Um filme de CLINT EASTWOOD
Com Matt Damon, Cécile De France, Bryce Dallas Howard, Frankie McLaren, George McLaren, Lyndsey Marshal, Jay Mohr, Marthe Keller
EUA / 129 min / COR / 16X9 (2.35:1)
Estreia no CANADÁ a 12/9/2010
(Festival Internacional de Toronto)
Estreia nos EUA a 10/10/2010
(Festival de Nova Iorque)
Estreia em PORTUGAL a 20/1/2011
Marie Lelay: «So you think I really did experience something?»
Dr. Rousseau: «Oh, yes.I think you experienced death»
Dr. Rousseau: «Oh, yes.I think you experienced death»
“Hereafter” inicia-se com uma sequência espectacular, em que o uso da mais apurada das actuais tecnologias remete directamente para o filme-catástrofe. Mas a semelhança com o género termina logo ali, após aqueles primeiros dez minutos de cortar a respiração. É que ao contrário do usual nesses filmes, o arranque a todo o gás deste último filme de Clint Eastwood não é gratuito, antes pretende introduzir o tema principal – a morte – ou, se optarmos por uma tradução literal do título original, o “depois de aqui”. Situação que Marie Lelay (Cécile De France, uma agradável descoberta), a primeira protagonista principal introduzida pela história de Peter Morgan, vai temporariamente experimentar. A transição definitiva não se fará, mas a experiência é de tal modo forte que irá marcar para sempre a vivência da jornalista francesa.
Do tsunami na Ásia (na verdade filmado no Hawaii) viajamos até San Francisco, nos EUA, onde iremos conhecer George Lonegan (Matt Damon), um psíquico que tenta a todo o custo refazer o seu modo de vida, após traumáticas experiências vividas por causa da sua capacidade em comunicar com o Além. «Não é um dom, é uma maldição», não se cansa de repetir George ao irmão Billy (Jay Mohr), que persiste em aproveitar-se economicamente da situação. Mas a determinação de George é inabalável. E depois de ser despedido do novo emprego decide frequentar um curso italiano de culinária, onde vem a conhecer Melanie (Bryce Dallas Howard, a bonita e talentosa filha de Ron Howard). Mas apesar do incentivo musical de Puccini, Bizet ou Donizetti, cujos sons operáticos realçam o sensualismo de algumas cenas, o mais que provável romance não chega a acontecer: o passado interpõe-se entre os dois, Melanie afasta-se e George resolve viajar até Londres e conhecer os locais onde viveu Charles Dickens, o seu herói literário de sempre.
Em Londres vive também Marcus, um garoto a atravessar uma fase difícil depois de recentemente ter perdido o irmão gémeo num acidente de viação (ambos são interpretados pelos pequenos actores Frankie e George McLaren). E será também a Londres que irá chegar Marie Lelay, para promover o lançamento de um livro escrito na sequência do episódio vivido durante o tsunami. A capital britânica irá assim servir de palco à ligação entre estes três desconhecidos provenientes de diferentes partes do mundo e que os mistérios da vida forçaram a um encontro até então improvável.
“Hereafter” não pretende defender qualquer tese sobre a eterna questão de que se haverá vida depois da morte. Eastwood, cuja idade o impeliu naturalmente a abordar o tema central do filme (já havia indícios da preocupação do realizador com a morte em filmes recentes) não toma partido (curiosa a sua resposta à inevitável pergunta numa entrevista: «acreditei enquanto realizei o filme»), interessa-se antes em deixar ao seu público pistas alternativas de leitura, para que cada um de nós possa encontar a resposta que mais convenha às suas convicções. Ou seja, ao Interrogar-se sobre os mistérios da vida e da morte, as preferências de Eastwood pendem sobretudo para o lado dos vivos e da sua procura da felicidade enquanto habitantes deste mundo.
Não resisto aqui a transcrever parte do que o Sérgio Vaz escreveu no seu blogue “50 Anos de Filmes” ao dissertar sobre “Hereafter”: «Além da Vida é mais uma prova de que o grande cinemão comercial, os filmes de orçamento alto, não significam necessariamente porcaria, coisa rasa, burra, adolescente. É perfeitamente possível a coexistência da produção cara com a qualidade artística, com a finesse, com o grandeur. Esta é uma verdade óbvia, que a rigor não precisa de prova alguma – é um axioma que se prova a si próprio. Mas, como há muita gente que não consegue enxergar nem mesmo as verdades mais cristalinas, as verdades óbvias, os truísmos, resolvi anotar isso aqui. Além de tudo, Além da Vida é mais uma prova, gloriosa, límpida, de como são pequenas, canhestras, aborrecidas e antigas as mentalidades que costumam torcer o narizinho empinado diante do que chamam de “filme americano”. Além disso tudo, ainda prova mais: prova que a própria grande indústria tem sido imbecil na persistente insistência em fazer filmes voltados basicamente para o público ginasiano, de idade mental aborrescente. Aliás, Clint vem provando isso, ano após ano: filmes bons, sérios, voltados para o público adulto, também são rentáveis».
CURIOSIDADES:
- Após o tsunami ocorrido em Março, no Japão, o filme foi retirado das salas onde se encontrava em exibição.
- As cenas na estação de metro foram rodadas em Liverpool St Station (situada no extremo este da cidade de Londres) e não em Charing Cross.
- Steven Spielberg, um dos produtores executivos do filme, foi quem sugeriu o livro de Peter Morgan a Eastwood.
- Kathleen Kennedy, também produtora e assídua colaboradora de Spielberg, tem uma irmã gémea, à semelhança dos jovens protagonistas do filme
- O filme teve uma nomeação para os Óscares da Academia, na categoria de Efeitos Visuais.
- Nos extras incluídos no DVD, o actor Jay Mohr recorda um conselho dado por Matt Damon: «Aproveita ao máximo estes dias, que vão passar muito depressa. Porque daqui a algum tempo, quando estiveres a trabalhar noutro filme qualquer, vais recordar como era bom trabalhar com Clint Eastwood»