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domingo, dezembro 11, 2022

A Moda de Catalogar as Pessoas e de Inventar Heróis


Estes dias estranhos, cada vez mais manietados pelas televisões sensacionalistas e pelas redes sociais, dizem-nos que nem todos conseguem resistir a esta "moda" de se inventarem heróis. Heróis quase sempre descartáveis, com apenas direito a um dia ou dois de "fama".

Há um filme que retrata muito bem estes tempos (o "Herói Acidental", que tem como protagonistas Dustin Hoffman e Andy Garcia), em que as televisões que dão notícias como se fossem folhetins de novelas e gostam de escolher um ou outro herói, para "colorir" qualquer tragédia. Tal como no filme, o "herói" escolhido pode apenas ter vontade de aparecer na televisão e ganhar alguma coisa com isso. E só depois é que se apercebe do "turbilhão" mediático em que se meteu...

Mas o que queria mesmo era falar do futebol, provavelmente a área onde existe uma "fúria" maior em se inventar "heróis", para de seguida os descartarem, ao descobrirem que são apenas pessoas normais. 

Mas é importante frisar que este fenómeno não é novo no "desporto-rei" nem foi inventado pelas televisões. Desde os começo dos anos setenta do século passado, que os jornais - ao perceberem que Eusébio não era eterno - passavam o tempo à procura de um "novo Eusébio" (como se as coisas funcionassem assim...), destacando os jovens de cor que mais se salientavam nos campos de futebol. É importante dizer que a maior parte dos jovens de origem africana que foram submetidos a esta comparação, não aguentaram a pressão e acabaram a jogar em divisões secundárias ou desistiram mesmo de ter uma carreira futebolística.

Voltando à actualidade, no nosso "reino da bola" não é apenas Cristiano Ronaldo, que é catalogado como o "melhor do mundo". Por exemplo, João Cancelo é vezes de mais "vendido" como o melhor lateral direito do mundo (depois do Mundial deve ter "caído" do pedestal...), tal como Ruben Dias, que também leva com a carga do "melhor central do mundo" ou até o jovem guarda-redes, Diogo Costa, que também já começa a ser "empurrado" para o clube dos "melhores do mundo". Este trio poderá, quanto muito, fazer parte de um lote bastante alargado, com dezenas dos ditos "melhores do mundo", que tanto jeito dão aos jornalistas sem assunto...

Provavelmente esta "tara" de catalogar as pessoas e de inventar heróis - levada nos nossos dias ao extremo -, existe desde sempre, e é apenas mais uma das muitas inventadas pelos humanos, que sempre tiveram necessidade de viver rodeados de pequenos e grandes "deuses"...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


quarta-feira, outubro 16, 2019

Modas Estranhas (de outros tempos, penso eu...)


De vez em quando passo pela Feira da Ladra, mais para olhar toda aquela paisagem humana exótica, que para comprar as mil e uma coisas diferentes, que por ali aparecem.

Uma dessas coisas que achei curiosa foi ver dois meninos tristes dentro de quadros, lado a lado, à espera de comprador.

Fixei a imagem e fiquei a pensar por que razão havia o hábito de colocar estas gravuras com meninos tristes (muitas vezes mesmo com a lágrima no olho...) nos quartos de crianças.

Nem eu escapei a esta moda estranha, e também tive "um menino triste" na parede do meu quarto...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

sábado, maio 25, 2019

Um Vício de Outros Tempos...


Quando passa pelo quiosque, olha para todos os lados, assim como não quer a coisa. Se não descobrir ninguém conhecido por perto, tira algumas moedas do bolso e "compra um pacote"  de notícias em papel.

O passo seguinte é fingir-se distraído e enrolar o jornal, transportando-o de seguida, quase escondido, ao longo de um dos braços. 

Só se sente "a salvo" quando entra no café rente ao rio, que podia muito bem ser uma fronteira. Já nem estranha que as pessoas finjam não conhecer ninguém, como se aquele lugar estivesse condenado a ser apenas um ponto, onde se chega e parte, de preferência sem paragens...

