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sexta-feira, novembro 08, 2024

A única estatística que tenho é o meu olhar, mas...


Embora não tenha nenhum dado estatístico sobre qual é o animal doméstico mais popular na actualidade em Almada, noto um grande crescimento de cães. E isso acontece desde a pandemia.

Antes, o que se via mais em Almada, eram gatos. Muitos deles "vadios", mas como tinham sempre várias distribuidoras de comida e de água, pelas ruas da Cidade, sobreviviam sem grandes dificuldades.

Depois veio a pandemia e quase que se deu ouvidos à sabedoria popular (sempre ela...), e quem "tinha medo", acabou mesmo por comprar um cão, nem que fosse para ter uma desculpa para andar na rua, nesses tempos de quase reclusão...

Alguns deles devem-se ter afeiçoado aos animais, outros habituaram-se a estes passeios, como momentos de evasão familiar, outros mais estranhos, perceberam que os cães nunca refilam com os donos, nem quando levam um ou outro pontapé...

A única coisa de que tenho a certeza, é que nunca vi tanto cão a passear na cidade, atrelado a seres humanos...

Também sei que antes da pandemia, havia mais humanidade pelas ruas. Claro que se há alguém que não tem nenhuma culpa disso, são os cães e os gatos...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quinta-feira, julho 04, 2024

Tempos para recordar, tempos para esquecer...


Embora seja muito cedo para se fazerem contas ou estudos, a pandemia parece-se cada vez mais com uma divisão histórica. Sabemos que não é, mas que parece, parece...

Tenho notado isso várias vezes, por pequenas e grandes coisas. Hoje voltou a acontecer, quando a minha filha reencontrou uma amiga de praia que não via há quatro anos. Eram duas adolescentes e hoje são duas mulheres.

O reencontro pareceu-me feliz, pela conversa animada. Ao longe, apenas posso dizer que cresceram um palmo, passaram da secundária para a universidade, e um dia destes acabam os cursos e passam a fazer parte da chamada "vida activa"...

Voltando à pandemia, foi um tempo terrível, em que se perdeu muita coisa, até vidas humanas. Pessoas que nunca mais vimos e que não voltaremos a ver, umas próximas outras que apenas se cruzavam connosco, nas ruas, nos cafés,  transportes públicos.

Talvez seja por isso que a sensação maior continue a ser de perda...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


sábado, maio 11, 2024

«Mudou tanta coisa. Até nós somos outras pessoas...»


Às vezes dá-nos para falar de coisas que são "para esquecer", como é o caso da pandemia (mesmo que possa voltar, mais tarde ou mais cedo).

Há pessoas que quase desapareceram do mapa, como foi a Rita, que encontro muito menos do que devia, porque o "teletrabalho" veio mesmo para ficar, em muitas profissões e ocupações.

A coisa que ela achou mais estranha em mim foi o meu cabelo estar mais cinzento, mesmo que dissesse que me ficava bem. Podia ter falado das "olheiras", coisa que quase não tinha antes do "fecho do país", porque dormia lindamente, coisa que não acontece hoje, em que acordo mais vezes do que devia durante a noite. Ou ainda dos centímetros que tinha a mais na zona abdominal...

Claro que olhámos para trás com humor. Muitas vezes é essa coisa boa, de um dito ou de uma história alegre, que nos anima e faz andar para a frente.

Mesmo assim a Rita disse: «Mudou tanta coisa. Até nós somos outras pessoas...»

E somos mesmo (mas não vou falar do que o Carlos disse, sobre "vinagre" ou sobre "fascistas"...).

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, março 13, 2024

O equilíbrio e bom senso que faltam cada vez mais neste nosso país...


Uma simples frase do folheto de um partido que parece ser uma "multinacional" (Volt), com uma cabeça de lista bonitinha e bem falante, sem ter tiques de "vendedora de feira", criou uma conversa, que a breves momentos parecia uma discussão. Tudo isto porque adoramos o nosso lado italiano de comunicação, em que falamos com tudo, palavras, mãos, braços, cabeça (mas sem qualquer vestígio de violência ou chatice séria, mesmo que isso possa transparecer para as mesas ao lado, durante o almoço...).

