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sexta-feira, julho 17, 2015

DOCTOR ZHIVAGO (1965)

DOUTOR JIVAGO
Um filme de DAVID LEAN



Com Omar Sharif, Julie Christie, Geraldine Chaplin, Rod Steiger, Alec Guinness, Tom Courtenay, Ralph Richardson, Rita Tushingham

EUA-ITÁLIA / 197 min / COR / 
16X9 (2.20:1)

Estreia nos EUA a 22/12/1965
Estreia em Portugal a 20/9/1966



Gen. Yevgraf Zhivago: «Tonya! Can you play the balalaika?»
David: «Can she play? She's an artist!»
Gen. Yevgraf Zhivago: «Who taught you?»
David: «Nobody taught her!»
Gen. Yevgraf Zhivago: «Ah... then it's a gift»


Antepenúltimo filme de David Lean, “Doctor Zhivago” constitui, juntamente com “Bridge On The River Kwai” (1957) e “Lawrence Of Arabia” (1962), o tríptico épico do realizador. Com os bolsos recheados de Oscares por aqueles dois filmes (um total de 14, distribuídos equitativamente) Lean partiu para a realização do “Doctor Zhivago” com toda a liberdade deste mundo. Seria a sua terceira e última produção.

Boris Pasternak, o autor da novela, veria a sua obra ser reconhecida pelo mundo das letras, que tencionava atribuir-lhe o prémio Nobel da literatura em 1958. Infelizmente, o governo da União Soviética tirou-lhe tal distinção ao ameaçar extraditá-lo do País caso ele se deslocasse a Estocolmo para receber o prémio. Pasternak, sobrepondo o seu amor pela terra-pátria a tudo o mais, foi obrigado a declinar por escrito tal honraria, confessando-se indigno da mesma. Entretanto o livro consegue ultrapassar fronteiras e é editado pela primeira vez em Itália. Pouco depois é a difusão maciça em inúmeros Países, originando um êxito total quer junto do público quer junto da crítica especializada.

Conhecendo uma primeira adaptação televisiva em 1959 (no Brasil e a preto-e-branco), a obra vê os seus direitos para cinema serem adquiridos pelo produtor italiano Carlo Ponti, no intuito de a sua mulher (a actriz Sophia Loren) poder desempenhar o papel de Lara. Felizmente que David Lean tinha o controle absoluto sobre tudo e depressa contariou tal intenção alegando que a actriz era demasiado alta para o personagem.

Como em equipa vencedora não se mexe, Lean reuniu a grande parte das pessoas que com ele tinham trabalhado em “Lawrence Of Arabia” com tão bons resultados: Robert Bolt (Argumento), Freddie Young (Cinematografia) e Maurice Jarre (Música) foram os coordenadores de uma vasta equipa de técnicos altamente qualificados que dariam ao novo filme a imagem de marca do seu mentor.

Falar de “Doctor Zhivago” é falar de toda a beleza que o filme nos faz sentir em cada visionamento. Essa beleza, aliada a uma música inesquecível, envolve uma história de amor intemporal, constituindo o todo um dos filmes mais românticos (extravagantemente romântico) de toda a história do cinema. Tudo nos é transmitido pelos olhos de um poeta e é esse olhar que faz a diferença.

Razão tinha Lean quando insistia com Omar Sharif (aqui no papel de toda uma carreira) em não se comportar como um actor mas, pelo contrário,  “representar” o menos possível, tentando não fazer absolutamente nada. Aposta claramente ganha do realizador, que consegue utilizar o olhar do actor como veículo preferencial de elipses temporais.

Apenas um exemplo, dos mais felizes: quando, em Varykino, Zhivago antecipa o tão aguardado encontro com Lara através dos cristais de gelo na janela, cristais esses que se transformam em girassóis, que por sua vez se vão diluir no rosto magnífico de Lara, onde uns olhos ansiosos aguardam já pela aproximação de Zhivago na biblioteca de Yuryakin. Cabe aqui referir uma pequena “artimanha”, que contribui eficaz e decisivamente para o sucesso do filme – o facto da relação entre Zhivago e Lara nos ser anunciada logo no início do filme mas apenas se vir a consumar muito tempo depois. A espera é intencional, pois obriga o espectador a desejar aquele encontro ao longo de mais de metade do filme. E sabemos muito bem que o maior desejo se encontra na antecipação e não na “posse” propriamente dita. O verdadeiro amor tem sempre o condão de ser paciente...

