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quarta-feira, abril 18, 2012

SPARTACUS (1960)

SPARTACUS
Um filme de STANLEY KUBRICK

Com Kirk Douglas, Laurence Olivier, Jean Simmons, Charles Laughton, Peter Ustinov, John Gavin, Nina Foch, John Ireland, Herbert Lom, Woody Strode, etc.

EUA / 184 min (197 min) / COR / 
16X9 (2.20:1)

Estreia nos EUA a 6/10/1960
(New York)
Estreia no BRASIL a 17/11/1960


Antoninus: «Are you afraid to die, Spartacus?»
Spartacus: «No more than I was to be born»

De acordo com os compêndios históricos (ou, mais recentemente, com as enciclopédias digitais), Spartacus, ao que parece de raça númida e oriundo de uma família nobre, nasceu na Trácia (região que hoje em dia engloba a Grécia, Bulgária e Turquia), por volta do ano 110 antes de Cristo. Reduzido à escravidão por ter desertado do exército romano, foi levado para Cápua, onde se tinha estabelecido a principal academia de gladiadores. Inteligente, bom estratega militar e de força hercúlea, ficou na história como um herói da liberdade dos oprimidos. Dizem os historiadores antigos que um dos motivos que o levaram a sublevar-se foi ter encontrado a sua irmã Mirza reduzida à escravatura e obrigada a praticar a prostituição. No filme, revolta-se ao ver partir a escrava Varínia (Jean Simmons), vendida a Crasso (Laurence Olivier), militar e patrício romano.

Estátua de Denis Foyatier, Museu do Louvre, Paris
Spartacus, que viria a morrer na Batalha de Silaro, perto de Petelia, no ano 71 A.C. (com cerca de 40 anos portanto), foi algo mais que um rebelde. A sublevação por ele promovida, que aglutinou cerca de 100 mil escravos, teve um duplo interesse histórico. Em primeiro lugar, lutou pela liberdade dos escravos; em segundo lugar, por um objectivo político: a constituição de uma sociedade livre. Depois dos seus primeiros êxitos e vitórias, teve consciência da necessidade de uma estruturação social; apercebeu-se com clareza que teria de enfrentar Roma e lutou desesperadamente para que os seus seguidores se não reduzissem a simples bandos dedicados à pilhagem.


Com a desculpa, mais ou menos esfarrapada, de que “Spartacus” teria sido um filme renegado por Stanley Kubrick (o cineasta não chegou a tanto, lamentou-se apenas de não ter tido o controle desejado sobre vários aspectos da produção, algo que seria drasticamente alterado no futuro), certa crítica americana sempre preferiu excluí-lo das suas análises, limitando-se a algumas notas mais ou menos superficiais sobre ele. A verdade, no entanto, parece-me outra: é que “Spartacus” sempre foi conotado como uma obra esquerdista e sabe-se bem como a América reage a tudo o que lhe cheire a tais proveniências. Bastará dizer que o filme se baseia no romance de Howard Fast, membro do Partido Comunista, condenado à prisão pelos esbirros do maccarthismo, e escritor cujos livros foram retirados das bibliotecas públicas. E se acrescentarmos que o argumento foi escrito por Dalton Trumbo, que fez parte dos célebres “Dez de Hollywood” e que também conheceu as agruras da prisão, então podemos facilmente intuir a embirração desses críticos para com o filme.

De qualquer modo, “Spartacus” não se poderá considerar efectivamente um filme kubrickiano, no sentido mais lato, ou seja, de ser uma obra pensada, programada e executada pelo famoso realizador. Com efeito, Kubrick foi contratado por Kirk Douglas, na sua qualidade de produtor executivo, já a rodagem tinha começado (a sequência das minas de sal), sob a direcção de Anthony Mann, realizador com o qual Douglas se viria a desentender, acabando por o despedir. E mesmo depois as relações entre Kubrick, Trumbo e Douglas não seriam as melhores. Depois do filme concluído, Douglas chegou a dizer que nunca mais trabalharia com Kubrick (o que de facto aconteceu) e que estava arrependido de ter despedido Mann. Anos mais tarde o actor só aceitou participar no filme “The Heroes of Telemark” com a condição de que Mann fosse contratado para dirigir esse filme.