Talvez seja isso que o descontrai, enquanto ocupa uma mesa e diz bom dia ao Tejo.

Depois pede uma água com bolhas, antes de começar a estender o "lençol de papel" pela mesa, à procura de palavras que o surpreendam, de preferência que não estejam sujas de sangue ou usem menos que mini-saia de roupagem.

(Fotografia de Luís Eme - Trafaria)

domingo, maio 19, 2019

«Gosto dela de todas as maneiras»


Nunca tinha ouvido falar do "síndroma da Marilyn", mas depois de pensar um pouco, fiquei com a sensação de que esta designação até fazia algum sentido, mesmo que seja uma daquelas "doenças", mais metida com as metáforas da vida, que com a linguagem médica...

Quem conheceu a Zé com 20 anos diz que ela era das mulheres mais bonitas de Lisboa. Foi modelo e depois actriz. Gostava do que fazia mas irritava-a que fosse escolhida para papeis, sobretudo pela sua beleza. O talento pura e simplesmente era ignorado. Tinha medo que fosse sempre assim...

Durante uns tempos abandonou a televisão e foi fazer teatro. Adorou fazer um papel, que era quase de gata borralheira moderna, sem sonhar que lhe iria mudar a vida toda. Foi a partir daqui que tomou a decisão de deixar de usar maquilhagem e de fazer passagem de modelos. Pelo caminho deixou-se de dietas e começou a engordar uns quilitos.

Em menos de dois anos tornou-se uma outra pessoa. Curiosamente nunca mais a convidaram para qualquer novela televisiva. Foi crescendo nos palcos, ainda que quase ninguém desse por isso...

Depois foi mãe da Diana, engordou mais um pouco. E as amigas da moda quando a viam, faziam quase uma escandaleira e ofereciam-lhe quase sempre a mesma pergunta: "o que foi que te aconteceu?" Ela sorria-lhes e dizia que tinha decidido ser uma mulher livre, distante do mundo das "bonecas lindas de morrer".

Até os homens estranhavam aquela simplicidade e perguntavam ao Rui o que se passava. Ele dizia que não se passava nada. Alguns mais do "reino das bonecas" iam mais longe e até diziam que ele devia obrigá-la a fazer dieta. Ele sorria-lhe e desarmava-os com uma frase que diz tudo: «Não se preocupem, eu gosto dela de todas as maneiras.»

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)

terça-feira, fevereiro 20, 2018

Quando Ser ou não Ser, Deixa de ser a Questão...


Uma das melhores respostas à entrevista de Adolfo Mesquita Nunes, no "Expresso", em que ele tenta dizer, com a maior naturalidade, e quase sem palavras, que é gay. foi a crónica de António Guerreiro publicada no "Ipsilon" de sexta-feira.

E António começa o seu texto da melhor maneira: «Se eu fosse paneleiro - na verdade, ninguém pode garantir que eu não seja, não tenha sido ou não venha a ser - e ocupasse um cargo político nunca aceitaria o protocolo da confissão, dizer o que é se é àqueles que não o são. Não para manter o "segredo", mas para não me submeter à regra da autenticação pelo discurso da verdade, tão aplaudido pelos que acham que a sua verdade é diariamente autenticada pelas evidências.»

No nosso país (e no mundo...) há três formas de se viver a sexualidade das minorias: esconder e fingir que gostamos das mesmas coisas que os outros (a norma, pelo menos das figuras públicas...); publicitar, algo de novo e "moderno", ideal para quem gosta de ser notícia de jornal; e por último aquela que eu acho que deveria ser a mais normal, aceitar e viver com naturalidade, sem ter de dar explicações ou justificar o que quer que seja, neste campo.

