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domingo, março 17, 2024

A magia da rádio e aquele toque, quase festa, nas minhas costas...



A rádio tem uma magia especial. Mesmo assim não lhe dou a atenção que merece. Quase que só a oiço quando ando de carro (coisa que não faço todos os dias...).

Mas não foi por isso que visitei a Antena 3, a propósito dos 50 anos da Revolução de Abril. Foi porque a Incrível Almadense tinha sido convidada para participar e acharam que devia ser eu a falar da história desta enorme Colectividade de Almada. Isso aconteceu já nos finais de Fevereiro, mas só ontem é que foi para o ar.

A única experiência radiofónica que tive, deve ter sido há já uns bons quarenta anos, quando apareceram as "rádio piratas", que invadiram o país (de uma forma genuína e descontrolada...), e foi episódica. 

Fui muito bem recebido pela Rita, pelo Francisco e pela Raquel, que me abriram logo o estúdio, para ver "como era" e ficar ali a ouvir o bonito exemplo de voluntariado de Fernanda Freitas, com o seu belo projecto de contadores de histórias para as crianças adormecerem nos hospitais... E depois apareceu Isabel do Carmo, médica e resistente (tanta sabedoria e simpatia) e o Kalaf Epalanga (esse mesmo, dos "Buraka som Sistema") e entretanto começou o programa. 

Durante quase meia hora contaram-se histórias, neste programa de Abril, "Não Podias", em que o tema central era "não podias reunir-te". Gostei muito de ouvir a  Isabel e o Kalaf, que iam respondendo às perguntas pertinentes do Francisco e da Raquel. E quase no fim falaram da Incrível e fizeram-me também perguntas, sobre como era a Incrível na ditadura. Disse logo, com um grande orgulho, que foi sempre democrática. Falei das sessões solenes de Outubro, em que era costume convidar uma grande figura do republicanismo (dei o exemplo dos professores Simões Raposo e Vieira de Almeida), que empolgado com o apoio e com a sala cheia, começava a denunciar algumas das tropelias do regime e acabava muitas vezes com "Vivas à República" - por acontecerem quase sempre durante o feriado do 5 de Outubro.

Falei também da fuga do Zeca Afonso do Salão da Incrível, quando apareceu para cantar de surpresa (em 1970). Como estava proibido pelo regime de cantar em público o seu nome não podia constar nos cartazes publicitários sobre os concertos musicais... da qual existem duas versões (e possibilidades reais de fuga, uma por um alçapão que fica num dos cantos do palco, quando se vai para os camarins e outra por umas escadinhas estreitas que tinham ligação com o cinema, para ruas diferentes, para a Capitão Leitão e para a Heliodoro Salgado).

Sei que o Francisco também me perguntou se não havia medo em relação às autoridades e como é nos defendíamos em relação a estes actos, de alguma forma "subversivos". Disse que a maior parte das vezes fazíamo-nos de parvos, como se tivéssemos sido apanhados de surpresa, perante os acontecimentos... E normalmente era suficiente para que as autoridades se ficassem pelas ameaças. Falei dos 175 anos e da banda, que dizem ser a única do país, que nunca deixou de tocar, desde a sua fundação e... o programa acabou (pois foi, soube a pouco, ficou tanto por dizer sobre a Incrível...).

Em relação ao título deste texto, ele deve-se ao gesto do meu filho, que foi apanhado de surpresa, no sábado de manhã e ficou a ouvir comigo (via televisão, que também pode ser rádio...) o programa "Não Podias" e gostou  do que ouviu e do que eu dissera e manifestou-o com um "que giro" e o tal toque suave nas minhas costas, em jeito de festa...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, fevereiro 14, 2024

«Lembras-te do "Laranjadas"? O que será feito dele?»


O mundo mudou um pouco por todo o lado.

O Vitor estava na oficina a arranjar um vitrine, quando passou por lá o Dinis, mesmo a tempo de nos interromper a conversa, com as banalidades do costume.

Por saber que muitas das nossas conversas começavam e acabavam na Incrível, começou a falar de quase toda a gente que andava por ali, pelo salão, à procura de qualquer coisa para matar o tempo, enquanto ajudavam a manter de "cara lavada" que era a sua "segunda casa".

De repente soltou quase um grito, para o Vitor: «Lembras-te do "Laranjadas"? - fez uma pausa, para voltar a perguntar - O que será feito dele?»

