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quinta-feira, novembro 21, 2024

Quando a esperteza (pouco saloia) consegue virar a justiça de pernas para o ar


Hoje foi dia de "São Sócrates", por passarem dez anos da prisão do antigo primeiro-ministro, transmitida em directo do aeroporto de Lisboa, pela televisão, alíás, pelo canal, que com o tempo se tornaria quase um órgão "oficial", do ministério público.

Hoje também foi dia dos juízes culparem a "defesa" de José Sócrates, por esta utilizar todos os expedientes, para atrasar, descredibilizar e "virar de pernas para o ar", a "Operação Marquês".

Mesmo quem acha que ele cometeu vários crimes durante a sua função governativa (é o meu caso...), sabe que tudo isto nasceu torto, alimentando a hipótese de dificilmente se endireitar, com o avançar do tempo... 

Pensamos que a prisão em directo foi o "primeiro tiro no pé" do ministério público, muito graças à acção de um "juiz justiceiro" (Carlos Alexandre, que ainda devia ter sonhos de ser um "super-herói", ao jeito da Marvel...), que apesar de fingir que se escondia das câmaras de televisão, sempre gostou de ser notícia.

Qualquer pessoa sabe que o "segredo" continua a ser a alma de qualquer negócio. E isso ainda se revela mais importante quando se trata de assuntos ligados ao crime e à justiça. E a grande probabilidade de todo aquele espalhafato, feito em redor da "primeira vez que se prendeu um primeiro-ministro",  com o tempo de revelar pernicioso para a própria justiça, tornou-se mesmo realidade.

E hoje assistimos à publicação de um artigo de jornal (no "Diário de Notícias"), escrito pelo próprio José Sócrates, em que este aproveita todos os deslizes do Ministério Público, para se declarar, mais uma vez, inocente e vítima da justiça.

Em relação ao "apontar do dedo" que a justiça faz à defesa de Sócrates, esta só fez o que lhe deixaram fazer (com  a tal esperteza, pouco saloia)...

Quem falou com sabedoria, foi a Ministra da Justiça. Era bom que todos os agentes da nossa justiça a ouvissem, e percebessem, de uma vez por todas, que são eles os principais responsáveis pelos atrasos nos processos e pela morosidade dos julgamentos.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, setembro 18, 2024

Portugal: o país onde a culpa normalmente "morre solteira"


Tenho lido e ouvido muitas críticas, que falam de "populismo" e de "demagogia", em relação ao discurso de ontem do primeiro-ministro.

Luís Montenegro disse que vão existir consequências sobre a catástrofe dos incêndios, que desta vão atrás dos culpados e dos muitos interesses instalados.

O "populismo" interessa-me pouco. Tenho medo é da "demagogia". Que o primeiro-ministro tenha dito todas estas coisas apenas para "inglês ver", e que amanhã ele e os outros governantes continuem a assobiar para o ar.

Quem está no terreno, sabe que mais de metade dos incêndios são provocados por "mão criminosa". Normalmente são ateados quase em simultâneo, e em zonas diferentes, onde há muito pouca probabilidade de surgirem devido a causas naturais.

E continua a existir muita incúria dos proprietários, que não limpam os seus terrenos, os seus pinhais e eucaliptais (inclusive o Estado...). Quando estes se localizam próximos de povoações ou de casas, têm de ser encarados como práticas criminosas, casos de policia. E nestes casos, também há responsabilidades públicas, tanto da parte das autoridades policiais como do poder local (Juntas de Freguesia e Câmaras Municipais).

Os "comentadores" televisivos agarram-se muito às alterações climáticas, como se elas fossem as grandes causadoras destes dramas, que vão destruindo o país. 

Continuo a pensar que somos nós, os grandes culpados da maior parte das tragédias. Sobretudo quando se trata de povoações. É notório que não fizemos o suficiente para as proteger (as imagens televisivas são o grande exemplo, mostrando-nos terrenos e matas por limpar, rente a casas e a aldeias...). Como escrevi anteriormente, muitos destes culpados têm rosto e nome.

