REACÇÃO EM CADEIA
Um Filme de MARIO BAVA
Com Claudine Auger, Luigi Pistilli, Claudio Volonté, Anna Rosati, Chris Avram, Leopoldo Trieste, Laura Betti, Brigitte Skay, Isa Miranda, Paola Rubens, etc.
ITÁLIA / 84 min / COR / 16X9 (1.85:1)
Estreia em ITÁLIA a 8/9/1971
Estreia nos EUA a 3/5/1972
«I make horror movies. My aim is to scare people,
yet I’m a fainthearted coward.
Maybe that’s why my movies turn out
to be so good at scaring people»
yet I’m a fainthearted coward.
Maybe that’s why my movies turn out
to be so good at scaring people»
(Mario Bava)
Falecido em 1980, com 65 anos, Mario Bava é hoje considerado um dos mestres do cinema fantástico europeu. De entre a enorme legião de fans que o realizador italiano seduz um pouco por todo o mundo, há a realçar alguns nomes mais conhecidos e as suas opiniões sobre o seu universo fílmico. Martin Scorsese, por exemplo, diz amar os filmes de Bava, sobretudo pela atmosfera que eles exalam. Joe Dante declarou certa vez que nenhum outro cineasta filmava a morte de forma tão apaixonada. Já Tim Burton, um dos mais criativos autores da nova geração, elegeu “La Maschera Del Demonio” como sendo o seu filme favorito.
“Reazione A Catena”, que literalmente significa “Reacção em Cadeia”, mas que já teve variadissimas designações (muito provavelmente será o filme a que mais títulos foram atribuídos) conforme os países em que foi exibido (“Bay of Blood”, “Twitch of the Death Nerve”, “Antefatto – Ecologia Del Delitto”, “A Mansão da Morte”, "Banho de Sangue", “Carnage”, entre muitos outros), é uma metáfora sobre homens e insectos. Ou, mais precisamente, sobre como os humanos, quando destituídos das suas regras morais se parecem com aqueles invertebrados. Não será por acaso que logo a abrir o filme nos mostre o vôo de uma mosca invisível que morre durante o trajecto, caíndo nas águas da baía onde irão acontecer todas as treze mortes das personagens de “Reazione A Catena”.
Mortes essas que ocorrem pelos mais diversos motivos e das formas mais variadas. Pessoas que começamos por julgar inocentes, mas que, após a queda das máscaras, se irão revelar como merecedoras da morte mais violenta. Não existe, em toda a galeria dos personagens do filme, um único que desperte a simpatia ou sequer a comiseração do espectador. Todos sem excepção são cruéis e interesseiros, que não hesitam em se matarem uns aos outros. Mesmo o descuido das últimas duas mortes (Bava conclui o seu filme com um toque de humor, obviamente...negro) não acarreta qualquer remorso aos seus pequenos autores, que alegremente correm banhar-se nas águas da baía.
Visto actualmente, a quatro décadas de distância, não espanta que “Reazione A Catena” tenha sido um fracasso de bilheteira em 1971. Com toda a certeza foi encarado nessa altura como um objecto raro e estranho, dada a sua exarcebação pela violência gratuita, mesclada com um certo erotismo e corrupção da carne. Hoje são precisamente esses aspectos que fazem do filme de Bava um clássico do género, por se reconhecer nele o percursor dos chamados slasher movies norte-americanos onde inevitavelmente ocorre uma morte sangrenta a cada cinco minutos. Mas contrariamente a estes filmes, hoje tão comuns, onde se morre por razões morais ou arbitrárias, no filme de Bava é a cobiça que se encontra na origem das execuções, e que faz de “Reazione A Catena” uma visão extremamente negra da sociedade italiana.
A morte da primeira vítima, a paraplégica condessa Federica Donati (Isa Miranda), às mãos do próprio marido (que logo de seguida é também ele apunhalado), dá o mote para os assassínios que irão ocorrer ao longo do filme – é toda uma teia de intrigas que faz lembrar as tragédias gregas, ao evidenciar o ridículo das ambições humanas. No fim todos os culpados são vítimas e vice-versa. No maquiavelismo dos protagonistas não existem diferenças, todos são iguais no Mal que os alimenta. Tal como o faria qualquer entomologista, Bava estuda e dirige as suas marionetas num universo mórbido em que não existe escapatória possível, interrogando-se sobre a oposição entre o primitivo e o civilizado, e sobre as origens maléficas do ser humano. Cegado pela sensação de poder, convencido da superioridade da inteligência, o indivíduo esquece-se de que não passa de um ser vivo entre tantos outros, integrado num gigantesco ciclo biológico onde o predador se torna também na presa.
“Reazione A Catena” é um dos filmes mais conhecidos e controversos de Mario Bava e aquele que certamente mais influenciou o género do terror, logo no início dos anos 70 (em 2005, a revista Total Film incluíu-o na lista dos melhores 50 filmes de terror de todos os tempos); e o crítico Gary Johnson afirmou tratar-se do filme mais imitado das últimas quatro décadas. Mas ao longo dos anos “Reazione A Catena” foi alvo dos mais variadissimos cortes, consoante o peso das censuras dos Países por onde foi sendo exibido. Na estreia, no Festival de Avoriaz, o actor Christopher Lee (o Drácula de tantos filmes da Hammer), abandonou a sala de projecção revoltadissimo com o que acabara de ver. É por isso de saudar, para gáudio de todos os admiradores da obra de Mario Bava e deste filme em particular, a edição em Blu-Ray de uma cópia integral e remasterizada. A editora responsável é a Arrow Video, que lançou o DVD no mercado nos fins do ano passado. Inclui também a versão italiana (com cores mais saturadas mas infelizmente não beneficiando do tratamento digital), meia dúzia de posters (dois deles desdobráveis em formato grande), um comentário audio de Tim Lucas e diversos documentários. Tudo devidamente legendado em inglês. Imprescindível!