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sexta-feira, setembro 23, 2011

BIO-FILMO: ANTHONY PERKINS

Nascido a 4 de Abril de 1932, em Nova Iorque
Falecido a 12 de Setembro de 1992, em Hollywood

«I have learned more about love, selflessness and human understanding from the people I have met in this great adventure in the world of AIDS than I ever did in the cutthroat, competitive world in which I spent my life»

Existem actores que passam ao lado de uma grande carreira no cinema e que no entanto são recordados para sempre por causa de um único filme. Anthony Perkins foi um desses actores e “Psycho”, do mestre Alfred Hitchcock, foi, obviamente, o filme que em 1960 lhe trouxe a fama eterna (seriam feitas mais duas sequelas e um terceiro filme para televisão, mas todos eles perfeitamente escusados). Admirador confesso de Orson Welles (com quem rodou um dos seus filmes mais conhecidos, “The Trial”) e de Elvis Presley (deu o nome do Rei do Rock ao filho mais velho, nascido em 1976), Perkins nasceu em Nova Iorque, a 4 de Abril de 1932 (no mesmo dia do que o realizador soviético Andrei Tarkovsky). Filho único, teve problemas do foro psíquico desde muito novo, o que o levou a submeter-se por várias vezes a tratamentos específicos.

O pai, James Osgood Perkins, actor teatral relativamente conhecido na Broadway, morreu quando Perkins tinha apenas 5 anos. Educado pela mãe, estuda no Brown College e no Nichols Institute de Palm Beach, na Florida, e mais tarde inscreve-se no Rollins College (1951-1952) e na Columbia University (1952-1953). Inicia-se nos palcos em companhias de amadores e, nos meses de Verão, em grupos profissionais. Estreia-se no cinema em 1953 e durante três anos desempenha diversos papeis em séries televisivas. Pouco antes de acabar os estudos, é chamado à Broadway pela Playwright’s Company para interpretar, ao lado de Joan Fontaine, a peça “Chá e Simpatia”, como substituto de John Kerr. Em 1956 regressa ao cinema pela porta grande, pois seria nomeado para o Oscar de melhor actor secundário pelo filme “Friendly Persuasion”, de William Wyler, uma história de Quakers passada em 1862, e na qual Perkins desempenha o papel do filho de Gary Cooper.


Anthony Perkins foi um homem sensível e inteligente que sofreu bastante ao longo da sua vida, quer no campo pessoal quer no profissional, no qual foi usado (e abusado) pelos tubarões de Hollywood que o obrigaram a desempenhar papeis em filmes que ele sabia de antemão não terem qualquer valor artístico, conforme desabafou mais tarde numa entrevista: «I spent a couple of years playing parts in which I was supposed to be a decisive person, but all the while I was in torment over the feeling of being a total cipher. It just about paralysed me.»

Durante a sua carreira viria a ganhar diversos prémios de interpretação, como o Globo de Ouro em 1957 (actor mais promissor) e o troféu Edar Allen Poe em 1974 (pelo filme “The Last of Sheila”). Foi distinguido ainda como o melhor actor do Festival de Cannes de 1961 (por “Goodbye Again / Aimez-Vous Brahams?”). Entre 1962 e 1971, Perkins desenvolveu uma bela carreira na Europa, tendo oportunidade de actuar sob a direção de cineastas prestigiados, tais como Claude Chabrol, André Cayatte, René Clément, Anatole Litvak, Jules Dassin, Orson Welles, Edouard Molinaro, entre outros.


Depois de ter mantido um caso com a actriz Victoria Principal no final dos anos 60, Perkins veio a casar-se com a fotógrafa de modas Berinthia Berenson, irmã de outra conhecida actriz (Marisa Berenson) a 9 de Agosto de 1973. Do casamento, que durou 19 anos, até à morte do actor em 1992, nasceram dois filhos. Apesar desse lado familiar, Perkins sempre manifestou tendências homossexuais ao longo da vida, o que o levou a ser contaminado com o vírus da SIDA, em 1989 (o actor só aceitou realizar as respectivas análises depois da saída de um artigo no jornal “National Enquire” que o dava como bi-sexual e relatava o seu envolvimento, no passado, com o actor Tab Hunter, o bailarino Rudolf Nureyev e o dançarino-coreógrafo Grover Dale). A mulher, Berry, viria a falecer tragicamente a 11 de Setembro de 2001 – ia a bordo do primeiro dos fatídicos vôos que embateram no World Trade Center, em Nova Iorque. Como curiosidade, assinala-se ainda a ordenação de Perkins como ministro da Paz, tendo celebrado o quarto casamento de Dennis Hopper, em 1989.