Todos estávamos de acordo que não era preciso irmos tão longe e termos "paixão pelo bom senso", como a Inês, mas que cada vez se notava menos equilíbrio e até inteligência, nas relações humanas, fosse no trabalho, em casa ou no comércio, ninguém qualquer tinha dúvida...

Quando dizíamos uns aos outros, que nunca fomos muito bons da cabeça, mas desde a pandemia, vamos mais facilmente do "oito ao oitenta". Parece que cada vez há menos meio termo, em praticamente tudo. Ergueu-se uma voz discordante.

O Jorge disse que a "pandemia" não tinha nada a ver com isso.

Não concordámos. Foi quando ele trouxe a justiça para a mesa, que era um dos factores essenciais de equilíbrio social, e que desde que se tornou uma "telenovela", com actores alexandrinos e rosinhas com e sem limões (são palavras dele...), nunca mais houve bom senso. E isso tornou-se mais grave quando se prendeu um ex-primeiro-ministro em directo no aeroporto. Ainda faltavam uns anitos para levarmos com a pandemia. E depois trouxe o último caso, não menos polémico nem menos telenovelesco, em que embarcaram 300 pessoas, a maioria inspectores da judiciária, num avião militar, para prenderem meia-dúzia de pessoas, que depois de estarem detidos de forma ilegal durante uns quinze dias, foram libertados sem que lhes fosse atribuída culpa de qualquer crime.

Como o Jorge estava com a corda toda, ainda nos deu mais um exemplo, este ainda mais gritante e verdadeiro, a acção policial. Onde devia existir mais sangue frio e bom senso, opta-se quase sempre, ora pelo deixa andar ou pela violência gratuíta. Ora se fecha os olhos (se foram meia-dúzia os criminosos, não vá sobrar para eles e ultimamente tem sobrado mais vezes...), ou se apanham um ou dois suspeitos, e antes de fazerem perguntas, usam-se logo os cassetetes, as botas e até os punhos nos seus corpos.

Não estávamos à espera de ser tão contrariados (houve mais exemplos). Pensávamos que tudo mudara depois da "pandemia", e afinal as coisas já estavam desequilibradas, vários anos antes...

Claro que as coisas estão pior. E ainda temos a guerra, que estando longe, parece estar perto...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, dezembro 02, 2022

Tantas Conversas que Continuam Adiadas...


Não sei se a pandemia irá voltar. Sei apenas que se voltar, já não nos iremos "fechar" em casa, como fizemos durante largos meses.

Agora que o Inverno está a chegar com mais frio e chuva, é possível que aumentem os casos de "covid" (já devem estar a aumentar, mas felizmente sem a gravidade de antes). O caos nos hospitais nunca deixou de existir. Mesmo que aumentem as visitas às urgências, não se deve dar por isso. Já nos habituámos às notícias sobre as largas horas de espera, assim como à falta de médicos e de enfermeiros.

Mas não é sobre isso que quero falar, é sobre a vida que não normalizou. Há pessoas que nunca mais voltámos a encontrar, outras surgem-nos de uma forma fortuita, no interior de um supermercado. Contamos as últimas novidades e dizemos que temos de combinar e encontramo-nos para pôr a conversa em dia, mas não marcamos nada. Prometemos telefonar depois...

Muitas vezes é um "depois" longo, só telefonamos se for mesmo necessário...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sexta-feira, setembro 16, 2022

A Violência e a Incerteza que nos Rodeia (cada vez mais)...


Embora exista hoje uma maior exploração de todo o género de criminalidade (até há um canal televisivo que trata todos estes casos como se fossem novelas...), também se sente, aqui e ali, que a nossa sociedade está mais violenta.

Não foi por isso de estranhar que um dos amigos com quem tomo café, quando conseguimos acertar os relógios, me dissesse a meio desta semana, sem ironia (depois do que fizeram à esposa e aos filhos de Sérgio Conceição rente ao Estádio do Dragão...), que o "coronavírus" não nos afectou apenas os aparelhos respiratório e cardiovascular, também nos afectou o "cérebro".

