Nas vilas e cidades piscatórias, apesar da pesca já não ser o que era, ainda se encontram muitas mulheres de negro. Muito mais que noutro lugar qualquer.
Hoje são muito menos os barcos que vão para o mar e as famílias de pescadores de verdade começam a ser uma raridade. O que até nem é muito mau para os homens, ao ponto de fingirem que agora é mais fácil chegarem a velhos...
As regras impostas pela Europa - que continua a dar-nos com uma mão para nos tirar com outra -, no início foram um alívio para as mulheres com filhos e maridos, sem se lembrarem na possibilidade destes um dia qualquer pensarem em emigrar para Espanha, para completarem as tripulações galegas. Isso acontece porque uma boa parte deles, diz não saber fazer mais nada.
Mesmo os mais velhos, entretidos a fazer barcos em miniatura e outras peçinhas de artesanato para turistas, ainda sentem a terra a empurrá-los para o mar, como se esta fosse a sua única hipótese de sustento. Os mais corajosos e desbocados falam da liberdade com mágoa, sabem que partir para o mar é um desafio, sempre foi. Mas o pior é saberem que as ondas são mais livres que os pescadores.
Fingem querer voltar para o mar, mas é mentira. Querem viver e sabem que o mar é tantas coisas, até o cemitério das gentes que o desafiam, especialmente quando ele está alvoraçado.
O óleo é de Michiel Schrijver.