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sexta-feira, outubro 25, 2013

GRAVITY (2013)

GRAVIDADE
Um Filme de ALFONSO CUARÓN





Com Sandra Bullock e George Clooney

EUA / 91 min / COR / 16X9 (2.35:1)

Estreia em ITÁLIA a 28/8/2013 
(Festival de Veneza)
Estreia nos EUA a 31/8/2013 
(Festival de Telluride)
Estreia em PORTUGAL a 10/10/2013


Ryan Stone: «It’s time to stop driving. It’s time to go home»


"Gravity" tem sido, na minha opinião, sobre-avaliado pela crítica especializada. A sua inclusão apressada no panteão das "obras-primas" da Sétima Arte acaba por gorar expectativas e prejudicar o próprio filme, que até tem os seus méritos. Compará-lo, por exemplo, a "2001, Odisseia no Espaço" revela uma grande falta de memória, que urge recuperar numa (re)visão urgente da obra genial de Kubrick. Ou seja, existem acontecimentos que, por direito próprio, passam a constituir marcos históricos na vida da humanidade e há outros que não, muito embora também possam permanecer nas nossas memórias pelas melhores (ou piores) razões.  Em relação aos primeiros haverá sempre o "antes de" e o "depois de": Cristo no mundo católico, a II Guerra Mundial na história da Europa, os Beatles na música pop ou, mais recentemente, o Mourinho no futebol, são alguns desses marcos. Tal como o "2001" do Kubrick o é no cinema, extravasando até o género em que se insere (ficção-científica). Pelo contrário, duvido muito que este "Gravity" venha a constituir-se num qualquer marco do cinema, apesar de, repito, ser um filme de méritos inquestionáveis.


Um desses méritos é ter sabido economizar o tempo de projecção. Tudo o que ultrapassasse a hora e meia que dura o filme seria excessivo e levaria inevitavelmente a uma grande sensaboria. Mesmo assim, essa sensaboria existe na primeira parte do filme, onde somos introduzidos às duas únicas personagens, o comandante Matt Kowalski (George Clooney, a fazer uma vez mais de George Clooney) e a Drª Ryan Stone (Sandra Bullock, num feliz regresso à credibilidade como actriz dramática). E se a primeira é uma personagem descartável, a segunda é aquela em torno da qual todo o filme gira. Literalmente.


No prólogo de "Gravity" (extenso em demasia) vamos então conhecer os dois astronautas do filme, na missão de recuperação de um telescópio espacial (o Hubble): ela uma engenheira especializada, ele um piloto veterano em fim de carreira. Um acidente distante em que um míssel russo destrói um satélite, vai originar uma chuva de destroços que os irá atingir a curto prazo e a alta velocidade. A restante tripulação - que não chegamos a conhecer - morre em consequência dos impactos desses destroços (a sequência mais espectacular de todo o filme, embora esteja longe de ser a minha preferida. Essa só acontece no final, em local já bem terreno). Bullock e Clooney passam assim a ser os únicos sobreviventes do embate.


Aos poucos vamos conhecendo alguns aspectos das personalidades de ambos, sobretudo da Drª Stone, cuja importância no desenrolar do filme passará a ser central, até porque acaba por ficar completamente sózinha na vastidão do espaço. Ela aceitou aquela missão para tentar esquecer a morte recente da filha e fazer do universo, silencioso e calmo, uma terapia para a sua perda. Quando a sucessão dos eventos parece prenunciar o fim da sua vida, Ryan, depois de um período de desalento, consegue arranjar a determinação necessária para regressar ao planeta Terra, local onde de facto a vida existe, uma vida que merece ser vivida, apesar de todos os desgostos e contrariedades que nos levam a sucumbir, a deixarmo-nos levar. «Don't let go...»


É na meia-hora final que "Gravity" atinge o seu esplendor. A tenacidade de Ryan, a reentrada na atmosfera terrestre da nave, que se vai aos poucos desintegrando (é curioso notar que as trajectórias dos pedaços incandescentes apresentam uma geometria que faz lembrar o caminho dos espermatozoides na fecundação do ovo), a amaragem do módulo nas profundezas do oceano e finalmente a libertação em direcção à luz, à superfície, tudo se conjuga harmoniosamente, como se de uma celebração da vida se tratasse. Ryan renunciou no espaço à dor e a um provável sentimento de culpa (pede a um já imaginário Matt que cuide da filha) para começar de novo, em terra firme, mais um ciclo da sua vida.