Por perceber que ele não estava a brincar, disse-lhe que a invasão da Rússia à Ucrânia, era capaz de nos estar a afectar mais o cérebro que a pandemia... 

E ainda podemos somar a estes dois acontecimentos trágicos, as alterações climáticas, que nos afectam  mais do que pensamos (e o "cérebro" não passa ao lado de todos estes dramas...).

Até porque, não tenho qualquer dúvida que devemos estar a viver um dos momentos de maior incerteza em relação ao futuro da humanidade.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, agosto 05, 2022

Marcas de um Tempo, no Mínimo Estranho (e imprevisível)...


É normal ouvir dizer, aqui e ali, que algumas das coisas que ficaram no pós-pandemia, foram  mais egoísmo, menos paciência e também um maior descontrole emocional.  

Penso que sim, embora o egoísmo acabe por ser a marca mais visível. Como as pessoas praticamente deixaram de falar umas com as outras (bem dito telemóvel que substituiu com sucesso as "nuvens" e  a "lua"...), é nas situações com algum stress (as filas para qualquer coisa são um bom exemplo...), que se nota que a paciência ficou ainda mais para os chineses. E se acontecer alguma discussão, rapidamente alguém se descontrola e agride o outro verbalmente (e em alguns casos pode chegar mesmo a "vias de facto").


Acredito que as consequências da guerra na Ucrânia (a inflação galopante talvez seja a mais notória...), a própria seca severa que atinge o país, de Norte a Sul, sem esquecer o flagelo dos incêndios crónicos, assim como o que se passa no SNS, são exemplos mais que suficientes para aumentar o nosso "desnorte". 

Falámos sobre estas coisas e também sobre o aumento da violência. Apesar do alarmismo televisivo do CMTV (alimenta-se notoriamente de "sangue"...), que é capaz de repetir (e multiplicar) a notícia sobre a agressão ou assassinato com arma branca umas cinquenta vezes... há mais casos de assaltos e agressões com alguma gravidade.

Houve logo alguém que tentou culpar os emigrantes que vivem entre nós (especialmente brasileiros...). Mas nenhum de nós quis ir por aí.  Preferimos culpar as dificuldades em que se vive, com a pobreza não só a deixar de ser "envergonhada" como a começar a generalizar-se... E há sempre quem prefira roubar a mendigar... 

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, maio 25, 2022

"A Essência do Comércio" e a Ausência das Revistas nas Salas de Espera...


Quando preciso de ir a qualquer consulta e imagino que vou "esperar", mais que cinco minutos, faço-me sempre acompanhar de um livro, de preferência curto e leve.

E hoje foi uma boa ideia levar "A Essência do Comércio", de Fernando Pessoa, publicada há quase 100 anos (em 1926, na "Revista  de Comércio e Contabilidade"). É um livro de uma actualidade gritante, que teria muito a ensinar a grande parte dos nossos comerciantes (provavelmente o merceeiro da minha rua já leu este pequeno livrinho...). Começa logo com uma lição dada pelos alemães aos ingleses, com o negócio simples dos "ovos quentes" na Índia.

Fernando dá um particular enfase à psicologia, ao conhecimento que devemos ter "do outro". Curiosamente, essa continua a ser a principal lacuna de quem vive do comércio, que centra todas as suas atenções no presente e no lucro imediato (o turismo ainda agrava mais este problema...).

Apesar de ter ficado agradado com este Fernando Pessoa, "mais comercial", achei estranho a ausência de qualquer revista de moda ou de mexericos, que quase todos folheávamos nas salas de espera de clínicas e consultórios.

A pandemia nem poupou os "famosos", que uma boa parte das vezes, não fazia ideia quem eram nem o que faziam, para além de degustarem croquetes e fazer sorrisos cintilantes para os fotógrafos bem acompanhados.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, janeiro 24, 2022

Marcas que Ficam Destes Tempos...


Hoje ao almoço, falámos de muitas coisas, como de costume. 

Além das eleições de domingo, é difícil passar ao lado da "guerra fria" entre a Rússia e a Ucrânia ou do número crescente de infectados. 