O Vitor sorriu, lembrava-se muito bem dele, era quase a sua sombra. E era mesmo...

O rapaz que devia ser ligeiramente mais velho que eu, tinha um problema qualquer cognitivo, daqueles que costumamos associar a "fios mal ligados, na caixa dos fusíveis". Mas andava sempre por ali e gostava de ajudar. O único prémio que queria, era um copo de sumo de laranja. Foi por isso que ficou o "Laranjadas".

Ele tinha ido viver para o Alentejo com a mãe, que se reformara e foi à procura das suas raízes... e por lá ficou. Há dez, quinze anos? 

Como o tempo passa...

Gostei de me recordar desta Cidade, que era capaz de tratar os "maluquinhos" como gente quase igual a nós...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, novembro 27, 2023

A vez do teatro (e do associativismo)...


Já falei mais que uma vez da "tertúlia" (a "Tertúlia do bacalhau com grão") que tínhamos às segundas-feiras no restaurante "Olivença", no centro de Almada. Tertúlia essa que passou a um almoço quase sempre a dois - de longe a longe passa a quatro, quando o Mário e o Marinho aparecem. Mas nem por isso é menos rica em episódios marcantes. Para que isso aconteça, basta que eu dê "corda" ao Chico...

Desta vez o Teatro voltou a ser Rei... 

O Chico não me falou apenas das peças marcantes, do olhar diferente dos encenadores em relação ao palco, desde o "certinho" Malaquias de Lemos ao "desconcertante" Rogério de Carvalho. Falou-me sobretudo da alegria que sentia em representar e do ambiente de grande cumplicidade e camaradagem que sentia, aqui e ali. Embora a Incrível fosse a sua principal casa, adorou representar na Trafaria, onde se vivia e amava o teatro de uma forma especial...

Também voltou a "idolatrar" Fernando Gil, que foi uma das figuras mais marcantes da história da Incrível Almadense, onde foi um "faz tudo". Além de ter sido Presidente da Direcção durante vários mandatos também adorava o teatro e foi um bom actor amador. Reviveu vários episódios hilariantes, vividos em peças dramáticas, como "Duas Causas" ou "Amanhã há Récita" mas também em peças carnavalescas, onde Gil se transvestia, ano após ano, com uma graça única.

E para terminarmos o almoço da melhor maneira, o Chico recordou, mais uma vez, o sentido de comunidade e de pertença que existia  na relação de muitos almadenses com a Incrível. Deu o exemplo das muitas famílias que cresceram por ali (deu um destaque especial aos Tavares, pelo desaparecimento do José Luís...) sem esquecer os muitos casamentos que tiveram a bênção da "Rainha do Associativismo Almadense"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada, com o Chico em grande plano na exposição "50 anos 50 retratos")


quinta-feira, agosto 24, 2023

Não levantar ondas, manter o mar chão...


Estou a fazer um trabalho sobre o papel da Incrível Almadense durante a ditadura salazarista e marcelista e noto que foram feitas muitas actividades entre 1926 e 1974, que colocavam, de alguma forma, em causa o regime, nomeadamente vários colóquios cuja temática enaltecia os valores democráticos.

Um dos truques usados era fazer o anúncio do colóquio sem o nome do orador. Outro era amenizar o título da temática, não colocando algumas das "palavras proibidas" pelo regime. Mesmo assim não sei como é que algumas palestras não foram "canceladas", como por exemplo: "As Virtudes e os Defeitos da Republica" (por Raul Esteves do Santos em 1946); "O Recreio na Vida dos Trabalhadores"  (por Raul Esteves do Santos em 1948); "As Instituições populares e a Emancipação do Povo" (por Gomercindo de Carvalho, em 1964); ou "O Sentido da Vida Social" (por José Correia Pires em 1966). 

As pessoas das Colectividades faziam estas coisas com a maior naturalidade possível, pois sabiam que o mais importante era não levantar ondas, manter o "mar chão"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, agosto 11, 2023

Ainda existem alguns "milagres humanos", aqui e ali (cheios de teimosia...)


Hoje no meu "Casario" tento fazer alguma justiça a três associativistas, que foram do melhor que conheci nesta Almada, tão fecunda em verdadeiros "operários da cultura".