Temos assim uma história de amor no centro da acção, com a revolução soviética como pano de fundo. Mas se esta é apenas um mero enquadramento político, aquela também não passa de um pretexto para mostrar o que é realmente importante no desenrolar do filme. E o que é importante em “Doctor Zhivago” são as pessoas. Não como entidades abstractas de qualquer manifestação mas pelo contrário como indivíduos bem diferenciados que inoportunamente se vêm envolvidos em acontecimentos que os transcendem e relativamente aos quais se sentem impotentes de controlar. Num tempo em que a História não tinha tempo para os sentimentos pessoais, é o lado íntimo que assume o papel de resistente, nem que isso implique o desterro ou a morte. Boris Pasternak faleceu a 30 de Maio de 1960, vitimado por um ataque cardíaco, embora sofresse também de um cancro nos pulmões. Olga Ivinskaya, amante do novelista, que lhe serviu de inspiração para o personagem de Lara, morreu muito mais tarde, aos 82 anos (1995) em Moscovo, mas depois de ter sido enviada, por duas vezes, para campos de concentração de trabalhos forçados. A razão? Apenas o grande amor que a uniu ao escritor.

Quando da estreia mundial de “Doctor Zhivago”, alguns dias antes do Natal de 1965, a crítica americana, sempre veloz nos seus julgamentos sumários, arrasou por completo o filme. David Lean ficou tão desgostoso com tal reacção (apesar do imenso sucesso junto ao público) que jurou na altura não mais realizar qualquer outro filme. Felizmente que tal promessa foi quebrada, embora apenas por duas vezes mais: em “Ryan’s Daughter” (1970) e por último em “A Passage To India” (1984). David Lean morreu de cancro em 16 de Abril de 1991. E apenas três anos mais tarde é que “Doctor Jhivago” foi exibido pela primeira vez na Rússia.

CURIOSIDADES:

- O interior do palácio de gelo foi em grande parte executado em cera de abelhas.

- Vencedor de 5 Oscars, num total de 10 nomeações

- A mulher que Jivago tenta puxar para dentro do comboio em andamento sofreu na realidade uma queda o que lhe originou diversas escoriações (e não a amputação de qualquer perna como erradamente se fez crer). A cena usada no filme é a desse acidente, muito embora apenas seja mostrado o início da queda.




- Grande parte dos exteriores do filme foram rodados em Espanha (outros na Finlândia), em pleno regime fascista do general Franco. Durante a sequência da multidão a entoar "a internacional" (rodada pelas 3 da madrugada) a polícia espanhola compareceu no local pensando que uma verdadeira revolução se estava a iniciar e insistiu em permanecer até à conclusão das filmagens. Por outro lado, houve pessoas que acordaram pensando que finalmente o general Franco tinha sido derrubado.

domingo, outubro 02, 2011

RED RIDING HOOD (2011)

A RAPARIGA DO CAPUZ VERMELHO
Um filme de CATHERINE HARDWICKE



Com Amanda Seyfried, Gary Oldman, Billy Burke, Shiloh Fernandez, Max Irons, Virginia Madsen, Lukas Haas, Julie Christie


EUA - CANADÁ / 100 min / 16X9 (2.35:1)


Estreia nos EUA a 7/3/2011
Estreia em PORTUGAL a 14/4/2011
Resolvi alugar este filme por três razões: primeiro porque sou fã do fantástico e do filme de terror; depois porque tenho grande apreço pelo trabalho do actor inglês Gary Oldman; finalmente, confesso que estava muito curioso em ver como Julie Christie, uma das mulheres mais lindas do meu tempo (e a inesquecível intérprete de Lara do “Doutor Zhivago”) se encontrava aos 70 anos. Após uma (penosa) visualização, tive mesmo de me contentar apenas com a satisfação desta última curiosidade. Apesar de ter envelhecido com classe, não teria reconhecido a actriz se não soubesse que era ela quem interpretava a avózinha do capuchinho vermelho. No resto, nada se salva neste filme. O fantástico e o terror estão ausentes (muito por causa de um argumento sem pés nem cabeça, onde o maior interesse reside na resposta à questão «mas afinal quem é o lobo mau?», à semelhança da maior parte dos livros de Agatha Christie, onde o conhecimento de quem era o criminoso era sempre o momento mais ambicionado. Mas aqui nem sequer essa revelação funciona); as interpretações são do piorio (que tristeza ver Gary Oldman envolvido numa coisa destas); a realização e a montagem cumprem quase religiosamente a “regra dos planos de 3 segundos” (só tarde demais é que me dei conta do nome que assina este amontoado de imagens – Catherine Hardwicke, a mulher responsável pelo famigerado e inóquo “Twilight”). Com a agravante do embuste que é recorrer-se a uma fotografia “bonitinha” para camuflar todas as deficiências reinantes. Estou convencido que até o público (muito) adolescente a quem “Red Riding Hood” obviamente se destina, sentirá alguma dificuldade em retirar alguma satisfação do filme. Enfim, um produto perfeitamente escusado, que só vai engrossar o lote dos filmes que nos levam a acreditar na extinção da outrora chamada “Sétima Arte”. Lote esse que, infelizmente, não pára de crescer.

