Tinha decidido ir a Lisboa hoje de manhã, porque precisava de comprar um caderno que só se vende na Capital. Embora fosse uma coisa sem urgências, não me estava a apetecer deixar a viagem para amanhã. Nem sequer me assustei com as nuvens que brincavam às escondidas com o Sol, quando espreitei à janela.
Cheguei a Cacilhas um pouco depois das dez e meia e o próximo cacilheiro era às 10.55 horas. Dei uma volta pelas redondezas e cinco minutos antes da partida, verifiquei que a hora de embarque fora alterada. Passara para as 11.15 horas.
Resolvi voltar a casa, porque não me estava a apetecer ficar ali mais 20 minutos, até porque havia a possibilidade dos funcionários da Transtejo mudarem novamente de ideias e suprimirem mais um horário.
Antes de me vir embora ainda passei pela bilheteira e dei mostras do meu descontentamento, falando da falta de respeito que os trabalhadores da empresa têm pelos outros trabalhadores.
E nem sequer falei da pandemia, de o cais de embarque estar cada vez com mais pessoas, que iriam encher o cacilheiro (sei que agora não há limitação de pessoas, mas um pouco de cuidado não fará, com toda a certeza, mal a ninguém...).
Vinha para casa e comecei a pensar que é um problema quando não temos escolha, como acontece hoje nos transportes fluviais. Antes de Abril de 1974, havia pelo menos três empresas a operarem nas travessias do Tejo. Mesmo alguém como eu, que é a favor do serviço público, detesta ser tratado de forma miserável e não ter outra alternativa (podem falar do comboio ou dos autocarros que passam a ponte, mas isso é outra coisa...).
Sei que a comparação não é a melhor, porque há restaurantes em quase todas as esquinas, mas gostava de ter a liberdade de fazer com os transportes - ou com outro qualquer serviço público péssimo - o que faço com as casas de pasto: quando sou mal atendido, não volto a colocar lá os pés.
O que eu gostava mesmo era que a minha única solução para resolver este berbicacho e conseguir atravessar o Tejo sem problemas de maior, não fosse ter de comprar um barco...
Apesar de se falar muito de empreendorismo, continuamos a ser um país com poucas escolhas e demasiados "monopólios"...
(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)