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segunda-feira, outubro 21, 2013

REAZIONE A CATENA (1971)

BAY OF BLOOD /
REACÇÃO EM CADEIA
Um Filme de MARIO BAVA


Com Claudine Auger, Luigi Pistilli, Claudio Volonté, Anna Rosati, Chris Avram, Leopoldo Trieste, Laura Betti, Brigitte Skay, Isa Miranda, Paola Rubens, etc.


ITÁLIA / 84 min / COR / 16X9 (1.85:1)

Estreia em ITÁLIA a 8/9/1971

Estreia nos EUA a 3/5/1972


«I make horror movies. My aim is to scare people, 
yet I’m a fainthearted coward. 
Maybe that’s why my movies turn out 
to be so good at scaring people»
(Mario Bava)

Falecido em 1980, com 65 anos, Mario Bava é hoje considerado um dos mestres do cinema fantástico europeu. De entre a enorme legião de fans que o realizador italiano seduz um pouco por todo o mundo, há a realçar alguns nomes mais conhecidos e as suas opiniões sobre o seu universo fílmico. Martin Scorsese, por exemplo, diz amar os filmes de Bava, sobretudo pela atmosfera que eles exalam. Joe Dante declarou certa vez que nenhum outro cineasta filmava a morte de forma tão apaixonada. Já Tim Burton, um dos mais criativos autores da nova geração, elegeu “La Maschera Del Demonio” como sendo o seu filme favorito.


“Reazione A Catena”, que literalmente significa “Reacção em Cadeia”, mas que já teve variadissimas designações (muito provavelmente será o filme a que mais títulos foram atribuídos) conforme os países em que foi exibido (“Bay of Blood”, “Twitch of the Death Nerve, “Antefatto – Ecologia Del Delitto”, “A Mansão da Morte”, "Banho de Sangue", “Carnage”, entre muitos outros), é uma metáfora sobre homens e insectos. Ou, mais precisamente, sobre como os humanos, quando destituídos das suas regras morais se parecem com aqueles invertebrados. Não será por acaso que logo a abrir o filme nos mostre o vôo de uma mosca invisível que morre durante o trajecto, caíndo nas águas da baía onde irão acontecer todas as treze mortes das personagens de “Reazione A Catena”.


Mortes essas que ocorrem pelos mais diversos motivos e das formas mais variadas. Pessoas que começamos por julgar inocentes, mas que, após a queda das máscaras, se irão revelar como merecedoras da morte mais violenta. Não existe, em toda a galeria dos personagens do filme, um único que desperte a simpatia ou sequer a comiseração do espectador. Todos sem excepção são cruéis e interesseiros, que não hesitam em se matarem uns aos outros. Mesmo o descuido das últimas duas mortes (Bava conclui o seu filme com um toque de humor, obviamente...negro) não acarreta qualquer remorso aos seus pequenos autores, que alegremente correm banhar-se nas águas da baía.


Visto actualmente, a quatro décadas de distância, não espanta que “Reazione A Catena” tenha sido um fracasso de bilheteira em 1971. Com toda a certeza foi encarado nessa altura como um objecto raro e estranho, dada a sua exarcebação pela violência gratuita, mesclada com um certo erotismo e corrupção da carne. Hoje são precisamente esses aspectos que fazem do filme de Bava um clássico do género, por se reconhecer nele o percursor dos chamados slasher movies norte-americanos onde inevitavelmente ocorre uma morte sangrenta a cada cinco minutos. Mas contrariamente a estes filmes, hoje tão comuns, onde se morre por razões morais ou arbitrárias, no filme de Bava é a cobiça que se encontra na origem das execuções, e que faz de “Reazione A Catena” uma visão extremamente negra da sociedade italiana.





A morte da primeira vítima, a paraplégica condessa Federica Donati (Isa Miranda), às mãos do próprio marido (que logo de seguida é também ele apunhalado), dá o mote para os assassínios que irão ocorrer ao longo do filme – é toda uma teia de intrigas que faz lembrar as tragédias gregas, ao evidenciar o ridículo das ambições humanas. No fim todos os culpados são vítimas e vice-versa. No maquiavelismo dos protagonistas não existem diferenças, todos são iguais no Mal que os alimenta. Tal como o faria qualquer entomologista, Bava estuda e dirige as suas marionetas num universo mórbido em que não existe escapatória possível, interrogando-se sobre a oposição entre o primitivo e o civilizado, e sobre as origens maléficas do ser humano. Cegado pela sensação de poder, convencido da superioridade da inteligência, o indivíduo esquece-se de que não passa de um ser vivo entre tantos outros, integrado num gigantesco ciclo biológico onde o predador se torna também na presa.


