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terça-feira, outubro 15, 2024

O melhor do mundo continuam a ser as pessoas (as boas, claro)


Apesar de sentir que existem aqui e ali, algumas mudanças, gente que gosta de meter o humanismo no bolso, continuo a acreditar que o melhor do mundo, continuam a ser as pessoas...

Pode haver aqui alguma poesia, e claro, um olhar sobre a melhor da nossa natureza. Continuo a ser do clube dos optimistas, mesmo que os ventos soprem cada vez mais forte, no sentido contrário.

Tudo isto porque a minha filhota está na fase estágios, que a preparam para a profissão. A mãe insistia que havia um lugar mais moderno, com melhores condições. Ela, muito bem, disse que era ela que escolhia onde queria estar. Nestas escolhas, o que ela dava mais importância era às pessoas que ia encontrar e não à modernidade dos espaços.

Normalmente não me meto nestas discussões, até por saber que ela vai crescer com o "bom" e o "mau", que apanhar à frente.

Não lhe disse, mas eu também continuo a dar preferência às pessoas, em detrimento dos lugares...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sexta-feira, outubro 11, 2024

Coisas do corporativismo, quase sempre parvas...


Por ver menos televisão e por ler menos jornais, nem sempre estou a par do que se costuma chamar "a realidade".

Só ontem é que percebi que o que Luís Montenegro tinha dito sobre os jornalistas (a história das perguntas encomendadas "por sopro"...) tinha provocado uma "retaliação" por parte do respectivo sindicato, não em relação ao primeiro-ministro, mas a quem fez a entrevista televisiva no telejornal da noite da SIC.

Embora Maria João Avilez tenha uma carreira jornalística de quase meio século, foi colocada em causa por não possuir carteira profissional. Os responsáveis pelo sindicato falaram inclusive de crime e de usurpação de funções, por esta conceituada jornalista ter feita a dita entrevista.

De certeza que Maria João Avilez continua a sentir-se jornalista. Estou convencido que ter "carteira", ou não ter, mexe muito pouco com o que se sente em relação ao que se faz e se gosta de fazer (falo por mim, que estou nas mesmas condições).

Quando existem tantos problemas no jornalismo, desde a exploração de quem exerce a profissão, a várias situações de publicidade encapotada, passando por "fretes" políticos, mais uma vez, à boa maneira portuguesa, ataca-se o elo mais fraco da questão e não quem colocou em causa a profissão, que por um mero acaso, é o chefe do Governo.

Lembrei-me logo dos problemas que tentaram criar a Ruben Amorim, por este não estar habilitado para treinar na primeira divisão, embora a sua qualidade técnica saltasse à vista de toda a gente.

Infelizmente, o corporativismo tem destas coisas, quase sempre parvas.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, agosto 07, 2024

Ainda as "mudanças"...


Continuando na mesma "onda" de ontem, das profissões que vão acabando com as mudanças que se vão verificando na sociedade, a quase obrigatoriedade de mudar de profissão, torna-se sempre mais fácil para quem não gosta do que faz, e até é capaz de encarar com alguma satisfação, a possibilidade de fazer outra coisa na vida. 

Mesmo que isso aconteça depois dos cinquenta...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


terça-feira, agosto 06, 2024

Um mundo a mudar e as profissões do costume a desmoronarem-se...


Hoje fui entregar o conjunto de palavras - que querem ser livro - que fui escrevendo e alinhando, sobre, e com um amigo, na tipografia.

Reparei que há muito não entrava naquele lugar e disse-o ao companheiro de várias aventuras, escritas e impressas (a última vez que ali entrara, fora algum tempo antes da "pandemia"...).

Acabámos por conversar sobre aquele mundo e pude assistir ao seu desencanto, de ver a profissão que abraçou há mais de três décadas a desmoronar-se, a decair, lentamente, porque o progresso tem esta coisa terrível de "matar" profissões, à medida que o mundo avança...

Quase que me limitei a ouvir os lamentos de um bom profissional. A vida é o que é. Mas é terrível, pelo menos para os homens do "mundo das palavras", irem assistindo ao princípio do fim dos jornais em papel, e claro, dos livros (ainda que mais devagar)...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, abril 08, 2024

«Sei que se tivesse estudado, estudado a sério, fazia filmes...»


