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segunda-feira, abril 15, 2024

Eu sei que a palavra "incomoda-me" é forte de mais...


A palavra "incomoda-me" é forte de mais. Mas acho estranho que de um momento para o outro, tenham crescido tantos comentadores e comentadoras de guerra, em todos os canais televisivos. São mais que os cogumelos...

E agora vem a parte sexista... Acho ainda mais estranho ver tantas mulheres a comentarem guerra, a falarem de armas e de tácticas militares, como se fossem autênticas peritas.

E até podem ser, mas...

Imagino que toda esta "sapiência" tem mais a ver com o "negócio", que com outra coisa. 

É provável que tenham pensado: "esta guerra é capaz de ser uma boa oportunidade para ganhar uns cobres." E depois devem ter ido ainda mais longe: "dizer o que o Milhazes e o Rogeiro dizem, é mais fácil que comentar futebol".

Eu sei que com as guerras não se deve brincar, mas de certa forma, é o que se passa nas nossas televisões, com o "desfile" diário de gente que adora dizer banalidades e falar de "marcianos"...

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda)


sexta-feira, abril 22, 2022

O Sonho das Minorias é Crescer, Crescer, Mas...


É perfeitamente legítimo que as minorias, quase sempre vítimas de qualquer coisa (em alguns países até da própria legislação...), onde o preconceito é a parte mais visível, queiram crescer, passar para a chamada "parte normal" da sociedade.

O mais importante para estas minorias é terem voz, poderem oferecer exemplos de como continuam a ser discriminadas, no meio do silêncio ensurdecedor da sociedade onde estão inseridas.

O que eu já não compreendo, é que quando a sua situação começa a "normalizar", cometam os mesmos erros de que eram vítimas. 

Ou seja, quando já se sentem em "terrenos confortáveis", com liberdade de acção, fazem com que os outros - diferentes -, se sintam a mais nos seus "mundos" (as feministas e os homossexuais são useiros e vezeiros nesta prática...). 

Mas nós humanos somos mesmo assim, rapidamente esquecemos que a igualdade é outra coisa...

(Fotografia de Luís Eme - Monte de Caparica)


terça-feira, dezembro 21, 2021

"A Memória das Palavras" (02)


No "universo" largo das ideias nós mudamos muito lentamente, ou então nem sequer mudamos. O mais curioso, é que nem sempre nos incomodamos por continuarmos a cometer os mesmos erros. Talvez seja por isso que ainda continuam a circular à nossa volta tantas citações de Eça de Queirós... que fingem ser actuais.

Um dos problemas mais graves do nosso tempo, é o medo e a desconfiança em relação ao outro, por ter uma pele de cor diferente, professar outra religião, ou simplesmente, por ser alguém que veio "de fora".

A chamada globalização mundial faz com que cada vez as pessoas aceitem menos um futuro de fome ou de guerra nos seus países e continentes e, partam para outros continentes, onde tudo parece ser melhor.

Manuel António Pina escreveu muito bem, sobre o "medo", na revista "Visão", de 19 de Outubro de 2006. Intitulou a sua crónica com um elucidativo "Vêm aí os mouros". Transcrevemos com a devida vénia os dois primeiros parágrafos:

«Contou-me quem assistiu que, um dia destes, numa igreja do Porto, quando o novo padre (de origem guineense) fez, na homilia, um apelo à paz e à tolerância religiosa e, para ilustrar as piedosas palavras, revelou aos crentes que toda a sua família era muçulmana, estes, na maioria mulheres e idosos, ouvindo pronunciar a palavra "islão", lembraram-se de repente que tinham deixado o jantar ao lume ou haviam ficado de ir buscar os netos ao infantário e, um a um, persignando-se, puseram-se rapidamente a milhas, não fosse o homem trazer alguma bomba debaixo da batina.
O episódio é revelador do medo que por aí vai, alimentado não só pelas imagens na TV da fúria da "rua" islâmica contra tudo o que mexe, Papa incluído, mas também pelos exemplos de cobardia que vão chegando da Europa "civilizada".»

Quinze anos depois pouco mudou. E houve coisas que até aumentaram, como a tal cobardia da Europa "civilizada", na forma como lida com as migrações e os migrantes...