“Reazione A Catena” é um dos filmes mais conhecidos e controversos de Mario Bava e aquele que certamente mais influenciou o género do terror, logo no início dos anos 70 (em 2005, a revista Total Film incluíu-o na lista dos melhores 50 filmes de terror de todos os tempos); e o crítico Gary Johnson afirmou tratar-se do filme mais imitado das últimas quatro décadas. Mas ao longo dos anos “Reazione A Catena” foi alvo dos mais variadissimos cortes, consoante o peso das censuras dos Países por onde foi sendo exibido. Na estreia, no Festival de Avoriaz, o actor Christopher Lee (o Drácula de tantos filmes da Hammer), abandonou a sala de projecção revoltadissimo com o que acabara de ver. É por isso de saudar, para gáudio de todos os admiradores da obra de Mario Bava e deste filme em particular, a edição em Blu-Ray de uma cópia integral e remasterizada. A editora responsável é a Arrow Video, que lançou o DVD no mercado nos fins do ano passado. Inclui também a versão italiana (com cores mais saturadas mas infelizmente não beneficiando do tratamento digital), meia dúzia de posters (dois deles desdobráveis em formato grande), um comentário audio de Tim Lucas e diversos documentários. Tudo devidamente legendado em inglês. Imprescindível!


quinta-feira, junho 14, 2012

NOVECENTO (1976)

1900
Um filme de BERNARDO BERTOLUCCI


Com Robert De Niro, Gérard  Depardieu, Dominique Sanda, Laura Betti, Sterling Hayden, Anna Henkel, Alida Valli, Stefania Sandrelli, Donald Sutherland, Burt Lancaster


ITÁLIA / 315 min / COR / 
16X9 (1.85:1)


Estreia em Itália a 16/8/1976
Estreia em Portugal a 12/2/1977 (cinemas São Jorge e Mundial)


Alfredo Berlinghieri: «Desejo que o meu siga as leis»
Leo Dalcó: «E eu desejo que o meu seja ladrão»

Com a duração total de cinco horas e vinte minutos, “Novecento” é um fresco empolgante, épico e popular, que ressuscita e reabilita o romanesco, numa tradição que encontra sómente em “Gone With The Wind” um termo de comparação possivel. Simultâneamente crónica de uma família feudal em decadência, e panorâmica histórica, “Novecento” reserva-se já o lugar de clássico absoluto dos anos 70. Todo o filme, que tem por fundo as transformações históricas do século XX, gira à volta de três gerações, correspondentes ao decorrer temporal em dois estratos sociais diferentes e centralizando a acção na terra natal de Bertolucci, o aclamado realizador italiano.

Enquanto concentra a história nos bastidores, Bertolucci descarrega toda a sua nostalgia de encarar a vida na vivência de Olmo e Alfredo, quando eles se abstraem do que os rodeia para se entreolharem nas suas próprias personalidades. Se são a infância e a adolescência os terrenos mais permeáveis ao eclodir dessa nostalgia, será apenas na meia-idade e na velhice que ela atingirá o seu significado maior por entretanto já ser só saudade. Isto é o que Bertolucci nos consegue admiravelmente sugerir ao fazer-nos acompanhar o crescimento de Olmo e Alfredo durante quase meio século.

Politicamente, o filme tem o mérito de não querer enganar ninguém, de não pretender fazer passar gato por lebre. O dualismo surge desde a primeira cena e Bertolucci nem por um momento se contradiz ao longo de toda a odisseia. Descreve os dois trilhos sobre os quais a humanidade assenta: a classe abastada, prepotente e exploradora e a classe pobre, oprimida e explorada. A partir deste enquadramento histórico, um precipício intransponível: nem os de lá passam para cá, nem os de cá passam para lá.