Quase do nada, o velho que estava ancorado no banco ao pé da minha casa, disse: «Sei que se tivesse estudado, estudado a sério, fazia filmes...»

Ele não me disse aquilo como se estivesse no "muro das lamentações", mesmo que não escondesse que gostava de ter tido as possibilidades que outros tiveram... E antes que lhe fizesse alguma pergunta acrescentou: «Gostava de ter nascido em Lisboa, a Terra das salas de cinema.»

E depois assisti, em poucos minutos, à "história da sua vida"...

Foi a tropa que o trouxe do distrito da Guarda para a Capital. Assim que se apanhou em Lisboa, soube que nunca mais ia regressar para a aldeia onde nasceu. A família? Se tivessem saudades que viessem vê-lo a Lisboa... Foi deixando o tempo passar e esteve quase quatro anos sem pôr os pés na Terra onde nasceu. Casou e só quando foi pai pela primeira vez, é que decidiu que já era tempo de voltar, para mostrar a filha aos pais. A partir daí voltou mais vezes, mas fingia que vivia na América e só aparecia de dois em dois anos, e eram visitas quase mais curtas que as de médico.

Deixou a família e a aldeia para trás, porque o que queria era voltar ao cinema...

Não sabe quantos filmes viu. Sabe apenas que foram muitos, muitos... Ainda hoje, a única coisa que o prende à televisão, são os filmes, até mesmo aqueles que se adivinha o fim logo no princípio...

Quando lhe perguntei se alguma vez teve uma câmara de filmar, disse-me que não. Sorriu e disse, que não foi esse pequeno pormenor que o impediu de fazer "filmes", dentro da sua cabeça, de olhar para as coisas e deliciar-se com o movimento, com a possibilidade de inventar um mundo diferente...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, janeiro 18, 2024

"As Bibliotecas Humanas" em Almada e a História (antes e depois de Abril)


Fui convidado para estar presente na primeira sessão de "Bibliotecas Humanas - Antes e Depois do 25 de Abril, Trabalho e Profissões em Almada", como historiador local.

A sessão funcionou como mesa redonda, com os convidados e assistentes em pé de igualdade, para que todos aqueles que quisessem dar o seu testemunho, se sentissem mais à vontade para falar (excelente ideia).

Foram ditas muitas coisas interessantes, também falei sobre a indústria naval e vinícola, sobre as deslocalizações e também sobre uma ou outra profissão, que se foi perdendo no tempo. 

Mas a parte que mais me tocou foi o testemunho de uma senhora, que relatou a sua experiência profissional, com apenas 11 anos, numa fábrica de fiação. Com esta idade colocaram-na à frente de uma máquina, onde acabou por ter um acidente de trabalho, por clara inocência, e falta de responsabilidade. Ela própria assumiu que quem ainda é criança e é obrigada a trabalhar, vê em quase tudo uma possibilidade de brincar (que era o que ela devia estar a fazer, assim como estudar, em vez de estar a trabalhar...).

Nunca tinha pensado neste ponto de vista, das crianças (que se diz que são "homens e mulheres que nunca foram meninos e meninas", a frase não é bem assim, mas assim fica mais justa...) com 10, 11 anos, ainda não terem a cabeça formatada para todas as responsabilidades que lhes eram atribuídas nas profissões que eram "obrigadas" a abraçar, e que por terem uma atitude ainda infantil perante as coisas, deviam ser muitas vezes vítimas de acidentes, completamente escusados.

Houve muitas mais coisas interessantes quer foram ditas, mas só esta valeu pela tarde passada na Biblioteca Municipal de Almada.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, dezembro 07, 2023

Profissões que vão sendo engolidas por este tempo que promete "matar o papel" (e a boa informação)...


Faz-me bastante confusão assistir ao fim de profissões, de lojas de comércio, embora as entenda, porque a chamada "modernidade" as vai tornando cada vez mais obsoletas. Vão deixando de ter clientes e acabam por ter de fechar portas...

A minha relação com os livros e com os jornais faz com que tenha um olhar de maior proximidade com o princípio do fim das tipografias, e também sobre a transformação dos jornais em outras coisas, com redacções cada mais curtas, desvalorizando a importância da informação e da reportagem, até fecharem portas...

