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segunda-feira, abril 25, 2011

BARABBAS (1961)

BARRABÁS




Um filme de RICHARD FLEISCHER


Com Anthony Quinn, Silvana Mangano, Arthur Kennedy, Katy Jurado, Harry Andrews, Vittorio Gassman, Jack Palance, Ernest Borgnine, Valentina Cortese


ITÁLIA / 137 min / COR / 16X9 (2.20:1)


Estreia em ITÁLIA a 23/12/1961
Estreia nos EUA a 10/10/1962


Normalmente, quando chegam as festividades pascais, e apesar do meu profundo e inabalável ateísmo, apetece-me sempre ver um filme bíblico. Desta vez o eleito foi este “Barabbas”, uma história de ficção baseada numa passagem do Novo Testamento: Pôncio Pilatos, que estava um pouco renitente em mandar crucificar um homem aparentemente tão inofensivo como Jesus Cristo, resolve recorrer a uma tradição pascal (em que o povo de Jerusalém podia decidir a libertação de um dos condenados à morte), na esperança de que assim pudesse poupar a vida do nazareno. Enganou-se nas suas conjecturas – o povo escolheu libertar antes o ladrão e criminoso Barrabás.

Baseado na novela homónima do ecritor sueco Pär Lagerkvist (1891-1974), esta produção italiana de Dino de Laurentis relata a história desse homem. Uma história sombria e algo depressiva, interpretada por um leque de excelentes actores, de onde se destacam Jack Palance (no papel de Torvald, o sádico instrutor dos gladiadores) e, obviamente, Anthony Quinn, numa das personagens mais carismáticas de toda a sua brilhante carreira. Uma referência especial aos italianos Vittorio Gassman (como Sahak, o companheiro forçado de Barrabás) e a bela Silvana Mangano (no papel de Rachel, a prostituta convertida que será apedrejada até à morte). De todo o principal elenco deste filme, apenas o actor Ernest Borgnine se encontra ainda vivo, com a bonita idade de 94 anos

Depois dos episódios da crucificação, Barrabás voltará à vida de todos os dias, ou seja, ao crime e à ladroagem. Uma vez mais capturado, é enviado para as minas de enxofre, onde o trabalho desumano equivale practicamente a uma sentença de morte. Mas Barrabás consegue sobreviver, após vinte longos anos de cativeiro. Conhece Sahak, um cristão a ele acorrentado, que lhe revela a hedionda reputação do seu nome e o que ele significa no meio dos seguidores da nova religião – é mais uma acha para o tormento que acompanhou Barrabás durante todos aqueles anos.

No seguimento de um abatimento de terras, os dois homens são resgatados por um senador romano (devido a um pedido da mulher que os considera amuletos de sorte por terem sobrevido), que os leva para Roma para serem gladiadores. Shalak virá a sacrificar-se pelas suas crenças mas Barrabás sobrevive uma vez mais na arena: é-lhe concedida a liberdade pelo imperador após ter saído vencedor do combate com o cruel Torvald. Barrabás desenterra o corpo de Sahak e leva-o para junto dos seus correligionários. Entretanto deflagra o incêndio de Roma, sendo a respectiva responsabilidade atribuída aos cristãos. Barrabás vê nisso a possibilidade de se redimir do passado e resolve ajudar na propagação do fogo. Apanhado pelos guardas romanos, virá a ser crucificado como incendiário.

Numa altura em que não se sonhava sequer com as infindáveis possibilidades tecnológicas de hoje, Richard Fleischer conseguiu realizar um magnífico trabalho (que envolveu muitos milhares de figurantes) com recurso a parcos meios. As melhores cenas são sem dúvida as que decorrem na arena de Roma (aquela gargalhada de Torvald ficará para sempre associada a este filme e ao actor Jack Palance) e que provam aos apreciadores do género que este tipo de filmes não se iniciou com o “Gladiador”. Mas o que não falta em “Barabbas” são cenas memoráveis, desde a crucificação inicial ao incêndio de Roma, passando pelo colapso nas minas de enxofre. E a sequência de que nunca mais me esqueci, desde que vi o filme em criança pela primeira vez, é a do apedrejamento de Rachel na pedreira.

“Barabbas” teve a sua primeira apresentação em Itália no Natal de 1961, um ano depois do “Spartacus” de Kubrick se ter estreado nos EUA, e quando na memória de todos ainda se perfilava a grandiosidade de “Ben-Hur” (1959), épico orçamentado em 16 milhões de dólares. Ficando muito aquém dos orçamentos desses dois filmes, “Barabbas” não se pode por isso comparar-se-lhes, funcionando antes como uma espécie de filme B do género. De qualquer modo, e dentro das suas naturais limitações (e fraquezas) – sobretudo ao nível do argumento - consegue ser um filme ainda bastante interessante a cinquenta anos de distância.