Para além da sua carreira no cinema, Anthony Perkins editou ainda três albuns de canções: “Tony Perkins” (Epic LN-3394, 1957), “From My Heart” (RCA Victor LPM-1679, 1958) e “On a Rainy Afternoon” (RCA Victor LPM-1853, 1958) e diversos singles, tendo um deles, “Moonlight Swim”, atingido o TOP 30 da Billboard, em 1957.  Disponibiliza-se aqui uma coletânea que inclui o primeiro album, e uma série de temas editados no pequeno formato de 45 rpm: salientam-se os últimos quatro, que apareceram num raro Extended Play de 1961, gravado em francês.


FILMOGRAFIA:
1992 – Los Gusanos No Llevan Bufanda
1991 – Der Mann Nebenan
1989 – Edge of Sanity / À Beira da Loucura
1988 – Destroyer / A Sombra do Assassino
1986 – Psycho III / Psico III
1984 – Crimes of Passion / As Noites de China Blue
1983 – Psycho II / Psico II
1980 – Double Negative
1979 – The Black Hole / Abismo Negro
1979 – Twee Vrouwen
1979 – Winter Kills / Pela Mira da Espingarda
1979 – North Sea Hijack / Assalto no Alto Mar
1978 – Remember My Name / Recorda o Meu Nome
1975 – Mahogany
1974 – Murder on the Orient Express / Crime no Expresso do Oriente
1974 – Lovin’ Molly
1972 – The Life And Times of Judge Roy Bean / O Juiz Roy Bean
1972 – Play It s It Lays
1971 – Quelqu’un Derrière la Porte / Dívia de Ódio
1971 – La Décade Prodigieuse / A Década Prodigiosa
1970 – WUSA / Muro de Separação
1970 – Catch 22 / Artigo 22
1968 – Pretty Poison / Doce Veneno
1967 – Le Scandale / Champanhe Escandaloso
1966 – Paris Brûle-t-il? / Paris Já Está a Arder?
1965 – The Fool Killer
1964 – Une Ravissante Idiote / Uma Encantadora Idiota
1963 – Le Glaive et la Balance
1962 – Le Couteau Dans la Plaie / A Fronteira da Noite
1962 – The Trial / O Processo
1962 – Phaedra / Fedra
1961 – Goodbye Again (Aimez-Vous Brahms?) / Mais Uma Vez Adeus
1960 – Psycho / Psico
1960 – Tall Story / Adeus, Inocência
1959 – On the Beach / A Hora Final
1959 – Green Mansions / A Flor Que Não Morreu
1958 – The Matchmaker / Viva o Casamento
1958 – Desire Under the Elms / Desejo Debaixo dos Ulmeiros
1958 – This Angry Age / Esta Terra Amarga
1957 – The Tin Star / Sangue no Deserto
1957 – Fear Strikes Out / Vencendo o Medo
1957 – The Lonely Man / O Cavaleiro Solitário
1956 – Friendly Persuasion / Sublime Tentação
1953 – The Actress / A Actriz

PORTFOLIO - ANTHONY PERKINS

sábado, setembro 25, 2010

PORTFOLIO - "PSYCHO" (1960)

PSYCHO (1960)

PSICO



Um filme de ALFRED HITCHCOCK



Com Anthony Perkins, Janet Leigh, John Gavin, Vera Miles, Martin Balsam, John McIntire


EUA / 109 min / PB / 16X9 (1.85:1)


Estreia nos EUA a 16/6/1960 (New York)
Estreia em Portugal a 22/11/1960


Norman Bates: "She might have fooled me, but she didn't fool my mother"