Quem gosta muito deste tipo de notícias é a comunicação social (e a gente que as lê avidamente, que têm menos de "metro e meio de altura"...), especialmente as revistas e jornais que gostam de dar informação ao jeito de folhetins de novelas. Não foi por acaso que na última semana tanto se escreveu sobre o casamento de uma directora de programas televisivos, quase balzaquiana, com uma actriz de telenovelas, quase menina... Claro que se falou porque elas quiseram ser notícia, quiseram publicitar a diferença (há pelo menos duas razões para isso acontecer; quererem acabar com os cochichos e com os olhares de lado dos outros, por onde quer que elas passam; ou querer ter um casamento badalado nos jornais e revistas...).

Sei o que é isso, porque embora não frequente os lugares da moda, tive conversas mais que suficientes com pessoas que sempre quer podiam apontavam o dedo e diziam: «fulano tal é paneleiro, vive com o Manuel daquela loja de roupa esquisita, mas é um gajo porreiro.»

Vou continuar com António Guerreiro para chegar ao ponto que quero discutir: «Se eu fosse paneleiro e político - malditos pês, que afluem como em hora de ponta, salvo seja - ficaria sempre calado para não ser transformado num estereótipo do homossexual de Estado, a não ser que aspirasse precisamente a esta condição.»

Como não acho que a classe política seja de confiança, esta modernice (especialmente por vir do nosso partido mais conservador...), pode também ser estratégica. O CDS pode querer dizer ao eleitorado do centro-direita, que já não é um partido conservador e tem as portas abertas a todos os liberais do PSD, que não gostam da social-democracia, que parece estar de regresso a este partido.

Claro que - excepto a meia-dúzia de amigos mais próximos do dirigente centrista - nunca iremos saber, até que ponto Adolfo foi genuíno, ou não. Foi também por isso que me apeteceu escrever este texto...

(Óleo de Laurits Tuxen)

quinta-feira, novembro 09, 2017

Recomeçar (ou não) de Novo...

Encontrei um rapaz que de vez enquanto desaparece do mapa e estou anos sem o ver.

Ao contrário de mim, já viveu muitas vidas no mundo que nos espera à porta de casa, todos os dias. Só casamentos foram três, todos eles de curta duração (o que durou mais ficou-se pelos quatro anos...). Já morou em várias cidades e países, mas acaba por voltar sempre à casa dos pais, os únicos que nunca lhe fecham a porta...

Está mais desiludido que nunca, por saber que já não vai para novo e que cada vez há menos empregos para quem se aproxima dos cinquenta. A primeira vez que o vi sorrir durante a nossa conversa foi por causa das histórias de assédio, que estão na moda, ao ponto de ele pensar que sempre deve ter sido um "assediador" militante, pelo menos nos trabalhos onde havia gajas boas. Disse isso como se o "atiranço" fizesse parte da nossa condição de "macho".

E a partir de aqui a conversa melhorou bastante. Foi delicioso vê-lo a "despir e a vestir" as mulheres que foi conhecendo e despachando, e também das outras, que o despacharam... Debitou lugares-comuns a uma velocidade incrível. Afirmou saber, por experiência própria, que todo o amor tem prazo de validade, mesmo que exista por aí muita boa gente que se finge feliz, por ter um casamento com cinquenta anos e mais.

Quando nos despedimos percebi que não é só a vida que nos quer correr mal... nós também nos esforçamos para que ela caminhe (ou não...) para os lados errados, do dia ou da noite...

Somos todos diferentes e todos iguais. É por isso que há quem consiga viver a vida inteira no mesmo lugar e também quem precise de andar a saltitar de terra em terra, à procura daquilo que parece não existir...

(Fotografia de Ruth Orkin)

sexta-feira, janeiro 13, 2017

Sim, é Mesmo Caricato...


Os árbitros de futebol sempre foram usados para tentar disfarçar as aselhices dos jogadores e treinadores, e  não menos grave, as más contratações dos dirigentes.