Foi quando me lembrei das parecenças que existem entre o Associativismo e o Circo, na batalha pela sua sobrevivência. Dos homens que são uns "faz-tudo", porque a necessidade assim os obriga, já que o dinheiro por mais bem gerido que seja, nunca chega...

Sim, por exemplo, o Fernando Gil ou o Francisco Gonçalves, além de serem os protagonistas de qualquer peça de teatro da Incrível Almadense, também montavam e carregavam os cenários, vendiam entradas na bilheteira, entre outras coisas que fossem emergentes para que o espectáculo acontecesse.

No circo passa-se a mesma coisa. Durante a montagem das tendas gigantes é fácil descobrirmos o trapezista ao lado do palhaço ou do equilibrista, a levantar do chão, aquela "casa de sonhos". Tal como durante o espectáculo poderemos ver alguém muito parecido com eles, vestido com uma bata (para disfarçar), a ajudar a tirar as coisas da arena circular, para que não se perca muito tempo entre números, ou ainda a levar as pessoas para os respectivos lugares das bancadas antes do começo do "maior espectáculo do mundo".

Infelizmente o futuro não se compadece com estes "amadorismos" e estas duas actividades vivem grandes dificuldades. Muitas vezes só subsistem quase por "milagre".

Milagres humanos, claro (cheios de teimosia...).

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, maio 29, 2023

O almoço à segunda-feira continua povoado de gente...


Somos só dois, na mesa que já foi de uma dúzia.

Não é por teimosia que continuamos a almoçar todas as segundas, o nosso "bacalhau com grão". É por gosto. Gostamos de conversar e de viajar pela história de Almada e da nossa Incrível. 

É normal convocarmos alguns dos nossos amigos ausentes, normalmente os mais opiniosos, como era o Orlando e os dois Carlos. Lembramos a "memória de elefante" do nosso Jaiminho, que devia gostar de aparecer para matar saudades, ao mesmo tempo que tirava algumas dúvidas ao Chico (era ele que costumava "desempatar" quando o Orlando e o Chico andavam pelas ruas e portas erradas da nossa Rua Direita).

Normalmente é depois do café que a conversa se torna mais interessante e enchemos a toalha de papel de rabiscos (disse ao Chico que já devia ter mais de cinquenta pedaços de toalhas...), povoados de "personagens" e de "lugares" de Almada.

Desta vez andámos pelo teatro. Eu já sabia o porquê de muitos amadores não aceitarem algumas propostas de companhias profissionais, A nossa conversa acabou por reforçar o que pensava, com dois ou três exemplos dados pelo Chico. A sua geração preferiu levar o "teatro a brincar", porque tinham bons empregos e não queria apostar no risco. Se hoje esta profissão continua a ser precária, há sessenta e setenta anos, não era melhor. E havia ainda outro problema, era uma actividade "mal vista" socialmente... 

Era comum ouvir-se dizer, que as pessoas sérias e decentes não escolhiam a vida dos palcos...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, maio 20, 2023

Passar a Tarde "Pelos Caminhos da Poesia"...


Já contei no "Casario", que hoje passei uma tarde diferente, na rua Capitão Leitão, junto à Incrível Almadense.

Aceitei o desafio de apresentar o livro, "Pelos Caminhos da Poesia", da autoria de Manuel da Várzea (o outro lado do médico Rui Melancia...), que foi antecedido de uma sessão de "Poesia Vadia", que tentou dar um ar diferente, mais poético e cultural no começo da rua Capitão Leitão, em frente ao "Cine-Incrível", que agora é, felizmente, pedonal.

Embora já não estivesse habituado a estes desafios poéticos (devido à pandemia e ao meu afastamento voluntário do associativismo), foi bom voltar.

Além de ter estado com pessoas que já não via há algum tempo e com quem conversei, também foi bom  estar ali, junto à Incrível, a falar de poesia, de um livro e de um poeta.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, novembro 21, 2022

A Memória do Chico Fixada nas Toalhas de Papel...


Chegámos a ser uma dúzia à mesa, às segundas feiras, na nossa "Tertúlia do Bacalhau com Grão", agora somos apenas dois, invariavelmente (quando o Mário, o Marinho ou o Luís aparecem é uma festa...).

O curioso, é que nunca nos falta assunto à mesa. O Chico repete-se muitas vezes, quando fala da nossa Incrível e da sua rua José de Mascarenhas ou das imediações (a Capitão Leitão, a Heliodoro Salgado ou a travessa Henriques Nogueira...), mas há sempre algo de novo que fica.