Mas o mais marcante para mim, foi o desabafo do Chico, por o neto há mais de um ano que não ter ninguém da sua idade, com quem brincar fora da escola.

Ninguém sabe quais serão as marcas que ficarão para o futuro destes tempos de pandemia, para as crianças e adolescentes.

A única coisa que sabemos é que com a redução das actividades ao ar livre, aumentaram, de uma forma assustadora as horas diárias passadas à frente do ecrã do telemóvel, dos nossos netos e dos nossos filhos (mas também de quase todos os adultos...).

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, janeiro 20, 2022

«Não. Não estamos mais burros. Estamos sim, mais confusos.»


O Pedro hoje estava num dia não e "disparou" em todas as direcções. Os muitos anos de jornalismo fazem com que não entenda a televisão que se faz actualmente. E até tem receio de ler as notícias que estão sempre a aparecer dentro do seu telemóvel...

Foi por isso que disse que estamos a ficar com as orelhas maiores e com o cérebro mais pequenino. 

Não, não era uma questão de tamanho. Nunca foi.

Foi quando a Alice disse: «Não. Não estamos mais burros. Estamos sim, mais confusos.»

Ela estava certa. E só faltava mesmo aparecer também uma pandemia, para ainda confundir mais as coisas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, janeiro 05, 2022

A Memória das Palavras (03)


Há textos que entram para dentro do futuro, quase próximo, como este publicado na revista "Notícias Magazine", escrito por Luísa Costa Gomes a 18 de Maio de 2003. O título (e não só...) é tão actual: "Não saia de casa!"

«Na primeira página, o arquétipo da nossa era: uma jovem asiática de máscara branca na cara. A pneumonia atípica toca a imaginação de todos nós. Suspeita-se de um caso em Guimarães, desmarcam-se todas as viagens à zona Norte. Anda lá qualquer coisa à solta. Está em todo o lado, pega-se pelo ar. Trata-se da primeira epidemia do terceiro milénio e representa na imagem o inferno que os outros são. Não saia de casa. Não se encontre com os outros. Deixe-se estar a ver televisão. O mundo lá fora é perigosíssimo. Se não são os sacanas dos bombistas, é a morte por contágio.»


(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sexta-feira, dezembro 31, 2021

Provavelmente, um Ano Ainda Mais Estranho que os Dois Últimos...


Não tenho muitas palavras bonitas para tentar ilustrar o ano que está quase a chegar.

Até mesmo a esperança, parece ser uma palavra vã...

Passados quase dois anos de pandemia ainda continuamos com muitas dúvidas. Mas grave, é sentirmos que a DGS (maldita sigla...) continua a colocar os pés pelas mãos, as mãos pelos pés. Aquela senhora que gosta muito de se ver na televisão, continua a ser capaz de dizer uma coisa hoje e amanhã o seu contrário.

Os hospitais não funcionam. É uma desorganização que compromete todos os agentes de saúde... embora se fique com a sensação que médicos e enfermeiros gostem deste "mundo" onde todos os relógios andam atrasados. 

Os centros de saúde continuam a ser desvalorizados por todos (faltam médicos, enfermeiros, funcionários...) e depois não querem que as pessoas, mesmo com problemas que podiam resolver em casa, se desloquem para as urgências...

A linha Saúde 24 não resolve problema nenhum a ninguém. Além das esperas de horas, limita-se a dizer às pessoas (se não estiverem para morrer...) para ficarem sossegadinhas em casa... e se tiverem sintomas de "covid 19", marquem um teste, mesmo que só o consigam fazer quase depois de passar o tempo de "quarentena". Ou seja, limitam-se a "prender" as pessoas em casa...

E falta a parte "melhor". Havia uma série de sonhadores (ou mentirosos...), que diziam que a pandemia era uma lição para o Mundo e que se ia acabar com o egoísmo e o cinismo, e que o humanismo ia voltar em força... Só que as pessoas agora até fogem umas das outras, com a desculpa da "pandemia"...

E é melhor ficar por aqui. Porque nem sei o que vos desejar para 2022... 