Espero que o primeiro-ministro, (tal como as ministras da Justiça e da Administração Interna nas suas áreas de actuação...), não se fique pelos discursos, enfrente este problema, com seriedade e sem medo. 

Não podemos continuar a fingir que não se passa nada, com a culpa a "morrer solteira".

(Fotografia de Luís Eme - Beira Baixa)


segunda-feira, setembro 16, 2024

É mais um daqueles dias, demasiado quente e demasiado triste...


O que dizer, num dia como hoje? 

Nada, talvez seja a coisa mais inteligente. 

Não vale a pena continuar a insistir  com os "lugares comuns" do costume, muito menos repetir o retrato do país, que teima em manter os maus hábitos de sempre. 

É mais um dia, daqueles, demasiado quente e demasiado triste.

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


terça-feira, setembro 03, 2024

Parece que não chegam os "50 palhaços" que estão na Assembleia da República...


Embora seja importante descodificar estes "timings" que unem a justiça a alguma comunicação social, nos "tribunais populares", os factos falam por si, tal como o papel dos seus protagonistas...

Infelizmente, ano após ano, não conseguimos sair deste registo. A falta de sentido de Estado é notória na maior parte dos políticos que estão envolvidos em processos de privatização, com os privados a fazerem sempre o papel de "espertos" e os representantes do Governo de "parvos". Muitos, de parvos não têm nada (Miguel Relvas é um bom exemplo...), outros "assinam" em branco, sem terem percebido muito bem onde estão metidos (por impreparação e incompetência, talvez seja este o papel de Pinto Luz na privatização da TAP...).

O mais grave é esta gente do "bloco central" (há poucas diferenças entre PS e PSD nestas negociatas...) ainda não ter entendido a mensagem que lhes foi dada, por uma parte do povo português, quando quase gritou, "Já chega!", e abriu a porta a "50 palhaços" na Assembleia da República...

É triste esta gente não perceber que o mundo real fica ligeiramente ao lado do mundo onde vivem...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, agosto 21, 2024

O problema do nosso País não é o de não se querer trabalhar, mas sim o de existir trabalho a mais...


Já escrevi sobre isso mais que uma vez.

Talvez  a clareza não fosse a desejada...

No nosso país não existe mão de obra disponível para as necessidades da hotelaria, da restauração e da agricultura (mesmo que esta seja sazonal e deixe bastante gente sem fazer nada durante uns meses...). 

Utilizem os "fascistas" o discurso que quiserem (eu sei que é só conversa...), para ganharem os votos das pessoas pequeninas, que não só têm medo de "quem vem de fora", como os culpam de "todos os males do país".

Os capitalistas que alimentam os partidos de direita, são os primeiros a preferirem a "gente de fora" para as suas empresas, porque são sinónimo de mais exploração e mais lucro.

Quem enche a boca com a frase de que "os portugueses não querem trabalhar", devia olhar com olhos de ver para a realidade do nosso País, com uma população cada vez mais envelhecida. Pior que isso, é a relação cada vez mais desigual entre empregador e empregado, empurrando os nossos jovens mais qualificados para fora de Portugal, onde encontram trabalho mais bem pago e com melhores condições, e não a precaridade e a exploração, que são a marca deste país, cada vez mais miserável, que tem tudo para acabar mal, como de costume...

Só não vê quem não quer, que o problema actual do nosso país não é o de não se querer trabalhar, mais sim, o de existir trabalho a mais (em todos os sectores, da saúde à educação, passando pelos serviços...).

(Fotografia de Luís Eme - Caramujo)


sábado, agosto 10, 2024

"Arriscar", com e sem rede...


Quando o Rui disse que os portugueses, não são muito de "arriscar", tinha a nossa história, de séculos, contra ele (desde os descobrimentos, até à emigração, que tem sido - e continua a ser - uma constante na vida dos portugueses).

Talvez ele se quisesse referir aos "velhos do restelo", que não se ficam apenas pelo cais, e também aos muitos milhares de homens e mulheres, que permanecem por cá, acomodados na sua vidinha, normalmente com mais baixos que altos.

Depois ele explicou-se melhor, dizendo que custa pouco correr riscos, quando se tem muito mais a ganhar que a perder.