As filmagens tiveram imensos problemas. Jean Simmons teve de ser operada de urgência; Douglas aparecia tarde e a más horas no set das filmagens e apanhou um vírus durante dez dias; Ustinov, Olivier e Laughton ausentavam-se regularmente devido a compromissos publicitários e Tony Curtis chegou a ter um pé engessado por ter torcido o tendão de Aquiles a jogar ténis com Douglas. Além disso, Dalton Trumbo fazia alterações ao guião constantemente. Consequentemente, Kubrick adoptou um novo método de trabalho - improvisava no local das filmagens com os actores e criava cenas em vez de se basear em exclusivo no guião. Nas cenas em que não havia diálogos, Kubrick punha música adequada ao ambiente, como na época dos filmes mudos, para transmitir a emoção da cena.

A falta de liberdade de que Kubrick se queixava (e com razão), é, paradoxalmente, o tema que “Spartacus” aborda. E nenhum filme sobre esse princípio fundamental dos direitos humanos pode ser encarado de ânimo leve. Sobretudo se se trata de um filme que se eleva acima do ponto de vista liberal para entrar numa concepção mais crítica das relações sociais, estruturando-se numa abordagem popular da famosa revolta dos gladiadores (a mais importante rebelião de escravos de que há memória desde a antiguidade), que divulga, de um modo algo rudimentar, o esquema marxista da luta de classes. Nota-se bem que muitas das preocupações de Kubrick passaram pela tentativa de transformação do guião e da história original. Um exemplo: quer no livro de Fast quer no argumento de Trumbo, Spartacus morre em combate e de seguida é crucificado. O que fez Kubrick? Teve aquela ideia brilhante (e cruel) do duelo final, em que Antoninus e Spartacus se degladiam até à morte, tentando cada um deles levar de vencida o opositor, para desse modo o poupar ao terrível suplício da cruz.


O enredo de “Spartacus” assenta numa dezena de personagens principais que se destacam das massas, na oposição entre o Senado romano de um lado e o universo dos escravos rebeldes do outro. De salientar que a evasão e a revolta dos gladiadores é utilizada pelos expoentes do poder em Roma para lutarem entre eles, e desse modo assegurarem o controlo dos destinos do Estado, em jogos de bastidores e intrigas, afinal os contornos habituais de qualquer disputa pelo poder. A vitória acaba por sorrir a Crasso (Laurence Olivier) no confronto shakespeariano que mantém ao longo do filme com Graco (Charles Laughton), mas é uma vitória um pouco amarga pois não consegue atingir o objectivo principal que é o do aniquilamento da ideia da revolta e da liberdade: «I wasn’t afraid of Spartacus when I fought him, because I knew he could be beaten. But now I fear him, even more than I fear you, dear Caesar.»

O interesse político de "Spartacus" assenta na sua base revolucionária, formulada numa estruturação histórica própria - o confronto de duas mentalidades totalmente incompatíveis e incomunicáveis: a dos escravos, que se vai estruturando entre as coordenadas da vingança e da liberdade, com problemáticas de ordem e organização, e com uma clara visão do perigo da despolitização do movimento subversivo, e a dos patrícios, senadores e militares romanos, incapazes de avaliarem a sublevação dos escravos mais que como uma loucura ou um desespero. Para os romanos, a sua ordem social é “a” ordem social; para eles, não é possível outra forma social ou política avançada. O confronto destas duas mentalidades confere ao filme um novo dramatismo - temático-ideológico -, que compensa, ou pelo menos reduz, o sentimentalismo imperante em várias cenas.

Visualmente, “Spartacus” continua a ser impressionante, sobretudo após ter sido restaurado em 1991, num meticuloso trabalho de Robert A. Harris, que criou um novo negativo em 65 mm, a partir de fragmentos coloridos originais. E é um filme que não se esgota numa primeira visão, existe sempre alguma coisa a ser descoberta em cada retorno. De salientar também a excelência de todas as interpretações da parte de actores que hoje em dia já fazem parte da mitologia do cinema: Sir Laurence Olivier, Charles Laughton (aqui no seu penúltimo filme, o actor viria a falecer no dia 15 de Dezembro de 1962, com 63 anos), Peter Ustinov, Jean Simmons, Tony Curtis, John Gavin para além de Kirk Douglas, claro. Kubrick, apesar de aqui não ter tido a faca e o queijo na mão, e por isso ter sido obrigado, forçosamente, a ceder a algumas pressões, soube utilizar toda a largura do grande écran para comunicar com o público de um modo espectacular, conseguindo uma obra adulta, de inegável interesse, baseada num dramatismo chocante e realizada com grande força expressiva. "Spartacus" permanece como um dos cantos à liberdade mais ardentes e menos superficiais do cinema made in USA.

