Mostrar mensagens com a etiqueta cécile de france. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta cécile de france. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, junho 02, 2011

HEREAFTER (2010)

OUTRA VIDA


Um filme de CLINT EASTWOOD


Com Matt Damon, Cécile De France, Bryce Dallas Howard, Frankie McLaren, George McLaren, Lyndsey Marshal, Jay Mohr, Marthe Keller


EUA / 129 min / COR / 16X9 (2.35:1)


Estreia no CANADÁ a 12/9/2010
(Festival Internacional de Toronto)
Estreia nos EUA a 10/10/2010
(Festival de Nova Iorque)
Estreia em PORTUGAL a 20/1/2011


Marie Lelay: «So you think I really did experience something?»
Dr. Rousseau: «Oh, yes.I think you experienced death»

“Hereafter” inicia-se com uma sequência espectacular, em que o uso da mais apurada das actuais tecnologias remete directamente para o filme-catástrofe. Mas a semelhança com o género termina logo ali, após aqueles primeiros dez minutos de cortar a respiração. É que ao contrário do usual nesses filmes, o arranque a todo o gás deste último filme de Clint Eastwood não é gratuito, antes pretende introduzir o tema principal – a morte – ou, se optarmos por uma tradução literal do título original, o “depois de aqui”. Situação que Marie Lelay (Cécile De France, uma agradável descoberta), a primeira protagonista principal introduzida pela história de Peter Morgan, vai temporariamente experimentar. A transição definitiva não se fará, mas a experiência é de tal modo forte que irá marcar para sempre a vivência da jornalista francesa.
Do tsunami na Ásia (na verdade filmado no Hawaii) viajamos até San Francisco, nos EUA, onde iremos conhecer George Lonegan (Matt Damon), um psíquico que tenta a todo o custo refazer o seu modo de vida, após traumáticas experiências vividas por causa da sua capacidade em comunicar com o Além. «Não é um dom, é uma maldição», não se cansa de repetir George ao irmão Billy (Jay Mohr), que persiste em aproveitar-se economicamente da situação. Mas a determinação de George é inabalável. E depois de ser despedido do novo emprego decide frequentar um curso italiano de culinária, onde vem a conhecer Melanie (Bryce Dallas Howard, a bonita e talentosa filha de Ron Howard). Mas apesar do incentivo musical de Puccini, Bizet ou Donizetti, cujos sons operáticos realçam o sensualismo de algumas cenas, o mais que provável romance não chega a acontecer: o passado interpõe-se entre os dois, Melanie afasta-se e George resolve viajar até Londres e conhecer  os locais onde viveu Charles Dickens, o seu herói literário de sempre.
Em Londres vive também Marcus, um garoto a atravessar uma fase difícil depois de recentemente ter perdido o irmão gémeo num acidente de viação (ambos são interpretados pelos pequenos actores Frankie e George McLaren). E será também a Londres que irá chegar Marie Lelay, para promover o lançamento de um livro escrito na sequência do episódio vivido durante o tsunami. A capital britânica irá assim servir de palco à ligação entre estes três desconhecidos provenientes de diferentes partes do mundo e que os mistérios da vida forçaram a um encontro até então  improvável.
“Hereafter” não pretende defender qualquer tese sobre a eterna questão de que se haverá vida depois da morte. Eastwood, cuja idade o impeliu naturalmente a abordar o tema central do filme (já havia indícios da preocupação do realizador com a morte em filmes recentes) não toma partido (curiosa a sua resposta à inevitável pergunta numa entrevista: «acreditei enquanto realizei o filme»), interessa-se antes em deixar ao seu público pistas alternativas de leitura, para que cada um de nós possa encontar a resposta que mais convenha às suas convicções. Ou seja, ao Interrogar-se sobre os mistérios da vida e da morte, as preferências de Eastwood pendem sobretudo para o lado dos vivos e da sua procura da felicidade enquanto habitantes deste mundo.
Não resisto aqui a transcrever parte do que o Sérgio Vaz escreveu no seu blogue “50 Anos de Filmes” ao dissertar sobre “Hereafter”: «Além da Vida é mais uma prova de que o grande cinemão comercial, os filmes de orçamento alto, não significam necessariamente porcaria, coisa rasa, burra, adolescente. É perfeitamente possível a coexistência da produção cara com a qualidade artística, com a finesse, com o grandeur. Esta é uma verdade óbvia, que a rigor não precisa de prova alguma – é um axioma que se prova a si próprio. Mas, como há muita gente que não consegue enxergar nem mesmo as verdades mais cristalinas, as verdades óbvias, os truísmos, resolvi anotar isso aqui. Além de tudo, Além da Vida é mais uma prova, gloriosa, límpida, de como são pequenas, canhestras, aborrecidas e antigas as mentalidades que costumam torcer o narizinho empinado diante do que chamam de “filme americano”. Além disso tudo, ainda prova mais: prova que a própria grande indústria tem sido imbecil na persistente insistência em fazer filmes voltados basicamente para o público ginasiano, de idade mental aborrescente. Aliás, Clint vem provando isso, ano após ano: filmes bons, sérios, voltados para o público adulto, também são rentáveis».
CURIOSIDADES:

- Após o tsunami ocorrido em Março, no Japão, o filme foi retirado das salas onde se encontrava em exibição.

