Um Filme de BRIAN KLUGMAN e LEE STERNTHAL
Com Bradley Cooper, Jeremy Irons, Dennis Quaid, Zoe Saldana, John Hannah, Ben Barnes, Nora Amezeder, Olivia Wilde, etc.
EUA
/ 102 min / COR / 16X9 (1.85:1)
Estreia
nos EUA a 27/1/2012
(Sundance Film Festival)
(Sundance Film Festival)
Estreia
em PORTUGAL a 1/11/2012
«We all make our choices in life.
The hard thing to do is live with them»
Há filmes assim, de que pouco ou nada ouvimos
falar, e que nos passam completamente ao lado, arriscando um anonimato precoce.
Felizmente não foi o caso. Mesmo com um ano de atraso deparei-me uma destas
noites com este “The Words”,
enquanto fazia o meu zapping habitual
pelos canais de cinema. A cena envolvia Jeremy
Irons, um dos meus actores de cabeceira, e como não fazia a mínima ideia de
que filme se tratava, resolvi premir o botãozinho mágico do comando e começar a
ver o filme desde o início. Em boa hora tomei tal decisão, pois caso contrário
deixaria de ver um filme interessantíssimo.
Estreia na realização dos argumentistas Brian Klugman (intérprete também de
várias séries televisivas) e Lee
Sternthal, “The Words” tem como
ponto de partida um facto verídico ocorrido em 1922, ano em que a mulher de
Ernest Hemingway perdeu vários manuscritos do escritor que se encontravam
dentro de uma mala, numa estação ferroviária de Paris. Apesar de se ter tratado
de um roubo, consta que ele nunca mais lhe perdoou. Aliás, existe uma cena do
filme em jeito de homenagem, onde se mostra a casa onde Hemingway viveu na
capital francesa.
“The
Words” começa com a apresentação
do best-seller de um escritor, Clay
Hammond (Dennis Quaid, um actor em via descendente) no auditório de uma livraria em Manhattan. O enredo
do livro diz respeito também a um escritor, Rory Jansen (Bradley Cooper, que, “ressacas à parte”, se impõe cada vez mais
como um dos melhores actores da sua geração), personagem que tem muito (ou
quase tudo) de auto-biográfico, como mais tarde iremos descobrir. Não se
conseguindo impor no mundo literário, vivendo à custa do pai, Rory decide
casar-se com Dora (Zoe Saldana) e o
casal vai passar a lua-de-mel a Paris.
Numa loja de antiguidades descobrem uma pasta bastante antiga que Dora decide oferecer ao recém-marido. Regressados a Nova
Iorque a vida retoma a rotina e a frustração do dia-a-dia, com o casal cada vez mais
endividado. Numa noite de insónia, ao arrumar uns papeis na pasta, Rory
descobre no forro um manuscrito muito antigo, cuja qualidade literária o
apaixona. Após algumas hesitações, a obsessão toma conta dele, e começa a
transcrever todo o livro para o computador, sem alterar em nada o conteúdo, nem
sequer a pontuação ou os erros gramaticais. Leva o “novo” trabalho ao responsável
da editora onde trabalha, que de imediato se oferece para o publicar. Escusado
será dizer que o livro se torna um best-seller
e Rory atinge a celebridade de um dia para o outro.
Só que…, e aqui se inicia a segunda parte da leitura de
Clay Hammond, entra em cena um velho – designado por the old man – que se vem a revelar como
o verdadeiro autor da obra. Segue Rory até Central Park e, num banco de
jardim, conta-lhe toda a sua história, passada no pós-guerra e que esteve na
origem da escrita do livro, que ele julgava perdido para sempre. A partir daqui todos os cenários, todas as consequências de tal revelação poderão ser possíveis.
Mas propositadamente não quero revelar esse
epílogo, em consideração pelas pessoas que ainda não viram o filme – e que
devem ser muitas. Este novo personagem, interpretado pelo veterano actor
britânico Jeremy Irons, é razão mais
do que suficiente para se assistir ao filme, dada a enorme qualidade da sua
prestação, toda ela pautada por grande sobriedade. Chego-me a interrogar se “The Words” seria o mesmo filme sem a
presença de Irons; julgo que não,
que seria algo completamente diferente.
Mas
para uma primeira obra, os estreantes Klugman
e Sternthal não se saíram nada mal.
O filme está muito bem realizado, o argumento - que concilia inteligentemente o
drama e o romance – é dinâmico e envolvente, mantendo o interesse do princípio
ao fim (apesar daquela sequência final ser um pouco extensa), os actores são de
primeira água, como acima já se referiu (excepção feita a Dennis Quaid), a cinematografia, de Antonio Calvache e, sobretudo,
a excelente banda – sonora (música assinada pelo compositor Marcelo Zarvos)
contribuem decisivamente para conferir a “The Words” um lugar de destaque na produção norte-americana dos
últimos anos. A não perder!