Por causa da sua "memória de elefante" (e também das do Orlando e do Jaiminho...). tenho bem muito mais que duas de dezenas de pedaços de toalhas de papel, dobradas no interior do meu caderno de capa verde (que está cada vez mais gordo...). 

Embora não tenha voltado a abrir grande parte destes registos avulsos, não resisto em pegar na esferográfica e fixar nas folhas de papel simples - que conta quase sempre a companhia de uma ou outra nódoa, de azeite ou de vinho tinto -, os nomes e acontecimentos que me ficam na retina, durante as nossas conversas. 

Foi o que voltou a acontecer hoje, quando viajámos pelos teatros da vida do Chico (até passámos pelo desaparecido "Clube José Avelino"...). Desta vez não ficámos por Almada, atravessámos o rio, para visitar de fugida o Paiva, que tinha um armazém (talvez ateliê seja mais apropriado...) no interior do Parque Mayer, onde era possível alugar todo o género de vestidos e outras roupagens, sem esquecer ou ou outro acessório indispensável, para oferecer um outro brilho às revistas e peças de teatro Incríveis...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, setembro 12, 2021

"Elas Estiveram nas Prisões do Fascismo"



Ontem passei pelo Salão de Festas da Incrível Almadense, onde foi apresentado o livro, "Elas Estiveram nas Prisões do Fascismo", editado pela URAP (União dos Resistentes Antifascistas Portugueses).

Não fiquei muito tempo por razões familiares, mas adquiri a obra com todo o gosto. Foi a minha forma de homenagear e ficar a saber mais, sobre estas mulheres, tantas vezes "esquecidas" pela própria história, que é quase sempre feita pelos e para os homens.

A única coisa que não me agrada neste livro, tão significativo, até por estarmos a assistir a um momento decisivo na história das mulheres afegãs e da luta pela liberdade e emancipação feminina, é que os seus textos não estejam assinados. Eles foram escritos por alguém. Até podem ser vinte ou trinta os seus autores, a divulgação dos seus nomes, só valorizava este livro, que lembra quem foram as 1755 mulheres que passaram pelas prisões fascistas do nosso país.


sexta-feira, fevereiro 28, 2020

A "Terra Prohibida" de Pascoaes


Há bastante tempo que tinha curiosidade  em ler a poesia de Teixeira de Pascoaes, considerado por muitos como um dos nossos grandes poetas.

Hoje por um mero acaso, descobri o livro de poemas, "Terra Prohibida", na biblioteca da Incrivel Almadense (terceira edição, editada no Rio de Janeiro em 1923...).


O mais curioso foi descobrir a sua "virgindade" (as suas folhas ainda estavam por abrir...), ou seja, passados quase 100 anos, tudo indica que vou ser o seu primeiro leitor...

(Fotografias de Luís Eme - Cacilhas)

sexta-feira, janeiro 25, 2019

Um Escritor Único...


Acabei de ler o romance, "Andam Faunos pelos Bosques", do grande Aquilino Ribeiro, requisitado na Biblioteca da Incrível Almadense.

Foi uma sugestão de um amigo, durante uma conversa, em que por qualquer motivo, falámos da influência da religião católica junto das comunidades, especialmente no Interior Norte, durante a ditadura e o PREC. A meio da conversa perguntou-me se já tinha lido o livro. Como disse que não aconselhou-me a sua leitura, sem se esquecer de referir a riqueza vocabular única.

E sim, mais importante que a história do livro (o aproveitamento da mitologia por parte das jovens, bonitas e casadoiras, que "inventaram" um demónio que as atacava e violava, metade bicho, metade homem, conseguindo dar vida aos "faunos", para justificar os seus devaneios... que também é um bom retrato de época, especialmente da vida dos padres, ao ponto de percebermos que a maioria achava estranho que um deles, o padre Dâmaso, não tivesse mulher, não fumasse nem bebesse...), é a utilização primorosa da linguagem regional (ou popular).

Percebi também que Ricardo Araújo Pereira, foi buscar algumas palavras ao Aquilino, misturando-as nas frases de humor inteligente, que é uma das suas imagens de marca  (já o ouvi mais que uma vez a falar de "éguas rabonas" ou de "fúfias de cócoras" ou ainda de "marmanjos amolecidos"... ou referir-se a "safardanas", coisa que nunca faltou por aqui).

