Não encontro explicações racionais para o facto de a nossa democracia, aliás, o bloco central (os Socialistas e os Sociais Democratas) sempre terem tratado as Forças Armadas sem a dignidade que mereciam, desvalorizando a sua importância na sociedade.
Não sei se foram "traumas" por a Revolução de Abril de 1974 e a transição democrática ter sido feita por Militares, por serem eles os nossos "Heróis da Liberdade", e não os políticos e os partidos. A única coisa que sei, é que tanto o PS como o PSD, foram-se servindo dos Militares, quando lhes dava jeito, ao mesmo tempo que adiavam as reformas tão necessárias (e que nunca foram realizadas por inteiro...).
É importante dizer que isto aconteceu, quase sempre, com a cumplicidade dos generais e almirantes, que nunca foram capazes de abordar os problemas criados com o fim do Serviço Militar Obrigatório (SMO), que foi encurtando cada vez mais o número de homens e mulheres que queriam seguir a vida militar, dificultando o cumprimento das missões em terra, no ar e no mar.
Se pensarmos que o SMO acabou há mais de 20 anos. E que os Governos e as chefias militares nunca se uniram para tornar a vida militar atraente para os jovens (além de oferecerem poucas perspetivas de futuro e de formação, os ordenados foram sempre baixos...), não será com o regresso desta obrigatoriedade, que as coisas irão melhorar.
Aliás, só se começou a falar do regresso do SMO, com alguma insistência, porque começa a não haver gente para cumprir os "serviços mínimos", uma vez que cada vez é mais difícil recrutar jovens voluntários para a vida militar. O problema é que os defensores desta proposta não estão a pensar em melhorar condições para quem quiser ser militar. Estão sim, a pensar que com a "obrigatoriedade" deste serviço, pode acabar-se com o défice humano existente, ao mesmo tempo que se consegue de volta a antiga "mão de obra barata".
É demasiado óbvio que esta tentativa de trazer de volta o SMO, não tem nada de reformista, nem pretende melhorar as condições oferecidas aos militares. É por isso que estou completamente contra este regresso ao passado.
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)