Quando ouço Octávio Machado, dirigente do Sporting, dizer que é caricato os responsáveis da arbitragem não acharem erros graves às grandes penalidades que não foram marcadas contra o Benfica, no último jogo disputado entre os dois clubes, só posso dizer que se devia ver ao espelho...

Caricato é entender que os árbitros têm de ver em tempo real aquilo que nós só conseguimos ver à quinta repetição, em câmara lenta, e em vários ângulos,. e mesmo assim ficamos com algumas dúvidas.

Eu fiz jornalismo desportivo no tempo em que havia árbitros, que tinham tanto de  bons como de habilidosos (um deles é da minha Terra e até lhe deram durante algum tempo o nome de uma "taça"...). E sei o que é fechar os olhos a foras de jogo de mais de um metro (e não os de meio centímetro, comentados nas televisões...) ou a grandes penalidades provocadas por avançados craques a "mergulhar para a piscina" (e não as onde se procura ver se é bola na mão ou mão na bola, quase a exigir que os jogadores joguem sem braços (se for do nosso interesse, claro...).

A única coisa que tenho a certeza, é de que  futebol merecia melhores dirigentes, Há muito tempo.

(Óleo de Angel Zarraga Arguelles)

segunda-feira, dezembro 12, 2016

Quando o Talvez fica "Tatuado" nas Frases...


Não sei, não estou muito preocupado em entender, menos ainda em explicar.

Talvez sejam tempos, modas, vaidades, insistiu ela.

Talvez é aquela palavra que dá para todas as respostas, consegue ficar entre o sim e o não, mas ao contrário de outras, deixa sempre uma réstia de esperança...

Ela assumiu que gosta de algumas, do género flores perto do pé ou outras coisas assim pequeninas em sítios inesperados. Já esteve tentada em fazer uma, num local quase secreto.

Sorri por o corpo dela ainda ter lugares secretos, depois dos quarenta. Quis descodificar o meu sorriso e eu falei do 007 e de outras coisas de livros e filmes. 

Insistiu e disse que como tinha sido marinheiro devia ter algo num dos braços. Voltei a sorrir, sem vontade de lhe mostrar os braços, para que ela conferisse que não tinha nenhum coração com "amor de mãe" ou uma "âncora" como alguém aparentado do Popeye.

(Fotografia de Robert Doisneau)

sexta-feira, novembro 25, 2016

Arte de Rua da Boa...


Em três imagens com ângulos diferentes conseguimos ver coisas diferentes... E não se trata apenas de ilusão de óptica.  Na primeira é o que é, "sucata pintada".


Na segunda imagem todos os materiais utilizados começam a ganhar vida e a querer ser alguém.


Mas é preciso olharmos a imagem bem de frente para darmos de caras com o "animal". E deixarmos de fazer quase figura de "urso"...

Fotografias de Luís Eme - Obra de Bordalo II rente ao Centro Cultural de Belém)

sábado, junho 18, 2016

Parar no Tempo...


Hoje ao reparar numa jovem mulher com saia comprida e blusa e casaco de malha "vintage", fiquei com a sensação de que através da roupa que as pessoas vestem, podemos descobrir se elas se sentem neste ou noutro tempo.

Embora possa ser especulativo (como quase tudo...), fiquei mesmo a pensar que uma das formas que mostram a nossa "paragem num tempo qualquer" é a roupa que usamos diariamente, tal como o penteado...

(Fotografia de autor desconhecido)

terça-feira, junho 14, 2016

Uma Outra Existência, um Outro Eu...

Nunca se alimentou tanto a ilusão - não me apetece chamar-lhe mentira - como nestes tempos povoados de animação social (mesmo que seja só virtual...). Ou seja, nunca foi tão fácil viver outras vidas, inventarmos personagens. É como se o cinema tivesse descido da tela e passasse a fazer parte do nosso dia a dia, com um guião só nosso.