Foi bom voltar a ler Aquilino (talvez não o lesse há mais de vinte anos...).

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)

segunda-feira, janeiro 21, 2019

Quando a História e a Dignidade Valem Muito Pouco...


Alguns amigos chegaram-me a falar da possibilidade de a Incrível Almadense vir a ter problemas no futuro, com o edifício onde está instalada a sua sede social, após a morte do seu principal proprietário. Porque os herdeiros poderiam pensar apenas no prédio e não em toda a história que este encerra. Uma história que já terá mais de 118 anos, como edifício-sede, da Colectividade mais antiga de Almada, que comemorou em Outubro de 2018, 170 anos de vida associativa, ininterrupta.

Infelizmente foi isso acabou por acontecer. E a Incrível Almadense foi notificada que a sua renda ia ser actualizada (para valores obscenos...), porque há muitos anos que não sofria qualquer aumento...

Claro que todos sabemos que a lei não contempla questões morais ou éticas. Mas devia. Pois no caso particular do prédio onde está instalada a sede social da Incrível, sabemos que seu senhorio não realizou qualquer obra de beneficiação, pelo menos nos últimos cinquenta anos (provavelmente o número real está mais próximo dos 100 que dos 50...).

Poderia enumerar dezenas de obras, algumas avultadas, como foi a substituição do telhado, da canalização, da instalação eléctrica, das janelas e portas, das múltiplas reparações de paredes, das pinturas, interiores e exteriores, etc. Ou seja, a Incrível gastou milhares de euros em benefício de umas instalações, que sempre considerou suas (é importante referir que a Colectividade tentou comprar o prédio várias vezes, mas o  principal dono, disse para não nos preocuparmos com isso, por que era um processo complicado, havia muitos herdeiros, etc), com o apoio dos associados e também do Município e da Junta de Freguesia.

Nada que incomode os novos senhorios. Eles querem lá saber dos 170 anos de Incrível, de todo o seu passado histórico, que tanto dignifica a Cidade de Almada. Querem sim, dinheiro, quanto mais melhor. 

Claro que não alugarão o prédio a ninguém, pelo valor que que estão a pedir à Incrível. Mas vão conseguir ficar "famosos" em Almada, por retirarem a Incrível no espaço que funciona como sua sede social, há mais de 100 anos (118, segundo os relatos dos antigos...).

(Fotografia de Luís Eme - Almada)

segunda-feira, outubro 22, 2018

Estavas Ali para Ver a Banda Tocar...


Bem me parecia que não tinhas ido ao largo ver a banda passar. Até porque este ano não passou como nos outros anos pelas ruas de Almada (A PSP cobra uma nota preta pelas Arruadas na Cidade...).

Estavas sentada, mas para ver a nossa Incrível (e as bandas amigas, claro) tocar, na manhã de domingo, que até chegou a ameaçar chuva. 

Nada que te assustasse, muito menos aos músicos de Almada, Alverca e Aljustrel...

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, março 27, 2018

O Primeiro Ensaio...


Fingia que não tinha curiosidade, de ver os actores "Incríveis" a usarem as minhas palavras no palco.

Mas naquele dia calhou, a reunião acabou mais cedo e eu  lá fui até ao Salão de Festas. Depois de descer as escadas que me levaram da segunda galeria até à sala, sentei-me numa das cadeiras de plástico, tentando permanecer anónimo.

Fui anónimo pouco tempo, dai a quase nada a encenadora perturbou a silêncio da plateia ao anunciar a presença do autor na peça. Os actores bateram palmas e eu levantei-me e fiz-lhes uma vénia.

A mulher que estava a meu lado disse a sorrir que não me tinha imaginado a escrever aquelas coisas.

E num primeiro momento até eu duvidei ter escrito aquelas palavras, que agora ganhavam vida através dos corpos e das vozes das personagens da peça "O Amor é uma Invenção do Cinema", a minha estreia mais a sério nos palcos...

(Fotografia de Luís Afonso)

domingo, outubro 22, 2017

Um Festival de Bandas Almadense (e Centenário)...