(Fotografia de Luís Eme - Idanha-a-Velha)


domingo, dezembro 20, 2020

«Todas as profissões são dignas, desde que os seus profissionais sejam dignos»


Quando alguém nos diz que «todas as profissões são dignas, desde que os seus profissionais sejam dignos», a nossa primeira tendência é achar que não. O preconceito é tramado. A primeira profissão que nos surge no pensamento é aquela que estupidamente chamam "a mais velha profissão do mundo", a prostituição.

Temos dificuldade em olhar para esta profissão como mais uma, mesmo que seja tão antiga como dizem. Esquecemos que presta um serviço que pode ser tão importante como outro qualquer, que tenha a ver com a "limpeza" do corpo.

Fala-se quase sempre da "humilhação" e da "exploração" da mulher. Mas esse não é o problema da profissão em si, mas sim de todos aqueles que gravitam na sociedade, à espera de uma oportunidade para ganhar dinheiro à custa de alguém e que fazem desta (entre outras...) profissão quase um "lixo" social.

Durante o "Estado Novo" houve três alterações legislativas, na tentativa de "apagar" esta profissão do mapa, em 1949, 1954 e 1963. A partir de 1 de Janeiro de 1963, a prostituição foi mesmo proibida, assim como a assistência médica que era dada a estas profissionais. Esta proibição teve pouco efeitos práticos, apenas a tornou "clandestina", aumentando ainda mais a exploração do corpo da mulher, assim como o risco da transmissão de doenças sexuais aos clientes. Só vinte anos depois é que a prostituição foi legalizada, mas com muitas limitações, e com a hipocrisia do costume...

A frase-título deste texto foi dita por uma mulher que foi prostituta durante vinte anos (praticamente sempre na clandestinidade, de 1964 a 1884...). Teve a sorte de exercer esta profissão como se fosse um emprego, trabalhando durante o dia, quase sempre com clientes certos... Nunca teve nenhum "chulo", apenas uma Senhora que sempre procurou dignificar a profissão. A sua história de vida dava uma crónica com dezenas de páginas... mas apenas acrescento que aos dezassete anos ficou grávida de um dos senhores da casa de família para quem trabalhava. Não só foi expulsa do emprego, como foi abandonada à sua sorte pelos familiares mais próximos.

Foi graças a histórias como a desta mulher, que houve alguém, também "abandonada e com um filho nos braços", que se preocupou com este terrível destino feminino e tentou que tivessem uma vida quase normal. 

A "casa de meninas" onde sempre trabalhou ficava no centro da cidade e tinha letreiro e tudo. Era uma alfaiataria, com quatro "modistas" a tempo inteiro  (todas com carteira profissional...) e uma ama que tomava conta dos filhos das empregadas. A sala de entrada era exactamente igual a qualquer atelier de alfaiate, com modelos e casacos com provas e três máquinas de costura, que eram usadas pelas funcionárias nas horas mortas da tal profissão, que dizem ser tão velha como a nossa existência...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, fevereiro 18, 2020

Quando as Primeiras Impressões, vêm embrulhadas em "Papel de Preconceito" ..


O preconceito está  quase em todo o lado, especialmente dentro de nós (sim, habita dentro de cada um de nós, até dentro daqueles que dizem que não são preconceituosos ou racistas...).

Não é uma coisa do outro mundo, evitarmos uma pessoa apenas "porque sim". Mas ainda conseguimos ir mais longe, e mesmo sem a conhecermos, começamos logo à procura dos seus "defeitos". Isto tanto pode acontecer no nosso trabalho como na nossa rua.

Até que um dia, por um mero acaso qualquer, precisamos da sua ajuda. E do outro lado, além de recebermos o apoio necessário, este ainda vem com um sorriso.

E isso deixa-nos, no mínimo, a pensar...

Mas a única coisa que podemos e devemos fazer, é interiorizar que "as primeiras impressões" não nos devem merecer grande crédito. Faz-nos bem lutar contra o "preconceito", por que ele nunca é uma boa ajuda, especialmente quando lidamos com a diferença...

