Há um filme que retrata muito bem estes tempos (o "Herói Acidental", que tem como protagonistas Dustin Hoffman e Andy Garcia), em que as televisões que dão notícias como se fossem folhetins de novelas e gostam de escolher um ou outro herói, para "colorir" qualquer tragédia. Tal como no filme, o "herói" escolhido pode apenas ter vontade de aparecer na televisão e ganhar alguma coisa com isso. E só depois é que se apercebe do "turbilhão" mediático em que se meteu...
Mas o que queria mesmo era falar do futebol, provavelmente a área onde existe uma "fúria" maior em se inventar "heróis", para de seguida os descartarem, ao descobrirem que são apenas pessoas normais.
Mas é importante frisar que este fenómeno não é novo no "desporto-rei" nem foi inventado pelas televisões. Desde os começo dos anos setenta do século passado, que os jornais - ao perceberem que Eusébio não era eterno - passavam o tempo à procura de um "novo Eusébio" (como se as coisas funcionassem assim...), destacando os jovens de cor que mais se salientavam nos campos de futebol. É importante dizer que a maior parte dos jovens de origem africana que foram submetidos a esta comparação, não aguentaram a pressão e acabaram a jogar em divisões secundárias ou desistiram mesmo de ter uma carreira futebolística.
Voltando à actualidade, no nosso "reino da bola" não é apenas Cristiano Ronaldo, que é catalogado como o "melhor do mundo". Por exemplo, João Cancelo é vezes de mais "vendido" como o melhor lateral direito do mundo (depois do Mundial deve ter "caído" do pedestal...), tal como Ruben Dias, que também leva com a carga do "melhor central do mundo" ou até o jovem guarda-redes, Diogo Costa, que também já começa a ser "empurrado" para o clube dos "melhores do mundo". Este trio poderá, quanto muito, fazer parte de um lote bastante alargado, com dezenas dos ditos "melhores do mundo", que tanto jeito dão aos jornalistas sem assunto...
Provavelmente esta "tara" de catalogar as pessoas e de inventar heróis - levada nos nossos dias ao extremo -, existe desde sempre, e é apenas mais uma das muitas inventadas pelos humanos, que sempre tiveram necessidade de viver rodeados de pequenos e grandes "deuses"...
(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)