CURIOSIDADES:

- O eclipse solar filmado durante a crucificação de Cristo aconteceu mesmo, tendo inclusivé obrigado a atrasos nas filmagens de modo a poder ser captado para o filme.




LOBBY CARDS:

sexta-feira, setembro 10, 2010

HIGH NOON (1952)

O COMBOIO APITOU TRÊS VEZES
 Um filme de FRED ZINNEMANN


Com Gary Cooper, Grace Kelly, Thomas Mitchell, Lloyd Bridges, Katy Jurado, Otto Kruger, Lee Van Cleef, etc.


 EUA / 85 min / PB / 4X3 (1.37:1)


Estreia nos EUA a 24/7/1952 (New York)
Estreia em Portugal a 8/6/1953


“Do not forsake me, oh my darling...”

É só por acaso que “High Noon” é um western. O argumento, as personagens, o cenário, são apenas pretextos para confrontos psicológicos que poderíam existir em qualquer outro género de filme. Se olharmos para o filme de uma outra perspectiva, podemos descobrir nele uma parábola sobre a coragem individual diante da covardia colectiva. Ou, indo ainda mais longe, "High Noon" pode ser considerado, também, uma amostra do horror McCarthysta na sociedade americana da época, quando o senador Joseph McCarthy apostava em caçar todos os comunistas de Hollywood. Fred Zinnemann, director austríaco instalado nos Estados Unidos, aproveitando um argumento de Carl Foreman, faz do western um veículo para a sua visão da sociedade americana. O protagonista principal, o marshall Will Kane (Gary Cooper) não tem nada do herói clássico dos westerns convencionais. Pelo contrário, trata-se de um homem só e frágil, que por um capricho do destino tem de enfrentar a cobardia da sua própria comunidade, cujos habitantes apenas o apoiaram enquanto os perigos se encontravam bem longe, para lá do horizonte de uma linha do caminho de ferro.


O filme inicia-se pela chegada de três pistoleiros à pacata Hadleyville, onde Will Kane acaba de desposar a bela Amy (Grace Kelly, aqui ainda uma ilustre desconhecida, no seu primeiro papel no cinema). Seguir-se-ia a lua-de-mel e a merecida reforma se entretanto não se anunciasse iminente a chegada de Frank Miller, um recém-libertado fora-da-lei, preso pelo próprio Kane alguns anos antes e que agora se vem reunir ao trio que o espera na estação para os quatro levarem a cabo o ajuste de contas final. A chegada está prevista para o meio-dia e são dez e meia quando Kane recebe a notícia. Nessa hora e meia (duração aproximada do próprio filme) Kane descobre que por uma razão ou por outra não vai ter o apoio de ninguém, nem da sua recém-esposa, uma quaker avessa à violência e que por isso só pensa sair dali para fora o mais rapidamente possível. A alegoria com o que então se passava na América (o início em força do McCarthysmo, com perseguições a tudo o que lembrasse os ideais comunistas) é por demais evidente no clima de medo e suspeição que o filme nos retrata.

"High Noon" é um filme sólido, sóbrio e bem construído, que, contrariando os cânones tradicionais do género, não se apoia na acção física - uma constante do western tradicional. A dimensão psicológica dos personagens adquire, aqui, capital importância: a descrição minuciosa da conduta de cada um, a crescente angústia do xerife situado entre a obrigação moral e o instinto de conservação. Foreman e Zinnemann pretendem reflectir uma época na qual muitos sectores do país ficavam paralisados pelo medo, ao contrário de uns poucos que assumiam sózinhos as suas responsabilidades morais.


High Noon”, para além de um desempenho inesquecível de Gary Cooper (único Oscar aos 50 anos, em toda a sua brilhante carreira), ficou célebre pela maneira exemplar com que Fred Zinnemann fez uso da técnica da montagem paralela. Três quartos do filme são construídos sobre a relação duma intensidade dramática crescente entre a aproximação da hora fatídica e as tentativas vãs feitas por Kane em reunir um grupo de apoiantes. O valor dramático dessa impossibilidade torna-se precisamente mais sensível pelo uso frequente de planos dos três homens à espera na estação. É como se Zinnemann tivesse desenhado um gráfico de forças antagónicas que se vão confrontando, cada vez mais violentamente, com o desenrolar do tempo, até ao desenlace final.

