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quinta-feira, janeiro 19, 2012

WATER FOR ELEPHANTS (2011)

ÁGUA AOS ELEFANTES



Um filme de FRANCIS LAWRENCE




Com Reese Witherspoon, Robert Pattinson, Christoph Waltz, Paul Schneider, Jim Norton, Hal Holbrook


EUA / 120 min / COR / 16X9 (2.35:1)


Estreia nos EUA a 22/4/2011
Estreia no BRASIL a 29/4/2011
Estreia em PORTUGAL a 5/5/2011


Jacob: «Who's the woman who works with the horses?»
Camel«That ain't no woman, that's the boss' wife»

O que espanta mais na ficha técnica de “Water for Elephants” é a inclusão do nome de Richard LaGravenese, um escritor experiente, de créditos firmados, que desde o início dos anos 90 nos tem presenteado com excelentes argumentos, como são os casos de “The Fisher King” [1991], “The Bridges of Madison County” [1995] ou “The Horse Whisperer” [1998]. Mas, neste filme, LaGravenese não conseguiu extrair do best-seller da canadiense  Sara Gruen todas as suas potencialidades. Até porque, diz quem leu, o livro é surpreendente, tocante e divertido, um daqueles raros romances com uma história tão cativante que o leitor fica relutante em pousá-lo; com personagens de tal forma aliciantes que continuam a viver muito depois da última página ter sido virada. Na crítica da secção de livros do New York Times pode ler-se: «Uma obra surpreendente... a autora guarda uma magnífica revelação para as últimas páginas, transformando um simples romance num encantador conto de fadas.»
Ora, infelizmente, nada disso transparece neste filme (e que "revelação" será essa, referida pelo jornal americano?). Provavelmente a culpa não terá sido apenas de LaGravenese, mas também de Francis Lawrence, um realizador que, como tantos outros da nova geração (Darren Aronofsky será o caso mais badalado), teve uma formação televisiva com principal destaque para os vídeos musicais: Britney Spears, Sarah McLachlan e Aerosmith foram alguns dos intérpretes desses videos. “Water for Elephants” é a sua terceira longa-metragem, ainda assim algo distante (para melhor) das anteriores, “Constantine” [2005] e “I Am Legend” [2007], superproduções de muita acção e cheias de efeitos especiais.
“Water for Elephants” é um filme escorreito, que desperta algum interesse, mau-grado o romance central ser artificial e pouco convincente. Mas, mais uma vez, as culpas terão de ser repartidas, atendendo ao erro de casting que foi a escolha do britânico Robert Pattinson (o Edward Cullen da saga “Twilight”) e Reese  Witherspoon para principais protagonistas: a falta de alquimia entre os dois actores chega  a ser confrangedora. Compare-se, por exemplo, com a excelente interpretação de Witherspoon como June Carter no filme “Walk the Line” [2005] para constatarmos que a actriz se encontra aqui muito longe do seu melhor. Quanto a Pattinson, limita-se a confirmar toda a sua inexpressividade como actor, ao não conseguir trazer qualquer carisma ao seu personagem.
Daqui resulta que, a nível interpretativo, os melhores momentos de “Water for Elephants” vão direitinhos para os secundários, nomeadamente Christoph Waltz, que desde que Tarantino o lançou em “Inglourious Basterds” [2009] teima em se afirmar como um dos melhores actores da actualidade; assim continue a beneficiar de papeis à altura do seu enorme talento. Mas a grande “revelação” de “Water for Elephants” nem sequer é humana. Rose, uma elefanta deliciosa que ficará para sempre nas nossas memórias, consegue gerar muito mais emoção do que o parzinho do romance central. É ela a grande vedeta do filme, e a razão principal de se aconselhar a sua visão. Só se lamenta que esta intérprete de grandes proporções não tenha tido uma participação ainda mais activa no desenrolar da história.
De resto, “Water for Elephants” é um filme competente, que desempenha razoavelmente bem as funções de que foi incumbido: a de ser um entretenimento agradável, nunca aborrecido, passado no sempre mágico mundo do circo, aqui inserido na época da lei seca e da Grande Depressão dos anos 30. Realce ainda para a fotografia de Rodrigro Pietro e ainda para algumas sequências apelativas, como as passadas no comboio ou o pânico colectivo causado pela fuga dos animais do circo. Mas a sensação que fica após as duas horas de projeção, é a de que se perdeu uma bela oportunidade de se fazer um grande filme. “Water for Elephants” tem as suas qualidades, sem dúvida. Mas é uma pena que não sejam as qualidades mais importantes. E a adorável Rose merecia uma melhor companhia. 