A culpa não é da proliferação de imagens, nestes tempos em que se fotografa e filma quase tudo, é mais da confusão social (e mental...) que se gerou ao tornarmos mais importante a apresentação de uma fotografia com um prato de lagosta ou  de qualquer destino exótico (mesmo que não passe do tal filme...), que da aldeia simples onde crescemos. Às vezes penso que voltaram a existir "testes" como os da adolescência, que nos poderiam dar acesso ao grupo dos "mais" de qualquer coisa.

Eu sei que a mentira parece ser muito melhor que a verdade (tantas vezes...), pelo menos quando de gordos passamos a elegantes e os nossos vulgares olhos castanhos passam a ter a tonalidade azul ou verde. Só que todos os dias temos de enfrentar o espelho, esse maldito, que nos diz que aquela fotografia que importámos da Estónia ou da Noruega, não passa de mais um engano. Claro que é só mais uma invenção, mas é a pior de todas, é aquela que nos levar levar a partir espelhos...

O mais ingrato de tudo isto, é que este não é o "mundo de aparências" de Sócrates versus Platão, é mais o do político-estudante na Cidade Luz...

Curiosamente não vejo muita gente a dizer: «Tirem-me deste filme!»

(Óleo de Raymond Parker)

sexta-feira, março 18, 2016

«Será que o jornalismo morreu, sem que tenhamos dado por isso?»

Hoje publicou-se pela última vez, em papel, o "Diário Económico".

Confesso que nunca perdi muito tempo com as leituras deste género jornalístico, por ser demasiado técnico. Foi também por isso que não comprei o último número.

Tenho lido algumas coisas que se têm escrito sobre o que se está a passar no nosso jornalismo, onde se fica com a sensação que o "jornalismo sério e pluralista" já quase que não tem leitores...

Não vou em busca de causas, mas o que se tem passado nos últimos anos na nossa comunicação social, só nos poderia levar a caminhar para "ruas tortuosas", cheias de "armadilhas". Quando se fechou os olhos à criação de autênticos monopólios - que nunca existiram nas ditaduras salazarista ou marcelista -, cujos interesses tinham a ver com tudo menos com jornalismo, não se podia esperar que o rigor e independência do "quarto poder" ficassem a ganhar. 

Sei que a televisão é em boa parte a grande culpada do quase "alheamento" das pessoas, pelo que realmente se passa no nosso país. Parece que é só ali, dentro da "caixa mágica" que está a felicidade... Com programas que enchem as manhãs e as tardes das pessoas de ilusões (basta ligar para o número da "sorte" para ganhar um carro mais um saco cheio de notas...).

Não é por acaso que o que hoje mais vende são as revistas associadas à televisão, que se alimentam dos resumos das telenovelas e das "invenções" sobre as vidas - pública e privada - dos "famosos", que tanto podem ser actores das novelas como participantes dos programas onde se finge transmitir a "vida em directo" (e que eu na maior parte das vezes não faça ideia quem são... mas isso só acontece porque eu primo por ser gajo um "mal informado"...). 

E claro, quem também vende que se farta é um jornal diário que explora ao jeito de folhetins novelescos vários casos de polícia, e que adora explorar a curiosidade mórbida de cada um de nós. Parece que este "Correio" vende mais que todos os outros jornais juntos...

Por tudo isto, não sei que diga sobre jornalismo, jornais, monopólios, patrões ou jornalistas, mas lanço uma pergunta: «Será que o jornalismo morreu, sem que tenhamos dado por isso?»

(Fotografia de Johua Benoliel)

domingo, novembro 22, 2015

O Nosso Lado Lunar que Gostamos de Pintar Cor de Rosa


Entre a centena e meia  de pessoas que visita o "Largo" diariamente, encontram-se dois ou três amigos que gostam de falar sobre o que escrevo (tenho pena que não queiram ser comentadores...), e que normalmente me ajudam a pensar com mais profundidade sobre coisas que escrevo com alguma leveza.