Há já alguns anos que a Incrível Almadense organiza o seu Festival de Bandas Filarmónicas, que é sempre uma boa oportunidade para quem gosta deste género musical e também para recordar memórias, de quando esta era a única música possível em muitos lugares deste país...

O Festival que está quase a começar (estou a escrever antes de passar por lá...), este ano tem uma particularidade bastante importante e singular. As três bandas que a Incrível convidou são as suas congéneres do Concelho de Almada, S.F.U.A. Piedense, Academia Almadense, e Musical Trafariense, todas elas centenárias, tal como a "Mãe" do Associativismo Almadense...

(Fotografia de Luís Eme)

quinta-feira, outubro 05, 2017

Festejar 169 Anos Todos os Dias...

Hoje é um dia especial, e não apenas por a República ser muito mais bonita que a Monarquia, também foi pensada para ser mais justa e igualitária...

Felizmente a realização da Sessão Solene da Incrível Almadense coincide muitas vezes com o 5 de Outubro, festejando-se a Democracia e o Associativismo, duplamente, em Almada, uma Terra profundamente republicana.

Foi o que aconteceu hoje à tarde, com o Salão de Festas a receber a visita das forças vivas da Cidade, que ofereceram discursos mais sentidos e também com mais história que o costume, não estivessem eles na " Colectividade-Mãe" do Associativismo Almadense, que está a festejar o seu 169.º aniversário durante todo o mês de Outubro. 

Joaquim Judas e António Matos, presidente  e vereador da Cultura do Município de Almada (cessantes) falaram com grande lucidez, evocando a história da Incrível que se confunde com a história de Almada, sem fugir aos tempos que se avizinham (e sem qualquer ressentimento...). Não só transmitiram confiança à assistência incrível, como afirmaram que continuarão presentes no dia a dia de todos nós.

Estes dois nossos governantes sabem melhor que ninguém, que há um equilíbrio de forças em Almada (empate técnico, quatro vereadores do PS e quatro da CDU - além de dois do PSD e um do BE), pelo que faz todo o sentido colocar em funcionamento a tão célebre "geringonça", que tão bons resultados tem obtido no país.

Quem como eu, não gosta de "maiorias", sabe que, para bem de todos nós, o PS e a CDU têm mesmo de se entender. Há todo um capital de experiência (são 41 anos no poder...) que poderá ser útil aos socialistas, que de forma completamente inesperada, ficaram com os destinos de Almada nas mãos...

(Fotografia de Luís Eme)

quinta-feira, março 30, 2017

A Teimosia, Essa Minha Força Motriz...


Ainda ontem falei nisso com amigos. Se não fosse ser teimoso e gostar de contrariar alguns pessimistas, não teria feito mais de metade das coisas que fiz nos últimos anos.

Alguns "fantoches" que passaram por mim ao longo dos últimos vinte anos, bem arrependidos devem estar por de certa forma terem sido a "força motriz" de toda esta minha vontade de fazer coisas...

O mais curioso é saber exactamente como tudo começou, quando alimentei a ideia de se fazer uma exposição de homenagem a um grande pintor almadense, que falecera um ano antes e era fundador da SCALA, uma associação que continua a ser minha - juntamente com a Incrível. 

Um dos elementos que devia fazer a ideia avançar, pelas suas funções directivas, decidiu começar a colocar obstáculos, quase sempre coisas pequeninas de gente miudinha. Enquanto ele pedia ajuda aos "profetas da desgraça" eu quase que corria, por outras ruas, porque era preciso andar para a frente e fazer coisas. E as coisas que que eu fiz, desde ir a galerias de arte lisboetas buscar quadros emprestados a fazer um folheto, uma gravura, um boletim especial...

Claro que tive muitas ajudas, mas esta foi a minha primeira vitória no mundo do associativismo, contra os "velhos de Almada"...

(Aguarela de Arménio Reis - o tal grande Pintor Almadense que mereceu todas as batalhas vencidas...)

quinta-feira, dezembro 22, 2016

O Amor, o Cinema, o Teatro e o Livro...


A peça que escrevi e foi representada durante a 18 ª Mostra de Teatro de Almada, encenada pelo Cénico Incrível Almadense, "O Amor é uma Invenção do Cinema", agora também é um pequeno livro.

Como digo na "nota de autor", decidi finalmente, transformá-la em livro, para que possa chegar a outras pessoas, que não puderam assistir à peça, representada em Almada.