quinta-feira, janeiro 05, 2012

CARNAGE (2011)

O DEUS DA CARNIFICINA


Um filme de ROMAN POLANSKI


Com Jodie Foster, Kate Winslet, Christoph Waltz, John C. Reilly


FRANÇA-ALEMANHA-POLÓNIA-ESPANHA /
79 min / COR / 16X9 (2.35:1)


Estreia em ITÁLIA a 1/9/2011
(Festival de Veneza)
Estreia nos EUA a 30/9/2011
(Festival de New York)
Estreia em PORTUGAL a 29/12/2011


A new comedy of no manners

“Carnage” principia e acaba com o mesmo plano fixo – o de um jardim de infância. A diferença é o comportamento de dois dos jovens incluídos nesse cenário: no prólogo um deles agride violentamente o outro com um pau no rosto; e no epílogo esses mesmos jovens parecem ser grandes amigos. É entre estes dois momentos que se desenrola esta última obra de Roman Polanski. Baseada na peça teatral “Le Dieu du Carnage”, da autoria de Yasmina Reza (já levada à cena em Portugal, com encenação de João Lourenço), o filme é todo ele passado no interior de um apartamento, onde os pais da criança agredida, Michael e Penelope Longstreet (John C. Reilly e Jodie Foster) recebem o casal progenitor da criança agressora, Alan e Nancy Cowan (Christoph Waltz e Kate Winslet). O objectivo de tal encontro é encontrar pacificamente uma solução de compromisso para os danos ocorridos na sequência da agressão, sem necessidade de se recorrer a decisões judiciais. Aliás, Alan Cowan é ele próprio um advogado
Mas o que principia por ser uma discussão politicamente correcta vai progressivamente evoluindo para formas cada vez mais violentas de confronto verbal. Estala o verniz, caem as máscaras, e aqueles quatro adultos – pertencentes à classe média-alta da burguesia – deixam vir ao de cima tudo o que de mais básico se esconde no seu íntimo. Mas “Carnage” não é nenhum drama. Pelo contrário, trata-se de uma comédia – amarga, satírica e perversa – mas de uma comédia, que se vê permanentemente com um sorriso nos lábios. Ou com sonoras gargalhadas, como naquelas duas hilariantes sequências do vomitanço (uma mistela preparada pelo próprio Polanski) e a do banho do telemóvel. 
Relativamente à primeira, Kate Winslet (a autora da nojenta proeza), recorda bem disposta o dia da filmagem: «Foi a segunda vez que tive de vomitar no écran, a primeira foi durante a rodagem do segundo episódio da série “Mildred Pierce”. Mas aqui tive de conter muito "vómito" na boca, o que é muito difícil. Os meus filhos estavam comigo nesse dia e desde então que não param de falar no episódio. Ficou um cheiro insuportável no plateau durante todo o dia. Quando fui para casa tinha aquilo tudo espalhado pelo corpo, nas mãos, no cabelo, por todo o lado. Mas enquanto gravámos a cena não conseguíamos parar de rir.»
O outro momento hilariante do filme tem a ver com o telemóvel de Alan Cowan. Retratado como um workaholic tele-dependente em último grau, Alan está permanentemente a receber telefonemas (que nos vão elucidando sobre o seu carácter muito pouco honesto), situação que vai pondo em franja os nervos dos outros três, até que num gesto repentino a mulher, Nancy, acaba por atirar o aparelho para dentro do jarro das tulipas. A comicidade desta cena vem do contraste entre Alan, que fica completamente inativo e prostrado no chão («toda a minha vida estava nesse telemóvel», desabafa em desespero) e o riso contagiante das duas mulheres que não param de gozar com a situação, enquanto que Michael, pelo seu lado, tenta remediar o ocorrido com um secador de cabelo (como o já tinha feito anteriormente, quando o vomitado de Nancy se espalhou pelos livros de arte da mulher).
Depois da decepção que foi “The Ghost Writer”, Polanski volta a pisar os terrenos onde é mestre e nos quais se sente como peixe na água. Desde os tempos de “Repulsa” [1965] e “O Beco” [1966], passando por “Le Locataire” [1976] ou sobretudo “Death and the Maiden” [1994] (onde encena também um jogo parecido com este, mas então de contornos muito mais sombrios), que o realizador polaco nos deu o seu melhor ao explorar a degradação dos seus personagens em cenários claustrofóbicos. Definido como “uma nova comédia sem maneiras”, este “Carnage” teve um orçamento relativamente reduzido para os tempos que correm (25 milhões de dólares), grande parte do qual deverá ter sido usado na contratação dos quatro atores que estão permanentemente em cena. Foster, Winslet, Waltz e Reilly têm todos eles atuações de alto gabarito (pessoalmente acho que Jodie Foster recorre um pouco ao over-acting, mas sou suspeito, uma vez que a atriz sempre teve o condão de me irritar um pouco), o que sem dúvida contribui para o sucesso que o filme está a despertar um pouco por todo o lado.