(Fotografia de Luís Eme - Corroios)

terça-feira, janeiro 21, 2020

Aprender a Viver a Cores na Sociedade


Nestes tempos em que estão a aumentar alguns "ismos", que não fazem bem nenhum à sociedade, nem a nós próprios, é importante reforçar, que todos nós temos inteligência, mais que suficiente, para saber que a nossa cor de pele é apenas mais uma das várias características físicas, que nos diferenciam uns dos outros.

Se por um lado, os "brancos", continuam a apontar o dedo à "diferença" e a querer deixar vincada a sua "supremacia", por outro, os "pretos", continuam a apostar na vitimização e a gostar de fazer o papel de "coitadinhos" e vitimas da sociedade.

Só quando conseguirmos viver "a cores" (abandonar de vez o "preto e branco"...) e deixarmos de parte os sentimentos de superioridade ou inferioridade, alimentados pela nossa cor de pele - de parte a parte -, daremos mais um passo em frente neste coisa que é viver em comunidade...

(Fotografia de Luís Eme - Cova da Piedade)

terça-feira, julho 16, 2019

A Gente "Bipolar" dos Hospitais...


Sempre que vou a consultas ao hospital público (quase sempre como acompanhante...), espero no mínimo uma hora, em relação à hora previamente marcada.

Como sei que muitos dos médicos (e enfermeiros) do serviço público trabalham também no privado, faz-me confusão esta sua "bipolaridade", ou seja a habitual falta de respeito pelos utentes do Serviço Nacional de Saúde, no não cumprimento de horários. Algo que curiosamente não se passa nas clínicas da CUF ou da Luz, onde muitas vezes nem cinco minutos tenho de esperar. 

Parece que esta gente quando está no serviço público, só têm direitos, os deveres são só para os outros...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)

quarta-feira, junho 26, 2019

Os Dias Grandes e os "Operários Europeus"...


Nestes dias grandes, em que às vinte e uma hora ainda é dia, sabe bem andar por aí pelas ruas. 

E por estes dias ainda temos a vantagem de o calor dos "quarenta" andar fugido um pouco mais para norte, ou seja, afastou-se ligeiramente dos povos do Sul do Mediterrâneo, que segundo os "operários europeus" (que passam o ano inteiro em férias no nosso país...), se escondem atrás do sol, para não fazerem nenhum.

Embora nós é que sejamos "alérgicos" ao trabalho, nunca percebi muito bem como é que milhões de pessoas por esse Mundo fora (e de todas as idades...) podem andar quase sempre de férias. Sei que a riqueza sempre esteve mal distribuída, mas mesmo assim, acho estranho ver tantos ingleses, alemães, holandeses, franceses, suecos e noruegueses (e fico-me por aqui), a quererem roubar-nos o nosso Sol, nas esplanadas ou nos degraus que se ergueram à beira Tejo...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

terça-feira, junho 25, 2019

As Patetices dos "Sabões"...


Só hoje é que li algumas notícias dos últimos dias, inclusive alguns artigos de opinião.

Embora saiba que Henrique Raposo de vez em quando escreve umas coisas parvas, ainda não tinha lido uma referência tão patética aos comunistas e aos concelhos onde têm sido poder (como são o caso de Almada, Seixal, Barreiro ou Loures) como a que ele escreveu no "Expresso", no passado sábado.

Quando alguém escreve: «E, já que estamos aqui, onde é que ficam os bairros de lata? Em concelhos ligados historicamente ao PCP. Porquê? Eu ajudo: o povo que vota PCP tem, digamos, uma relação complicada com ciganos e negros. Porque é que não se fala disto? O racismo, tal como o snobismo, é só da direita.»

Só alguém que desconhece a realidade - e que deve ter algum trauma de infância em relação ao comunismo e aos comunistas (talvez continue a pensar que eles "comem criancinhas"...) -, pode escrever uma barbaridade destas.

Estes bairros existem porque são a única possibilidade que muitas famílias - que vivem no limiar da pobreza -, têm de ter um tecto. Se têm crescido mais em concelhos comunistas, é por que os seus governantes entendem que só os devem destruir, quando conseguirem arranjar habitações suficientes para os realojar, com dignidade. 