- As cenas na estação de metro foram rodadas em Liverpool St Station (situada no extremo este da cidade de Londres) e não em Charing Cross.

- Steven Spielberg, um dos produtores executivos do filme, foi quem sugeriu o livro de Peter Morgan a Eastwood.

- Kathleen Kennedy, também produtora e assídua colaboradora de Spielberg, tem uma irmã gémea, à semelhança dos jovens protagonistas do filme

- O filme teve uma nomeação para os Óscares da Academia, na categoria de Efeitos Visuais.

- Nos extras incluídos no DVD, o actor Jay Mohr recorda um conselho dado por Matt Damon: «Aproveita ao máximo estes dias, que vão passar muito depressa. Porque daqui a algum tempo, quando estiveres a trabalhar noutro filme qualquer, vais recordar como era bom trabalhar com Clint Eastwood»

domingo, fevereiro 27, 2011

HAUTE TENSION (2003)

ALTA TENSÃO
Um filme de ALEXANDRE AJA




Com Cécile De France, Maïwenn Le Besco, Philippe Nahon, Franck Khalfoun, Andrei Finti, Oana Pellea


FRANÇA / 91 min / COR / 16X9 (2.35:1)


Estreia em França a 18/6/2003
Estreia nos EUA a 17/1/2004
(Sundance Film Festival)
Inédito comercialmente em Portugal




Marie: «Je ne laisserai plus jamais personne se mettre entre nous»

Segunda longa-metragem realizada aos 25 anos pelo francês Alexandre Aja, “Haute Tension” (“Switchblade Romance” na Grã-Bretanha) veio injectar novo sangue no género do horror, ao regressar à fórmula que tanto êxito obteve nos hoje chamados clássicos dos anos 70. No domínio desse tipo de filmes, a década de setenta foi sem dúvida um tempo de transformação. Esgotados e transfigurados alguns dos grandes mitos do passado (Drácula, Frankenstein, The Wolf Man...), nova galeria de inquietantes personagens se lhes veio acrescentar. Muitas delas nada trouxeram de novo, mas houve alguns filmes conotados como de série B que justificaram a descoberta do novo filão. Dois dos mais emblemáticos foram “The Last House on the Left” (1972), de Wes Craven e The Texas Chainsaw Massacre”, de Tobe Hooper (1974), nos quais este “Haute Tension” vai directamente beber nítidas influências.

Raramente um filme correspondeu tão bem ao seu título – estamos efectivamente em presença de uma tensão muito alta, que se inicia pouco depois do prólogo e que só nos permite voltar a respirar normalmente mesmo no fim do filme. Marie (Cécile De France) vai com a sua amiga Alex (Maïwenn Le Besco) para a casa de campo da família desta última. O objectivo é aproveitaram a pacatez e o isolamento do local para porem os estudos em dia. Mas logo na primeira noite entra em cena um assasino psicopata que chacina brutalmente os pais, o irmão mais novo e o cão de Alex, abandonando a casa com esta última como prisioneira na caixa da sua furgoneta. Marie, que durante toda a carnificina se consegue furtar à atenção do assassino,  introduz-se na furgoneta a tempo de acompanhar a amiga e tentar desse modo livrá-la de uma morte anunciada.

A grande força de “Haute Tension” é portanto a capacidade de reavivar imagens e sensações há muito esquecidas pelos apreciadores do género. Com um ritmo avassalador que não perde tempo a parodiar o que quer que seja (infelizmente uma das características mais comuns dos filmes actuais do género), Alexandre Aja presta uma homenagem ao cinema que provavelmente o aterrorizou enquanto jovem. De realçar o trabalho de Cécile de France – uma das novas coqueluches do cinema francês – na composição da personagem à volta da qual todo o filme se constrói, conferindo-lhe um grande vigor e sensualidade. É justamente nesse erotismo perturbador que “Haute Tension” joga os seus melhores trunfos, ao utilizar o sangue como elemento sexual, revelador último do carácter da jovem virgem.

Tecnicamente irrepreensível, com uma fotografia exuberante e uma banda-sonora apropriada (é de destacar aqui o êxito italiano dos Ricchi e Poveri, “Sarà Perché Ti Amo” e o tema “A Toutes Les Filles Que J’ai Aimé Avant”, de Felx Gray e Didier Barbelivian, ambos usados com certos propósitos), é no argumento ou, mais precisamente, nos últimos dez minutos, que “Haute Tension” desilude. Com efeito, a reviravolta introduzida, aquele twist final, deixa muito a desejar. Nem todos os filmes se prestam a “enganar” o espectador, tal como “The Sixth Sense” de Night Shyamalan o fazia exemplarmente.

Neste caso julgo que ninguém embarcará de ânimo leve na “revelação-surpresa”, nem mesmo após uma segunda e atenta visão do filme – as pontas soltas são em demasia para que até o mais crédulo possa ser convencido. Uma única excepção, a cena da masturbação, ocorrida imediatamente antes da chegada do assassino à casa, adquire novo significado quando nos encontramos já munidos desse conhecimento adicional. Mas apesar de tudo, este “fim de festa” decepcionante não consegue fazer esquecer tudo o que de bom e excitante “Haute Tension” contém, e que rapidamente o tornou conhecido e referenciado pelos amantes do slasher-movie.