Mostrar mensagens com a etiqueta 1980. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta 1980. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, abril 15, 2016

SOMEWHERE IN TIME (1980)

ALGURES NO TEMPO
Um filme de JEANNOT SZWARC




Com Christopher Reeve, Jane Seymour, Christopher Plumer, etc.

EUA / 103 min / COR / 
16X9 (1.85:1)

Estreia nos EUA a 3/10/1980




Elise McKenna: "Is it you?"
Richard Collier: "Yes"

Este pequeno diálogo corresponde a dois olhares enfim (re)encontrados no tempo. E esses dois olhares são o cerne deste filme: uma deslocação (e não propriamente “viagem”) ao passado, para concretização de uma obsessão amorosa. Richard Collier (Christopher Reeve, a provar aqui que não foi apenas o intérprete de "Superman") é um autor contemporâneo de peças de teatro que durante a estadia num hotel vê o retrato de Elise McKenna (bela Jane Seymour), uma actriz muito popular em 1912. A fascinação vai tomando conta do escritor, à medida que uma série de sinais parecem indiciar uma relação anterior entre os dois. Completamente absorvido pela necessidade irresistível de encontrar aquela mulher, Richard descobre finalmente uma maneira de concretizar o seu desejo: um regresso ao passado por sugestão auto-hipnótica.




Concordo plenamente: trata-se de uma idiotice completa, sem pés nem cabeça. Mas a verdade é que tudo aquilo “funciona”! Uma vez introduzidos na trama do filme, passamos a acreditar, convictamente; e temos quase a certeza da possibilidade física de tal retorno. O filme tem realmente o poder de nos conduzir a um mundo mágico onde os maiores desejos podem sempre ser realizados. É talvez essa a razão da grande popularidade de “Somewhere in Time” que desde a sua estreia, em 1980, tem progressivamente vindo a tornar-se na referência primeira do filme-romântico. A ponto de ter já originado um clube de fans ("INSITE - The Int'l Network of Somewhere in Time Enthusiasts") que, entre outras coisas, organiza periodicamente estadias no Grand Hotel do Michigan, onde o filme foi rodado.


CURIOSIDADES:

- Devido a direitos de autor, a versão video substituíu o "Theme from Somewhere in Time" tocado durante a projecção do genérico final pelo pianista Roger Williams por outra música.

- O professor universitário chama-se "Finney", uma homenagem de Richard Matheson a Jack Finney, escritor de ficção científica.

- A circulação automóvel não é permitida em Mackinac Island, Michigan, onde se situa o Grand Hotel e a maior parte dos locais de rodagem do filme. Assim, foi necessária uma licença especial da câmara da cidade para que pudessem ser usados carros durante as filmagens. Mas tal licença não abrangeu os elementos da produção (actores e técnicos) que não puderam guiar os carros fora das filmagens.

- A edição especial em DVD (Região 1) para comemorar o 20º aniversário do filme foi digitalmente remasterizada para uma melhor imagem e inclui um novo documentário de 60 minutos intitulado "Back To Somewhere In Time", com entrevistas aos actores e técnicos, bem como um comentário audio do realizador e uma pequena abordagem ao clube de fans do filme.




PORTFOLIO:
















terça-feira, fevereiro 11, 2014

DRESSED TO KILL (1980)

VESTIDA PARA MATAR
Um Filme de BRIAN DE PALMA




Com Michael Caine, Angie Dickinson, Nancy Allen, Keith Gordon, Dennis Franz, David Margulies, Susanna Clemm, etc.

EUA / COR / 105 min / 16X9 (2.35:1)

Estreia nos EUA a 25/7/1980
Estreia em PORTUGAL a 5/6/1981


Liz Blake: «Thank god, straight fucks are still in style!»

“Dressed To Kill” é talvez um dos filmes de Brian De Palma que mais acusa a passagem do tempo. E isso apesar de conter duas das melhores sequências do seu cinema: a emocionante perseguição no metro e, sobretudo, todo o encadeamento imagético que se inicia no museu e culmina no assassínio de Angie Dickinson no elevador. Aliás, só por causa desta última sequência vale a pena rever o filme. No entanto, para os detractores do realizador, esta é a obra que eventualmente lhes dará mais razão quando muitas vezes acusam Brian De Palma de copiar descaradamente o cinema de Hitchcock. Na verdade, neste filme em particular, o fantasma de “Psycho” encontra-se omnipresente, não há forma de negá-lo. 