Foi uma experiência especial. Ainda me recordo de assistir a um dos ensaios e ter algumas dúvidas de ter sido o autor do texto (graças à interpretação dos actores, que deram vida às personagens e transformaram o texto que tinha escrito numa outra coisa (melhor)...

sábado, setembro 24, 2016

Quando se "Inventa" para Ficar na História...


A história de Almada saltou para cima da mesa do café (tal como tem acontecido tantas vezes...) e na defesa dos meus pontos de vista e da história local, acabei por de alguma forma chamar mentiroso a um dos meus companheiros de "tertúlia". Sei que era mais simples ter dito que a verdade não era bem assim, mas em algumas coisas sou demasiado intransigente.

A minha experiência - primeiro como jornalista e depois como historiador - de quase três décadas, faz com que apanhe um "mentiroso" com relativa facilidade. Basta fazer duas ou três perguntas sobre o mesmo tema, para encontrar contradições. Ou estão estar a par dos factos (o que aconteceu...).

É por isso que sempre que quero saber coisas do passado, recorro normalmente a duas ou três fontes, que são de uma honestidade rara. 

Claro que quem "mete os pés pelas mãos" nem sempre o faz por mal. A passagem do tempo faz com que muitas pessoas não tenham a noção de que já se passaram décadas e décadas sobre determinado acontecimento, é isso faz com que se enganem com relativa facilidade na data, e por vezes até do local. Mas pior são  mesmo as pessoas que gostam de se meter dentro da história. Fala-se sobre determinado acontecimento e a primeira coisa que dizem é, «eu estive lá», quando lhes era impossível estarem presentes fisicamente, por serem demasiado pequenos,  por residirem noutra cidade ou até por ainda não serem nascidos...

Eu sei que por vezes é difícil resistir à tentação, de ficarmos na história, mesmo que esta nos tenha passado ao lado. Espero ter sempre a lucidez suficiente para ser um autor e uma fonte credível...

(Fotografia de Luís Eme)

quinta-feira, novembro 05, 2015

Quase Teatro na Biblioteca


Podia ser quase um número de teatro, mas aconteceu numa tarde destas. O cenário é a biblioteca da Incrível e as personagens uma mulher que gosta de livros e o bibliotecário (sim, eu mesmo).

Ela ia andando pelos pequenos corredores da biblioteca, à espreita dos nomes das lombadas dos livros, sem no entanto os tirar do sítio. Depois perguntou-me:

«Incomoda-te que quase ninguém frequente esta biblioteca?»
«Não. Não me incomoda, nem preocupa muito. Sei que há bibliotecas com melhores condições e com livros mais bonitos que esta.» Ela insistiu agora com uma quase afirmação.
«Mas de certeza que gostavas que existissem mais leitores.»
«Nunca pensei a sério nisso, mas acho que sim. Sei que esta biblioteca ainda podia ser mais que um quase museu. Mas também sei que estes tempos não são de livros, é difícil resistir ao mundo que nos aparece a um simples toque de telemóvel. Vejo-o pela minha filha que andava sempre com um livro atrás e agora anda a namorar um "tablet" para o Natal, porque o telemóvel é demasiado pequeno para ela estar dentro do "mundo"...»
«Consegues perceber porque razão estas bibliotecas eram tão frequentadas há cinquenta e sessenta anos?»
«Claro que consigo. Em primeiro lugar os livros eram caríssimos nesse tempo, comparados com outros bens essenciais. Isso fazia com que não existisse o hábito de teres uma biblioteca em casa, o normal era ires requisitar um livro para ler às bibliotecas das colectividades. Em segundo lugar, tirando o trabalho, o cinema e os bailes de fim de semana, não havia muito mais para se ocupar o tempo. E não menos importante, os livros eram uma das poucas oportunidades que existiam para se conhecer o mundo, e até de se sonhar. A televisão só apareceu no final dos anos cinquenta do século passado e era muito pobrezinha, com um horário limitado.»
«E eu que pensava que te sentias mais desgostado.»
«Pensavas... a vida é o que é.»
«Nem pareces um ficcionista a falar...»
«E tu não pareces uma mulher que lê livros. A ficção é a vida tal como ela é. Quase sempre com menos vírgulas.»

E depois seguiu-se um silêncio quase de ouro. Até que finalmente pegaste num livro e contaste-me uma história deliciosa sobre o autor.