Voltei à Feira do Livro e estranhei-a, mais do que nunca.
Sei que o problema deve ser meu, por ser de outro tempo (e querer ficar por lá...), em que os livros não se vendiam em supermercados nem eram produzidos e vendidos como se fossem apenas mais um acessório para as nossas vidas, como um perfume, um vestido ou um casaco.
Acredito que se batam recordes de tudo, tanto no número de editoras presentes (há várias de que nunca tinha ouvido falar, das tais que podiam muito bem estar ali a vender "batatas" em vez de "livros"...) como nas vendas. Nas praças dos dois grandes grupos editoriais, formavam-se filas para se pagar. O que até se compreende, pois conseguiram meter no bolso as editoras mais interessantes e com melhores livros e autores deste nosso pequeno país...
Mas também sei o quanto devem ser importantes para toda a gente que vive (ou finge viver...) dos livros. Como fui a um dia de semana, não encontrei escritores à espera de leitores e a assinar os seus nomes na folha de rosto dos livros que escreveram, mesmo que pensassem que estariam bem melhor deitados numa praia sossegada que naquela "costa de caparica" dos livros. Mas este é um dos "fados" de quem escreve livros...
Claro que não vou falar da "banalização" que têm feito do livro. Sei que muitas das tais editoras emergentes só existem para satisfazer os caprichos daqueles que não querem deixar este mundo "sem deixar um filho, plantar uma árvore e escrever um livro" (desconfio cada vez mais que esta frase nasceu de algum editor...). E por causa desse capricho há pessoas que até são capazes de "pagar dois livros" pelo preço de um, para gáudio de quem precisa deste conjunto de folhas impressas para comer. Uma boa parte destes autores acabam por perceber, que afinal só alguns primos e vizinhos é que sentiam alguma curiosidade sobre o que estava dentro das suas histórias ou poemas.
Mas quando percebem, é quase sempre tarde demais. Afinal não são bem escritores, apenas pagaram a impressão de um livro com as suas palavras...
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)