O que não deixa de ser curioso, é o papel dos políticos nacionais e locais, que preferem retirar "todos os tapetes" à comunicação social, a manter viva uma informação pluralista. Em vez de procurarem saber o que se poderá fazer para que as pessoas continuem a ser bem informadas sobre o que se passa no país e no mundo (com os verdadeiros factos e não com invenções e mentiras...), esfregam as mãos de felicidade. Sim, uma boa parte deles gosta pouco (ou nada mesmo...) do contraditório, detestam jornalistas metediços, capazes de  investigar os seus pequenos e grandes pecadilhos...

É neste panorama que chegámos ao dia, em que jornal mais importante do Norte do País (e praticamente único...) deixou de sair em papel.

Ia escrever que é estranho não ouvir uma palavra do presidente da Câmara do Porto sobre o princípio do fim do "Jornal de Notícias". Mas todos sabemos que não é. Será muito mais confortável para ele que não se investiguem "casos selminhos"...

É por isso que só posso estar solidário com todos os funcionários do "JN" (mesmo que isso não tenha grande importância para o caso), que estão em greve durante dois dias, em protesto contra mais um despedimento colectivo, que se avizinha...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, outubro 31, 2023

Traços da vida de um pianista quase vulgar...


Ele tocava piano enquanto nós conversávamos, naquele bar frequentado por pessoas que gostavam de baladas e de bandas sonoras de filmes.

Nos intervalos vinha até à nossa mesa, com um whisky numa das mãos, mais para ouvir que para falar ou perguntar se lá fora estava a chover. Pouco tempo antes tinha estado a tocar num dos poucos restaurantes que ainda tinham música ao vivo. Por lá só tocava música clássica. Gostava destas variações, mantinham-lhe os dedos preparados para quase tudo. 

Sabia que aquela vida de bar em bar, de restaurante em restaurante, não estava dentro dos seus melhores sonhos. Nada que o preocupasse demasiado. Também sabia que não fez tudo o que era preciso para as coisas acontecessem, quando teve vinte anos. Faltava-lhe a ambição de quem era capaz de vender a alma ao diabo, se tal fosse necessário, para chegar ao topo da escadaria.

Foi-se habituando aquela vidinha, com horários entre o começo e o fim da noite, que lhe rendiam muito mais que qualquer emprego vulgar das "nove às cinco".

Andava há quase quarenta anos naquilo, sem saber ao certo quando era tempo de se reformar...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, outubro 14, 2023

A mesma profissão, universos diferentes...


Poucos minutos depois de sair de casa vi o homem com o táxi mal estacionado, a responder com buzinadelas monumentais aos que passavam por ele e também buzinavam (com toda a razão), por ele estar ali a interromper o trânsito, ocupando a faixa de rodagem.

Mas ele não se limitava a buzinar, insultava todos aqueles que lhe chamavam a atenção para o facto de estar ali a interromper a passagem. 

É apenas mais um exemplo da existência de demasiadas pessoas no espaço público, que fingem estar sempre certas, por mais disparates que façam.  Este homem tinha a agravante de exercer uma actividade que tem contacto directo com outras pessoas...

Felizmente depois de atravessar o rio, vejo um taxista calmamente entretido a dar comer aos pombos, enquanto não chegava a sua vez de transportar clientes.

Percebia-se à légua que embora tivessem a mesma profissão, viviam em "universos diferentes"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, outubro 03, 2023

«Claro que é mania. Mas é uma mania que não faz mal a ninguém.»


Há profissões que são mais marcantes que outras. Além de nos preencherem quase a tempo inteiro, têm uma interaçcão social muito mais forte e mais marcante que outras. 

Por breves momentos até nos levam a pensar que "podemos mudar o mundo", torná-lo ligeiramente melhor... Mas são apenas momentos.

Mesmo assim não devia ter dito que há profissões que "são para sempre", e que jornalista era uma delas. Soou a presunção. Mas não foi nada disso. Foi por isso que fingi concordar, quando o Rui me disse que isso era mania e respondi: «Claro que é mania. Mas é uma mania que não faz mal a ninguém.»

Talvez até exista vaidade quando se diz estas coisas. Lembro-me que fui fuzileiro e que também havia a "mania" de se dizer "fuzileiro uma vez, fuzileiro para sempre". Era algo que nos deixava orgulhosos a espaços e fazia parte do espírito de corpo, que deve estar sempre presente nos grupos especiais.