O engraçado, foi nós pensarmos no cidadão comum. Ele não. Estava a pensar nos nossos empresários, que raramente correm "riscos sem rede". Procuram quase sempre o "colinho" do Estado. E deu exemplos, sem excluir os nossos grandes grupos económicos, que são o que são, graças a situações quase de monopólio e aos negócios que fazem com os governos, pequenos e grandes.

Quando percebemos o seu ponto de vista, tivemos de dar a mão à palmatória, ele estava mais certo do que nós.

Não é por acaso que as grandes famílias que hoje dominam o nosso mundo empresarial, não são muito diferentes das que eram "donas do país" no Estado Novo...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, agosto 02, 2024

Ao contrário do país, eu não "fecho em agosto"...


Fizeram-me um pedido e lá andei, para trás e para a frente, ao encontro de portas semi-abertas ou fechadas, serviços a menos de "meio-gás" e funcionários que estavam ali, mas não estavam...

Não mudámos muito. E em muitas coisas, houve um tempo que melhorámos, mas na actualidade voltámos para a "cauda da Europa", que parece ser onde nos sentimos bem...

Claro que para as empresas e instituições com um número significativo de funcionários, o melhor é mesmo fechar as portas, porque é o mês em que "quase se pára" e também facilita o mapa das férias, não há chatices nem invejas, vai tudo de férias em Agosto e ponto final.

A senhora de cabelo claro abriu muito os olhos quando eu disse, que não me lembrava de "ter fechado em Agosto".

Virei costas e deixei-a a pensar, com cara de caso. Não lhe ia dizer que há muitos anos que faço férias em Julho, e que em Agosto tento contrariar a lógica deste "paraíso à beira mal plantado"...

Talvez em Setembro seja possível, encontrar o programa desejado por alguém...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


sexta-feira, julho 19, 2024

A expansão do "Algarve" dos "ingaleses" por este país fora...


Cada vez temos de ser mais criteriosos nas escolhas de restaurantes e noutros lugares de "estar", que apostam cada vez mais nos "turistas" (pelo menos é que os preços indiciam, tal como a qualidade dos serviços...). É também por isso que há muito tempo que não frequento restaurantes na rua Cândido dos Reis, em Cacilhas, onde os preços subiram e a qualidade baixou.

Mas isto já não acontece apenas em Lisboa (Cacilhas e Almada confundem-se com Lisboa...) ou no Porto. As grandes cidades parecem apostar cada vez mais no "dinheiro fácil", espalhando "passadeiras de cores berrantes" para quem vem de fora e esteja disposto a gastar dinheiro na restauração, na hotelaria, no património e na diversão nocturna.

É mesmo a expansão do "Algarve". Aquele Algarve do tempo em que quase só existiam listas nos restaurantes, escritas na língua inglesa. 

Estão todos esquecidos é de que esse Algarve, com as crises, teve de meter a "viola no saco" e voltar a ter listas escritas em bom português, porque se não fossem estes, a maior parte dos lugares virados para o turismo tinham fechado...

Os nossos governantes fingem esquecer-se do perigo que é para a nossa economia, esta cada vez maior dependência das receitas de turismo...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


terça-feira, junho 18, 2024

Agora é tempo do "país do futebol"...


Nós agora somos um país de muitas coisas, depende sobretudo da "moda" da semana ou do mês.

E a moda do mês de Junho (e Julho...) é o futebol. Não o dos clubes mas o das selecções. Por norma costuma ser mais pacífico, embora aconteçam sempre coisas estranhas, aqui e ali.

O que já não é estranho são as horas que todas as televisões lhes dedicam, nem tão pouco os comentadores, normalmente, treinadores, jornalistas ou antigos futebolistas. Pelo menos na área do "comentário da bola", não se vai buscar gente  de quem nunca ouvimos falar (como acontece com a guerra ou com a cultura da batata). 

Claro que, mesmo assim, junta demasiados motivos para desligar a televisão e voltar ao mundo sem futebol...

(Fotografia de Luís Eme - Boca do Vento) 


segunda-feira, junho 10, 2024

Camões do Tamanho de Portugal


Luís de Camões é, sem qualquer dúvida, o nosso grande poeta da história. 

