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quarta-feira, 21 de setembro de 2022

A minha mãe é a minha filha - Valter Hugo Mãe [Opinião]

 

Título: A minha mãe é a minha filha
Autor: Valter Hugo Mãe 
Editor: Porto Editora
N.º de Páginas: 48

Sinopse: 
Um conto de uma ternura ímpar dedicado a todos aqueles que cuidam.
«A minha mãe é a minha filha. Preciso de lhe dizer que chega de bolo de chocolate, chega de café ou de andar à pressa. Vai engordar e piorar do fígado, vai ficar eléctrica e sem conseguir dormir, vai começar a doer-lhe a perna esquerda, os joelhos, os ossos todos. E depois dirá: ui, filho, dói-me aqui e dói-me ali.»







Que conto maravilhoso!!! 
Assim que dei de caras com a capa do livro fiquei apaixonada. As ilustrações são belíssimas e tão fiéis ao original que não consegui mais largá-lo. E o seu interior é recheado de coisas tão verdadeiras que mesmo para quem não é cuidador, mas tem familiares próximos a chegar a uma idade mais debilitante se revê perfeitamente em algumas partes. 






Pelo meio, Valter Hugo Mãe não se coíbe de lançar críticas aos familiares que se encontram de fora e acham que podem dar opiniões sobre tudo e mais alguma coisa.  
Um livro imperdível de ler e preservar. 





terça-feira, 24 de março de 2020

Serei sempre o teu abrigo - valter hugo mãe [Opinião]

Título: Serei sempre o teu abrigo
Autor: valter hugo mãe
Editor: Porto Editora
N.º de Páginas: 48

Sinopse:
«O avô, resumido nos sentimentos, sem talento nas aflições, mais maniento e cheio de medo, só dizia: sossega, menina, sossega. Mesmo velhinhos, ele tratava-a como da primeira vez. Era uma menina.»

Um conto delicado sobre a fragilidade dos avós vista pelos olhos atentos do neto.
Na sensibilidade que só as palavras de Valter Hugo Mãe conseguem atingir, acompanhamos a força do amor dos avós um pelo outro e dos dois pelo neto. O poder dos laços da família e do afeto.

A minha opinião: 
Neste pequeno livro, repleto de ilustrações belíssimas, Valter Hugo Mãe retrata a importância que os avós têm na vida dos netos. 

No ano passado li As Mais Belas Coisas do Mundo, um livro que tanto pode ser lido pelos mais pequenos como pelos mais crescidos. Adorei a história do menino que se refugiava nos braços do avô para tentar descobrir alguns dos mistérios da vida.

Em Serei sempre o teu abrigo Valter Hugo Mãe volta ao tema dos avós e netos e delicia-nos com mais este fantástico livro que nos mostra o quão importantes são estes laços.

Através dos olhos do neto, vamos percebendo as fragilidades dos nosso velhos. Da avô que teve de ser operada ao coração e do avô um homem mais do fazer do que do sentimento "Para ele a vida era uma tarefa. Havia que cumprir, plantar, colher, assear, ter modos, manter o silêncio, poupar palavras", este é um livro ternurento, que nos deixa o coração apertadinho.



terça-feira, 16 de junho de 2015

o remorso de baltazar serapião - valter hugo mãe [Opinião]

Título: o remorso de baltazar serapião
Autor: valter hugo mãe
Edição/reimpressão: 2015
Páginas: 280
Editor: Porto Editora

Sinopse:
As mulheres assistem ao mundo como presas dos homens. A história do mundo revela tempos em que a mulher mais não é do que um instrumento da vida do homem. Neste romance, valter hugo mãe torna impossível ignorar este facto.

Criador de uma linguagem exuberante, e deitando mão à mais rica imaginação, o autor explica o amor a partir do ponto de vista tremendo do machismo. Esta é a aventura de um homem que, casando com a moça mais bonita da sua terra, se deixa corromper pelo preconceito e pela pobre tradição.

Entre ser divertido e cruel, o remorso de baltazar serapião é um marco fundamental na literatura portuguesa contemporânea.


A minha opinião:
«o remorso de baltazar serapião é um tsunami», disse Saramago, acrescentando que o este livro de valter hugo mãe «vai ter uma vida longa.».

Passado na idade média, onde a mulher era tratada abaixo de um qualquer animal irracional, facilmente me dei por mim a fazer trejeitos ao ler certas partes do livro, cuja violência é explorada até ao limite pelo autor. Certo é que a condição da mulher na altura era essa, e baltazar nada de errado fazia para com ermesinda, a rapariga mais bonita da região. Bela aquando o seu casamento, mas que foi ficando feia devido aos maus tratos infligidos por baltazar, mais conhecido como o sarga dos sargas, por causa da vaca, acarinhada pela família, de quem se dizia que ser mãe de baltazar e seus irmãos...

"...homem de verdade consome-se de carnes, é normal. nada normal para mim que recuso ser de homem, nada quero que homem algum me toque. e porque te casaste. sempre fui casada por pais ou homens que me mandassem, mulher solteira é má de vida e fica sem trabalho nem amizades. pois mulher minha apanha tanto quanto deve, até que se ensine de tudo o que lhe digo."