Dentro do cacilheiro fiquei a pensar que ainda bem que existem profissões que nos fazem sentir estas coisas, mesmo que sejam uma minoria. A maior parte das profissões são "ocupações das nove às cinco", cuja rotina destrói qualquer réstia de orgulho que possa existir naquilo que fazemos.

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


sexta-feira, setembro 15, 2023

Este Portugal macabro que é escondido nos anexos da nossa sociedade moderna e europeia...


Não me ocorre outro nome para classificar este nosso País, onde ainda acontecem demasiados episódios macabros, como os relatados na última semana em vários canais televisivos (retirando a quase exclusividade deste género noticioso ao CMTV).

Cada vez tenho menos dúvidas de que existem demasiadas pessoas a exercer as profissões erradas. Basta pensar na assistência social que não foi prestada à família de Peniche (um pai com notórios problemas de saúde e sem o mínimo de condições para educar as suas duas filhas, uma delas ainda menor...). Foi preciso um assassínio para acordar a Localidade e o próprio País, de que estamos longe de ser o tal Portugal moderno e europeu.

E não é menos triste o que se passa nos nossos bairros sociais, como o que foi também relatado em várias reportagens televisivas, sobre as barreiras de tijolo que substituem as portas e as janelas das casas ocupadas ilegalmente, quando os seus habitantes são despejados, e por ali ficam anos e anos, sem que as casas sejam recuperadas e entregues a quem precisa (são 700 de Norte a Sul segundo as reportagens...).

Somos contra a ocupação ilegal de qualquer casa ou terreno, mas somos ainda mais contra este Estado, que finge que está tudo bem e em vez de recuperar as suas casas (para as entregar a quem realmente precisa e está inscrito nas listas de espera), faz o mais fácil: aponta o dedo aos privados que têm casas devolutas.

Curiosamente, nestes casos raramente se ouve alguém do PS ou do PSD, a dizer o que quer que seja. Eles sabem muito bem que são  os principais responsáveis por todos estes problemas sociais, que se agravam, ano após ano, e são ignorados pelo Poder Local e pelo Poder Central, que prefere "assobiar para o ar"...

(Fotografia de Luís Eme - Monte de Caparica)


terça-feira, agosto 08, 2023

«Não são as profissões que nos tornam pessoas estranhas, embora existam profissões mais estranhas que outras»


Quando eu disse que «não são as profissões que tornam as pessoas estranhas», estava longe de pensar para onde seguiria a conversa. O que podia ser entendido apenas como um lugar-comum ou como uma verdade lapalissiana, levou-nos para outros lugares. E ainda bem.

Gostamos de simplificar as coisas. É por isso que passamos a vida a dizer outro lugar-comum (falso como judas diga-se de passagem): "a vida  não é complicada, nós é que gostamos de complicar as coisas... "

Claro que há vidas muito mais complicadas que outras, e por mais que nos esforcemos, nem sempre se consegue tornar tudo mais fácil. Porque normalmente há sempre "terceiros" envolvidos, que tanto nos podem facilitar ou dificultar as coisas...

Quando o Pedro disse que não são as profissões que nos escolhem a nós, somos nós que as escolhemos, percebi que era dia dos "lugares-comuns"...

E quando demos por isso já se falava de divórcios, de profissões quase sem horários de trabalho e com deslocações para longe (jornalistas, vendedores ou polícias de investigação) e de outras, com mais serões que o normal, embora fossem mais bem pagas (políticos, advogados, juízes, médicos ou enfermeiros), que tornavam mais difícil o equilíbrio familiar. 

E para fim de conversa uma das moçoilas que estava na mesa disse: «Não são as profissões que nos tornam pessoas estranhas, embora existam profissões mais estranhas que outras.» Os lugares-comuns tinham vindo para ficar.

 (Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, junho 05, 2023

A Mulher que sorri e "passa por dentro dos filmes"...


Ela sempre que me vê oferece-me um sorriso, de mão dada com um olá. Eu retribuo.

Às vezes fico a pensar que devia ir atrás dela e convidá-la para beber café, para saber se ela ainda continua a fazer a mesma coisa, a "passar por dentro dos filmes".