A tensão provocada pela linha dramática e musical desse gráfico imaginário atingirá o ponto máximo às 11 horas e 59 minutos, momento que precede a chegada do comboio, o qual deverá apitar três vezes no caso de trazer um determinado passageiro. Zinnemann reuniu neste momento todos os elementos dinâmicos da acção, numa espécie de montagem sinfónica, num resumo extraordinário que nos mostra bem que, para ele, o traçado estético da obra representa tanto como o patético da história.
Num minuto revemos: a via-férrea – a igreja e os paroquianos imóveis – o saloon e os clientes ansiosos – o relógio de pêndulo – Kane a escrever uma espécie de testamento – a rua – a via férrea – dois habitantes da cidade numa varanda – o adjunto de Kane – Helen, a antiga amante – Amy, a actual mulher – outra vez o relógio – os três pistoleiros – Kane de novo, a fechar o envelope – e mais uma e derradeira imagem do relógio, agora com destaque do pêndulo em grande plano. Então vemos o comboio a chegar, em plano geral, e a apitar três vezes.


“High Noon” é um filme visualmente belo, severo e lacónico no estilo e na narrativa, com um fundo musical inesquecível (a canção-título, com música de Dimitri Tiomkin e letra de Ned Washington, é interpretada por Tex Ritter várias vezes ao longo do filme, tendo sido a vencedora do Oscar para a melhor canção original) e consegue ser um clássico do western apesar de fugir aos estereotipos do género. Para irritação de John Wayne, o actor-fétiche de John Ford, que na altura chegou a organizar um movimento de protesto contra a exibição de “High Noon, na qualidade de presidente da Motion Picture Alliance for the Preservation of American Ideals. Não conseguiu a interdição do filme mas contribuiu decisivamente para que o argumentista, Carl Foreman fosse parar à “lista negra” de Hollywood e por causa disso visse aruinada a sua carreira, tendo tido de se exilar em Inglaterra. Sete anos mais tarde, enquanto filmava “Rio Bravo” para Hawks, ainda Wayne conservava todo o fel que destilara contra este filme excepcional ao comentar que “Rio Bravo” era um filme anti-“High Noon. Mesmo muitos anos depois, numa entrevista dada à revista Playboy em Maio de 1971, Wayne ainda não se tinha esquecido deste particular filme. Nessa altura reafirmou a convicção de se tratar de um filme anti-americano por mostrar Gary Cooper a pisar a estrela de marshall (cena inexistente, Kane limita-se a atirar a insígnia para o chão) e, mais grave, confessou nunca se ter arrependido de ter conseguido a inclusão de Carl Foreman na "lista negra" de má memória. Enfim, nada que não fosse de esperar de alguém que politicamente sempre foi conotado com a extrema-direita americana.

CURIOSIDADES:

- Filme favorito de Bill Clinton, que o viu 17 vezes durante os seus dois mandatos como Presidente dos EUA.

- Gary Cooper sofria de uma úlcera durante as filmagens (28 dias de rodagem, após dez de ensaios). Mas apesar disso não exigiu qualquer duplo na cena de pancadaria com Lloyd Bridges. Inclusivé foi uma cena que teve de ser repetida, pelo facto do filho de Lloyd, Beau Bridges, se ter desmanchado a rir quando viu Cooper despejar um balde de água em cima do pai.

- Filme-estreia de Grace Kelly (que teve um romance com Cooper durante as filmagens) e Lee Van Cleef, que não profere uma única palavra durante todo o filme.

- Apesar de Fred Zinnemann se ter sempre oposto, até morrer, ao filme poder ser colorizável, o produtor de TV Ted Turner fez ouvidos de mercador e apresentou uma versão colorida do filme nos seus canais televisivos. Felizmente que essa práctica pouco ortodoxa durou apenas alguns anos e que tudo voltou a ser mostrado tal qual filmado originariamente.

- Os actores Gregory Peck, Charlton Heston, Marlon Brando, Kirk Douglas e Montgomery Clift, recusaram todos o papel principal de "High Noon".

- O director de fotografia, Floyd Crosby, era o pai do famoso cantor David Crosby.

- Ter perdido o Oscar de melhor filme para "The Greatest Show on Earth" foi uma das maiores injustiças da Academia de Hollywood, vista na altura como uma maneira de satisfazer o Senador Joseph McCarthy, de quem Cecil B. de Mille, o realizador do filme, era um dos mais ferverosos apoiantes. Para além do Actor Principal e da Canção Original, "High Noon" ganhou ainda o Oscar da Melhor Montagem.

- Em 2007 o American Film Institute classificou "High Noon" no 27º lugar dos Melhores Filmes de Sempre.