Mas esta caricatura ideológica é também o lado menos conseguido de “Novecento”. Falta-lhe isso a que poderíamos chamar o “charme discreto” do cineasta em surpreender o espectador. Bertolucci decidiu impor em vez de propor. Se isso pode ser lido como sinal de honestidade, também pode ser interpretado como ingenuidade ou falta de senso. Assim, e visto à distância de 40 anos, “Novecento” surge-nos agora irremediavelmente datado na mensagem política que encerra. Há muito que as sociedades e os regimes políticos deixaram de ser vistos alternadamente como antros de ódios ou espelhos de virtudes. O “bem” e o “mal” não se compadecem com demarcações básicas e existem em todas as gentes e em todos os cantos do mundo. Certamente que sempre assim foi. Só que no fim da 2ª Guerra Mundial as posições estavam extremadas e era muito fácil e prático estabelecer a divisão entre o mundo dos “bons” e o mundo dos “maus”.

Mas Bertolucci é mesmo um realizador de grande talento e por isso fez deste filme um painel de indiscutível beleza. Lírico e épico, viscontiano, profundo e sensível, é um poema de imagens, rostos e movimentos. Tal como o realizador referiu numa entrevista, existem quatro partes distintas na composição do filme, associadas a tantas outras estações do ano: a infância dos dois protagonistas principais (Verão), o seu re-encontro já na fase adulta (Outono), o pesadelo da tirania fascista (Inverno) e por fim a Libertação, no fim da 2ª Guerra Mundial (Primavera).

Mas se Bertolucci foi o artífice principal, o outro grande autor de “Novecento” é sem dúvida Ennio Morricone, pela música magnífica com que revestiu o celulóide. Inspirada na cultura popular e na recolha do folclore italiano, com uma integração perfeita em todo o desenrolar da história, pode-se concluir que a música de Morricone valoriza extraordinariamente o filme de Bertolucci. Quase nos arriscamos a dizer que na sua montagem sonora, estamos perante um outro filme. E isto porque, apesar de técnica e artisticamente impecável, o filme de Bertolucci, à partida vincadamente panfletário, acaba por inexplicavelmente atingir um resultado prático de sinal contrário.

Com argumento do prório Bernardo Bertolucci, do seu irmão Giuseppe e Franco Arcalli, e uma belissima cinematografia de Vittorio Storaro, o filme brinda-nos ainda com um elenco internacional de grande excelência. Com Depardieu (Olmo) e De Niro (Alfredo), ainda nos princípios das respectivas carreiras, mas a encabeçarem composições de personagens inesquecíveis: Donald Sutherland e Laura Betti (nos pérfidos Attila e Regina), Burt Lancaster e Sterling Hayden (nos decanos Alfredo e Leo Dalco) ou ainda as sensuais Dominique Sanda e Stefania Sandrelli (Ada e Anita).

“Novecento” foi estreado em Itália na “Mostra de Cinema de Veneza”, em Agosto de 1976. Em Lisboa a estreia ocorreu no dia 12 de Fevereiro de 1977, em dois cinemas: São Jorge (1ª parte) e Mundial (2ª parte). Lembro-me de ver as duas partes no mesmo dia - matiné no São Jorge e soirée no Mundial - tal a ânsia de consumir sem demoras aquele grande acontecimento cultural. Nos EUA, e para não fugir à regra, o filme foi alvo de censura e drasticamente reduzido a 4 horas, Mais uma vez os americanos não puderam assistir nas salas de cinema à versão original apresentada na maioria das cidades europeias (ao longo dos anos muitos serão os filmes tornados quase que incomprensíveis para o público americano devido a este tipo de aberrações cometidas pelos produtores ou censores). Apenas em 1993, quando a versão video foi editada, tiveram a possibilidade de ver a totalidade da obra. E sómente no pequeno écran, é claro.

CURIOSIDADES:

- O orçamento inicial do filme – 6 milhões de dolares – foi comparticipado em partes iguais por três produtoras: United Artists, Paramount e 20th Century Fox. No fim da rodagem (um longo período de 14 meses, desde Julho de 1974 a Setembro de 1975) elevou-se a ceca de 10 milhões, o que o tornou o filme mais caro de todo o cinema italiano.

- A pintura que aparece durante o desenrolar dos créditios é “Il Quarto Stato”, de Giuseppe Pellizza da Volpedo

- Donald Sutherland detestou de tal maneira o seu desempenho como o sádico Attila, que durante anos não conseguiu ver o filme.

- Mais de 12.000 figurantes participaram no filme