Após o grande sucesso de “North by Northwest”, um filme espectacular que tinha custado qualquer coisa como 4 milhões de dólares, Hitchcock pretendia fazer algo radicalmente diferente, na linha dos filmes B que na altura estavam na moda por gerarem facilmente boas receitas no box office, grande parte das vezes sem possuirem qualquer qualidade. No percurso de uma viagem comprou no aeroporto de Amesterdam um livro de bolso para se entreter no avião. Chamava-se “Psycho” e era escrito por um tal Robert Bloch. Quando chegou ao seu destino Hitchcock já não tinha dúvidas – faria daquele thriller psicológico o seu próximo filme. Comprou os direitos por nove mil dólares e decidiu rodar o filme a preto e branco porque, para além do seu já referido desejo de uma produção de baixo orçamento (“Psycho” custaria apenas 800 mil dólares) era uma maneira de tornear a censura que certamente não autorizaria a mostragem de todo o sangue descrito no livro num filme a cores.
A aposta de Hitch foi claramente ganha (“Psycho” tornou-se com os anos no maior êxito financeiro do realizador) e deve-lhe ter dado grande satisfação porque, como ele próprio sublinhou, o sucesso deveu-se não tanto ao valor do argumento ou da interpretação, mas àquilo a que chamou “puramente técnico”. «Neste filme», disse ainda, «tudo se deve à câmara, é a câmara que faz todo o trabalho. Evidentemente, não se conseguem as melhores críticas, porque os críticos só se interessam pelo argumento. Mas é preciso desenhar os filmes como Shakespeare construía as suas peças – para o público.»
Efectivamente a técnica de que Hitch fala começa logo no início do filme por nos introduzir ao pequeno mundo de Marion Crane (Janet Leigh). Depois de por alguns instantes deambular por telhados e prédios de Phoenix (somos desde logo avisados de que são 2 horas e 43 minutos da tarde de uma sexta-feira, dia 11 de Dezembro), a câmara vai-se aproximando de uma das janelas desses muitos prédios e entra na penumbra de um quarto de hotel onde Janet Leigh e John Gavin acabaram de ter uma relação sexual. Hitchcock explicou a Truffaut que a indicação da hora era importante porque sugeria ao espectador que «aquela era a única altura que ‘the poor girl’ Marion tinha para ir para a cama com o amante. A indicação da hora sugere que Marion se privou do almoço para fazer amor»
O espectador foi assim introduzido à normalidade de uma história de amor. Toda a situação parece comum ao que a experiência nos diz destes casos clandestinos, mas Hitchcock vai-se encarregar de nos fazer mergulhar nos obscuros mecanismos do subconsciente. Dá-nos a ver a banalidade das nossas vidas mas a breve trecho irá lançar-nos para fora da normalidade do dia-a-dia. Como? Fazendo-nos simpatizar com a personagem de Marion (apesar ou talvez por causa dos seus amores ilícitos) e é essa identificação que posteriormente nos leva a desculpá-la quando ela decide ficar com os 40 mil dólares em vez de os ir depositar ao Banco.
Continuamos a acompanhar Marion na sua saída da cidade, a torcer por ela, desejando que leve a sua empreitada a bom porto. Desejamos que se veja livre do polícia que por desconfiança a segue e só queremos que se desembarace rapidamente do chato vendedor de automóveis. Hitchcock faz-nos a vontade e acalma a nossa ansiedade com a chegada de Marion ao motel. Pelo menos ali Marion terá uma noite descansada. Ainda por cima o gerente, Norman Bates (Anthony Perkins no papel de toda uma vida), é um jovem tímido e simpático, que cuida da mãe enferma, e com quem Marion pode calmamente conversar.
No decurso dessa conversa (uma das sequências-chave de todo o filme) aparecem alguns indícios de que nem tudo estará bem, de que haverá por ali algumas inquietações a ter em conta: a enorme e sinistra casa sobranceira ao motel (o efeito de suspeição é criado pelo antagonismo da arquitectura das duas construções – a grande mansão na vertical, o pequeno motel na horizontal), os pássaros embalsamados (uma actividade um pouco estranha e fora do vulgar), alguns tiques nervosos de Norman, o timbre da voz de Mrs. Bates que ouvimos num diálogo à distância com o filho. Mas o final da conversa parece-nos sinal de bom presságio, até porque Marion resolveu voltar à normalidade da sua vida e regressar a Phoenix para devolver o dinheiro. Com a perspectiva do duche que ela se prepara para tomar, há como que um certo alívio em nós, acreditamos que Marion vai reencontar de novo a pacatez e, quem sabe, a felicidade a que tem direito
Daí a surpresa brutal da famosa sequência do chuveiro, que Robin Wood dizia ser provavelmente “o mais horrível crime de qualquer filme”. Há o prodígio técnico dessa sequência (70 posições da câmara em 45 segundos de filme, segundo Hitchcock), mas há sobretudo a presença do horror inesperado e sem sentido. Porque, contra todos os códigos e convenções, Hitch mata a protagonista no primeiro terço do filme, retirando-nos o personagem com que até aí totalmente nos identificávamos. A história do roubo do dinheiro perde toda a sua importância e ficamos no vazio, no mistério daquela morte absurda.
A partir daqui é outro filme que se inicia. Seguimos as investigações do amante (John Gavin) e da irmã (Vera Miles) de Marion, acompanhados pelo detective da companhia de seguros incumbido do caso (Martin Balsam), mas agora já sem a cumplicidade com que nos identificámos com Marion. O nosso polo de atenção alterou-se, agora só nos interessa saber qual a razão do crime e desvendar o mistério da relação de Norman Bates com a mãe.
Pessoalmente sempre achei que esta “segunda parte” de “Psycho” não consegue manter toda a excelência que até aí testemunhámos. Sempre senti que a morte de Marion nos tira algo que não conseguimos repôr até final. O suspense mantém-se – não nos esqueçamos que estamos na presença do mestre absoluto do género – mas já sem a envolvência total do espectador, por não haver apego emocional a qualquer outra personagem. E aquele final explicativo (sequência que o próprio Hitch teve muitas dúvidas em filmar) pareceu-me sempre um objecto estranho na narrativa do filme. A patologia de Bates está mais do que revelada nessa altura, e por isso não haveria qualquer necessidade em fazer dela uma tese académica.
Na sua entrevista com Truffaut Hitchcock fala do seu grande orgulho em ter realizado “Psycho”: «A minha principal satisfação advém de o filme ter agido sobre o público, era o que mais me interessava. Em “Psycho”, o assunto pouco me importa, as personagens pouco me importam; o que me importa é que o conjunto dos bocados de filme, a fotografia, a banda sonora e tudo o que é estritamente técnico possam fazer gritar o público. Penso que é para nós uma grande satisfação utilizar a arte cinematográfica para criar uma emoção de massa. E com “Psycho” conseguimo-lo. Não se trata de uma mensagem que tivesse intrigado o público. Não se trata de uma grande interpretação que tivesse abalado o público. Não se trata de um romance muito apreciado que tivesse cativado o público. O que emocionou o público foi o filme puro.»
CURIOSIDADES:

