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segunda-feira, abril 04, 2022

levou tempo, mas ainda vão lá (ucranianas LIX)

 Alguns historiadores e especialistas em relações internacionais levaram tempo a perceber que isto não é uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia, mas entre dois imperialismos. Alguns coitados porém, tendo aí chegado e comendo a papa toda que lhe põem à frente, acham muito mal que se fale em acontecimentos passados (estão a referir-se ao crime do Iraque, mas não o dizem). Como se a lógica fosse diferente em duas décadas, como se a maior parte dos protagonistas tivesse desaparecido, como se o actual inquilino da Casa Branca não tenha estado directamente implicado nessa guerra com pretextos inventados (coisa que não se pode dizer sobre a Ucrânia, correndo o risco de se parecer efectivamente estúpido ou aldrabão). 

Algumas destas luminárias até se dizem de esquerda; uns quantos circularam inclusivamente pela dita extrema. Ora, não se trata de relativizar a acção da Rússia, que formalmente atenta contra o Direito Internacional, e onde a esquerda não existe, mas de estes pífios analistas e historiadores vesgos, com um suposto posicionamento à esquerda, desvalorizarem o que é a estratégia dos Estados Unidos, a potência que lidera a Nato, como se o imperialismo predatório americano houvesse mudado de natureza. Alguns são tão tapados que nem se aperceberam de que o que se está agora a passar estava já a preparar-se com a suposta vitória da Clinton, ficando entre parênteses com a ascensão do Trump, que, pertencendo ao grupo dos que manobram e não dos manobrados -- clintons, bidens e quejandos --, tinha a sua contabilidade própria, sem precisar de pagar a factura da eleição. Parece, pois, já terem percebido que a Ucrânia é um mero campo de batalha, e que os ucranianos são carne para canhão usada pelos seus líderes políticos

Ainda não escrevi aqui algo que toda a gente sabe; mas que nunca é de mais sublinhar: o filho do Biden, um lóbista -- ou seja, um homenzinho de aluguer que se arrenda para conseguir favores em troca dos seus contactos --, tem ligações e interesses na Ucrânia, nomeadamente, segundo pude ler, na empresa de gás ucraniana, e provavelmente outras.

Hoje ouvi na rádio José Manuel Fernandes, um tipo que defendeu a invasão do Iraque, na sequência do Assis (uma caricatura pertencente à raça dos que gostam de se ouvir, o que impressiona qualquer parolo), atirar-se contra um tipo que tem sido muito badalado, ex-espião e mais não sei o quê, que tem uma posição não sei se pró-russa ou equidistante. Nem me lembro do nome, porque aparece na sic, que só vejo por acidente, com medo que ocorra o inefável Milhazes. No entanto, parece que terei de estar mais atento. (Tive de ir à procura do nome do homem de quem se fala: Alexandre Guerreiro -- e a que horas fala ele?)

ucranianas

segunda-feira, março 28, 2022

os cartoonistas percebem melhor (ucranianas LV)

1. Nesta altura do campeonato, até os distraídos já perceberam a guerra entre os Estados Unidos e a Rússia. Claro que nem todos. Este fim-de-semana, uma jornalista do "internacional", Márcia Rodrigues (RTP), perguntava a um pacífico comentador como explicava ele a "capitulação" do exército da Rússia -- "capitulação", o que somos obrigados a ouvir; na sic, um Henrique Burnay (creio que é este o nome) dizia que a Ucrânia fizera uma "opção pelas democracias" e que os russos não gostaram. Assim, com esta candidez. Já o sempre atento Bernardo Pires de Lima, na Antena 1, depois de muito instado a responder se não havia aqui também uma luta em torno dos recursos, como o gás natural, lá teve de dizer: "Mas sempre houve!" Ah... Afinal, a muito custo, pese embora os militares, em geral, que têm demonstrado e problematizado o conflito num grau de complexidade que não se compadece com "análises" saloias à Milhazes, lá vão lentamente admitindo que o choque que aqui se dá é entre dois imperialismos, um na defensiva (a Rússia) outro ao ataque (os Estados Unidos). É muito complicado, não é?, tudo ao contrário do que parece: a Rússia ataca, e está na defensiva... Esoterismos... Por isso tem sido tão fácil enganar as pessoas.

2. o cartoon de Thais Linhares (daqui)


 

quinta-feira, fevereiro 24, 2022

Ucrânia e simplismos: a situação exige perguntas, ou quando um porco é sempre um porco

1. Declaração prévia. Sou pela autodeterminação dos povos. Isto serviria para apoiar a luta anticolonialista de Angola, Guiné e Moçambique, se houvera idade para tal na altura (nasci em 1964); isto serve para o povo ucraniano e serve para o povo russo, nomeadamente o que vive no Donbass (como serve para os catalães e outros). Ou há convicções e somos coerentes, ou não passamos de troca-tintas. E eu nunca pude com troca-tintas, causam-se repulsa, inclusive física. Logo. de acordo com os russos no Donbass, em desacordo se pretenderem suprimir o estado ucraniano, algo que duvido possam conseguir, mesmo se isto passa pela cabeça do Putin. No entanto, a Ucrânia só pode queixar-se dela própria, e do amigo-da-onça americano. Democracy, sempre. Que o diga o Assange aí ao lado, ou o Snowden no exílio. Um porco é sempre um porco.

2. Dir-me ão, mas não se pode andar a mudar fronteiras pela força (os restos dos Impérios soçobrados na Grande Guerra). E eu digo, ah, pois não... A não ser que...

3. Pergunta importante #1 e a ser repetida as vezes que me apetecer: é ou não verdade que tomaram para com Gorbachev o compromisso de não expandir a NATO, nomeadamente aquando da reunificação alemã? 

4. Embora o poder corrompa (e o poder absoluto corrompa absolutamente), recuso-me a análises ao nível do programa do Goucha. Ainda hoje ouvi na Antena 1 ao Milhazes esta pérola: o Putin é paranóico. Acho que a minha cadela faria uma análise mais fina. Ainda não percebi o que é o Milhazes, mas também não vou perder tempo com ele.

5. Repetindo-me: a Ucrânia não podia ser como a Finlândia? Poderia, se ela não estivesse a ser usada pelos americanos na desestabilização da Rússia (posso tentar explicar, noutra altura). Além disso, há sempre boas oportunidades de negócio. E poderia também se as lideranças fossem outras, embora em abstracto eu não tenha má opinião do Zelensky. É inteligente mas não teve  arcaboiço para manter a Ucrânia imune às pressões dos interesses, o que convinhamos nunca seria fácil.

A quem interessar está aqui o que escrevi sobre a Ucrânia desde 2014. Vale o que vale, a opinião de um observador interessado, sempre de boa-fé, e que não gosta de rebanhos e ainda menos de vigaristas.

Haverá mais perguntas a fazer e a repetir.