CURIOSIDADES:

- O som da multidão a gritar o nome de Spartacus foi gravado durante um jogo de futebol americano em 1959, no Spartan Stadium, propriedade da Universidade de Michigan

- Diversas cenas entre Peter Ustinov e Charles Laughton foram re-escritas pelo primeiro, devido a Laughton não ter gostado das constantes no guião original

- Ingrid Bergman, Jeanne Moreau e Elsa Martinelli rejeitaram todas elas o papel de Varínia. Jean Simmons foi escolhida pelo próprio Stanley Kubrick, apesar da pronúncia britânica da actriz (que os produtores queriam ser exclusiva dos intérpretes de personagens romanos)

- A versão original incluía uma cena nos banhos romanos em que Crasso (Laurence Olivier) tenta seduzir Antoninus (Tony Curtis), através de alusões eróticas à diferenciação entre ostras e caracóis. A "Liga de Decência Americana" acabaria por conseguir retirar essa cena da montagem final a ser exibida comercialmente. Na restauração levada a cabo em 1991 a cena foi reposta, mas parte dos diálogos tinham-se perdido. Tony Curtis concordou em gravar de novo a sua parte mas devido a Laurence Olivier já ter falecido, foi o actor britânico Anthony Hopkins que acedeu a gravar as falas do seu compatriota (o seu nome aparece por isso nos créditos da versão restaurada)

- O argumentista Dalton Trumbo queria que a Universal contratasse Orson Welles para o papel do pirata Tigranes Levantus. Mas foi o actor Herbert Lom (célebre pela sua personagem de chefe de polícia na série de filmes da Pantera Cor-de-Rosa) que acabou por desempenhar aquele pequeno papel


- Conta-se que durante as filmagens Tony Curtis teria desabafado com Jean Simmons: «Who do I have to screw to get off this film?»; ao que a actriz teria respondido: «When you find out, let me know»

- Em Junho de 2008, o American Film Institute classificou “Spartacus” no 5º lugar da lista dos melhores épicos de sempre

- John Wayne e Hedda Hopper, figuras conotadas com a ala direitista de Hollywood, apressaram-se desde logo a adjectivar o filme de “propaganda marxista”, mesmo antes do mesmo se estrear nas salas americanas (o nome de Dalton Trumbo teria sido o suficiente para despoletar tal atitude)

- Mais tarde Kirk Douglas viria a admitir que a razão principal pela qual se tinha envolvido no projecto de “Spartacus” fora o facto do realizador William Wyler o não ter aceite para desempenhar o papel de Ben-Hur (e mesmo o de Messala), na super-produção de 1959.

- A versão restaurada de 1991 contém exactamente mais 4 minutos de filme do que a versão original exibida nas salas de cinema em 1960. Dois desses minutos dizem respeito à cena já referida entre Olivier e Curtis (cortada na altura) e os restantes dois minutos são de pequenos excertos mais violentos de algumas sequências: a morte de Draba (com o corte no pescoço feito por Crassos) ou a amputação do braço de um soldado durante a batalha, por exemplo. O restante tempo, cerca de 9 minutos, foi usado na Overture, Entr’acte e Exit Music.

- “Spartacus” ganhou 4 Óscares da Academia (Cinematografia, Direcção Artística e Cenários, Guarda-Roupa e Actor Sendário – Peter Ustinov). Foi ainda nomeado nas categorias de Música e Montagem. Ganhou também o Globo de Ouro para o melhor filme-drama (mais 5 nomeações: Actor dramático – Laurence Olivier, Realização, Música Original e Actores Secundários – Peter Ustinov e Woody Strode)


sábado, setembro 25, 2010

PORTFOLIO - "PSYCHO" (1960)

PSYCHO (1960)

PSICO



Um filme de ALFRED HITCHCOCK



Com Anthony Perkins, Janet Leigh, John Gavin, Vera Miles, Martin Balsam, John McIntire


EUA / 109 min / PB / 16X9 (1.85:1)


Estreia nos EUA a 16/6/1960 (New York)
Estreia em Portugal a 22/11/1960


Norman Bates: "She might have fooled me, but she didn't fool my mother"