Se por um lado as questões raciais não devem ser enquadradas apenas no "território" das ideologias, por que haverá gente racista, tanto na esquerda como na direita, por outro, quanto mais se apostar na justiça social, mais fácil será a integração das minorias, tanto nas escolas como nos bairros de concelhos como Almada, Seixal, Barreiro ou Loures. E eu não tenho dúvidas de que os habitantes destes concelhos fazem menos distinções sociais, que as gentes de outros concelhos, pequeno-burgueses.

(Fotografia de Luís Eme - Monte da Caparica)

quarta-feira, janeiro 30, 2019

A (Falsa) Superioridade Social...


A discussão em torno do "sermos ou não racistas", tem oferecido opiniões para todos os gostos.

Claro que somos um povo racista, e muito mais. Somos racistas, preconceituosos, machistas, feministas, classicistas, entre tantas outras coisas, pelo menos, sempre que nos dá jeito. Tal como os povos da maior parte dos países do mundo.

Mas o pior de todos os defeitos da nossa sociedade, é a pretensa superioridade social. Superioridade que assenta em coisas obtusas como o nome de família, o dinheiro que temos na carteira, a roupa que vestimos, o carro onde nos transportamos ou a casa onde vivemos. 

E somos tão pobres (até de espírito...), vítimas de tantas desigualdades, que a nossa grande aspiração (socialmente legítima...), é um dia sermos ricos...

Claro que esta "superioridade social" é quase sempre um artifício enganador, cuja aparência esconde as "misérias humanas" do costume, alimentadas sobretudo pelos jogos de mentiras e dívidas, que vão da mercearia do bairro aos bancos do costume.

Já vi um pouco de tudo isto, graças ao meu trabalho de investigador, entre o jornalismo e a história. Desde familiares falidos de antigos ministros de Salazar, que em pleno século XXI, ainda defendem uma espécie de "monarquia" (que infelizmente ainda se pratica em muitos sectores da nossa sociedade...), com a passagem dos cargos de pais para filhos, aos "novos ricos", preparados para comprar tudo o que lhes vem à cabeça - quase sempre com dinheiro sujo - menos carácter e dignidade (que além de não terem preço, são grandes empecilhos para os seus sonhos)...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)

segunda-feira, dezembro 17, 2018

O Nome do Pai (ou não)


O nome quase grande de uma deputada que também escreve em jornais, filha de um antigo dirigente do PS, já desaparecido, fez com que se falasse do uso (e abuso, segundo algumas opiniões...), ou não, do apelido dos nossos pais (quase sempre do pai, numa sociedade masculina como ainda é a nossa...).

Sem fugir do jornalismo, o mundo onde nos movimentamos melhor, conseguimos descobrir mais de uma dúzia de nomes de homens e mulheres, que escolheram o nome da mãe, para escaparem à "perseguição" do apelido familiar mais conhecido. E, naturalmente, também encontrámos outros tantos, que assumiram, sem qualquer problema, o nome do pai.

Como estava junto de nós alguém que escolhera o "nome da mãe", não foi preciso sairmos da mesa, para sabermos o porquê daquela opção. Confessou-nos que houve mais que uma razão. A tentativa de "fugir" do peso do apelido, no mundo dos jornais (o pai era um dos nossos bons jornalistas...), e também o não querer ser olhado como o filho de fulano, que só era jornalista por razões óbvias. E também quase como uma prova de emancipação, de querer caminhar pelos seus próprios pés (na época até pediu ao pai para não fazer publicidade...). Mas, curiosamente, a razão que teve mais peso na época, foi uma quase vingança. Naquele tempo ainda não tinha superado a separação dos pais, que aconteceu quando tinha apenas 13 anos (foi o pai que abandonou o lar e deixou de aparecer, com a regularidade que um filho precisa, praticamente todos os dias...). Quis muito ser o "filho da sua Mãe".

Hoje as coisas estão serenas. Mas não se arrepende nem um pouco da opção que tomou.

Soubemos por alguns exemplos dados que há quem decida ficar com o nome do pai, com orgulho e sem medos.