A par dos Efeitos Visuais (cuja utilização abusiva na primeira parte do filme é responsável por um certo cansaço visual, mas que depois se conseguem ajustar na perfeição à história), o filme tem no Som um dos seus maiores trunfos. Todos os ruídos, incluindo os silêncios, funcionam muito bem, acompanhando da melhor forma o desenrolar da história. Quanto à fotografia tridimensional aconselhada por muitos para se visionar o filme, fará certamente as delícias dos fans de James Cameron. Pessoalmente mantenho-me afastado dessa tecnologia, porque continuo convencido que o Cinema é uma arte que deverá expressar-se num écran plano e não tornar-se num espectáculo de feira.


CURIOSIDADES:

- Depois de Angelina Jolie ter recusado o papel principal, os produtores queriam Natalie Portman para protagonista. Mas esta também acabou por desistir, em virtude de se encontrar grávida na altura. Outras actrizes que chegaram a ser testadas: Rachel Weisz, Naomi Watts, Scarlett Johansson...

- Durante uma conferência de imprensa, um jornalista mexicano (Carlos Pérez) perguntou a Alfonso Cuarón se tinha sido muito difícil filmar no espaço. O realizador não se desmanchou e respondeu: «Tínhamos câmaras da Soyuz, a missão russa. Por isso estivemos 3 meses no espaço sem problemas.» A gargalhada foi geral na sala.



quarta-feira, fevereiro 22, 2012

THE DESCENDANTS (2011)

OS DESCENDENTES
Um filme de ALEXANDER PAYNE


Com George Clooney, Shailene Woodley, Amara Miller, Nick Krause, Judy Greer, Beau Bridges, Matthew Lillard, etc.


EUA / 115 min / COR / 16X9 (2.35:1)


Estreia nos EUA a 2/9/2011
(Festival de Telluride)
Estreia em PORTUGAL a 19/1/2012
Estreia no BRASIL a 27/1/2012


Matt King: [to Elizabeth] «Goodbye, Elizabeth.
Goodbye, my love, my friend, my pain, my joy.
Goodbye. Goodbye. Goodbye»