Só falámos uma vez, num daqueles acasos, que quase que nos empurram uns contra os outros. Aquela não era a nossa onda e foi por isso que começámos a fugir para o miradouro que num dos cantos olhava para uma nesga do Tejo.

Não foi por acaso que escolhemos aquele canto. O Tejo pertencia-nos, tanto do lado de cá como do lado de lá. E só podia ser ele a soltar-nos a língua... Quis saber o que fazia e eu disse-lhe que escrevia coisas. Ela ofereceu-me o seu sorriso luminoso e disse que não escrevia mas fazia várias coisas.

Quem diria, éramos os dois especialistas em "coisas"...

Depois disse-me que entrava em filmes, mas não era actriz. Foi quando exclamou: "Passo por dentro dos filmes."

Fiquei sem perceber se ela estava a brincar ou a falar a sério. Foi quando me ofereceu três títulos de filmes, acrescentando que estavam disponíveis no "YouTube".

E depois olhou o relógio disse que tinha de se ir embora e deixou-me por ali, quase abandonado.

Quando cheguei a casa fui directo ao computador, para ver um dos filmes e perceber alguma coisa, daquela conversa quase estranha. Quando a vi, na primeira das duas cenas em que entrava, percebi que não havia nenhum enigma. Ela estava certa, entrava no filme mas não participava. Caminhava mas não falava. Estava só lá, a passar.

Era mesmo verdade, aquela moça de que ainda não descobri o nome, "passava mesmo por dentro dos filmes".

Como devem calcular, trata-se de uma ficção. Se fosse verdade, já a tinha convencido a beber um café e a contar-me mais coisas da sua vida.

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quinta-feira, abril 27, 2023

O "Roubo" da Nobreza e da Dignidade Profissional


Há praticamente vinte anos que se assiste à tentativa de desvalorizar o trabalho e as próprias profissões. Sem exagerar na "viagem no tempo", pelo menos os Governos de José Sócrates, Passos Coelho e António Costa, são responsáveis pelo muito de mau que se passa no mundo do trabalho no nosso País.

Apesar dos discursos demagógicos - acompanhados de muitos milhões, que nunca se sabem bem onde vão parar -, que prometiam a aposta em mais e melhor formação profissional, para que se aumentassem os índices de produção, a única coisa visível que se fez foi nivelar os salários por baixo. 

Até mesmo profissões nobres, como as ligadas à medicina e ao ensino, têm sido sucessivamente desvalorizadas, ao ponto de terem entrado em "guerra aberta" com o Governo, especialmente os professores, com greves e mais greves, ao ponto de  já se falar de "um ano lectivo perdido".

Eu que não sou economista, sei muito bem que quando se aposta numa política de baixos salários, mais tarde ou mais cedo, destrói-se a economia e o próprio País, porque sem dinheiro para consumir, uma boa parte do comércio que não "vende" bens essenciais, acabará por ter de despedir funcionários e até fechar portas.

Curiosamente, ou não  (pode ser propositado...), nem para eles próprios têm sido bons, porque até a actividade política foi perdendo a nobreza e a dignidade profissional, ao ponto de hoje os governos se verem forçados a recorrer cada vez mais aos quadros partidários e menos aos grandes vultos e técnicos da sociedade portuguesa (que se recusam, e muito bem, a fazer parte de governos de gente medíocre...).

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)



quinta-feira, janeiro 26, 2023

«Não te metas nisso. As ordens são instituições com um travo fascista.»


A existência de Ordens faz sentido, em praticamente todas as profissões, não só por ter um papel regulador, mas também por tentar valorizar e dar mais dignidade a várias actividades.

Claro que nem sempre o conseguem. Existe sempre o perigo de ficarem reféns de um corporativismo demasiado conservador, como acontece com a Ordem dos Médicos, que além de defender os seus pares quase até à exaustão, limita bastante a entrada de novos elementos à profissão.

Talvez seja por exemplos como este, que nunca se chegou a um consenso sobre a existência de uma Ordem de Jornalistas, e ainda bem. Na minha opinião seria mais um obstáculo à liberdade de informação (já bastam as entidades patronais para controlarem e escolherem os "jornalistas bons" e os "jornalistas maus"...).