Percebemos que este tema será sempre pouco consensual. Porque quem escolhe o nome do pai, pode ser olhado como alguém que se está a colocar-se ao seu lado, não por uma questão de orgulho, mas sim de interesse profissional.  E quem não o escolhe, pode ser interpretado como alguém que se esconde e não assume as suas origens. E não como a tentativa  normal de querer caminhar pelos seus próprios pés...

(Fotografia de Luís Eme)

quinta-feira, julho 12, 2018

Somos Muitas Coisas que Escondemos...


Com os meus mais de cinquenta anos de idade, já vivi algumas coisas e observei outras mais, com as pessoas que vivem à minha volta, quer num círculo mais reduzido, quer num círculo mais largo.

É por isso que digo que somos preconceituosos, em relação a tudo o que é diferente de nós. Desde a opção sexual, à escolha religiosa, passando pela cor da pele... e por vezes, até com os nossos gostos políticos e desportivos...

É uma coisa histórica, sim. Há pequenas coisas que vêem de geração em geração. Ultimamente tenho-me lembrado bastante de que na infância, sempre que eu, o meu irmão, um primo ou um amigo se portava mal, uma das primeiras palavras que escutava em família ou na vizinhança, era "judeu". Palavra que comecei logo por interiorizar que era sinónimo de pessoa má...

Em relação à cor de pele, não senti tanto a "diferença", através de palavras. Provavelmente por viver numa cidade de província, em que os poucos negros que por lá viviam estavam integrados, normalmente jogavam bem futebol (uma das boas heranças sociais deixadas por um Espírito Santo, um Matateu, um Coluna e um Eusébio...). Ou seja, não existiam "guettos". E a palavra "preto" não tinha a carga negativa que mais tarde percebi ter...

Em relação à homossexualidade, havia um silêncio quase ensurdecedor, não era tema de conversa en casa, até por não existirem casos familiares conhecidos. No exterior, sim, os poucos assumidos que andavam pelas ruas (dois ou três), eram alvo de todo o género de piadas de mau gosto, e de muita risada.

É por isso que me faz confusão que colem aos portugueses o "selo" de não racistas, quando temos um historial tão feio, atrás de nós. E não é preciso ir aos tempos da escravatura, basta buscarmos exemplos ao nosso "império colonial", ainda tão próximo...

É por todas estas coisas, que não gosto nada desta mania que temos, de mostrar que somos umas "pessoas porreiras", escondendo, tantas vezes, o que  na realidade sentimos e pensamos.

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, fevereiro 20, 2018

Quando Ser ou não Ser, Deixa de ser a Questão...


Uma das melhores respostas à entrevista de Adolfo Mesquita Nunes, no "Expresso", em que ele tenta dizer, com a maior naturalidade, e quase sem palavras, que é gay. foi a crónica de António Guerreiro publicada no "Ipsilon" de sexta-feira.

E António começa o seu texto da melhor maneira: «Se eu fosse paneleiro - na verdade, ninguém pode garantir que eu não seja, não tenha sido ou não venha a ser - e ocupasse um cargo político nunca aceitaria o protocolo da confissão, dizer o que é se é àqueles que não o são. Não para manter o "segredo", mas para não me submeter à regra da autenticação pelo discurso da verdade, tão aplaudido pelos que acham que a sua verdade é diariamente autenticada pelas evidências.»

No nosso país (e no mundo...) há três formas de se viver a sexualidade das minorias: esconder e fingir que gostamos das mesmas coisas que os outros (a norma, pelo menos das figuras públicas...); publicitar, algo de novo e "moderno", ideal para quem gosta de ser notícia de jornal; e por último aquela que eu acho que deveria ser a mais normal, aceitar e viver com naturalidade, sem ter de dar explicações ou justificar o que quer que seja, neste campo.

Quem gosta muito deste tipo de notícias é a comunicação social (e a gente que as lê avidamente, que têm menos de "metro e meio de altura"...), especialmente as revistas e jornais que gostam de dar informação ao jeito de folhetins de novelas. Não foi por acaso que na última semana tanto se escreveu sobre o casamento de uma directora de programas televisivos, quase balzaquiana, com uma actriz de telenovelas, quase menina... Claro que se falou porque elas quiseram ser notícia, quiseram publicitar a diferença (há pelo menos duas razões para isso acontecer; quererem acabar com os cochichos e com os olhares de lado dos outros, por onde quer que elas passam; ou querer ter um casamento badalado nos jornais e revistas...).