Até tenho medo de falar em "esperança", pois até já há epidemiologistas que dizem, que o melhor era todos apanharmos "covid 19", porque este "vírus sul africano" é quase amigo de todos nós...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, dezembro 19, 2021

O Problema de se Saber Demais (e de ler "os manuais de instrução dos medicamentos"...)


Soube ontem de alguém que trabalha na área da saúde (que não deve ser um caso isolado...), que não foi, nem quer, ser vacinada.

Conheço-a, embora seja uma pessoa inteligente, é um pouco complicada. 

O principal argumento para não querer ser vacinada são as contra-indicações da vacina (que felizmente nos passam ligeiramente ao lado. Lembrei-me logo das folhas de papel que acompanham os medicamentos e que se fôssemos a levar a sério às suas contra-indicações, deixávamos-nos estar sossegadinhos...).

Mas o seu "defensor" (que tinha apanhado o vírus e sido vacinado) ainda foi mais longe e falou de um caso que conhecia de um rapaz que ficou paralisado depois de ter tomado a vacina. 

Eu era apenas uma "terceira pessoa", estava ali apenas a ouvir. Mas depois deste argumento levantei-me e fui ver se também estava Sol na minha rua.

Numa fase destas da pandemia, fazem-me muita confusão estes argumentos. Até porque os países europeus com taxas mais baixas de vacinação são os que têm mais casos graves (alguns deles nunca tinham números tão elevados de infectados e de mortes, como neste Outono de 2021...). 

E mesmo entre nós, a maioria dos casos graves de infecções, são de pessoas que não foram vacinadas.

Continuo a pensar que a vacina não deve ser obrigatória, mas quem trabalha diariamente com pessoas doentes ou idosas, devia ser obrigada a optar entre vacinar-se e continuar a trabalhar com pessoas de risco ou mudar de ocupação.

Isto só me diz que o conhecimento por si só não chega, para resolver qualquer problema. Muitas vezes o bom senso, é a melhor "arma" que se deve usar.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, dezembro 17, 2021

As Minhas "Cores de Verão"...


Durante o primeiro ano de pandemia escrevi pouca ficção. A única explicação que encontro para isso, foi ambiente depressivo que nos rodeava. Também senti dificuldade em "ficcionar" um mundo, já tão ficcionado, diariamente, através da difusão de notícias diárias, umas mentirosas, outras cheias de contradições. Enfim...

Este Verão voltei à minha praia dos últimos anos, lá para o Sul. E foi inspirado nas cores de alguns fatos de banho, em palavras soltas que se aproximaram dos meus ouvidos e também em rostos, que andavam de um lado para o outro na praia, que voltei a escrever e a "inventar" pequenas estórias...

Todas as estórias que escrevi têm algum conteúdo moral, mas não passam de ficções... por exemplo, vou publicar aqui "o corpo que se esconde dentro dos calções pretos", que é o retrato imaginado sobre uma adolescente de cabelo curto, que estava vestida na praia de forma estranha, com calções de rapaz e uma parte de cima desportiva. Ela estava lá na praia, mas fui eu que insisti (sem a consultar) na história de mudança de sexo...

«O corpo é de mulher mas o corte de cabelo é de rapazinho, assim como o andar, quase desengonçado, e os calções de banho pretos e compridos que usa na praia.
Só a parte de cima é que destoa, ainda não conseguiu arranjar uma forma de disfarçar as maminhas, que cresceram mais do que queria. Mesmo assim, tenta escondê-las, da melhor maneira possível, dentro de um sutiã desportivo, também preto, a cor que mais se aproxima da sua vida.
Quer muito mudar, sonha ser o rapaz que tem dentro de si, expulsando o diabo de saias que manda no corpo com que nasceu.
A avó nem quer ouvir falar da história que se fala quase em surdina, da sua Joana se transformar em breve num João. Mas os pais sabem que não existe outra forma, de devolver a filha ao mundo das pessoas quase normais, tentando dar-lhe a identidade que talvez lhe permita ver, ao longe, a felicidade…»


quarta-feira, dezembro 01, 2021

A Força do Futebol faz Esquecer quase Tudo...


