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quarta-feira, outubro 02, 2013

THE WORDS (2012)

AS PALAVRAS
Um Filme de BRIAN KLUGMAN e LEE STERNTHAL



Com Bradley Cooper, Jeremy Irons, Dennis Quaid, Zoe Saldana, John Hannah, Ben Barnes, Nora Amezeder, Olivia Wilde, etc.

EUA / 102 min / COR / 16X9 (1.85:1)

Estreia nos EUA a 27/1/2012 
(Sundance Film Festival)
Estreia em PORTUGAL a 1/11/2012



«We all make our choices in life.
The hard thing to do is live with them»

Há filmes assim, de que pouco ou nada ouvimos falar, e que nos passam completamente ao lado, arriscando um anonimato precoce. Felizmente não foi o caso. Mesmo com um ano de atraso deparei-me uma destas noites com este “The Words”, enquanto fazia o meu zapping habitual pelos canais de cinema. A cena envolvia Jeremy Irons, um dos meus actores de cabeceira, e como não fazia a mínima ideia de que filme se tratava, resolvi premir o botãozinho mágico do comando e começar a ver o filme desde o início. Em boa hora tomei tal decisão, pois caso contrário deixaria de ver um filme interessantíssimo.

Estreia na realização dos argumentistas Brian Klugman (intérprete também de várias séries televisivas) e Lee Sternthal, “The Words” tem como ponto de partida um facto verídico ocorrido em 1922, ano em que a mulher de Ernest Hemingway perdeu vários manuscritos do escritor que se encontravam dentro de uma mala, numa estação ferroviária de Paris. Apesar de se ter tratado de um roubo, consta que ele nunca mais lhe perdoou. Aliás, existe uma cena do filme em jeito de homenagem, onde se mostra a casa onde Hemingway viveu na capital francesa.

“The Words” começa com a apresentação do best-seller de um escritor, Clay Hammond (Dennis Quaid, um actor em via descendente) no auditório de uma livraria em Manhattan. O enredo do livro diz respeito também a um escritor, Rory Jansen (Bradley Cooper, que, “ressacas à parte”, se impõe cada vez mais como um dos melhores actores da sua geração), personagem que tem muito (ou quase tudo) de auto-biográfico, como mais tarde iremos descobrir. Não se conseguindo impor no mundo literário, vivendo à custa do pai, Rory decide casar-se com Dora (Zoe Saldana) e o casal vai passar a lua-de-mel a Paris.

Numa loja de antiguidades descobrem uma pasta bastante antiga que Dora decide oferecer ao recém-marido. Regressados a Nova Iorque a vida retoma a rotina e a frustração do dia-a-dia, com o casal cada vez mais endividado. Numa noite de insónia, ao arrumar uns papeis na pasta, Rory descobre no forro um manuscrito muito antigo, cuja qualidade literária o apaixona. Após algumas hesitações, a obsessão toma conta dele, e começa a transcrever todo o livro para o computador, sem alterar em nada o conteúdo, nem sequer a pontuação ou os erros gramaticais. Leva o “novo” trabalho ao responsável da editora onde trabalha, que de imediato se oferece para o publicar. Escusado será dizer que o livro se torna um best-seller e Rory atinge a celebridade de um dia para o outro.

Só que…, e aqui se inicia a segunda parte da leitura de Clay Hammond, entra em cena um velho – designado por the old man – que se vem a revelar como o verdadeiro autor da obra. Segue Rory até Central Park e, num banco de jardim, conta-lhe toda a sua história, passada no pós-guerra e que esteve na origem da escrita do livro, que ele julgava perdido para sempre. A partir daqui todos os cenários, todas as consequências de tal revelação poderão ser possíveis.

Mas propositadamente não quero revelar esse epílogo, em consideração pelas pessoas que ainda não viram o filme – e que devem ser muitas. Este novo personagem, interpretado pelo veterano actor britânico Jeremy Irons, é razão mais do que suficiente para se assistir ao filme, dada a enorme qualidade da sua prestação, toda ela pautada por grande sobriedade. Chego-me a interrogar se “The Words” seria o mesmo filme sem a presença de Irons; julgo que não, que seria algo completamente diferente.

Mas para uma primeira obra, os estreantes Klugman e Sternthal não se saíram nada mal. O filme está muito bem realizado, o argumento - que concilia inteligentemente o drama e o romance – é dinâmico e envolvente, mantendo o interesse do princípio ao fim (apesar daquela sequência final ser um pouco extensa), os actores são de primeira água, como acima já se referiu (excepção feita a Dennis Quaid), a cinematografia, de Antonio Calvache e, sobretudo, a excelente banda – sonora (música assinada pelo compositor Marcelo Zarvos) contribuem decisivamente para conferir a The Words” um lugar de destaque na produção norte-americana dos últimos anos. A não perder!