As conversas mais interessantes que tenho tido são com uma amiga, que posso dizer, sem ironia, que é um poço de sabedoria (rima e neste caso é mesmo verdade...). Eu sei que os sociólogos são uns chatos, que acham que têm respostas para tudo. Por vezes são piores que os filósofos, que gostam sobretudo de questionar e contradizer. Mas ela tem essa coisa boa de me fazer reflectir...

É impossível transcrever tudo o que dissemos ontem (dava quase um ensaio...), mas pelo menos posso tentar relatar o que foi dito de mais importante, o facto de vivermos o tempo das mudanças constantes.

Sim, eu acredito que até a forma como sonhamos vai sofrendo alterações. Talvez hoje haja uma maior confusão dentro das nossas cabeças, que acabe por "meter no mesmo saco" os sonhos e a realidade.

E também tens razão quando dizes que esta busca incessante pela felicidade, só nos tem conseguido transformar em pessoas mais infelizes e frustradas. Mas se não fossem os sonhos, como é que era possível sobreviver num lugar tão desigual como o nosso país, onde a ti só te é permitido viver num T1, mas o teu vizinho da frente vive num T5... E não vou falar das diferenças de ordenados, de carros, de lugares onde se passam férias, etc.

Tudo isto para dizer que é perfeitamente justificável e humano, que algumas pessoas queiram mostrar o que não têm e até inventar a tal personagem que gostavam de ser, nas redes sociais. Abriu-se uma porta e a parte cénica partiu em busca de palcos, deixando de ser habitada apenas nos nossos sonhos. Ou seja, as novas tecnologias tornaram mais fácil fazer o número de uma pessoa mais bonita, mais rica e mais feliz, com inspiração nos enredos das telenovelas e nos mexericos das revistas "rosa". E na actualidade este nosso "lado lunar "também pode ser facilmente transmitido (por exemplo) em episódios no "facebook" e ficar à espera dos desejados "likes".

Como tu dizes, isto dava um romance. E que romance...

A ilustração é de Cipriano Dourado.

domingo, outubro 11, 2015

A Solidão de um Quarto de Hotel


Quando estamos habituados a entrar na noite numa casa cheia de sons, de cheiros, de movimentos, estranhamos a solidão de uma casa vazia, e ainda mais a de um quarto de hotel.

Quando vivemos sós, há várias artimanhas para combatermos o silêncio. A televisão aparece quase sempre em primeiro lugar, depois a rádio... com as vozes a saírem dos aparelhos e a espalharem-se pelas divisões, sem cerimónias.

Mas num quarto de hotel tudo é diferente, nada daquilo é nosso, nem a televisão consegue ser uma boa companheira.

Era para ficar por aqui, mas olho a janela e sinto um vazio ainda maior nas ruas desta pequena cidade. 

Quando caminhava, depois de jantar, não me cruzei com ninguém. Não consegui sentir sequer a presença de fantasmas, quanto mais de seres humanos. Nem passei por um único café aberto. 

Claro que devem existir lugares estratégicos para quem pensa que gosta da noite, um pequeno bar longe do centro ou até uma discoteca.

Sei que nada disso me interessa por aí além, pois não ando à procura de "aves nocturnas". Sinto sim alguma curiosidade pela vagabundagem nocturna, que parece ter os dias contados.

Embora me custe a acreditar que a única possibilidade de encontrarmos pessoas é dentro de um computador, não tenho dúvidas de como o mundo está diferente...

Felizmente, de manhã, um novo dia começa, com pessoas, que até poderiam vir de outro planeta.

quarta-feira, abril 01, 2015

A Mulher e o Corpo, o Corpo e a Mulher


Numa época em que se tenta equilibrar "o prato da balança" entre o homem e a mulher, em praticamente todos os campos da sociedade,  noto que nunca como hoje se explorou tanto a nudez e as curvas femininas, seja na publicidade ou até mesmo na divulgação diária de notícias (não há site de jornal ou revista que se preze, que não apresente a fotografia de qualquer "bomba", com o desfile dos seus melhores atributos).