A força do futebol é de tal forma avassaladora, que faz esquecer quase tudo à sua volta.

Enquanto se continua à "espera de Godot", que devia ter estado no Jamor,  a quando do jogo entre o Benfica e do Belenenses SAD, não se fala do aumento do número crescente de pessoas infectadas; das filas nos postos de vacinação, de Norte a Sul; da falta de testes para que as pessoas possam seguir as orientações da DGS (esta sigla lembra-se sempre a outra...) e sejam testadas... E até o PSD teve direito ao descanso merecido, depois de Rio ter conseguido levar a melhor no "jogo da apanhada" com Rangel, que foi apenas o "vencedor antecipado".

Só mesmo Marcelo é que conseguiu dar um ar da sua graça com o chumbo da lei da morte medicamente assistida, mas também sem o "ar grave" de outros tempos. 

Quem gostaria que existissem mais dois ou três jogos estranhos, até 30 de Janeiro, era o bom do Costa, que já foi salvo, mais que uma vez, pela tal força avassaladora do futebol, que faz esquecer quase tudo à sua volta.

(Fotografia de Luís Eme - uma homenagem ao verdadeiro Clube de Futebol Os Belenenses, que tem vindo à baila, neste imbróglio, sem ter nada a ver com o "negócio"...)


sábado, novembro 27, 2021

Os "Abraços sem Braços"...

Estava a pensar na importância do convívio entre amigos, nestes tempos estranhos em que quase se acabaram os contactos sociais, quando me surgiu a frase curta que intitula este pequeno texto.

Embora os casos estejam a aumentar de novo, nesta passagem do Outono para o Inverno, vamos fazer os possíveis para continuar a almoçar à segundas-feiras, pela importância que estes encontros de amigos têm dentro de cada um de nós. Há o prazer da conversa à "italiana", mas há também a cumplicidade que se nota no olhar, quase risonho, por estarmos a partilhar muito mais que o bacalhau com grão ou o delicioso arroz doce (para nós o melhor de Almada...), na nossa mesa. 

Durante a pandemia perdi dois amigos com quem também almoçava periodicamente, o Fernando e o Manel. Eram encontros muito ricos, por sermos amigos e por termos bastantes coisas em comum. As conversas fluíam com naturalidade, quase sem pausas ou silêncios. Falávamos ao telefone e sei o quanto sofreram com a quase prisão que lhes foi imposta, onde ficou tão marcado que o nosso país (e o mundo...) não é para velhos...

E é mesmo verdade, os nossos almoços são "abraços sem braços", não precisamos de nos tocar nem de estarmos em cima uns dos outros, para nos abraçarmos com palavras...

(Fotografia de Luís Eme - Alcacer do Sal)


quarta-feira, novembro 10, 2021

Comportamentos & Manias (com e sem dedos)


Ainda ontem ao almoço falámos do comportamento das pessoas, durante e pós-pandemia, muito menos tolerantes e pacientes para com os outros. Isso nota-se até mesmo nos pequenos gestos, como um simples sorriso ou aceno, como forma de agradecer qualquer acto generoso.

Todos aqueles que achavam que a pandemia ia melhorar o comportamento humano, tornando-nos mais solidários e menos egoístas, devem estar extremamente desiludidos. 

Mas os "tempos de guerra" são assim mesmo, tanto podem mostrar o melhor como o pior de nós...

E se a sociedade onde estamos inseridos primar pela ausência de valores humanistas, o cenário torna-se ainda mais negro...

Mas há outro aspecto social ainda mais sinistro, a crescer, é a mania que algumas pessoas têm de querer mandar na liberdade individual de cada um de nós. Mostram que poderiam dar agentes de qualquer PIDE, pois parecem estar sempre prontos a apontarem o dedo a alguém (esquecidos dos três que se viram contra eles...), apenas por algumas pessoas primarem pela diferença e pela liberdade.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, outubro 13, 2021

A "Legenda" sem Música (de ontem)


De vez em quanto escrevo coisas quase incompreensíveis, porque eu próprio não sei bem o que dizer sobre alguns acontecimentos, que ajudam a "perder a fé" na espécie humana. Espera, "perder a esperança", talvez faça mais sentido.

