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terça-feira, setembro 03, 2013

o que tinha Jorge Amado?

Jorge Amado tinha 24 anos no ano de Mar Morto (1936), e já publicara Jubiabá, entre outros. Tinha o calo de vida vivida e formação cultural e académica. E tinha a prática de boémia dos jornais, o conhecimento directo das suas putas, dos seus vagabundos, dos coronéis da família e dos seus jagunços. Tinha uma consciência política e já uma ortodoxia de que só se libertará vinte anos mais tarde -- mas que felizmente não surge aqui. Tinha uma aguda percepção do que era, ou de como devia ser, o romance: viril, poeticamente viril.
Ei-lo que avisa, antes de a narrativa se iniciar: «Agora eu quero contar as histórias da beira do cais da Bahia.» Os trabalhadores e os marginais, por vezes uma e a mesma coisa: «O povo de Iemanjá tem muito que contar.» Ele é o veículo dessas histórias de luta, amor e morte, anunciando-as em nota prévia e para a praça pública -- como um autor de literatura de cordel, um vendedor de almanaques pelas feiras: «Vinde ouvir essas histórias e essas canções.» Nem poeta mimoso nem romancista funcionário ou jornalista vendido; Jorge Amado dessacraliza-se como escritor; e com essa verdade inocente, já era grande aos 24 anos.

edição: Livros de Bolso Europa-América, 4.ª ed., Mem Martins, s.d.

quinta-feira, agosto 01, 2013

"Aquela era uma noite diferente e angustiante."

Aquela era uma noite diferente e angustiante. Sim, porque os homens tinham um ar de desassossego e o marinheiro que bebia solitário no Farol das Estrelas correu para o seu navio como se o fosse salvar de um desastre irremediável. E a mulher, que no pequeno cais do mercado esperava o saveiro onde vinha o seu amor, começou a tremer, não do frio do vento, não do frio da chuva, mas de um frio que vinha do coração amante cheio de maus presságios da noite que se estendia repentinamente.

Jorge Amado, Mar Morto (1936)