- Algumas das actrizes equacionadas para o papel de Marion foram Eva Marie Saint, Piper Laurie, Martha Hyer, Hope Lange, Shirley Jones e Lana Turner

- Foi o último filme de Hitchcock a preto e branco, tendo sido rodado entre 30 de Novembro de 1959 e 1 de Março de 1960.

- Hitchcock faz a sua habitual aparição (com um chapéu de cowboy na cabeça) cerca dos 4 minutos de filme, no lado de fora do escritório onde Marion trabalha.
- Sendo o filme a preto e branco Hitchcock quis enfatizar o lado psicológico de Marion ao fazê-la usar lingerie branca antes dela roubar o dinheiro e lingerie preta depois do furto. De igual modo em relação à bolsa da personagem - branca antes, preta depois.

- "Psycho" foi o primeiro filme americano a mostrar uma sanita numa casa de banho. A ideia partiu do argumentista Joseph Stefano, que escreveu uma cena de propósito para esse fim - fez Marion rasgar uma folha de papel em pequenos bocados e lançá-los em seguida na sanita

- O cachet de Anthony Perkins foi de 40 mil dólares, exactamente a quantia roubada por Marion Crane

- Quando do lançamento, "Psycho" beneficiou de uma grande campanha publicitária, tendo sido rigorosamente proibida a entrada de espectadores na sala depois do início do filme. No foyer um gravador repetia a espaços o tempo que faltava para a sessão começar e num cartaz podia ler-se a seguinte mensagem assinada por Alfred Hitchcock: "The manager of this theatre has been instructed at the risk of his life, not to admit to the theatre any persons after the picture starts. Any spurious attempts to enter by side doors, fire escapes or ventilating shafts will be met by force. The entire objective of this extraordinary policy, of course, is to help you enjoy PSYCHO more."

- Em 2007 o American Film Institute classificou "Psycho" em 14º lugar da lista dos melhores filmes de sempre

- Toda a música, da autoria de Bernard Herrmann é tocada apenas por instrumentos de corda. Hitchcock ficou tão agradado com o efeito da música no filme que duplicou o salário de Herrmann