O filho de um amigo meu toca num banda e convidou-me (com bastante insistência) para estar presente no primeiro concerto a sério pós pandemia. A sua música até é do meu agrado, anda pelo jazz e pelo blues, sem fugir da zona do rock.

Só não estava à espera que fosse "impossível" entrar. Nem mesmo pela famosa "porta do cavalo" (havia uma fila enorme também para a porta mais pequena, para os amigos e familiares...).

O que me espantou mais foi a loucura daquela gente. Gritavam, barafustavam, saltavam para cima uns dos outros, apontavam o dedo, ameaçavam, etc. Afastei-me um bocado e fingi perceber o porquê daquela algazarra, com noventa e nove por cento daquela gente sem máscara. Até fui capaz de pensar que qualquer vírus, com dois dedos de testa, fugia dali a sete pés (pois é, só que a covid 19 é outra coisa, mais fina do que parece e nem sequer tem testa...).

E foi por isso que ontem até inventei uma saída airosa, de um filme, onde nem sequer entrei. Mas, sim, vim com o Pedro para baixo e dissemos aquelas coisas e outras muito piores.

Ficámos com a sensação de que as discotecas e bares com música ao vivo não vão estar abertos muito tempo, e não é por falta de álcool (há sempre reservas e mais reservas de bebidas que queimam quase todas as "células do bom senso"...). Aliás, basta ver e ouvir as notícias, com violência diária dentro das noites lisboetas e portistas, e até mortes...

Polícias? Vi dois. Mas estavam ainda mais afastados que eu. Não deviam gostar de ouvir gritos (quem é que gosta?).

São coisas que sempre existiram? Então fechamos os olhos e a vida continua. As morgues e as urgências dos hospitais também servem para estes "vírus"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, setembro 25, 2021

Quando a Boca lhes Foge para a "Verdade"...


As palavras de um político, que é tudo menos "brilhante", talvez estejam mais fiéis ao pensamento socialista, do que aquilo que imaginamos.

Ninguém tem dúvidas de que o País perdeu com a "covid 19". Perdeu do ponto de vista humano com o desaparecimento de milhares de pessoas (imagino como deve ter ficado alguém que perdeu um ou mais familiares durante a pandemia...) e também do ponto de vista económico e social, com o fecho de dezenas de pequenas empresas, que não mais voltarão a abrir, assim como com o desemprego dos seus funcionários.

Agora o PS e os socialistas, com a famosa "bazuca", há muito que devem andar  a fazer contas de cabeça e a planear a "distribuição" dos ditos milhões (viu-se isso durante a campanha eleitoral...). E na sua cabeça, "ganharam". 

Infelizmente (para quase todos nós...) a maioria dos políticos, além de mentirosos, são mesquinhos, cínicos e egoístas. Acredito, que muitas vezes pensem mais no seu umbigo e nos seus bolsos, que no País e nas pessoas que governam...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quinta-feira, setembro 23, 2021

A Campanha dos "Uns mais Iguais que Outros" (agora ainda com mais lata)


A campanha eleitoral socialista, com a presença do primeiro-ministro, tem sido das coisas mais escandalosas a que tenho assistido nos últimos anos.

Sempre que discursa António Costa consegue deixar escapar a mensagem que os "socialistas são mais iguais que os outros", acenando com o dinheiro das europas para obras locais, ao mesmo tempo que pisca o olho aos seus candidatos. Estes além de se deixarem levar na mesma onda, quando podem, ainda tentam ir mais longe nas suas promessas, que o seu "mais que tudo".

A oposição tem aproveitado para denunciar algumas destas promessas de "favorecimento" aos candidatos rosa, apontando o dedo ao primeiro-ministro e ao PS. Mas estes assobiam para o ar e as pessoas também não parecem muito chocadas.

Penso que isto só acontece porque andamos todos aparvalhados, com a pandemia, mas também com a estupidez humana dos negacionistas e dos fascistas.

(Fotografia de Luís Eme - Corroios)