Sei o que é isso, porque embora não frequente os lugares da moda, tive conversas mais que suficientes com pessoas que sempre quer podiam apontavam o dedo e diziam: «fulano tal é paneleiro, vive com o Manuel daquela loja de roupa esquisita, mas é um gajo porreiro.»

Vou continuar com António Guerreiro para chegar ao ponto que quero discutir: «Se eu fosse paneleiro e político - malditos pês, que afluem como em hora de ponta, salvo seja - ficaria sempre calado para não ser transformado num estereótipo do homossexual de Estado, a não ser que aspirasse precisamente a esta condição.»

Como não acho que a classe política seja de confiança, esta modernice (especialmente por vir do nosso partido mais conservador...), pode também ser estratégica. O CDS pode querer dizer ao eleitorado do centro-direita, que já não é um partido conservador e tem as portas abertas a todos os liberais do PSD, que não gostam da social-democracia, que parece estar de regresso a este partido.

Claro que - excepto a meia-dúzia de amigos mais próximos do dirigente centrista - nunca iremos saber, até que ponto Adolfo foi genuíno, ou não. Foi também por isso que me apeteceu escrever este texto...

(Óleo de Laurits Tuxen)

sábado, fevereiro 17, 2018

"O Senhor Amadeo" (e um "Convite" Especial...)

Hoje é dia da poesia e da fotografia nos meus blogues e na sede da SCALA, em Almada (a partir das 16 horas).

É também por isso que publico, com todo o gosto, um poema do meu caderno, "Praça Miguel Bombarda", e uma fotografia da minha exposição, "Arte com História e com Gente", no "Largo", no "Casario, "Nas Viagens" e na "Carroça" (aqui a fotografia foi substituída pela capa).

Por este ser o meu blogue mais mediático, escolhi uma fotografia, que pode entrar com facilidade na lista da "arte proibida" feita por pessoas que usam saias abaixo do joelho e cuecas de gola alta (homens e mulheres...) e que felizmente embeleza os museus de quase toda a parte (esta está no exterior do Museu do Chiado).

E foi a pensar na onde de puritanismo que nos rodeia que lhe dei o nome, "Convite"... E tem a companhia do poema "O Senhor Amadeo", que é uma homenagem a todos os artistas plásticos, de todos os tempos.


o senhor amadeo

escreve versos com cores
diz que é poeta de mão cheia
e de uns tantos amores

alguns dos companheiros
olham para os seus quadros
quase sempre espantados
não conseguem perceber
muito bem a sua linguagem
o que ele lhes quer dizer

amadeo não fica incomodado
diz apenas que é modernista
prefere a cor as formas
às fotografias pintadas
e se quiserem até lhe podem
chamar fantasista
ou até ilusionista

(Fotografia de Luís Eme)


segunda-feira, outubro 23, 2017

Um Falso Estado Laico...


Podia falar da Constituição, da igualdade de género, do facto de sermos um Estado laico, etc...

Ou então da sentença (mais falada no dia de hoje, até mesmo nos telejornais...) produzida por um juiz, que se deve ter enganado no tempo e pensado que estava em 1973 e não em 2017.

Juiz que também dá sinais de ter a "testa bem enfeitada", pela forma como abomina o adultério, ao ponto de citar a Bíblia e focar as sociedades que continuam a tratar a mulher como um ser inferior e a condenam à morte, por alegadamente trocarem de homem...

Mas o que é mesmo grave, é sentir que esta sentença retrata com justeza a nossa justiça, cheia de equívocos, de penas suspensas e de bandidos que passam o tempo a sujar as ruas da liberdade...

(Óleo de Eliot Hpdgkin)

quarta-feira, outubro 18, 2017

A Disponibilidade (ou não) para e pelo Desconhecido...

Não sei se é a idade, se é o facto de termos uma família.