Sei que há Fernando Pessoa, mas não nos devemos esquecer que Camões é do século XVI...

Por hoje ser aquele dia que é muitas coisas, até Dia de Portugal, a melhor combinação continua a ser o Dia de Camões.

E nada melhor que esta fotografia tirada na Feira do Livro, para homenagear o nosso Poeta, que além de excepcional vate, via melhor com um só olho que muito boa gente com dois...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, junho 06, 2024

Uma coisa é um coisa, outra coisa, é outra coisa...


Nas campanhas eleitorais devia ser proibido resolver (ou fingir que resolvem...) problemas, como aconteceu agora com a imigração.

O pior de tudo é a mistura que se faz de quem trabalha e tenta ter uma vida normal (a maior parte das pessoas que forma filas na AIMA...), e de quem vive "do ar", que tornou alguns largos e praças de Lisboa em pequenos parques de campismo clandestinos, sem quaisquer condições higiénicas ou de salubridade, e que têm tido a sorte de as polícias portugueses estarem mais preocupadas com seu o subsídio de risco que em cumprir as suas funções de segurança e fingem que não os vêm nas ruas (caso contrário muitos já tinham sido "deslocados" à bastonada)...

E quem é esta gente que "vive do ar"? São pelo menos dois tipos de pessoas: as que gostam de vagabundear, que encontraram em Portugal, um país onde reina mais a anarquia, que em Espanha, por exemplo (para não ir mais longe) onde muitas leis não são para cumprir e se finge que "está tudo bem"; e as que foram "contratadas" para trabalhos sanzonais (agricultura e hotelaria) e que quando deixaram de ser necessárias, foram abandonadas à sua sorte, acabando pro se deslocar para a Capital, porque há sempre a ilusão de que é mais fácil encontrar um trabalho qualquer por lá.

Estas situações não irão mudar, também por duas razões: os maus patrões vão continuar a explorar esta mão de obra barata, descartando-a, quando deixa de ser boa para o negócio; e qualquer pessoa poderá continuar a entrar no país, sem qualquer controle (a única vigilância com alguma eficácia faz-se nos aeroportos), por terra e mar...

O problema é que todas estas "misturas" só fazem com que aumente o racismo e a xenofobia entre nós, dando força a uma extrema-direita sem qualquer princípio humanista.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, maio 19, 2024

Uma viagem pelo interior (ir, vir e olhar...)


Na sexta-feira eu e o meu filho fomos (e viemos) à Beira Baixa, numa viagem quase relâmpago, pelas nossas estradas nacionais. 

Não tínhamos decidido se voltávamos no dia seguinte ou no próprio dia, porque levávamos mobiliário, que precisava de ser montado (claro que podia ser montado num outro dia qualquer... e foi isso mesmo que  acabámos por decidir).

Chegámos, abrimos as janelas todas, para que a casa fechada arejasse. Arrumámos as coisas, fizémos uma limpeza ligeira e enquanto comíamos qualquer coisa, trocámos algumas palavras e, sim, nada nos prendia ali, iriamos voltar para a estrada...

Durante a nossa pequena estadia  na aldeia cruzámo-nos com apenas duas pessoas nas ruas. Uma senhora saiu de casa apenas porque eu devo ter feito mais barulho do que devia ao colocar coisas no ecoponto.

Este é o retrato da maior parte das terras do interior. Pequenas localidades, quase abandonadas, que só ganham vida no Verão com o regresso dos emigrantes (de dentro e de fora...), que vêm à "festa" e ficam mais alguns dias, para dar alguma ocupação às casas que ficam fechadas o ano inteiro...

Não sei se existe alguma solução, para a maior parte delas. As mais bonitas e típicas vão tendo o turismo... que embora seja uma ilusão, pois finge apenas que lhes devolve a vida, transforma-as apenas em "museus" para "inglês (francês, espanhol ou português) ver... 

Mas a maioria nem isso têm. Irão caindo no esquecimento, que é a marca do nosso País, há largas dezenas de anos, que apenas parece saber viver perto do mar...

