Recordo-me de o Papa Francisco dizer, creio que no início do pontificado, que já estaríamos numa III Guerra Mundial, com contornos naturalmente diferentes dos dois conflitos anteriores. Francisco, uma das poucas vozes com ressonância global que, tendo apenas o poder da própria influência, era alguém que não podia deixar de ser escutado. Não sei -- não sei mesmo -- se Leão XIV tem possibilidades semelhantes, dadas as diferenças de índole e carisma. Veremos. Uma voz porventura equivalente será a de Tenzin Gyatso, o Dalai-Lama, já nonagenário e com anticorpos na cúpula dirigente da China, país ocupante do Tibete -- nunca esquecer esta verdade insofismável.
Já não há para aí santos, que se saiba, e também tenho dúvidas de que gente como um Mandela, um Luther King ou um Gandhi, tivessem peso político suficiente pra desviar o curso dos acontecimentos em direcção à catástrofe. Mão amiga fez-me chegar este texto de Dmitry Trenin, um analista russo prestigiado, traduzido pelo jornalista Carlos Fino, que, ao contrário dos muitos que peroramos sobre o problema, conhece e sabe o que sentem os russos.
Estamos ainda no patamar académico, e é no político que ele se resolve, com base no discernimento principalmente de Putin, mas também de Xi Jinping. De Trump não há discernimento, mas instinto de vendedor de automóveis; o que se está a passar com o Brasil, mostra o grau de alucinação do homem; tal como alçar e manter na presidência um fulano intelectualmente diminuído e incapaz como Biden é revelador da podridão do sistema político americano, o que já toda a gente sabia, diga-se.
É claro que Trump, não sendo de modo nenhum estúpido (ao contrário de boa parte dos congéneres europeus) é demasiado básico e para ser tomado por metafísicas existencialistas, em boa medida, parece, o caso de Putin (embora, não descartando também o que de aparentemente frio e cerebral terá o presidente russo).
Como, portanto, não há santos disponíveis, só podemos assentar esperanças nos nossos irmão em humanidade, mesmo que demasiado humanos, que possam aliar algum poder -- mesmo que em articulação -- à imposição de bom-senso, especialmente quando no pilar europeu sobressaem pequenos rafeiros enraivecidos como Merkel, Merz ou Starmer.
Que forças à escala global podem chamar as partes (Estados Unidos e Rússia + China), se a América descambar ou não tiver pulso nos seus rafeiros? Onde estão essas vozes com alguma influência? A Índia de Modi, o Brasil de Lula, a África do Sul de Ramaphosa -- por sinal, todos Brics, o que pode ser uma vantagem. Talvez juntando Sheinbaum, os países árabes do Golfo, e mais uns quantos, sem menosprezar o poder dos grandes líderes espirituais -- e os bons ofícios de pequenos países possam impulsionar acordos para a paz. Seria bom que a Suíça continuasse a contar, mas também a Costa Rica, a Mongólia -- por que não o
E o melhor é ter começado já.