Mas ao contrário da remake de Gus Van Sant, de 1998, em que a obra original era refeita practicamente plano por plano, aqui trata-se sobretudo de recriar situações análogas num novo contexto, ao qual não será estranho o próprio universo fílmico do realizador, que chega a evocar-se a ele próprio. Relembrem-se as sequências que abrem e fecham “Dressed To Kill”, ambas inspiradas directamente no filme “Carrie”, datado de quatro anos antes. Na primeira nem sequer falta o sabonete a rodar por entre as partes íntimas do corpo feminino, e a única diferença é a descoberta menstrual ser substituída pelo prazer masturbatório. Na última tenta-se recriar o mesmo sobressalto final, sem contudo se conseguir atingir a mestria desse filme. Aliás, o que em “Carrie” era genuíno e inovador, aqui não vai além de uma cópia algo grosseira.


No número saído a 16 de Outubro de 1980 a revista Rolling Stone interrogava-se: «Brian De Palma: the new Hitchcock or just another rip-off?» - uma pergunta que durante alguns anos pairou no pensamento da maior parte dos críticos (e que se calhar ainda não obteve uma resposta conclusiva de muitos deles). Pessoalmente, julgo que, influências à parte (de que ninguém se pode isentar), De Palma conseguiu o seu espaço próprio, quer na estilização quer na técnica com que tem adornado os seus filmes. À semelhança do seu mentor, De Palma coloca-se quase sempre a uma distância irónica das suas histórias. Sem a arte ou o classicismo do mestre, como é evidente, mas com um sentido satírico ainda mais profundo. Ou seja, subverte frequentemente as suas personagens, tornando-as quase caricaturas do american way of life. Vejam-se por exemplo, neste “Dressed To Kill”, as figuras do cínico inspector Marino ou dos hooligans do metro.


Em “Dressed To Kill” o sexo encontra-se presente ao longo de toda a trama e não sómente nas cenas mais ou menos explícitas, como a já citada sequência de abertura. Na verdade, é toda uma tensão erótica que atravessa o filme do princípio ao fim e que se encontra subjacente a todos os episódios nele contidos. De Palma aborda sem qualquer prurido numerosos aspectos da sexualidade, que vão dos comuns e naturais aos mais particulares e secretos - desde a evocação dos jogos de sedução (mais uma vez de realçar a famosa sequência do museu) ao adultéro, à masturbação, ao voyeurismo, ao strip-tease, à prostituição. Nada fica de fora, nem sequer um certo tipo de pedofilia, levemente sugerida na relação entre Liz (Nancy Allen) e Peter (Keith Gordon). Até a música sensual de Pino Donaggio foi escolhida intencionalmente para enraizar todas estas variantes do sexo no espírito do espectador.


“Dressed To Kill” pode por isso ser considerado um thriller erótico, assente numa arquitectura emocional, que mistura uma mestria refinada com pinceladas, aqui e ali, de um certo mau gosto. Angie Dickinson, uma das razões pelas quais a revisão de “Dressed To Kill” continua a cativar, mostra à saciedade a razão pela qual sempre foi associada ao erotismo no cinema, mesmo que tenha sido dobrada nos momentos mais explícitos, como na cena do duche. Ao seu lado é gratificante reencontrarmos o sempre perfeito Michael Caine ou os habitués dos filmes de Brian De Palma, como Dennis Franz (aqui no papel do detective Marino) e a sempre sensual Nancy Allen (na altura casada com o realizador). De referir ainda a presença de Keith Gordon, futuro realizador e herói de “Christine”, de John Carpenter.


CURIOSIDADES:

- Os exteriores da sequência do museu foram rodados em Nova Iorque, ao passo que os interiores mostram o Museu de Arte de Filadélfia. O quadro do gorila (intitulado “Reclining Nude”) encontra-se hoje no gabinete do gerente do museu.

- Brian De Palma chegou a oferecer o papel do Dr. Robert Elliott a Sean Connery, que com muita pena sua não pôde aceitar, devido a compromissos já assumidos na altura.