Lá estou eu a "caminhar" para outras bandas...

O que eu queria era falar no mundo da música, que parece ser o menos regulado das "culturas" (parece...), dos muitos cantores que nunca entrariam em qualquer programa do género de "ídolos" ou "chuva de estrelas" e que andam por esse país fora a fingir que sabem cantar, escondidos atrás da mesma cassete (sim, parece que cantam todos com a mesma música de fundo...). Quando veio à baila a falta de qualidade da maior parte dos visitantes dos programas de fins de semana televisivos, o Tó exclamou que devia haver uma entidade (disse a palavra "Ordem" e tudo...), com força e capacidade para excluir da profissão todos aqueles que nem sequer deviam cantar durante o banho.

O Rui contrariou-o de imediato, dizendo: «Não te metas nisso. As ordens são instituições com um travo fascista.» E continuou. «Sabes o que é que ia acontecer? Só entravam na profissão quem eles queriam, o que não quer dizer que fossem os melhores. Parece que não conhecer este país de merda, infestado de cunhas por tudo o que é sitio.»

E lá tivemos de dar razão ao Rui. Ou seja a ideia de uma entidade reguladora nas canções podia ser muito boa, mas não no nosso país...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, julho 09, 2022

O "Lixo Humano"...


Podia estar o dia todo a tentar explicar que não é assim tão "inexplicável", alguém cair para a rua e ficar por lá, por momentos, ou para sempre...

Nós humanos somos mais complexos do que parecemos. Um dos exercícios que me habituei a fazer desde cedo (às vezes com  alguma ginástica e quase forçado pela minha mãe...), foi tentar "colocar-me" no lugar dos outros. É uma coisa que todos devíamos fazer, aqui e ali, pois oferece-nos logo uma perspetiva diferente do que está em discussão.

Com tantos problemas para resolver neste país, o meu barbeiro desta vez foi "meter-se" com os sem abrigo, essa "escória" da sociedade, esse "lixo humano", no seu léxico de barbearia. Felizmente ele é bem falante, raramente utiliza o vernáculo, o que faz com as conversas não "descambem (talvez seja uma estratégia pessoal, pois assim pode dizer as maiores barbaridades, deixando a imagem de que não está a "insultar ninguém"...).

Mas ao chamar alguém de "lixo humano" (mesmo que possa ter razão em alguns casos) está logo a entrar no domínio da ofensa pessoal e colectiva, a todos os homens e mulheres que, voluntariamente ou involuntariamente, foram despejados para a rua e transformaram um banco de jardim ou um velho alpendre em "quarto de dormir".

Eu disse-lhe que quando surge um desemprego tardio e de repente todas as portas se começam a fechar, é difícil dar à volta e voltar a ter uma vida normal. Se a família em vez de ajudar ainda "empurrar para baixo", é meio caminho andado para as pessoas se sentirem uns empecilhos e quererem "desaparecer"...

Ele respondeu-me da forma mais fácil, que "trabalho é coisa que nunca faltou por aí, falta sim, vontade".

Foi quando esgotei os argumentos...

Não valia a pena dizer que a forma de desaparecer mais usual é esta: deitar a chave de casa fora e esquecer o "número de polícia" da porta da rua e inventar outra vida, aparentemente mais livre, mas também mais suja e com menos sentido...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, janeiro 10, 2022

Conversas e Silêncios sobre os Negócios do Corpo...


Sabia que ele gostava de pensar as coisas ao contrário, especialmente quando uma ou outra mulher se misturava na conversa.

Mas o que achei mais estranho foi estarem a conversar sobre a profissão que costumam dizer ser a "mais velha do mundo" (nunca percebi muito bem porquê...). 

Uma das mulheres fingia não perceber o porquê de as pessoas venderem o corpo. Não valia de nada falar em "mercado" ou "comércio", na existência de oferta ou de procura. Preferiu sim, dizer que as mulheres eram mais uma vez vítimas do mundo dos homens, onde o normal eram serem exploradas e humilhadas.

Foi quando ele disse que lhe fazia muita confusão, aquela história das mulheres vítimas dos homens, nos dias de hoje, em que a figura do "proxeneta" quase que desapareceu. Se deixar que o interrompessem acrescentou que se os homens pagavam para ter sexo e as mulheres recebiam o preço acordado, não conseguia ver aqui nenhuma exploração, muito menos vítimas. Era apenas negócio.

