Um filme de RICHARD FLEISCHER
Com Anthony Quinn, Silvana Mangano, Arthur Kennedy, Katy Jurado, Harry Andrews, Vittorio Gassman, Jack Palance, Ernest Borgnine, Valentina Cortese
ITÁLIA / 137 min / COR / 16X9 (2.20:1)
Estreia em ITÁLIA a 23/12/1961
Estreia nos EUA a 10/10/1962
Normalmente, quando chegam as festividades pascais, e apesar do meu profundo e inabalável ateísmo, apetece-me sempre ver um filme bíblico. Desta vez o eleito foi este “Barabbas”, uma história de ficção baseada numa passagem do Novo Testamento: Pôncio Pilatos, que estava um pouco renitente em mandar crucificar um homem aparentemente tão inofensivo como Jesus Cristo, resolve recorrer a uma tradição pascal (em que o povo de Jerusalém podia decidir a libertação de um dos condenados à morte), na esperança de que assim pudesse poupar a vida do nazareno. Enganou-se nas suas conjecturas – o povo escolheu libertar antes o ladrão e criminoso Barrabás.
Baseado na novela homónima do ecritor sueco Pär Lagerkvist (1891-1974), esta produção italiana de Dino de Laurentis relata a história desse homem. Uma história sombria e algo depressiva, interpretada por um leque de excelentes actores, de onde se destacam Jack Palance (no papel de Torvald, o sádico instrutor dos gladiadores) e, obviamente, Anthony Quinn, numa das personagens mais carismáticas de toda a sua brilhante carreira. Uma referência especial aos italianos Vittorio Gassman (como Sahak, o companheiro forçado de Barrabás) e a bela Silvana Mangano (no papel de Rachel, a prostituta convertida que será apedrejada até à morte). De todo o principal elenco deste filme, apenas o actor Ernest Borgnine se encontra ainda vivo, com a bonita idade de 94 anos
Depois dos episódios da crucificação, Barrabás voltará à vida de todos os dias, ou seja, ao crime e à ladroagem. Uma vez mais capturado, é enviado para as minas de enxofre, onde o trabalho desumano equivale practicamente a uma sentença de morte. Mas Barrabás consegue sobreviver, após vinte longos anos de cativeiro. Conhece Sahak, um cristão a ele acorrentado, que lhe revela a hedionda reputação do seu nome e o que ele significa no meio dos seguidores da nova religião – é mais uma acha para o tormento que acompanhou Barrabás durante todos aqueles anos.
No seguimento de um abatimento de terras, os dois homens são resgatados por um senador romano (devido a um pedido da mulher que os considera amuletos de sorte por terem sobrevido), que os leva para Roma para serem gladiadores. Shalak virá a sacrificar-se pelas suas crenças mas Barrabás sobrevive uma vez mais na arena: é-lhe concedida a liberdade pelo imperador após ter saído vencedor do combate com o cruel Torvald. Barrabás desenterra o corpo de Sahak e leva-o para junto dos seus correligionários. Entretanto deflagra o incêndio de Roma, sendo a respectiva responsabilidade atribuída aos cristãos. Barrabás vê nisso a possibilidade de se redimir do passado e resolve ajudar na propagação do fogo. Apanhado pelos guardas romanos, virá a ser crucificado como incendiário.
Numa altura em que não se sonhava sequer com as infindáveis possibilidades tecnológicas de hoje, Richard Fleischer conseguiu realizar um magnífico trabalho (que envolveu muitos milhares de figurantes) com recurso a parcos meios. As melhores cenas são sem dúvida as que decorrem na arena de Roma (aquela gargalhada de Torvald ficará para sempre associada a este filme e ao actor Jack Palance) e que provam aos apreciadores do género que este tipo de filmes não se iniciou com o “Gladiador”. Mas o que não falta em “Barabbas” são cenas memoráveis, desde a crucificação inicial ao incêndio de Roma, passando pelo colapso nas minas de enxofre. E a sequência de que nunca mais me esqueci, desde que vi o filme em criança pela primeira vez, é a do apedrejamento de Rachel na pedreira.
“Barabbas” teve a sua primeira apresentação em Itália no Natal de 1961, um ano depois do “Spartacus” de Kubrick se ter estreado nos EUA, e quando na memória de todos ainda se perfilava a grandiosidade de “Ben-Hur” (1959), épico orçamentado em 16 milhões de dólares. Ficando muito aquém dos orçamentos desses dois filmes, “Barabbas” não se pode por isso comparar-se-lhes, funcionando antes como uma espécie de filme B do género. De qualquer modo, e dentro das suas naturais limitações (e fraquezas) – sobretudo ao nível do argumento - consegue ser um filme ainda bastante interessante a cinquenta anos de distância.
CURIOSIDADES:
- O eclipse solar filmado durante a crucificação de Cristo aconteceu mesmo, tendo inclusivé obrigado a atrasos nas filmagens de modo a poder ser captado para o filme.
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