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quinta-feira, dezembro 23, 2021

DET SJUNDE INSEGLET (THE 7TH SEAL) (1957)

O SÉTIMO SÊLO
Um Filme de INGMAR BERGMAN



Com Max Von Sydow, Gunnar Björnstrand, Bibi Andersson, Bengt Ekerot, etc.

SUÉCIA / 96 min / PB / 4X3 (1.37:1)

Estreia na SUÉCIA a 16/2/1957
Estreia em PORTUGAL a 23/10/1963





Foi com 18 anos que o cinema de Ingmar Bergman começou a fazer parte da minha vida. O filme, já datado de quinze anos, foi "O Sétimo Sêlo". Nomeado para a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1957, viria a ganhar o Prémio Especial do Júri em parceria com o filme "Kanal", de Andrzej Wajda. Era o segundo filme de Bergman a ser conhecido para além das fronteiras do seu país natal, a Suécia. O primeiro tinha sido o "Sorrisos duma Noite de Verão" no ano anterior, que inaugurou também o cinema de Bergman em solo português: estreou-se no cinema Império, em Lisboa, no dia 17 de Fevereiro de 1960. Mas voltando ao "Sétimo Sêlo": vi-o em Lourenço Marques, no Estúdio 222 (anexo ao cinema Dicca), a 18 de Junho de 1971, uma sexta-feira à noite. O impacto que o filme teve nessa altura nos neurónios da minha geração, foi avassalador! Os jovens cinéfilos que grande parte de nós nos considerávamos, ávidos de coisas diferentes do habitual, sentiram de repente que estavam diante de algo muito especial e transcendental. Afinal o cinema não era só entretenimento, as grandes questões podiam ser também equacionadas face ao que nos era mostrado no grande écran: Deus e o Diabo, a Morte ou o Sentido da Vida. Foi um filme que, no meu caso pessoal, serviu de rastilho para começar a ver outros tipos de filmes e, sobretudo, a começar a ler tudo o que me aparecia pela frente sobre o cinema e o modo como os filmes eram feitos. Nunca mais parei...

Antonius Block: «Who are you?»
Death: «I am Death»
Antonius Block: «Have you come for me?»
Death: «I have long walked by your side»
Antonius Block: «I know»
Death: «Are you prepared?»
Antonius Block: «My body is frightened, but I am not»

“Det Sjunde Inseglet” (o título original em sueco) é, ainda hoje, um dos filmes mais conhecidos de Ingmar Bergman. Aclamado como uma obra-prima cinematográfica, o filme é uma alegoria magistral do homem à procura do significado da vida. Um cavaleiro, Antonius Block (Max Von Sydow), retorna das Cruzadas para casa e encontra o seu mundo destruído pela peste negra. A Morte aparece para levá-lo, mas Block recusa-se a morrer sem ter entendido o sentido da vida. Propõe então um jogo de xadrez, numa derradeira tentativa de enganar o grande ceifador. Apercebendo-se de que está em desvantagem Block tenta enganar a Morte virando o tabuleiro. Mas a Morte reconstitui o jogo, e o cavaleiro é obrigado a continuar a jogar. 




Ao longo dos anos os críticos têm procurado respostas de todo o tipo, tentando explicar a profusão de alusões e alegorias que o filme encerra. O próprio Bergman referiu que o filme o ajudou a ultrapassar a angústia perante a morte, falando dele como uma superação: «Tinha medo daquele enorme vazio, mas a minha opinião pessoal é que quando morremos, morremos, e passamos de um estado de qualquer coisa para o estado do nada absoluto; e não acredito nem por um segundo que haja alguma coisa acima ou para além, ou como se queira dizer; e isso enche-me de segurança».


Obcecado pela representação da Morte nos frescos da Idade Média, Bergman insere aqui esse tema tantas vezes tratado nos seus filmes, inscrevendo-o num contexto religioso, que está na própria origem da sua obsessão. Mas a questão é posta por um homem moderno, retomando assim a atitude dos artistas e pensadores da Renascença, isto é, de uma época em que o espírito começou a derrubar as barreiras dogmáticas e místicas na procura do conhecimento. Essa procura do conhecimento levou o cavaleiro Block até à Terra Santa como era natural que acontecesse com um espírito inquieto daquela época. Voltou sem ter encontrado a resposta desejada. E a partida de xadrez é a última tentativa feita por Block para tentar descobrir os segredos da Vida e da Morte.




