O portão exterior estava aberto e entrei, subi as escadas, fiquei por ali, a ver as vistas do terraço. A porta do atelier também estava aberta, ouvia-se música de rádio no interior, fiquei indeciso, se devia tocar no batente da porta ou não.
Passava por ali, dezenas de vezes, mas raramente encontrava o portão aberto. E nessas raras vezes, nunca subi...
Felizmente bati e ouvi uma voz no interior, que me disse para esperar. Quando o Mestre me viu, recebeu-me com grande alegria, desculpou-se pela desarrumação, que se fazia notar, logo ali no hall de entrada, como se isso tivesse alguma importância.
E começámos a falar (aliás ele começou a falar...), do significado das peças e dos objectos artísticos que nos davam as boas vindas naquele espaço. E claro das fotografias e diplomas (cada um deles também com uma história pessoal...).
Era também a história de uma vida...
Pelo meio aparecia uma descoberta, um acaso local que o levava a questionar amigos historiadores e a folhear livros que poderiam ter respostas... Sim, ele nunca quis ser apenas professor e pintor. Também era investigador, gostava de saber coisas sobre história de arte.
Depois entrei na sala de pintura, que precisava mesmo de arrumação. Mas aquela desordem tinha um brilho especial. De um lado livros nas estantes e no chão, empilhados, de outro desenhos antigos também espalhados pelo chão (à espera de tempo para serem "classificados" e "ordenados"... E na parte central de uma das paredes, panos, pincéis, tintas, que estavam na fase de serem quase um objecto de museu (ou então de irem para o lixo...).
E entretanto era hora de almoço. Despedimo-nos com um abraço. E ele disse, com um ar feliz: «Sempre que vires a porta aberta, entra...»
Fiz sinal que sim, agradado com aquele encontro especial, cheio de histórias, de pessoas e de lugares...
(Fotografia de Luís Eme - Almada)