Tanto para Kate Winslet como para os restantes atores, foi impossível resistir à ideia de trabalhar com Polanski: «Quando Roman Polanski nos convida para participarmos num filme seu não podemos recusar. E o guião era fantástico. Já tinha visto a peça em Nova Iorque, por isso considerei-me logo uma sortuda em ser escolhida. Todos nós sentimos um pouco de medo por representar algo tão bem escrito e também, confesso, por trabalhar com alguém como Roman Polanski. Mas quando começámos as filmagens descobrimos que a nossa conceção de representação é muito parecida e no fim Polanski chegou a dizer-nos que nunca tinha encontrado um grupo de atores como este, que nunca entravam em competição entre si.» Jodie Foster, ela própria uma realizadora de créditos firmados, ficou fascinada por ver Polanski trabalhar: «A maior parte da direção de atores foi feita durante os ensaios; por isso, quando começámos a filmar ele já só estava preocupado com os movimentos de câmara. É um mestre, com um estilo muito particular, e com uma energia transbordante, apesar dos seus 78 anos.»
Quando acabamos de assistir a “Carnage”, a sensação que fica é a de que o filme é curto demais. Efetivamente não chega sequer à hora e meia da praxe, mas o tempo avançou mais depressa do que os ponteiros do relógio. Julgo que Polanski poderia ter tirado mais alguma coisa do excelente guião que tinha entre mãos e levar o seu filme a extremos ainda mais acutilantes, como sabemos muito bem de que ele é capaz. O que obviamente não impede o espectador de se divertir bastante (e à sua própria custa, dada a similaridade das situações com as neuroses pessoais de todos os dias) durante os 79 minutos que o filme dura, e à medida que o argumento vai evidenciando os mitos e as fragilidades da vida moderna dos nossos dias: a dependência da comunicação e das tecnologias, os exageros protetores para com os nossos filhos (exercidos a par de uma educação permissiva e laxista), a boa consciência que se procura pelo exercício da caridadezinha, a desvalorização das profissões não elitistas ou mesmo um certo fetichismo materialista.
Com antecedentes famosos como “Who’s Afraid of Viriginia Woolf?” [Mike Nichols, 1966] ou “Sleuth” [Joseph L. Mankiewicz, 1972], para além do já citado “Death and the Maiden” do próprio Polanski, este “Carnage” não se limita a ser teatro filmado, por muitos méritos existentes na peça original. Como seria de esperar, Polanski emprestou-lhe grande parte do seu cinismo habitual, moldando-a à sua larga e frutuosa experiência, e conseguindo com isso um fascinante exercício de estilo cinematográfico. Neste princípio de ano de todas as crises, “Carnage” vale bem a pena a deslocação e a compra do bilhetinho mágico. Oxalá a edição em DVD/blu-ray não leve muito tempo a chegar, para podermos rever com calma mais esta obra obrigatória da rica filmografia de Roman Polanski.
CURIOSIDADES:

- Roman Polanski faz uma breve aparição no filme (o chamado cameo): é o vizinho que abre a porta por causa da discussão no patamar.

- A peça original é passada em Paris, mas Polanski alterou a localização do apartamento para Brooklyn, nos Estados Unidos. Curiosamente o filme foi rodado nos arredores da capital francesa, em Bry-sur-Marne, residência habitual do realizador.

- O apartamento onde decorreram as filmagens foi totalmente construído em estúdio mas encontrava-se devidamente equipado, com todos os eletrodomésticos a funcionarem em pleno, para além da casa de banho (com água corrente, quer no lavatório quer na sanita), e mesmo das fichas elétricas.