(Fotografia da Beira Baixa)


domingo, maio 12, 2024

Contacto directo com o conhecimento acelerado e ilusório (dos "antigos-modernos")...


Continuo a pensar que a leitura é fundamental para a compreensão do mundo que nos rodeia. 

Não vou ser "fundamentalista" e dizer que o facto de se lerem coisas menos profundas na actualidade leva a que se esteja menos aberto ao conhecimento. Até porque os números não enganam, anda-se mais tempo na escola e por muito que se passeiam os livros, alguma coisa fica dentro de nós...

Os problemas da nossa sociedade estão longe de ser dos jovens (não é por acaso que são quase os únicos que protestam contra o que não se faz para combater as alterações climáticas ou contra o genocídio de Gaza).

Num contacto familiar recente (com a parte mais afastada, a paterna...), achei curioso o facto de quase todos os meus tios e parentes mais afastados, com idades entre os 70 e os 80 anos, terem nas suas mãos um smartphone, que agora os ligava ao mundo, a todas as horas e minutos.

Sabia que a maior parte deles estudou apenas até à quarta-classe e nunca lera um único livro sem imagens (nem mesmo um dos meus...). E os únicos jornais que liam eram os desportivos, às segundas-feiras... Ou seja, nunca tiveram acesso a tanta informação como nos nossos dias. Informação que raramente questionam. Subentendi que uma boa parte deles - pelas conversas que circularam sobre o nosso país e os políticos -, eram potenciais votantes no Chega. Limitei-me a ouvi-los, sem ter a tentação de os "levar à razão" (as patetices eram quase uma banalidade...). Preferi ouvir e fazer as minhas constatações sociológicas.

Quando tive oportunidade falei com a minha mãe sobre este encontro (continua leitora, apesar dos seus oitenta e muitos...) e estivemos de acordo sobre as "lacunas culturais" destes familiares. Acabámos por ir mais longe, até por sabermos que este era um "mal geral" da população portuguesa, com mais de sessenta anos. Algo que ainda se nota mais nas pessoas que sempre viveram em meios pequenos. 

Como nunca aprenderam a "ler com olhos de ver" a realidade, muito menos a fazer as suas próprias análises críticas (sem auxiliares de memória), hoje ao lerem as notícias (bem "mastigadinhas"...) que fazem o favor de lhes enviar para os seus smartphones, sentem-se "homens novos", capazes de discutir, sobre tudo e mais alguma coisa. 

Noto que existe alguma inocência, misturada com "chica-espertice", na sua quase "fé", de que todas as notícias que lhes enviam "são verdadeiras"...

(Fotografia de Luís Eme - Barreiro)


sexta-feira, abril 26, 2024

Com amigos destes...


Acho curioso (mas não devia...) que os comentários mais cínicos sobre a escolha do nosso novo Sebastião, sejam de comentadores de direita (pois é, são a maioria, pelo menos nas televisões...), que não se esquecem de referir: "eu sou amigo dele, mas..." (há muito  por aí quem defenda que amigo não empata amigo, até na cobiça da namorada alheia...).

Temos a mania de que a célebre "dor de cotovelo" é mais portuguesa que universal. Manias... O que não há dúvida é que alguns comentadores com mais uns anitos que Bugalho, a escrever e a falar, aqui e ali, acham que também já deviam ter a oportunidade para dar o "salto" e encher os bolsos (ainda por cima este dinheiro é "europeu", vale mais...).

Mas a realidade é outra coisa. E posso dar um exemplo familiar: o único comentador de quem a minha mãe me falou nos últimos tempos é do "rapaz penteadinho e bem vestidinho", que é capaz de dizer as maiores barbaridades, com o ar mais sério do mundo (ela é socialista e continua a ter uma "adoração" pelo Costa...).

O mais curioso é a atenção que tem sido dada à "agricultura" nestes dias pouco pardacentos. Não se trata apenas do Marcelo ter chamado a Montenegro de "saloio" (mesmo que ele seja mais urbano e moderno do que o que o presidente pensa, esta escolha fala por si...), há também vários comentadores que foram buscar os "melões" (coitados, não tiveram um avô que lhes ensinasse a escolhê-los e devem comprar demasiados "pepinos" em forma oval...), para dizer que o jovem é uma "incógnita".

