Jordan confirma mais uma vez o amor com que dirige os seus actores cujos desempenhos são essenciais na elegante fluidez deste filme admirável. A realização chega a atingir patamares poéticos de um lirismo raro no cinema da actualidade, apesar de não se coibir de mostrar o lado mais erótico da paixão. No fundo é todo um mosaico de emoções que está subjacente à relação amorosa e que Jordan filma de maneira exemplar, fazendo lembrar por vezes o classicismo de um “Brief Encounter”, de Lean. O recurso a flashbacks repetidos mas vistos por perspectivas diferentes dá ainda mais a noção da inquietude dos sentimentos que envolvem cada um dos dois amantes. "The End of the Affair" é também uma grande produção inglesa, com os seus específicos valores: reconstituição histórica imaculada, desempenhos sólidos do elenco, fotografia, música e montagem de primeirissima grandeza, tudo a funcionar em pleno para um objectivo maior.
Apesar da atmosfera romanesca e de nostalgia com que os cenários recriam a Londres dos anos da Guerra (a que não será estranha a bela partitura musical de Michael Nyman), a cidade como que se situa em segundo plano face à claustrofobia revelada pela câmara de filmar em volta dos dois amantes. Nunca vi a versão dos anos 50 (uma obra menor ao que tenho ouvido dizer) mas li o livro de Greene. E Jordan consegue efectivamente extrair do romance a complexa teia de sentimentos descrita pelo escritor. Muita coisa é diferente mas um filme não é literatura, vai muito para lá das palavras escritas em papel. Julgo apenas que a cena final do “milagre” (a mancha que desaparece da face da criança) é desnecessária, até porque ausente no romance (o assunto é abordado mas sem o ênfase colocado no filme), podendo erradamente ser interpretada como uma espécie de “recompensa” pelo sacrifício da relação amorosa. O único final apropriado é mesmo todo o ódio de Ralph Fiennes para com um Deus que lhe retirou o grande amor da sua vida:
«Não tenho paz, e não tenho amor, a não ser só por ti, Sarah. Sou um homem de ódio. Deus, conheço a tua astúcia. És Tu quem nos leva a uma altura, de onde nos ofereces o universo inteiro. E és um demónio porque nos tentas a saltar. Eu, porém, não quero a tua paz, nem quero o teu amor. Eu queria algo muito simples e muito fácil: queria ter Sarah a vida inteira, e Tu levaste-a. Com os teus grandes desígnios arruínas a felicidade humana como o ceifeiro, nos campos, destrói um ninho de ratos. Odeio-Te, Deus, odeio-Te como se existisses. Já fizeste bastante, já me roubaste bastante, sinto-me por demais cansado e velho para aprender a amar. Deixa-me em paz para sempre!»
Termino com a citação de parte de um artigo publicado por Linda Santos Costa na revista “Leituras” do jornal Público de 8 de Abril de 1995:
«... Que faz da história de amor em tempo de guerra, que é “O Fim da Aventura, um romance que nos fascina e comove até às lágrimas? Explicá-lo seria o mesmo que explicar o amor, cedendo à tentação de o reduzir às secreções internas que regulam a intensidade dos impulsos passionais e levam a falar de uma “química do amor”, pois há muito, nesta história, que releva da forma como está construída: a sábia alternância de pontos de vista, o modo gradual e circular como nos é dado o acesso à “verdade” dos acontecimentos, a construção da intriga, com o seu quê de policial, que nos faz estar suspensos das páginas a vir, temendo (e desejando) que o enigma jamais seja desvendado.»
CURIOSIDADES:

- “The End of the Affair” teve duas nomeações para os Ocars nas categorias de Actriz Principal e Cinematografia. Julianne Moore seria preterida a favor de Hilary Swank em “Boys Don’t Cry”

- Miranda Richardson e Kristin Scott Thomas chegaram a ser equacionadas para o papel de Sarah Miles. Julianne Moore, que tinha adorado o livro, escreveu uma carta ao realizador Neil Jordan solicitando-lhe a entrada no filme. O que conseguiu.