"O Sétimo Sêlo", meditação sobre a morte, é, paradoxalmente, a vitória da vida sancionada pelo amor. E o amor torna-se, assim, uma resposta a todas as interrogações. Os puros, os inocentes, são aqueles que amam. Basta tomarmos consciência deste facto para que essa Vida, ainda que absurda, visto conduzir ao nada, possa ser vivida plenamente. Bergman mostra-nos como o homem moderno se priva a si próprio da felicidade, teimando em procurar o irracional, e como também ele se torna masoquista por receio da morte e do que virá após ela. À humanidade do século XX, minada pela angústia de uma guerra atómica, tal como a humanidade da Idade Média o era pela peste apocalíptica, Bergman dá uma lição de vida, sem no entanto afirmar ou negar seja o que for. Como escreveu Eric Rohmer, «"O Sétimo Sêlo" é antes de tudo um filme onde o que vale não é tanto a originalidade da filosofia de Bergman... como a maneira precisa como ele conseguiu exprimir na tela todos os seus cambiantes.»




É particularmente significativo que Bergman tenha situado “O Sétimo Sêlo” num mundo tão marcado pela presença (“opressiva”, de várias maneiras) da religião, como era o mundo medieval. Voltando a citar o realizador, «a ideia de um Deus cristão tem algo de destrutivo e terrivelmente perigoso. Ele faz emergir um sentimento de risco iminente, e por consequência traz à luz forças obscuras e destrutivas». Enquanto vai descobrindo os aspectos mais hediondos do fervor religioso, Block toma quatro pessoas sob a sua proteção: o ateu Squire Jons, um casal de jovens saltimbancos, Mia e Jof, mais o seu bebé. Alguns críticos associam os nomes e a presença quase imune à morte do casal à Sagrada Família. No fim, como seria inevitável, Antonius Block perde a partida de xadrez. A Morte toma-o, a ele e aos seus, para os lançar numa dança macabra à qual o casal de actores consegue escapar. Através da representação do actor Bengt Ekerot, Bergman criou a mais célebre “encarnação” da morte de toda a história do Cinema. “O Sétimo Sêlo” é mesmo indissociável dessa figuração, que se fixou no imaginário colectivo do século XX. Este é o “filme da morte”, este é o “filme do jogo de xadrez”!

terça-feira, agosto 07, 2012

THE INCREDIBLE SHRINKING MAN (1957)

SENTENCIADO
Um filme de JACK ARNOLD



Com Grant Williams, Randy Stuart, April Kent, Paul Langton, Raymond Bailey, etc.


EUA / 81 min / P&B / 16X9 (1.85:1)


Estreia nos EUA a 22/2/1957 (New York)


Scott Carey: «To God there is no zero. I still exist»

