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quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Limões na Madrugada - Carla M. Soares [Opinião]

Título: Limões na Madrugada
Autor: Carla M. Soares
Editor: Cultura Editora
Páginas: 224

Sinopse:
Ansiosa por regressar à Argentina, mas presa a Portugal, distante do homem que ama e da mulher com quem vive, Adriana está perante um dilema universal e intemporal: manter-se comodamente na ignorância ou desvendar o passado da família, como se de um caso policial se tratasse, enfrentando assim aquilo de que andou a fugir toda a vida, por mais doloroso que seja.

Num jogo magistralmente imaginado pela autora, entre a vida atual de Adriana e os ecos do Portugal antigo, machista e violento dos seus pais e avós, esta história, de uma família e dois continentes, é uma viagem entre o presente e o passado, uma ponte sobre o fosso cultural que separa as gerações, um tratado sobre tudo aquilo que a família pode fazer à vida de um só indivíduo.

Entre a sombra e a luz, deixando que por vezes os silêncios falem mais alto do que as palavras, Limões na Madrugada é um romance sobre o amor incomum, o poder da família e a necessidade da coragem.

A minha opinião:
Limões na Madrugada é o segundo livro que leio da Carla M. Soares (tenho o Cavalheiro Inglês por ler na estante) e estou mesmo rendida à escrita da autora, mas também as histórias que cria.
Adriana é uma mulher que se vê a braços com o passado no distante Portugal. A viver na Argentina desde tenra idade, surpreende-se com o telefonema de um advogado portuense dizendo que é portadora de uma herança. A primeira reação é dizer que não está interessada em nada que venha da família do pai, mas a curiosidade começa a ser grande, uma vez que a tia a "obriga" a viajar para o Porto, numa carta que lhe é deixada.

Narrada pela protagonista, a história situa-se entre a Argentina e o Porto, entre passado e presente. E isso é o que mais valorizei no livro. Gosto de livros que nos vão desvendando aos poucos as personagens, que nos dão um pouco de cada vez, que trazem mistério a cada virar de página.
E tudo nele é surpreendente. Desde a vida passada da família paterna de Adriana, até às dúvidas que lhe surgem no presente, quer com o emprego, quer no que toca às relações amorosas.

Adriana é uma personagem peculiar. Dona de uma força enorme, mostra por vezes fraquezas próprias dos segredos do passado e da descoberta dos mesmos que a deixam de rastos. Tudo isto torna uma personagem perfeita com todas as suas imperfeições.

Este é um livro que toca, que nos prende, que nos faz transportar para as ruas do Porto que conheço tão bem e que tão bem estão complementadas com a belíssima capa. Este é o livro de uma pessoa sensível, amante da escrita e da leitura. É um livro para amantes de leituras que nos fazem viajar e querer permanecer neles.

Uma excelente aposta de uma jovem editora portuguesa, que tem já no seu catálogo excelentes autores nacionais.

Recomendo.




quarta-feira, 10 de maio de 2017

O Ano da Dançarina - Carla M. Soares [Opinião]

Título: O Ano da Dançarina
Autor: Carla M. Soares
Editor: Marcador
Páginas: 392

Sinopse:
No ano de 1918, o jovem médico tenente Nicolau Lopes Moreira regressa da Frente francesa, ferido e traumatizado, para o seio de uma família burguesa de posses e para um país marcado pelo esforço de guerra, pela eleição de Sidónio Pais e pela pobreza e agitação social e política.

No regresso, Nicolau vê-se confrontado com uma antiga relação com Rosalinda, dançarina e amante de senhores endinheirados, e com as peculiaridades de uma família progressista.

Enquanto a Guerra se precipita para o fim e, em Lisboa, se vive a aflição da epidemia e da difícil situação política, a família experimenta o medo e perda, e Nicolau conhece um amor inesperado enquanto trava as suas próprias batalhas contra a doença e os próprios fantasmas. Este é um romance de grande fôlego, histórico, empolgante e profundo, sobre a superação pessoal e uma saga familiar num tempo de grande mudança e turbulência em Portugal.

A minha opinião: 
Depois de uma grande desgosto de amor, Nicolau Lopes Moreira decide alistar-se para a Grande Guerra, correndo o risco de morrer. 

Após ficar ferido, Nico regressa em 1918 da Frente Francesa, mas com o coração ainda partido. 
Convalescente, em casa, decide ler na biblioteca, a dezena de cartas que lhe mandam para saber da sua convalescença. Entre elas está a de Rosalina, jovem dançarina do Tetaro Almeida Garrett que o abandonou para seguir o sonho de dançar na Ópera de Paris. 

Já na capital portuguesa, Nicolau revela uma transformação drástica. Apesar de ainda gostar da jovem bailarina está conformado com o facto de que ela não é para si, e decide viver a sua vida longe de uma mulher que lhe quis tanto mal. 

"O Ano da Dançarina" é o primeiro livro que leio de Carla M. Soares e deixou-me completamente vidrada na história. Sou fã assumida de romances históricos, e a temática da Primeira e Segunda Guerra Mundial é das que mais me atrai. Saber que se passará um pouco na frente francesa, passando posteriormente para Portugal onde parte da história se passa na narração dos milhares de mortos provocados pela gripe espanhola, como vulgarmente é chamada, deixou-me entusiasmada. 

A autora escreve muito bem e elaborou uma história bastante interessante em torno da família Lopes Moreira. Desde o louco Nicolau, que parte para a guerra, para fugir ao seu coração, a César, um bon-vivant, mas um irmão dedicado, a Bernarda, uma rapariga avançada para o seu tempo, tendo recebido por parte da mãe a mesma educação que foi dada aos seus irmãos. Bernarda sabe, inclusive, conduzir e é directora de uma revista. Bernarda, a par de Cecília, foram as personagens que mais gostei, talvez pela veia jornalista que ainda há em mim. 

Adorei o enredo, o destino dado às personagens (nem todos podemos ter um final feliz, senão seria um conto de fadas e não um livro que se quer parecido com a realidade). 

Houve ainda o cuidado por parte da autora em colocar a história na História, revelando uma pesquisa vasta, quer sobre a gripe espanhola e o quanto atacou os portugueses, tanto na classe alta como na baixa, quer na reprodução da época, a política ditatorial de Sidónio Pais, resultando num romance 5 estrelas.  
De destacar o título dado ao livro, que não podia estar mais de acordo com a história.

PS. Dei-me por mim tão envolvida na história que quando alguém espirrava junto a mim pensava logo na epidemia da espanhola. 

Excerto: 
"Tudo o que vinha além da fome era «a vida». O desemprego era a vida. Outra gravidez era a vida. Uma doença era a vida. A morte de um filho, ou de muitos, era a vida. Bernarda irritava-se muitas vezes com o fatalismo português, o fado que se darramava nas canções das tabernas lisboetas, por isso admirava que se rebelava contra o estado das coisas." pag. 109



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