Embora não seja coisa que me desagrade (a mulher é uma das coisas mais belas que nos são oferecidas diariamente...), acho no mínimo estranho que esta exploração (que não tem parado de crescer...), não seja alvo de crítica pelas defensoras da igualdade (e até superioridade feminina).

Claro que este realce também pode ser olhado como publicidade a algo em que as mulheres são de facto superiores aos homens - a sua beleza -, mesmo que em muitos casos exista por ali o "bisturi" do homem...

O óleo é de Nicolay Prokopenko.

segunda-feira, março 30, 2015

Olhar ou Ignorar as "Janelas do Mundo"?


Acho que sim, o nosso olhar nunca está parado no tempo. Muitas vezes, mesmo sem se aperceber, deixa-se "teleguiar" pelas tendências (quase) impostas dos "gurus" de qualquer coisa. 

Mas nem todos aceitam esta constatação. É por isso que há criadores que não têm televisão em casa...

É também por isso que alguns poetas que conheço só lêem prosa. Não querem sofrer nenhum tipo de influência, boa ou má, mesmo dos poetas que amam.

Claro que muitos outros lêem tudo o que lhes apetece, vêm televisão, ouvem rádio, etc. Quando lhes falam em influências, sorriem e dizem-se preparados para absorverem tudo o que o mundo lhes queira dar. 

Sinceramente, não sei quem são os melhores, quem são os piores.

Eu? Limito-me a sorrir a a ler tudo o que me apetece, a ver televisão (até alguns programas de futebol, ninguém é perfeito...), a ouvir alguma rádio sem fazer finca pé por qualquer boa influência que possa aparecer. E se for daquela que surge sem se dar por isso, melhor ainda...

O óleo é de Gary Akers.

sábado, outubro 11, 2014

As Divas e as Outras


O cinema sempre teve fascínio pelas chamadas "divas", actrizes que só com a sua presença, conseguiam encher os grandes ecrãs de beleza e encanto. O seu talento nem sempre era explorado, acabando por ser muitas vezes um aspecto secundário nos filmes em que assumiam o papel de protagonistas.

Dos anos trinta aos anos sessenta do século passado, houve largas centenas de actrizes que foram escolhidas para papeis principais, apenas pela sua beleza e pela forma sedutora como comunicavam com as câmaras. Uma boa parte delas apenas passou pelos estúdios. As que ficaram na história do cinema, são apenas algumas dezenas.

Embora corra o risco de esquecer uma ou outra, penso que estas são mesmo as grandes divas de Hollywood: Greta Garbo, Joan Crawford, Ginger Rogers, Hedy Lamarr, Maureen O' Hara, Gene Tierney, Vivien Leigh, Jayne Mansfield, Jane Russel, Ava Gardner, Joan Fontaine, Rita Hayworth, Grace Kelly, Marlene Dietrich, Ingrid Bergman, Elizabeth Taylor, Doris Day, Audreu Hepburn, Kim Novak, Gena Rowlands, Faye Dunaway, e claro, Marylin Monroe.  E depois aparecem as europeias: Anita Ekberg,  Brigitte Bardot, Claudia Cardinale, Sophia Loren, Romy Schneider, Jean Seberg, Julie Christie, Jeanne Moreau, entre outras.


As "outras", são bem menos, mas não menos importantes... Algumas até podiam ser incluídas na lista das "divas", como a Lauren Bacall ou a Katherine Hepburn. O que as diferencia, é que o seu talento andou sempre de mão dada com a beleza na maior parte dos seus papeis. Foram muito mais que simples "bonecas". Não poderei esquecer também  Bette Davis, Judy Garland ou Anne Bancroff, pelas mesmas razões.

Voltarei a este assunto, mas focando a actualidade (e aceitam-se outras sugestões, claro).

segunda-feira, setembro 08, 2014

Fora de Moda


Há muito tempo que sei ser um sujeito fora de moda.

E não é por gostar dos anos vinte ou de Paris (a escolha da ilustração de Helena Lam foi quase aleatória, mas não deixou de ser uma boa escolha...).