Sei apenas que raramente estamos disponíveis para conhecer alguém de quem gostámos do ar, sem precisarmos de tirar algo dos bolsos. Querer logo saber quem é... (as mulheres ainda são mais assim)

Mesmo sabendo que as melhores conversas que se podem ter é com "desconhecidos", gente que não nos interessa saber quem é ou o que fazem... só nos interessa aproveitar o momento (claro que não estou a falar de um episódio sexual...), e falar sobre o que nos apetece, sem qualquer tipo de amarras... 

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, setembro 26, 2017

Uma Tragédia e a Recordação de um Olhar...


Ontem contaram-me uma história intensa, passada há muitos anos na Trafaria.

A personagem principal era um antigo futebolista do Belenenses, que depois de abandonar os estádios, voltou à sua antiga profissão, barbeiro, embora continuasse a treinar algumas equipas do Concelho, quando o convidavam.

Talvez por ser um homem educado, alguns pescadores da Vila começaram a insinuar que ele era homossexual e como devem calcular, a insinuação tornou-se boato e atingiu as proporções, que normalmente as coisas ligados ao sexo, atingem...

Como costuma acontecer nestes casos, a "insinuação" acabou por chegar aos ouvidos do protagonista, que atingido na sua honra, jurou vingança.

E foi o que aconteceu ao começo de uma das noites seguintes na Vila, quando munido de uma arma, bateu a uma porta, apareceu a esposa, a quem mandou chamar o marido. Assim que este se aproximou disparou a pistola à queima roupa e afastou-se, deixando o caído no soalho da casa. A segunda vitima foi um pescador que se preparava para ir para o mar, chamou-o e sem qualquer palavra, atingiu-o mortalmente. Houve ainda uma terceira vitima que encontrou na rua e deixou estendido no chão.

Depois regressou a casa, deitou-se na cama e deu o tiro final... 

Este episódio acabou por me recordar um homem com quem trabalhei, que me olhava de uma forma estranha e incómoda, tentando "despir-me com o olhar". Nunca se insinuou ou tentou alguma coisa. Simplesmente me mirava, como eu penso que miram, os homens que gostam de homens...

quarta-feira, maio 31, 2017

Mãos sem Pedras e Passos Trocados...

Nunca percebi muito bem o porquê, dos governantes do "bloco central" - mesmo sabendo que sempre foram bons a "destruir coisas" - decidirem acabar com serviço militar obrigatório, essa coisa chata, que "irritava" os meninos das juventudes partidárias, talvez por serem obrigados a sentir (pelo menos na recruta...), que eram quase iguais aos outros. Aliás, acho mesmo que aquele era o único sítio onde poderiam experimentar, muito suavemente, o que é ser cidadão da Coreia do Norte (pelo menos no corte de cabelo, no uso da farda e no tratamento pessoal...).

Graças a eles, agora os jovens passam de adolescentes a adultos sem experimentarem, pelo menos uma vez na vida, que têm de obedecer a horários e a regras, e que a graça de um espertinho pode dar direito a um castigo colectivo, reforçando mais uma coisa em desuso, que se chama "espírito de corpo", que na actualidade só poderá ser vivida na prática de desportos colectivos, onde a equipa é (ou pelo menos deve ser...) sempre mais importante que a "vedeta", que troca os olhos ao adversário.

E mais uma vez comecei a escrever e fui-me "perdendo"...

Quando pensei neste título queria escrever sobre a dignidade, o carácter, a sensibilidade e a honra (a autêntica, aquela que vive fora dos discursos...), que não são atributos da esquerda ou da direita, muito menos dos católicos ou dos muçulmanos. Está acima de todos os credos (ou pelo menos devia estar...).

O que eu queria mesmo era valorizar o exemplo militar, do tal espírito de corpo (mesmo que possa ser uma ilusão...), da importância que é darem-nos uma pedra, para sabermos qual é a nossa mão direita e a esquerda, para não andarmos de passo trocado. Era algo que nos iria servir para a vida toda. Só que nestes tempos, ninguém quer saber dessas coisas "chatas"...

(Fotografia de Johua Benoliel - o primeiro fotojornalista português)

domingo, maio 21, 2017

Jogos de Diferenças...