"The Descendants" é um filme com várias surpresas. Todas elas surpresas boas. A primeira de todas, a que salta mais à vista, é que, afinal, George Clooney consegue ser um bom actor. Provavelmente porque aquela personagem lhe assente que nem uma luva, ou porque lhe tenha sido suficiente ser ele próprio, sem grandes invenções. Mas na verdade parece haver ali muito mais representação do que a necessária para promover campanhas publicitárias do Nespresso. Já galardoado com o Globo de Ouro, nomeado para o próximo Óscar, o actor de 50 anos é, pode dizer-se, o grande trunfo deste filme. Trocando o habitual charme por uma postura mais vulgar, insegura, por vezes desajeitada, Clooney é extremamente convincente no papel de Matt King, um homem que nunca aprendeu a lidar com a própria famíla. Quer com as filhas, de cujos problemas sempre passou ao lado, quer com a mulher, que só a iminência da morte o faz acordar para a realidade.
Outra grata surpresa do filme é, de um modo geral, a grande qualidade do elenco secundário, desde Judy Greer, no papel da mulher do amante de Elizabeth King, passando pela pequena Amara Miller (Scottie, a filha mais nova) e culminando na grande revelação que é Shailene Woodley, uma actriz de 20 anos, vinda do mundo das séries televisivas e que tem aqui o seu primeiro grande papel no cinema. Shailene é de tal modo brilhante que, a espaços, consegue roubar o filme ao próprio Clooney. Como quando revela o segredo da relação extra-conjugal da mãe, naquela reacção (um misto de surpresa, pudor e diversão) à palmada que o pai lhe dá no rabo ou, sobretudo, na sequência da piscina, quando toma conhecimento do estado irreversível da mãe e oculta o pranto debaixo da água (um dos grandes momentos deste filme, senão mesmo o maior de todos e que nos ficará para sempre na memória).
Terceira surpresa: o equilíbrio com que o filme percorre a corda bamba, sem nunca resvalar para o melodrama piegas (uma palavra que agora está na moda) e convencional. E seria muito fácil, dada a história que nos é contada: a de Matt King, um advogado e proprietário de terras no Hawaii, sempre muito ocupado com os seus afazeres e por isso pouco presente na sua própria vida familiar. Herdeiro principal, juntamente com uma série de primos, de um grande território virgem, pode vir a tornar-se, a curto prazo, num dos homens mais ricos da região. Só que um acidente de barco atira-lhe a mulher para uma cama de hospital, em coma profundo. As prioridades são assim dramaticamente alteradas e Matt vê-se a braços com as duas filhas, raparigas problemáticas,das quais se tenta aproximar. Como se tal não bastasse, fica a saber que a mulher mantinha uma relação extra-conjugal e que tencionava divorciar-se. Entretanto os médicos revelam-lhe a dura realidade: o coma de Elizabeth é irreversível e ele tem de tomar a difícil decisão de autorizar que a desliguem das máquinas, apesar de a própria ter deixado tais instruções por escrito.
Alexander Payne é um atípico realizador americano. Oriundo de uma família grega (de apelido Papadopoulos), Payne, nascido a 10 de Fevereiro de 1961, em Omaha, Nebraska, estudou na Universidade de Salamanca, em Espanha, vindo mais tarde a licencear-se em História pela Universidade de Stanford, após o que concluiu com êxito o curso de cinema da UCLA, em 1990. Admirador confesso de Kurosawa, Buñuel, Ashby, Leone e Scorsese, Payne realizou a sua primeira longa-metragem há já 15 anos: "Citizen Ruth" [1996], com Laura Dern como protagonista. A partir daí, apenas mais 4 filmes: "Election" [1999], "About Schmidt" [2002], no qual conseguiu arrancar um magnífico desempenho a Jack Nicholson, "Sideways" [2004], talvez o seu melhor filme até à data, e agora, sete anos depois, este "The Descendants".
O cinema de Payne, pelo menos nos últimos três filmes (os únicos que vi), começa a evidenciar algumas constantes: personagens solitários, de baixa auto-estima, por vezes presos a certas angústias, histórias que oscilam constantemente entre o cómico e o trágico, o recurso frequente a monólogos, o tratamento, enfim, de relações humanas conflituosas, onde frequentemente o adultério e outros tipos de traições se encontram presentes, para além, também, do recurso habitual a um humor irónico e pouco convencional. Tudo isto misturado com muito bom gosto e servido sempre por uma excelente qualidade técnica. Por último, e talvez o mais importante de tudo, Alexander Payne é dos raros realizadores americanos que consegue ter a última palavra na montagem final dos seus filmes, sendo também argumentista de todos eles. A solo, ou acompanhado, como é o caso aqui, com Nat Faxon e Jim Rash.
Em "The Descendants" a missão de adaptar a obra homónima da escritora havaiana Kaui Hart Hemmings (que no filme desempenha o papel de Noe, a secretária de Matt), parece ter sido especialmente complexa, dada a profusão de sentimentos que o personagem principal atravessa. Mas o resultado final é bastante satisfatório, muito ajudado pela montagem escorreita de Kevin Tent e pela fotografia luminosa de Phedon Papamichael, a qual, apesar de nos mostrar muitas das maravilhas naturais do Hawaii, se afasta bastante do imaginário turístico. Um único senão: a utilização da voz-off para a narração na primeira pessoa, a denotar uma certa preguiça na transcrição da obra literária para o grande écran. Mas, de uma maneira global, estamos aqui em presença de um filme muito agradável de se olhar, apesar dele se desprender uma certa tristeza. Mas se o filme é por vezes triste, mesmo sombrio, os toques humorísticos conseguem dar-lhe a volta e torná-lo numa comédia dramática, original e refrescante.
Alexander Payne é, sem qualquer dúvida, um cineasta a ter em conta. Quer pelos filmes já realizados quer sobretudo pelas boas expectativas geradas. Aguardam-se os próximos capítulos. Entretanto, é já na madrugada da próxima segunda-feira, dia 27 de Fevereiro, que se realiza a cerimónia de entrega dos Óscares da Academia. Parece que Billy Crystal volta a ser o desejado anfitrião, e "The Descendants" encontra-se nomeado para 5 estatuetas: Filme, Realização, Montagem, Argumento-Adaptado e Actor Principal (George Clooney). Que injustiça Shailene Woodley não ter sido indigitada para melhor actriz secundária, tal como aconteceu nos Globos de Ouro. Felizmente que a jovem actriz tem já arrecadados diversos prémios em outros certames de cinema, quase todos atribuídos por associações de críticos: San Diego Film Critics, National Board of Review, Hollywood Film Festival, Hamptons International Film Festival, Florida Film Critics Circle, Dallas-Fort Worth Film Critics, para além de numerosas nomeações, numa demonstração inequívoca da sua grande revelação neste filme.
(NOTA: O filme veio a vencer apenas o Óscar do melhor Argumento-Adaptado)