- Catherine Walston, a amante de Greene na vida real que inspirou o romance, faleceu com 62 anos em 1978. Segundo o biógrafo do escritor, Michael Shelden, Catherine não permitiu que Greene a visitasse antes de morrer por não querer que ele a visse no adiantado estado de doença em que se encontrava.



domingo, agosto 29, 2010

PORTFOLIO - "A SINGLE MAN" (2009)

A SINGLE MAN (2009)

UM HOMEM SINGULAR
****


Um filme de TOM FORD


Com Colin Firth, Julianne Moore, Nicholas Hoult, Matthew Goode


EUA / 99 min / COR / 16X9 (2.35:1)


Estreia em Itália, no Festival de Veneza, a 11/9/2009
Estreia em Portugal a 18/2/2010


George: "For the first time in my life I can't see my future. Everyday goes by in a haze, but today I have decided will be different"

Interessantissima estreia no cinema de um nome ligado ao mundo da moda. Tom Ford, o estilista que em dez anos revolucionou a marca Gucci, criou em 2006 a sua própria linha de vestuário masculino, depois de uma curta ligação à Yves Saint-Laurent. Homem bem sucedido, portanto, nada fazia prever este aparecimento no mundo do cinema, onde para além da realização acumula também as funções de argumentista e produtor do filme.
Provavelmente foi a sua admiração pelo novelista Christopher Isherwood (1904-1986) que o levou a adaptar este “A Single Man”, publicado pela primeira vez em 1964, e considerado desde então uma das obras de referência do movimento gay norte-americano. A história centra-se em George Falconer, um professor inglês homossexual, residente em Los Angeles no início da década de sessenta, altura em que os Estados Unidos se encontravam a braços com a “crise dos mísseis” de Cuba. George acaba de perder o seu companheiro de 16 anos num desastre de viação e resolve suicidar-se para se libertar da depressão diária em que a sua vida se tornou. Mas antes quer viver um último dia durante o qual será igual a si próprio; é nesse espaço temporal de um único dia que toda a acção do filme decorre, fazendo-nos entrar no mundo particular de George, onde os sentimentos e o anátema da solidão sempre tiveram papeis preponderantes.
“A Single Man” (que teve em português uma tradução completamente equivocada de “Um Homem Singular) remete-nos para uma variação brilhante do melodrama clássico. A notável adaptação do romance e a realização segura de Tom Ford (que dedica o filme ao escritor Richard Buckley, seu companheiro desde 1987) contribuem decisivamente para o prazer que sentimos no visionamento deste filme. Julianne Moore tem aqui um papel secundário como Charley, a melhor amiga de George com quem, no dizer dela própria, a vida poderia ter “resultado”. Refira-se, a propósito, a química estabelecida entre os dois actores que atinge o ponto culminante após o jantar a dois, numa divertidissima cena de dança ao som da música “Green Onions”, de Booker T. & The MG’s.
Independentemente da orientação sexual de cada um, "A Single Man" fala-nos da solidão, dos sonhos perdidos ao longo de toda uma vida, da incomunicabilidade entre as pessoas como arma de defesa e preservação de uma vivência a sós, mesmo que partilhada.
E é naquele projectado último dia que George, enfim liberto, parece descobrir que afinal é capaz de valer a pena estar vivo. Só que o destino às vezes prega algumas partidas de mau-gosto...
Colin Firth tem aqui um dos melhores papeis da sua carreira, estando practicamente sempre presente ao longo de todas as cenas do filme. A lista dos prémios recebidos pelo actor já vai extensa: Festival de Veneza, Círculo de Críticos de Londres, Austin, Vancouver, San Diego e São Francisco, Festival de Santa Barbara. Ganhou ainda o BAFTA inglês e foi nomeado para o Oscar de Melhor Actor (que viria a perder, muito injustamente na minha opinião, para Jeff Bridges no filme “Crazy Heart”).