Um casal de meia idade que já não via há uns dias largos, quis saber coisas de mim e da minha família. Falei-lhes do último "pesadelo" cá de casa. O homem maduro disse: «O tamanho dos problemas revela-se sobretudo na forma com os enfrentamos.»

Eu sabia que era assim. Até por não ser muito melodramático em relação a tudo o que nos cerca.

A esposa argumentou que nem sempre era assim. Mas claro que era, e é. A forma de encararmos os problemas (sem fugir deles...) e de os tentar resolver da melhor maneira, ajuda sempre.

Quando vinha para casa pensei na minha capacidade de abstração (o que irrita muito boa gente...), do facto de raramente ficar a matutar nos problemas,  de tentar dar sempre um passo em frente.

Ao começo da tarde, antes do início da tertúlia em que estava envolvido, uma mulher veio-me com a história de que os homens só sabem fazer uma coisa de cada vez, dando como exemplo o marido. Respondi que por acaso eu consigo fazer duas ou três, mas nunca a dúzia das mulheres... deixando-a  em silêncio com cara de caso.

Mas acho que sim, temos várias características que nos distinguem. Esse facto de que tanto as orgulha, de fazerem muitas coisas ao mesmo tempo, também lhes altera completamente o sistema nervoso. E é por isso que não conseguem ultrapassar os problemas da mesma forma dos homens (sei que algumas dizem que isso acontece por irresponsabilidade, mas é muito mais que isso...).

Embora cada caso seja um caso, nestes "jogos de diferenças"...

(Fotografia de Robert Doisneau)

sexta-feira, março 24, 2017

As Penas das Galinhas e as Outras...


Muitas vezes é necessário escutarmos quem veio de fora, para olharmos  para a nossa realidade sem qualquer filtro: Mesmo que as suas palavras possam parecer "caricaturas", há por ali muitas coisas, mesmo pequeninas, que caracterizam essa coisa estranha que é ser-se português.

O Eric, cansado da mediocridade que o cercava, apontou a dedo a meia-dúzia de pessoas que fazia parte do "Coro dos Coitadinhos" e  andava com uma mão dada à "Senhora Inveja" e outra esticada, a ver se lá vai parar alguma coisa. Acabámos todos a sorrir, por conhecermos bem demais algumas daquelas "peças".

Por pudor ou cobardia,  nunca tínhamos feito um desenho tão aproximado daquela gente que andava sempre à espera que lhe fosse parar alguma coisa dos outros às suas mãos. Invejavam descaradamente o talento dos colegas, sem nunca se esquecerem de colocar a casca de ovo do Calimero na cabeça.

Aquela conversa foi despoletada pela utilização indevida de uma fotografia do Eric no "facebook", por uma "artista", que nem sequer se dignou a dar-lhe qualquer satisfação, como se não existissem direitos de autor nas redes sociais. O Eric não só a obrigou a retirar a fotografia, como lhe disse que roubar continuava a ser feio, mesmo que fosse um simples texto ou uma imagem, acrescentando que o que havia mais por aí eram cursos de escrita criativa e de fotografia. E era boa ideia inscrever-se, podia ser que aprendesse qualquer coisa.

A rapariga como era de choro fácil, em menos de nada fez o número da "coitadinha". Teve logo dois ou três colegas com lenços de papel a enxugarem-lhe os olhos e a destilarem "raiva" para cima do Eric, com vontade de o mandarem para a terra dele.

O Eric não foi em choros e disse que não estava a brincar. E quando ouviu os outros  falarem de pena, disse-lhes que não havia por ali nenhum galinheiro.

E eu, depois de toda aquela conversa, fiquei por ali a pensar na dificuldade que temos em chamar à razão quem não tem qualquer talento e se acha o "melhor do mundo" em qualquer coisa. Ou pior ainda, quem é capaz de usar o talento dos outros para proveito próprio, como foi o caso. Não sei se é do nosso sangue quente, sei que nos falta muitas vezes a frieza do Eric, para chamar alguns elementos do "Coro dos Coitadinhos" à razão...

(Óleo de Juan Gris)