A Rita foi ao cabeleireiro no fim de semana. Apareceu com o cabelo mais curto e penteado de lado. Não lhe disse nada embora me apetecesse dizer-lhe que tinha gostado da mudança.

Pensei na necessidade que as mulheres têm de mudar e nós menos (muito menos). São só espelhos à sua volta, até nos cartazes de publicidade espalhados pela Cidade, com roupas, perfumes, cremes ou outra coisa quaisquer, sempre com o brilho da beleza feminina a despontar.

Mas um sujeito que fala sem se cansar (a canseira fica sempre para os outros...), disse, «desculpe Rita, o seu marido que me perdoe, mas esse penteado carrega-a com mais dez, vinte anos.» Ela olhou para mim e eu sorri-lhe, quase que a dizer que era mentira e com um gesto acrescentei que o tipo tinha um problema qualquer na cachimónia. E depois ela respondeu-lhe: «foi essa a intenção, ficar mais mulher, deixar de ser a Ritinha.»

Quando ele nos deixou fui capaz de lhe dizer que estava gira. E que eu nem era tipo para gostar de mulheres mais velhas. Ela sorriu-me e disse que pagava o café depois do almoço.

sexta-feira, agosto 01, 2014

A Realidade (quase Ficção) Finta a Literatura


Era para começar este Agosto, um tudo nada fresco, com as leituras de férias, mas a realidade resolveu "atravessar-se" no caminho a meio da manhã, no interior da carruagem do metro de Almada (boa para claustrofóbicos) e...

Uma senhora entrou na minha carruagem e começou a sua conversa ao telemóvel, com a antena e a voz ligada para todos nós. Percebemos que falava com a filha, colocando em causa o seu papel de mãe (e ainda mais o do padrasto...), ameaçando mesmo retirar a criança da sua guarda, juntando ao "ramalhete" um molho de acusações que não transcrevo.

Não transcrevo a conversa porque o que achei mais notável não foi a temática, mas sim a forma como as pessoas se "despem" ao telemóvel, num "strip-tease" que pode ou não ser lento, mostrando praticamente tudo.

Não tenho dúvidas de que o telemóvel é quase um "irmão" das redes sociais, onde também podemos ligar-nos ao mundo, sem ter de lhe pedir licença... 

O óleo é de Zoey Frank.

domingo, maio 18, 2014

Quando a Realidade é Prima da Ficção


Há muito que não escutava  as histórias de vida do velho Daniel, que tem andado "escondido" na aldeia onde se costuma encontrar consigo próprio, no coração do Alentejo, distante deste país que há bastante tempo que já não é o dele.

Desta vez falou-nos de outro lado do seu exílio, mais colorido e algo que nunca tinha escutado. Os protagonistas eram falsos "hippies" e "beatnicks", gente que  só vestia roupas sujas e deixava de se barbear ou perfumar, quando se aproximava um acontecimento que juntava a malta excêntrica que enchia páginas de jornais e revistas. Foi um fenómeno que conheceu em Londres, mas que soube ser comum em Paris e Nova Iorque.

Disse-nos que nunca percebeu muito bem a modernidade de um gajo cheirar mal e andar com roupas de mendigo, nesses já longínquos anos sessenta.

Uma coisa era um tipo ser obrigado a viver na rua, não ter dinheiro para um simples pão com manteiga, como lhe aconteceu, outra era pertencer à classe média alta e fazer quase um número de teatro, na rua, nos cafés e bares mais populares, junto dos verdadeiros "donos da rua".

Percebeu isso quando entrou nos seus apartamentos, com tudo no lugar. E onde, descobriu que afinal, tomavam banhos diários, ao contrário dele e usavam perfumes parisienses.

O que nos rimos com os episódios mais pitorescos (alguns a roçar a pornografia, que por razões óbvias, ficaram lá na mesa do café).

O óleo é de Gil Bruvel.