- Angie Dickinson declarou no programa televisivo “The Tonight Show” que o papel desempenhado neste filme (com uma duração total de apenas 20 minutos) era o seu favorito de sempre. A actriz tinha 48 anos quando filmou “Dressed To Kill”.

- Em todas as cenas (excepto no final, em casa do Dr. Elliott), a personagem da psycho-killer Bobbi é interpretada por Susanna Clemm, que também desempenha o papel da detective Luce.



quarta-feira, outubro 16, 2013

MOTHER'S DAY (1980)

O DIA DA MÃE
Um Filme de CHARLES KAUFMAN


Com Nancy Hendrickson, Deborah Luce, Tiana Pierce, Holden McGuire, Billy Ray McQuade, Rose Ross, etc.


EUA / 98 min / COR / 16X9 (1.85:1)


Estreia nos EUA a 15/9/1980
Estreia em PORTUGAL a 17/6/1983
(Lisboa, cinema Eden)

Abbey: «Jackie, everywhere you turned in life you got shit.
Well now we'll do the fighting back for you»

“Mother’s Day” esteve muito bem acompanhado logo na 2ª edição do Fantasporto, em 1983: “Blade Runner” (Tony Scott), “Possession” (Andrzej Zulawski), “A Casa do Cemitério” (Lucio Fulci), “Stalker” (Andrei Tarkovski), ou “Les Fantômes du Chapelier” (Claude Chabrol), eram alguns dos filmes a concurso. Não ganhou, é certo (o vencedor nesse ano foi o “Scanners” do David Cronenberg), nem sequer o merecia (com tantos colegas ilustres), mas a verdade é que se tornou rapidamente num filme de culto, hoje em dia muito pouco visto ou conhecido. 

O prólogo de “Mother’s Day” mostra-nos uma daquelas sessões de convivência beata, onde toda a gente se beija e abraça, para gáudio do promotor do espectáculo, que assim irá conseguir meter mais umas centenas de dólares ao bolso. No final da sessão, um casal de jovens hippies aceita boleia de uma simpática velhota, planeando roubá-la e eventualmente assassiná-la. Só que o feitiço se vira contra o feiticeiro, e após o aparecimento em cena dos simpáticos filhos da idosa os acontecimentos precipitam-se e são os jovens que acabam degolados no meio da floresta de New Jersey. Segue-se o genérico inicial e somos então apresentados a um trio de amigas, Abbey (Nancy Hendrickson), Jackie (Deborah Luce) e Trina (Tiana Pierce) ex-universitárias, que uma vez por ano se reúnem para passarem um fim-de-semana no campo. E já se está mesmo a ver qual o local escolhido para o novo encontro...


Resumindo, as três amigas são sequestradas pelos filhos da mamã que levam as suas novas presas para o lar, doce lar (uma cabana no meio da floresta), onde os aguarda a matriarca, pronta a presidir a mais uma sessão de jogos e divertimentos, para desanuviar a monotonia dos seus rebentos. Quando as meninas procuram fugir, sem sequer se despedirem dos seus amáveis anfitriões, é que tudo se precipita. Uma delas não resiste a tanta excitação e acaba mesmo por morrer, após ser violada. E as outras duas resolvem então vingar-se e regressar à casa para um ajuste de contas final.

Incluindo-se no género de terror gore, “Mother’s Day” subverte-o completamente através de um humor bem negro. A originalidade do filme é tentar conciliar aspectos característicos desse género, mas em locais e com funções totalmente diversas. Em lugar de serem os elementos tradicionalmente “puros” a serem ameaçados pelo mal, o mal é aqui identificado com os valores mais sacralizados: a Mãe (Rose Ross), os filhos (Holden McGuire e Billy Ray McQuade) que a procuram “honrar” o melhor que sabem, a família, em suma. Uma ideia na verdade bem divertida, onde a engenhosidade do argumento – escrito pelo próprio Kaufman – tira o melhor partido de um elenco sem nomes sonantes e de uma equipa técnica mais ou menos vulgar. Para os fans de “The Texas Chainsaw Massacre” (1974) este “Mother’s Day” constitui uma variante bem mais divertida do que o clássico de Tobe Hooper.