Um casal norte-americano - bem típico da classe média dos anos 50 - Scott e Louise Carey (Grant Williams e Randy Stuart), passeia-se languidamente no seu pequeno barco de recreio. Quando a mulher lhe vai buscar uma cerveja ao interior da embarcação, Scott testemunha um estranho fenómeno: o aparecimento repentino de um nevoeiro que por instantes o irá envolver. O incidente é rapidamente esquecido e o casal volta à vida normal de todos os dias. Mas, passados seis meses, Scott começa a notar que as suas roupas lhe estão a ficar largas. A princípio o facto é encarado de ânimo leve (Louise confessa-lhe o seu agrado por vê-lo perder um pouco de peso), mas, pouco a pouco, o terror começa a instalar-se, ao constatarem que Scott está a diminuir de tamanho a olhos vistos. E todas as tentativas médicas para deter tal processo revelam-se inúteis. Até onde chegará a diminuição de Scott?
É este o enredo central de "The Incredible Shrinking Man", um dos mais célebres filmes de ficção-científica dos anos 50. Baseado numa novela de Richard Matheson, autor incontornável do fantástico, e realizado por Jack Arnold, outro mago do género, o filme é percorrido por duas grandes linhas de força: a aventura propriamente dita, e uma alegoria sobre a alienação do homem moderno, a sua importância na sociedade e, em última análise, a razão da sua existência. Respondendo à pergunta do parágrafo anterior: a diminuição de Scott não pára, irá desenvolver-se para além do imaginário, rumo ao infinitesimal. O filme vai acompanhando as várias etapas e a adaptação de Scott a cada uma delas.
Quando o seu tamanho já se encontra reduzido a apenas alguns centímetros, Scott é obrigado a viver numa casa de bonecas, para assim se proteger do ambiente hostil à sua volta. Um dia, ao saír de casa, Louise deixa entrar inadvertidamente o gato e este ataca Scott. O nosso herói consegue escapar mas cai pelas escadas que conduzem à cave, indo aterrar numa caixa contendo roupas antigas, facto que lhe salva a vida. Quando regressa, Louise dá-se conta da tragédia, presumindo que o marido foi devorado pelo gato por ver neste vestígios de sangue. Mas Scott continua vivo, muito embora lutando pela sobrevivência num mundo diferente, equivalente para ele a um planeta desconhecido onde os perigos espreitam a cada esquina.
Para além do lado fantástico da história, Matheson e Arnold acentuam o drama humano de Scott, o que torna este filme realmente um caso único. A identificação do espectador com Scott é total («e se isto me acontecesse?», ter-se-ão interrogado muitos), devido a toda a acção ser nele focalizada, evitando qualquer intriga paralela ou secundária. As primeiras etapas da metamorfose de Scott são servidas por imagens simples mas extremamente eficazes: o alargamento progressivo das mangas das camisas e das calças, as radiografias de Scott, que sobrepostas revelam a diminuição do seu corpo, ou aquele plano magnífico das costas da cadeira, em que por alguns instantes, só vemos Louise e o irmão a falarem para o vazio. Depois a câmara roda e vemos o infeliz Scott sentado na beira da cadeira, para ele agora demasiado grande.
Numa época em que era necessário usar toda a argúcia para criar os efeitos desejados, o trabalho de Cleo Baker, Fred Knoth e Clifford Stine continua a ser - mais de 50 anos depois (!) - um dos aspectos relevantes para o sucesso de "The Incredible Shrinking Man": décors sobredimensionados, incrustações, perspectivas forçadas, tudo criado com um realismo de tal modo surpreendente que rapidamente nos esquecemos que estamos diante de simples trucagens. Os actuais defensores das modernas formas de efeitos digitais deveriam estudar este filme até à exaustão, para perceberem que a simplicidade de processos é ainda a que conduz a melhores e mais críveis resultados.
"The Incredible Shrinking Man" mantém-se como uma das referências fundamentais do género fantástico e de ficção-científica, mas, como já se disse, vai um pouco mais além, introduzindo outras dimensões, o que faz dele um filme algo diferente dos que o público dos anos 50 estava acostumado. Uma dimensão psicológica, onde são equacionadas as relações, afectivas e sociais, que a enfermidade particular de Scott desencadeia; uma dimensão filosófica, onde são abordadas as noções da existência do Homem e o seu lugar no Universo; e, também, uma dimensão ecológica, em que o medo de uma ameaça nuclear se encontra sempre presente. A segunda parte do filme desenrola-se sem qualquer diálogo, apenas se ouve a voz-off do protagonista, dando-nos conta das suas fraquezas e angústias e dos meios que progressivamente vai descobrindo para as ultrapassar. 
"The Incredible Shrinking Man" permanece um filme muito agradável de se ver, por vezes mesmo excitante (o episódio da perseguição pelo gato, a luta com a aranha ou aquele "naufrágio" nas águas revoltas da inundação da cave) e com um epílogo em aberto e deveras audacioso para as mentalidades reinantes na Hollywood daqueles anos. O filme de Jack Arnold faz-nos ainda hoje pensar nas fragilidades e incertezas da condição humana, mas simultaneamente deixa um grão de esperança: enquanto soubermos e tivermos força para ultrapassar os obstáculos que se nos deparam, enquanto pudermos abrandar a nossa velocidade de vida para reflectir, sobre nós mesmos e sobre as nossas acções, então seremos ainda capazes de preservar a integridade humana. Um filme típico dos anos 50, sem dúvida, mas com uma mensagem bem actual. A rever ou a descobrir pelas novas gerações.
CURIOSIDADES:

