Alguns historiadores e especialistas em relações internacionais levaram tempo a perceber que isto não é uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia, mas entre dois imperialismos. Alguns coitados porém, tendo aí chegado e comendo a papa toda que lhe põem à frente, acham muito mal que se fale em acontecimentos passados (estão a referir-se ao crime do Iraque, mas não o dizem). Como se a lógica fosse diferente em duas décadas, como se a maior parte dos protagonistas tivesse desaparecido, como se o actual inquilino da Casa Branca não tenha estado directamente implicado nessa guerra com pretextos inventados (coisa que não se pode dizer sobre a Ucrânia, correndo o risco de se parecer efectivamente estúpido ou aldrabão).
Algumas destas luminárias até se dizem de esquerda; uns quantos circularam inclusivamente pela dita extrema. Ora, não se trata de relativizar a acção da Rússia, que formalmente atenta contra o Direito Internacional, e onde a esquerda não existe, mas de estes pífios analistas e historiadores vesgos, com um suposto posicionamento à esquerda, desvalorizarem o que é a estratégia dos Estados Unidos, a potência que lidera a Nato, como se o imperialismo predatório americano houvesse mudado de natureza. Alguns são tão tapados que nem se aperceberam de que o que se está agora a passar estava já a preparar-se com a suposta vitória da Clinton, ficando entre parênteses com a ascensão do Trump, que, pertencendo ao grupo dos que manobram e não dos manobrados -- clintons, bidens e quejandos --, tinha a sua contabilidade própria, sem precisar de pagar a factura da eleição. Parece, pois, já terem percebido que a Ucrânia é um mero campo de batalha, e que os ucranianos são carne para canhão usada pelos seus líderes políticos
Ainda não escrevi aqui algo que toda a gente sabe; mas que nunca é de mais sublinhar: o filho do Biden, um lóbista -- ou seja, um homenzinho de aluguer que se arrenda para conseguir favores em troca dos seus contactos --, tem ligações e interesses na Ucrânia, nomeadamente, segundo pude ler, na empresa de gás ucraniana, e provavelmente outras.
Hoje ouvi na rádio José Manuel Fernandes, um tipo que defendeu a invasão do Iraque, na sequência do Assis (uma caricatura pertencente à raça dos que gostam de se ouvir, o que impressiona qualquer parolo), atirar-se contra um tipo que tem sido muito badalado, ex-espião e mais não sei o quê, que tem uma posição não sei se pró-russa ou equidistante. Nem me lembro do nome, porque aparece na sic, que só vejo por acidente, com medo que ocorra o inefável Milhazes. No entanto, parece que terei de estar mais atento. (Tive de ir à procura do nome do homem de quem se fala: Alexandre Guerreiro -- e a que horas fala ele?)