Ermesinda é espancada todas as vezes que baltazar suspeita das suas infidelidades. E de nada vale defender-se... de cada pancadaria fica deficiente de qualquer parte do corpo, ou um pé que fica torto, ou um olho que sai..., mas baltazar ama-a à sua maneira (?) ou assim pensa amar. E vive na incerteza se é corno ou não.

No meio de tudo isto é difícil destrinçar qual o mais animalesco. Se a teresa diaba que se dava a qualquer homem, se baltazar e o pai, brutos com as mulheres, se ermesinda, que se deixava subjugar sem dizer um ai. valter hugo mãe expõe a Idade Média com sabedoria de um contador de histórias. E, ao fazê-lo, trazendo-a para nós, leitores, transporta-a para o dia a dia que depressa constatamos que em muitos locais não estamos tão longe dela como gostaríamos. Há ainda quem pense que:

"mulher é coisa de pouca sabedoria e nenhuma estabilidade, o que pensam hoje, amanhã não sabem."

E é por isso que o remorso de baltazar serapião funciona como um murro no estômago para quem o lê.

Muito bom.


sexta-feira, 21 de março de 2014

a máquina de fazer espanhóis - Valter Hugo Mãe [Opinião]

Título: a máquina de fazer espanhóis
Autor: Valter Hugo Mãe
N.º de Páginas: 312
PVP: 17€

Sinopse:
Esta é a história de quem, no momento mais árido da vida, se surpreende com a manifestação ainda de uma alegria. Uma alegria complexa, até difícil de aceitar, mas que comprova a validade do ser humano até ao seu último segundo. "A Máquina de Fazer Espanhóis" é uma aventura irónica, trágica e divertida, pela madura idade, que será uma maturidade diferente, um estádio de conhecimento outro no qual o indivíduo se repensa para reincidir ou mudar. O que mudará na vida de antónio silva, com oitenta e quatro anos, no dia em que violentamente o seu mundo se transforma?

A minha opinião:
A máquina de fazer espanhóis marca a minha estreia na escrita de valter hugo mãe. Desrespeitando completamente os sinais de pontuação e as maiúsculas no início de cada frase e no nome das personagens em muito me fez lembrar Saramago, mas o que podia ser uma coisa contra em relação á leitura deste livro, tornou-o bastante agradável e especial. Resultou na perfeição.

O livro conta a história de alguns dos 93 utentes de um lar, o lar da feliz idade, protagonizados por António Silva, um velhote de 84 anos que ali é depositado quando a sua mulher, Laura, morre. O que inicialmente é tido como uma afronta da sua família, que no entender dele não o quer mais, o lar acaba por ser um espaço de convívio, de troca de impressões e de histórias do passado, onde o sr. silva trava amizades com as mais diversas personagens.

Cruzamo-nos assim com homens e mulheres que conheceram, ou não, Fernando Pessoa tendo servido de inspiração para o seu poema A Tabacaria, Eugénio de Andrade, Cubillas, mas também nos deparamos com o inspector Jaime Ramos e o inseparável Isaltino de Jesus, personagens dos policiais de Francisco José Viegas.

Mas é sobretudo no sr. silva, no sr. antónio silva já que o apelido silva é partilhado por muitos dos utentes, que nos vai desenrolando a maior parte das suas memórias, tempos do Estado Novo, de um grande amor pela sua laura, da ingratidão dos seus filhos, um que está na Grécia e que nunca o visita nem telefona e de uma Elisa que o traiu colocando-o naquele local.

Pelo lar feliz idade vão passando amigos, vão morrendo amigos, mas vai-se vivendo...

A máquina de fazer espanhóis, dedicado ao pai de valter hugo mãe que não teve oportunidade de viver a terceira idade, é uma mordaz crítica à sociedade. À sociedade passada, mas também à actual que deixa os velhos num novo lar e se esquece de os visitar, de conviver com eles, de aprender com eles.

Este foi o primeiro livro que li de valter hugo mãe, mas de certeza não será último. Muito bom. 


Excerto:
"com a morte, também o amor devia acabar. acto contínuo o nosso coração devia esvaziar-se de qualquer sentimento que até ali nutria pela pessoa que deixou de existir. pensamos, existe ainda, está dentro de nós, ilusão que criamos para que se torne todavia mais humilhante a perda e para que nos abata de uma vez por todas com piedade. e não é compreensível que assim aconteça. com a morte, tudo o que respeita a quem morreu, devia ser erradicado, para que aos vivos o fardo não se torne desumano. esse é o limite, a desumanidade de se perder quem não se pode perder. foi como se me dissessem, senhor silva, vamos levar-lhe os braços e as pernas, vamos levar-lhe os olhos e perderá a voz, talvez lhe deixemos os pulmões, mas teremos de levar o coração, e lamentamos muito mas não lhe será permitida qualquer felicidade de agora em diante."

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