- A voz que se ouve na narração do trailer original do filme é a de Orson Welles, que na altura se encontrava a rodar “The Touch of Evil” nos estúdios da Universal

- A sequência da queda das gotas de água foi feita enchendo 1500 preservativos e atirando-os de certa altura para o chão (ver desenvolvimento aqui)

- Richard Matheson, o autor da novela original, chegou a escrever uma continuação para o filme (“The Fantastic Shrinking Girl”), na qual Louise, a mulher do protagonista, diminuía igualmente de tamanho. A Universal chegou a pensar produzir o respectivo filme, mas depois abandonou a ideia

- O monólogo final de Scott Carey foi adicionado ao argumento original por Jack Arnold






LOBBY CARDS:

segunda-feira, agosto 29, 2011

PORTFOLIO - "AN AFFAIR TO REMEMBER" (1957)

AN AFFAIR TO REMEMBER (1957)

O GRANDE AMOR DA MINHA VIDA
Um Filme de LEO McCAREY



Com Cary Grant, Deborah Kerr, Richard Denning, Neva Patterson, Cathleen Nesbitt, Charles Watts, etc.

EUA / 119 min / COR / 16X9 (2.35:1)

Estreia nos EUA a 2/7/1957
Estreia em PORTUGAL a 7/10/1957




Terry McKay: «Winter must be cold for those with no warm memories. We've already missed the spring! »

Se alguém me pedisse para caracterizar rapidamente “An Affair To Remember” diria que se trata da 5ª essência do romantismo, o melodrama dos melodramas e um dos grandes clássicos do cinema norte-americano. Remake de “Love Affair”, realizado dezoito anos antes pelo mesmo Leo McCarey (com Charles Boyer e Irene Dunne nos papeis principais), esta nova versão é um filme bem representativo da década de 50, quer pelos costumes, códigos morais e mentalidades que atravessam a história quer pela grande qualidade com que McCarey filmou esta obra imortal. O uso do écran largo (em Cinemascope) em enquadramentos precisos e milimétricos, as cores vivas e esplendorosas, a riqueza dos cenários e adereços, tudo se conjugou harmoniosamente para fazer de “An Affair To Remember” um dos melhores exemplos do cinema daqueles anos. Aconselha-se vivamente a recente edição em Blu-Ray que expande todos esses atributos de uma forma ainda mais magnífica - uma autêntica festa para os sentidos.


Antes de “Sleepless in Seattle”, a homenagem que Nora Ephron realizou em 1993 sobre este filme (com Tom Hanks e Meg Ryan), nunca tinha tido grande curiosidade em vê-lo. Desde então são  já várias as vezes a que ele regressei. “An Affair To Remember” conta-nos o romance ocorrido numa viagem da Europa para a América, entre o playboy Nicky Ferrante (Cary Grant) e uma cantora de night-club, Terry McKay (Deborah Kerr). Ambos comprometidos com terceiros, combinam encontrar-se de novo, e passados 6 meses, no cimo do Empire State Building, para desse modo testarem a longevidade da relação surgida durante a travessia do Atlântico. Mas na data aprazada Terry vê-se impedida de comparecer ao encontro devido a um acidente automóvel que a atira para uma cadeira de rodas.


“An Affair To Remember” está exemplarmente dividido em duas partes distintas, ambas de igual duração: 60 minutos. A primeira, que abarca toda a viagem, contém na sua essência todos os elementos típicos das screwball comedies americanas, pontuados aqui e ali por algumas pinceladas dramáticas, nomeadamente na visita à avó de Ferrante, a octogenária Janou (Cathleen Nesbitt). O acidente de Terry é o ponto de viragem para a segunda metade do filme, onde o drama ocupa a maior parte, mas em que o humor continua bem presente. Como naquela pungente cena final em que Terry diz: «se tu consegues pintar eu também consigo voltar a andar – tudo pode acontecer, não é? (If you can paint I can walk - anything can happen, don't you think?)». Voltando ainda à cena do acidente, é de realçar o modo como McCarey filma o Empire State – num lento contra-plongé iniciado ao nível da rua, conferindo ao edifício a conotação trágica de um monumento funerário. É um simples movimento de câmara mas que foi suficiente para torná-lo num dos ícones mais duradouros da cidade de Nova Iorque.