As mulheres continuavam a não aceitar a situação, muito menos o negócio. E eu sai como entrei, sem oferecer uma palavra que fosse à discussão...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


segunda-feira, agosto 16, 2021

O Choque de Liberdades nos Estados Democráticos


Nos estados democráticos é normal existirem "choques de liberdades", porque há sempre quem conviva  mal com a liberdade dos outros (e possa, ao contrário das ditaduras...), defendendo com "unhas e dentes" a sua liberdade, como se esta não tivesse nada a ver com o colectivo onde está inserido.

Eu, por exemplo, aceito que existam pessoas que não queiram ser vacinadas contra o "covid 19". Mas já não aceito que exerçam profissões onde por norma estão em contacto permanente com os outros (como são os casos dos médicos, enfermeiros, funcionários de lares, professores, militares, bombeiros ou polícias). Ou seja, quem exerce estas actividades, se não quer ser vacinado (é um direito que tem...), só devia  fazer uma coisa: mudar de profissão, para não colocar os outros em risco.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, junho 14, 2021

"O cliente tem sempre razão"


Há muitas coisas, que por serem simples, raramente pensamos nelas.

Hoje estava na esplanada à espera que chegasse alguém para pedirmos dois cafés, quando pensei na diferença que existe de estabelecimento para estabelecimento no atendimento. O café onde costumamos ir à segunda-feira só abre a meio da tarde, pelo que temos de escolher outras opções. A nossa escolha normalmente prende-se mais com a qualidade da bica, que do serviço (preferimos esperar mas beber "café café"...).

Hoje enquanto esperava, pensei que praticamente todas as profissões acabam por ter como finalidade "servir os outros". Em muitas delas esse serviço é directo, como na dita esplanada.

Estranhamos quando notamos que as pessoas não são tão agradáveis como gostaríamos, esquecidos de que todos temos "dias maus"... Claro que quando a "antipatia" é reincidente, percebemos que as pessoas estão na profissão errada e que aquele trabalho é um "fardo" (muitas vezes mal pago...).

É por isso que é importante, mesmo nos dias péssimos, olharmos o espelho e dizermos para a cara triste que encontramos à nossa frente que "o cliente tem sempre razão".

(Fotografia Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, junho 11, 2021

A Arte de Cortar o Cabelo, de Desenhar e de Fazer "Manifestos" na Barbearia...


Só não deixei de ir cortar o cabelo ao meu barbeiro dos últimos vinte anos, porque ele gosta de desenhar. 

Claro que estou a brincar. O que realmente conta é ele ser bom barbeiro, sem esquecer que ao longo destes anos, acabámos por cultivar alguma amizade. Sem esquecer que ele também consegue ser divertido, mesmo quando não concordo com as coisas que diz.

Está cada vez mais cansado dos nossos políticos, que segundo as suas palavras, conseguem descer sempre mais a fasquia, descendo mais um palmo no "pântano". 

Só não diz maravilhas do líder da extrema-direita por vergonha, e porque ainda finge que é de esquerda. Têm pelo menos dois pontos em comum:  o ódio aos políticos e aos ciganos (devem ter o mesmo trauma, há uma forte proabilidade de terem apanhado algum ciganito "terrível" na escola primária, onde só apareciam de vez em vez, para semear o pânico no recreio e na sala de aulas...).

Adora dizer que "os portugueses não querem fazer nada". Hoje de manhã até foi a Odemira... Foi quando eu resolvi estragar-lhe os planos e dizer-lhe que estava enganado. 

Os patrões das "frutas e legumes que crescem rápido", querem lá saber dos portugueses. Se puderem contratar vinte paquistaneses ou moldavos pelo preço de dez portugueses, nem sequer pestanejam. E também não se preocupam com a palavra "escravidão"...

Mudou de assunto, o que faz habitualmente quando deixa de ter argumentos... Aproveitou a notícia que passava na televisão para "saltar em cima" do Rio, que andou meses a fio a dizer que era contra os "julgamentos na praça pública" e agora sempre que pode aponta o dedo ao Moreira e ao Medina (ponham-se ou não a jeito...), como qualquer populista que se preze.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)