Um filme de PETER GLENVILLE
Com Richard Burton, Peter O'Toole, John Gielgud, Gino Cervi, Paolo Stoppa, David Weston, Martita Hunt, Pamela Brown
GB-EUA / 148 min / COR / 16X9 (2.20:1)
Estreia nos EUA a 11/3/1964
King Henry II: "Do you ever think?"
Baron: "Never, sire! A gentleman has better things to do!"
Peter O’Toole regressa ao grande écran depois de “Lawrence of Arabia”. Foram dois anos de ausência, em que os cada vez mais numerosos fans do actor inglês desesperaram por o voltar a ver. A espera foi longa mas largamente compensatória – a representação de O’Toole é de igual modo fabulosa na personagem do Rei Henrique II de Inglaterra (figura que o grande actor inglês iria reviver quatro anos depois em “The Lion in Winter”, então numa fase mais adiantada da vida do monarca). Mas mais uma vez a nomeação para o Oscar não seria validada pela Academia de Hollywood cujas preferências em 1965 iriam para Rex Harrison em “My Fair Lady”.
“Becket” enferma de um erro básico que se reflecte no enredo central do filme – Thomas Becket era um normando e não um saxão. Jean Anouilh, que escreveu a peça de teatro onde o filme é baseado, admitiu ter descoberto o erro só após a conclusão do livro, para o qual se teria inspirado em “História da Conquista de Inglaterra pelos Normandos”, de Augustin Thierry (1825). Mas também confessou não ter reposto a verdade do facto histórico por pensar que isso não iria contribuir para um aumento de interesse junto do público.
Erros históricos à parte, o essencial em “Becket” é a amizade entre dois homens que as relações Estado-Igreja acabam por corromper. Thomas Becket (uma grande representação de Richard Burton também) começa por ser o confidente e companheiro inseparável do Rei nas suas constantes libertinagens e acaba santificado pelo Papa. Nesse percurso, e depois de consignado no cargo de Arcebispo de Cantuária pelo próprio Rei, Becket vem progressivamente a descobrir a sua vocação religiosa que em última análise o vai tornar no principal opositor de Henrique II e dos seus interesses de Estado, precipitando inclusivé o seu próprio assassinato.
“Becket” é um filme histórico, bem representativo de um tipo de cinema que se fazia nos anos 60. Hoje em dia poderá ser visto como um objecto estranho, dada a ausência de acção e efeitos circences que caracterizam qualquer reconstituição histórica da actualidade. Mas ainda bem que assim é, que nos podemos deleitar com todo o classicismo que este filme continua a destilar. Os magníficos cenários são filmados com as cores características das cameras dos anos 60, que desde então nunca conseguiram ser superadas; e o guarda-roupa é sumptuoso, contribuindo também para o esplendor visual que é olhar-se para este filme.
CURIOSIDADES:
- O túmulo de Thomas Becket foi um lugar de peregrinação durante séculos, tendo sido mandado destruir por Henrique VIII no início do século XVI. Um santuário foi mais tarde erigido no local.
- A peça de teatro foi levada à cena na Broadway, em 1960, com Laurence Olivier como Becket e Anthony Quinn no papel de Henrique II. Depois da saída de Quinn, Olivier passou a desempenhar a personagem do Rei e Arthur Kennedy, recém-entrado para a companhia, a de Becket. Dois anos depois, quando a peça estreou no West End em Londres, Peter O’Toole foi convidado a representar Henrique II, mas não o pôde fazer por se encontrar envolvido nas filmagens de “Lawrence of Arabia”
- Na cena em que Becket e o Rei descobrem uma rapariga nua debaixo de uns cobertores numa cabana nos bosques, Peter O’Toole quis pregar uma partida a Richard Burton substituindo a actriz por Elizabeth Taylor, que na altura já era mulher de Burton. Consta que este não ficou nada agradado com a brincadeira.
- O filme foi nomeado para 12 Oscars, tendo apenas recebido o Oscar para o melhor argumento adaptado.