Contrariamente ao pretendido por Cary Grant, McCarey decidiu rodar a maior parte de “An Affair To Remember” em estúdio. Uma decisão acertadissima, visto assim ter conseguido introduzir um elemento-chave do filme – a irrealidade. Com efeito, a disponibilidade total dos meios técnicos permitiu ao cineasta iluminar todas as cenas de acordo com o seu particular (bom) gosto, realçando deliberadamente os seus personagens. Tal intencionalidade fez de Ferrante e McKay um casal por quem o público se apaixona quase de imediato, sentindo que no termo da viagem a realidade de todos os dias vai estar à espreita, pronta a contaminar o idílico romance.

Cary Grant estava na altura profundamente enamorado por Sophia Loren (uma paixão não correspondida que, segundo consta, durou até ao final da vida do mítico actor) e Deborak Kerr encontrava-se numa encruzilhada do seu primeiro casamento (o divórcio chegaria três anos após a rodagem do filme). De algum modo os dois actores tentaram libertar-se dos seus problemas pessoais, vivendo intensamente no écran aquela história de amor. A química entre os dois é bem notória e o grande êxito de “An Affair To Remember” a eles se deve em grande parte, sobretudo pela espontaneidade de muitos dos diálogos que foram inteiramente improvisados. Leo McCarey nunca foi cineasta de ligar muito à rigidez dos scripts e sentiu-se como peixe na água ao poder contar com a excelência das interpretações de Grant e Kerr. Foi o segundo dos três filmes que os dois actores rodaram juntos. Os outros foram “Dream Wife” (1953) e “The Grass is Greener” (1960).
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Leo McCarey foi sobretudo um cineasta de comédias. Depois de ter lançado a dupla Laurel & Hardy em 1927 e trabalhado com os Irmãos Marx em “Duck Soup” (1933), viria a realizar uma das mais brilhantes comédias do cinema americano, “The Awful Truth” (1937), com Irene Dunne e Cary Grant (a primeira das quatro colaborações entre os dois). Mas McCarey tinha ainda uma grande virtude – compreendia instintivamente o ridículo e o absurdo do comportamento das pessoas. Contudo, em vez de fazer a sua condenação, celebrava esta qualidade particular, que conduzia a comédias excepcionais, mas também, nas suas melhores obras, a um sentimento do futuro negro que nenhum riso ou irresponsabilidade podia aliviar duradouramente.


Por isso era típico de McCarey começar os seus filmes de um modo cómico, frívolo até, e lentamente dar tonalidades escuras à sua história, transformando-a num drama ou mesmo numa tragédia. Como neste “An Affair To Remember”, o filme que se distinguirá sempre (quer artisticamente quer pelo enorme sucesso junto do público), entre as vinte e poucas longa-metragens que realizou entre 1929 e 1962. Leo McCarey viria a falecer de uma doença pulmonar, um enfisema, a 5 de Julho de 1969, aos 72 anos. Mas nunca deixou de fumar regularmente as suas famosas cigarrilhas – um último gesto de desafio, que parecia exemplificar os mais persistentes elementos da sua obra.




CURIOSIDADES:

- “An Affair To Remember” foi eleito pelo American Film Institute como o 5º melhor romance de todos os tempos e nomeado para 4 Óscares nas categorias de Cinematografia, Guarda-Roupa, Música e Canção-original.

- Ingrid Bergman foi a primeira escolha para o papel de Terry McKay. A actriz, a viver na Europa nessa altura, recusou viajar para os EUA.

- O belissimo tema "An Affair To Remember (Our Love Affair)" é interpretado por duas vezes: nos créditos iniciais (Vic Damone) e numa cena do filme (Marni Nixon a dobrar Deborah Kerr, tal como já tinha feito no filme "The King And I")