Sim, é verdade, a Rússia está numa deriva autocrática, acelerada pela guerra. Já o escrevi, várias vezes, e mantenho: nunca, na sua longa história, os russos foram tão livres e tão prósperos como com Putin; mas a verdade é que, desde que sobreveio o estado de guerra, essa liberdade contraiu-se. Até por razões psicológicas do próprio Putin, já detectáveis nas entrevistas do Oliver Stone, em que se tem a noção que ele se vê a si próprio como o garante da estabilidade, progresso e segurança do país.
Assistimos agora a discussões de lana caprina sobre a situação democrática russa, como se isso interessasse a alguém que não aos próprios russos. Também tão pouco me interessa que os Estados Unidos, que obviamente tem coisas fantásticas -- da liberdade de imprensa à liberdade religiosa -- seja uma plutocracia repelente, com milhões de farrapos humanos, das prisões às ruas, que o darwinismo social deixa para trás. Liberdade de imprensa e de expressão que não impediu que os muitos massacres perpetrados pelos americanos por esse mundo além se efectivassem. Talvez os iraquianos, quando foram massacrados por motivos espúrios, levantassem os olhos para o Céu, com este lindo pensamento: são bombas e a minha família vai morrer sem perceber bem porquê; felizmente são lançadas por um país demoliberal, em que a liberdade de expressão e associação é à prova de bala (perdoem a infelicidade da imagem os familiares das crianças massacradas, num país em que o mais forte prevalece sempre, neste caso, a NRA)
A verdade é que me estou relativamente nas tintas, quando vejo os títeres europeus da plutocracia (a começar pelos portugueses), mais idiotas úteis e outros analfabetos, a preparar-nos, no mínimo, para alimentar a Nato, braço político do Pentágono. Para já é só dinheiro; há-de chegar a altura (se a Rússia não se despachar a resolver aquilo como deve) em que dirão ser preciso mandar tropas. A desvergonha destes canalhas é axiomática.
A propósito: digo já que sou favorável a serviço militar e serviço cívico (para os objectores de consciência) obrigatórios, para ambos os sexos, mas não para que os soldados portugueses vão servir de carne-para-canhão dos americanos na Ucrânia, como acontece com os pobres ucranianos. Fica para outro post.