Um filme de SAM PECKINPAH
Com Steve McQueen, Ali MacGraw, Ben Johnson, Sally Struthers, Al Lettieri, Slim Pickens, Richard Bright
EUA / 122 min / COR / 16X9 (1.85:1)
Estreia nos EUA a 13/12/1972
Estreia em Portugal a 24/4/1973
Estreia em Moçambique a 20/10/1974
(LM, Teatro Manuel Rodrigues)
Adaptado de um romance de Michael Thomson, com argumento de Walter Hill, “The Getaway” é um clássico dos filmes de acção, mil vezes copiado mas nunca igualado. Inclusivé a escusada versão feita em 1993 com a dupla Alec Baldwin e Kim Basinger e realizada por Roger Donaldson fica mal na fotografia, pois o cinema não é equipamento informático ou de laboratório, onde se possa a belo prazer fazer cópias de um negativo original. Donaldson não é Peckinpah e sobretudo Baldwin não é McQueen. São estas pequenas aberrações que nos fazem pensar na pobreza de ideias que povoam as mentes de quem teria por obrigação desenvolver temas de interesse para o cinema actual e não se limitar a copiar o incopiável.
“The Getaway” é um thriller intenso, por vezes espectacular, mas acima de tudo feito com precisão por mão de mestre. Com muito humor à mistura, o filme vai alternando as cenas de acção com o envolvimento amoroso do casal McQueen-MacGraw, que nesta altura ia muito para além da simples representação, originando um verdadeira química entre os dois actores. No início o filme esteve para ser protagonizado por Cybill Shepperd e dirigido por Peter Bogdanovich, seu companheiro do início dos anos setenta. Mas Cybill foi substituída por Ali e por causa disso o realizador abandonou de igual modo o projecto. Sam Peckinpah foi contratado, Ali apaixonou-se por McQueen, e deste modo tudo contribuíu para que “The Getaway” tivesse sido feito num clima perfeito.
Existem autênticas cenas de antologia neste filme magnífico. A série de bofetadas com que McQueen contempla uma atónita MacGraw (porque apanhada de surpresa, visto a cena não constar no roteiro e ter sida improvisada por McQueen), a perseguição ao larápio do dinheiro no comboio ou aquela decisão magnânima no final, são as primeiras que me vêm à memória. Mas todo o filme está recheado de bons momentos, excelentemente filmados (parece que em sequência), que fazem de “The Getaway” mais um ponto alto da filmografia de McQueen e Peckinpah. Os dois homens entendiam-se às mil maravilhas – a colaboração entre ambos tinha começado em 1971, durante a rodagem de “Junior Bonner”, razão pela qual McQueen trouxe o realizador para a Paramount – e as suas fortes personalidades nunca foram obstáculo a que pudessem atingir os fins em vista. Houve alguns desentendimentos durante a rodagem, devidos sobretudo ao papel que McQueen também detinha como produtor executivo, mas Peckinpah tinha uma boa aliada em Ali MacGraw que rapidamente reestabelecia a concórdia entre os dois homens.
Muito embora “The Getaway” seja provavelmente o mais atípico filme de Peckinpah, o seu estilo está bem presente nas diferentes velocidades de filmagem ou na matreirice da montagem, em que o realizador joga com a dilatação e contracção do tempo. Veja-se por exemplo a apresentação do filme, onde os cinco anos de clausura de Doc McCoy são sugeridos magistralmente em cinco minutos por um encadeado de flash-backs e de flash-forwards. Privilegiando a construção dramática à simples cronologia, Peckinpah consegue dessa forma revelar-nos em poucos minutos o essencial do passado e da personalidade da personagem sem que uma única linha de diálogo seja proferida. Para isso também contribuiu claramente a interpretação de McQueen que, do seu modo muito especial nos consegue transmitir estados tão antagónicos como a cólera e a depressão por simples expressões faciais.
“The Getaway” foi uma lufada de ar fresco que percorreu este tipo de filmes logo no início dos anos 70. O género precisava de se renovar e, além disso, as carreiras de McQueen e Peckinpah tinham acabado de sofrer um rude golpe com a insipiência e a fraca aceitação de “Junior Bonner”. E se Peckinpah tinha recentemente realizado dois dos seus melhores filmes (“The Wild Bunch” em 1969 e “Straw Dogs” em 1917), McQueen, pelo contrário, não conseguia um grande êxito desde “Bullitt”, em 1968. O enorme êxito de “The Getaway” junto do público (mais de 40 milhões de receitas em todo o mundo) veio reacender o brilho de Steve McQueen, colocando-o de novo no topo dos actores mais populares do planeta.
CURIOSIDADES:
- Ali MacGraw teve de aprender a conduzir e a disparar armas de fogo para desempenhar a personagem de Carol McCoy.
- O escritor Jim Thompson foi contratado logo de início para escrever o argumento do seu próprio livro, no qual o filme é baseado. No entanto Steve McQueen não gostou de algumas passagens, sobretudo do final, que considerava muito depressivo, e resolveu substituí-lo por Walter Hill.
- A música da banda-sonora original tinha sido composta por Jerry Fielding, habitual colaborador de Peckinpah. Mais uma vez McQueen interveio e contratou Quincy Jones, pouco antes do filme estar concluído. Os solos de harmonica adicionais são da autoria de Toots Thielemans.
- Dado o romance que envolveu McQueen e MacGraw, os locais de filmagem (quase todos cenários naturais) eram constantemente invadidos por repórteres, o que frequentemente originava acessos de fúria a McQueen.
- Robert Evans, o produtor da Paramount de quem Ali MacGraw se estava a divorciar, encontrava-se na altura a produzir o filme “The Godfather”. Os actores Richard Bright e Al Lettieri aparecem em ambos os filmes.