Após o grande sucesso de “North by Northwest”, um filme espectacular que tinha custado qualquer coisa como 4 milhões de dólares, Hitchcock pretendia fazer algo radicalmente diferente, na linha dos filmes B que na altura estavam na moda por gerarem facilmente boas receitas no box office, grande parte das vezes sem possuirem qualquer qualidade. No percurso de uma viagem comprou no aeroporto de Amesterdam um livro de bolso para se entreter no avião. Chamava-se “Psycho” e era escrito por um tal Robert Bloch. Quando chegou ao seu destino Hitchcock já não tinha dúvidas – faria daquele thriller psicológico o seu próximo filme. Comprou os direitos por nove mil dólares e decidiu rodar o filme a preto e branco porque, para além do seu já referido desejo de uma produção de baixo orçamento (“Psycho” custaria apenas 800 mil dólares) era uma maneira de tornear a censura que certamente não autorizaria a mostragem de todo o sangue descrito no livro num filme a cores.
A aposta de Hitch foi claramente ganha (“Psycho” tornou-se com os anos no maior êxito financeiro do realizador) e deve-lhe ter dado grande satisfação porque, como ele próprio sublinhou, o sucesso deveu-se não tanto ao valor do argumento ou da interpretação, mas àquilo a que chamou “puramente técnico”. «Neste filme», disse ainda, «tudo se deve à câmara, é a câmara que faz todo o trabalho. Evidentemente, não se conseguem as melhores críticas, porque os críticos só se interessam pelo argumento. Mas é preciso desenhar os filmes como Shakespeare construía as suas peças – para o público.»
Efectivamente a técnica de que Hitch fala começa logo no início do filme por nos introduzir ao pequeno mundo de Marion Crane (Janet Leigh). Depois de por alguns instantes deambular por telhados e prédios de Phoenix (somos desde logo avisados de que são 2 horas e 43 minutos da tarde de uma sexta-feira, dia 11 de Dezembro), a câmara vai-se aproximando de uma das janelas desses muitos prédios e entra na penumbra de um quarto de hotel onde Janet Leigh e John Gavin acabaram de ter uma relação sexual. Hitchcock explicou a Truffaut que a indicação da hora era importante porque sugeria ao espectador que «aquela era a única altura que ‘the poor girl’ Marion tinha para ir para a cama com o amante. A indicação da hora sugere que Marion se privou do almoço para fazer amor»
O espectador foi assim introduzido à normalidade de uma história de amor. Toda a situação parece comum ao que a experiência nos diz destes casos clandestinos, mas Hitchcock vai-se encarregar de nos fazer mergulhar nos obscuros mecanismos do subconsciente. Dá-nos a ver a banalidade das nossas vidas mas a breve trecho irá lançar-nos para fora da normalidade do dia-a-dia. Como? Fazendo-nos simpatizar com a personagem de Marion (apesar ou talvez por causa dos seus amores ilícitos) e é essa identificação que posteriormente nos leva a desculpá-la quando ela decide ficar com os 40 mil dólares em vez de os ir depositar ao Banco.
Continuamos a acompanhar Marion na sua saída da cidade, a torcer por ela, desejando que leve a sua empreitada a bom porto. Desejamos que se veja livre do polícia que por desconfiança a segue e só queremos que se desembarace rapidamente do chato vendedor de automóveis. Hitchcock faz-nos a vontade e acalma a nossa ansiedade com a chegada de Marion ao motel. Pelo menos ali Marion terá uma noite descansada. Ainda por cima o gerente, Norman Bates (Anthony Perkins no papel de toda uma vida), é um jovem tímido e simpático, que cuida da mãe enferma, e com quem Marion pode calmamente conversar.
No decurso dessa conversa (uma das sequências-chave de todo o filme) aparecem alguns indícios de que nem tudo estará bem, de que haverá por ali algumas inquietações a ter em conta: a enorme e sinistra casa sobranceira ao motel (o efeito de suspeição é criado pelo antagonismo da arquitectura das duas construções – a grande mansão na vertical, o pequeno motel na horizontal), os pássaros embalsamados (uma actividade um pouco estranha e fora do vulgar), alguns tiques nervosos de Norman, o timbre da voz de Mrs. Bates que ouvimos num diálogo à distância com o filho. Mas o final da conversa parece-nos sinal de bom presságio, até porque Marion resolveu voltar à normalidade da sua vida e regressar a Phoenix para devolver o dinheiro. Com a perspectiva do duche que ela se prepara para tomar, há como que um certo alívio em nós, acreditamos que Marion vai reencontar de novo a pacatez e, quem sabe, a felicidade a que tem direito
Daí a surpresa brutal da famosa sequência do chuveiro, que Robin Wood dizia ser provavelmente “o mais horrível crime de qualquer filme”. Há o prodígio técnico dessa sequência (70 posições da câmara em 45 segundos de filme, segundo Hitchcock), mas há sobretudo a presença do horror inesperado e sem sentido. Porque, contra todos os códigos e convenções, Hitch mata a protagonista no primeiro terço do filme, retirando-nos o personagem com que até aí totalmente nos identificávamos. A história do roubo do dinheiro perde toda a sua importância e ficamos no vazio, no mistério daquela morte absurda.
A partir daqui é outro filme que se inicia. Seguimos as investigações do amante (John Gavin) e da irmã (Vera Miles) de Marion, acompanhados pelo detective da companhia de seguros incumbido do caso (Martin Balsam), mas agora já sem a cumplicidade com que nos identificámos com Marion. O nosso polo de atenção alterou-se, agora só nos interessa saber qual a razão do crime e desvendar o mistério da relação de Norman Bates com a mãe.
Pessoalmente sempre achei que esta “segunda parte” de “Psycho” não consegue manter toda a excelência que até aí testemunhámos. Sempre senti que a morte de Marion nos tira algo que não conseguimos repôr até final. O suspense mantém-se – não nos esqueçamos que estamos na presença do mestre absoluto do género – mas já sem a envolvência total do espectador, por não haver apego emocional a qualquer outra personagem. E aquele final explicativo (sequência que o próprio Hitch teve muitas dúvidas em filmar) pareceu-me sempre um objecto estranho na narrativa do filme. A patologia de Bates está mais do que revelada nessa altura, e por isso não haveria qualquer necessidade em fazer dela uma tese académica.
Na sua entrevista com Truffaut Hitchcock fala do seu grande orgulho em ter realizado “Psycho”: «A minha principal satisfação advém de o filme ter agido sobre o público, era o que mais me interessava. Em “Psycho”, o assunto pouco me importa, as personagens pouco me importam; o que me importa é que o conjunto dos bocados de filme, a fotografia, a banda sonora e tudo o que é estritamente técnico possam fazer gritar o público. Penso que é para nós uma grande satisfação utilizar a arte cinematográfica para criar uma emoção de massa. E com “Psycho” conseguimo-lo. Não se trata de uma mensagem que tivesse intrigado o público. Não se trata de uma grande interpretação que tivesse abalado o público. Não se trata de um romance muito apreciado que tivesse cativado o público. O que emocionou o público foi o filme puro.»
CURIOSIDADES:

- Algumas das actrizes equacionadas para o papel de Marion foram Eva Marie Saint, Piper Laurie, Martha Hyer, Hope Lange, Shirley Jones e Lana Turner

- Foi o último filme de Hitchcock a preto e branco, tendo sido rodado entre 30 de Novembro de 1959 e 1 de Março de 1960.

- Hitchcock faz a sua habitual aparição (com um chapéu de cowboy na cabeça) cerca dos 4 minutos de filme, no lado de fora do escritório onde Marion trabalha.
- Sendo o filme a preto e branco Hitchcock quis enfatizar o lado psicológico de Marion ao fazê-la usar lingerie branca antes dela roubar o dinheiro e lingerie preta depois do furto. De igual modo em relação à bolsa da personagem - branca antes, preta depois.

- "Psycho" foi o primeiro filme americano a mostrar uma sanita numa casa de banho. A ideia partiu do argumentista Joseph Stefano, que escreveu uma cena de propósito para esse fim - fez Marion rasgar uma folha de papel em pequenos bocados e lançá-los em seguida na sanita

- O cachet de Anthony Perkins foi de 40 mil dólares, exactamente a quantia roubada por Marion Crane

- Quando do lançamento, "Psycho" beneficiou de uma grande campanha publicitária, tendo sido rigorosamente proibida a entrada de espectadores na sala depois do início do filme. No foyer um gravador repetia a espaços o tempo que faltava para a sessão começar e num cartaz podia ler-se a seguinte mensagem assinada por Alfred Hitchcock: "The manager of this theatre has been instructed at the risk of his life, not to admit to the theatre any persons after the picture starts. Any spurious attempts to enter by side doors, fire escapes or ventilating shafts will be met by force. The entire objective of this extraordinary policy, of course, is to help you enjoy PSYCHO more."

- Em 2007 o American Film Institute classificou "Psycho" em 14º lugar da lista dos melhores filmes de sempre

- Toda a música, da autoria de Bernard Herrmann é tocada apenas por instrumentos de corda. Hitchcock ficou tão agradado com o efeito da música no filme que duplicou o salário de Herrmann