quinta-feira, julho 14, 2011

THE GO-BETWEEN (1970)

O MENSAGEIRO
Um filme de JOSEPH LOSEY


Com Julie Christie, Alan Bates, Margaret Leighton, Michael Redgrave, Dominic Guard, Michael Gough, Edward Fox, Richard Gibson


GB / 118 min / COR / 16X9 (1.85:1)


Estreia na GB em Dezembro de 1970
Estreia nos EUA a 29/7/1971 (New York)
Estreia em Moçambique a 22/9/1972
(LM, cinema Infante)


O que de início nos surpreende em "O Mensageiro" é uma discreção, uma reserva no plano dos acontecimentos que não parece estar na tradição de Losey. Grande parte dos seus filmes anteriores caracterizava-se por uma sobrecarga de eventos e significações que por vezes atingia certos limites (jà) perturbantes. Não acontece isso com “O Mensageiro”. Sentimos aqui a plenitude afirmativa duma maturidade, dum classicismo: o curso linear do filme capta-nos pela nitidez, pela transparência dos propósitos, pelo equilíbrio das propostas.
Os eixos da ficção movem-se com uma segurança irrepreensível, e o jogo dos temas desenrola-se sem quebras, sem desvios: é a polarização já conhecida entre a brutalidade natural e o requinte social (entre o instinto e o protocolo); são alguns emblemas que nos restituem um longínquo dinamismo de infância (as corridas e lutas dos dois rapazes pelos corredores e pelas escadas da grande casa que habitavam); é a evocação duma certa mitologia de que dificilmente nos desprendemos (o gosto de exercer a omnipotência da magia); é ainda o borboletear ofegante de Leo em torno de um determinado saber sexual (dum saber sabido, dum saber insciente: a ver, a reconhecer) que o filme circunscreve sem nunca nomear; há ainda uma caracterização dos lares e dos grupos sociais assinalados nas suas mais gritantes diferenças de classe; é o traçado eufórico de correrias através dos campos.
Com tudo isto Losey narra uma história que nos interessa, sem sabermos muito bem onde está o nosso interesse, e sem nunca nos demarcarmos com precisão do próprio interesse que agita os passos e gestos de Leo, o protogonista. Porque, quer se saiba o que se pergunta, quer se não saiba, todo o saber (sobre o) sexual é um saber que esbarra nos seus próprios evidentes limites de se referir a algo que se situa numa dimensão outra, que é a da verdade como história pessoal e assunção do próprio não saber como núcleo irredutível e fundamento da proliferação fantasmática.
Todo o mensageiro pressupõe uma mensagem. A vulgaridade desta mensagem (a que vem nas mãos de Leo) aparece como o véu que oculta outra mensagem: mas qual? Porque Leo, ao transportar, é ele o transportado, porque é o desejo de saber mais que o move e o justifica. E, com ele, nós, seguindo as linhas duma ficção que não tem outras razões para nos atrair. Que o filme nos transpor­te, eis o que deriva sem dificuldades do seu agenciamento cuidadoso e inteligen­te. Que a nossa atenção se deixe conduzir para estes percursos do prazer, nada disso constitui motivo de surpresa. Mas sucede que o filme não parece ultrapassar esse plano da fascinação envolvente, do esteticismo depurado.
É certo que a narrativa se desenrola na voz e na memória da personalidade que muitos anos an­tes a viveu, e que é o seu drama (viveu ele sem amor? porque se recusou a saber? porque fugiu às respostas? corria em direcção à verdade, ou corria para a contor­nar e dela fugia?) que, no final, se vem sobrepor aos dados da história que durante todo o tempo nos preocupou. Mas tal artificio narrativo não chega para criar fendas num filme em que chegamos a deplorar a ausência de um pouco de desmesura que desarrume o concertado trabalho de um cineasta tao competente como o é Losey. “O Mensageiro” é uma das obras mais frias e reflectidas do autor de “O Criado”. Que o tom do filme coincida com o próprio protagonista é circunstância interessante, mas que não basta para nos implicar no espaço demasiado pré-construído da ficção que esse protagonista suporta.
Eduardo Prado Coelho in “Isto é Espectáculo” nº 7, Junho de 1977