Sem cinismos, eu acho que se trata de uma boa escolha, pelo menos para quem quer ser segundo nas eleições...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quarta-feira, abril 24, 2024

Um medo generalizado, bem vivo no dia 24 de Abril de 1974...


Havia um medo comum, em quase todas as famílias, fossem elas muito, pouco ou nada politizadas, que se chamava Guerra Colonial. Guerra que se travava na Guiné, em Angola e Moçambique.

As mães eram quem mais sofria... porque raramente se escondiam atrás da honra ou do dever de todos (que nunca eram bem todos...) em defenderem a pátria. E quando viam os filhos aproximarem-se da idade maior, a dor aumentava, porque sabiam que existia uma forte possibilidade, deles terem de cumprir o serviço militar obrigatório no Portugal Ultramarino... que se estendia até Timor (foi para onde foi o Henrique, irmão do Fernando, um dos nossos melhores amigos de infância).

Nunca falei disto com a minha mãe. Mas nós éramos demasiado novos, para que ela começasse a antecipar o futuro. Eu tinha apenas onze anos e o meu irmão treze, em Abril de 1974.

Claro que este medo não desapareceu logo no dia 25 de Abril, porque até pelo menos, ao final de 1975, os nossos soldados continuaram a viajar para África (e a "morrer pela pátria")...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, abril 13, 2024

Como dizia o Poeta Eduardo: isto está tudo ligado (e está mesmo...)


Não deixa de ser curioso, que sejam muitos destes liberais, empresários e gestores, que se dizem defensores da "família tradicional" (há a possibilidade de as suas teorias serem só para os condomínios de luxo onde vivem, desgostosos por oferecerem às esposas todas as condições para lhes darem "um magote" de filhos, e elas não estarem para aí viradas...), quem mais tem contribuído para o empobrecimento da maior parte das famílias portuguesas, pagando ordenados miseráveis aos seus "colaboradores", ao mesmo tempo que lucram milhões.

São eles, os defensores e grandes beneficiados deste capitalismo selvagem (com a tal capa do "liberalismo"), que tem desregulado todos os sectores da nossa sociedade, com a teoria de que o "mercado tudo conserta" (mesmo que cada vez existam mais pobres e miséria à sua volta...), quem mais têm contribuído para que cada vez seja mais complicado constituir famílias (tradicionais ou das outras) e deixar descendentes. Com ordenados baixos, casas caríssimas no mercado, o mais sensato continua a ser dar ouvidos ao "apresentador da obra" em causa, que há uns anitos aconselhou os jovens a emigrarem...

Podem escrever os livros que quiserem, mas se continuarem a pensar apenas nos cinco por cento, que têm rendimentos que lhes permitem alimentar o sonho de ter, no mínimo, um número de filhos que lhes dê o prazer de formar uma equipa de "futebol de cinco", continuam a reduzir o mundo aos seus condomínios fechados, ao mesmo tempo que "expulsam" os nossos jovens para fora do país...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, abril 06, 2024

Um Outro País, a 6 de Abril de 1974...

Vou regressar ao Portugal de antes de 25 de Abril de 1974, demasiado pobre e atrasado, em todos os sectores da sociedade. 

Hoje vou falar da educação. Posso começar por falar da separação que existia de sexos, das aulas só para meninas e das aulas só para meninos, assim como os respectivos recreios... mais ao jeito de curiosidade, que de outra coisa.

A taxa de analfabetização em 1974 ainda ultrapassava os 25%, um quarto da população (há quem fale numa taxa maior, porque nestas estatísticas era contabilizada a frequência escolar, mesmo que este fosse irregular e os alunos não tivessem os conhecimentos mínimos, na arte de ler e escrever...), com maior incidência no sexo feminino (superior a 30%). Mas esse nem era o problema mais grave. Até se tinha vindo a reduzir, ainda que lentamente, ao longo dos anos...

Só que quanto mais se subia, mais o número de alunos encolhia...

O número de estudantes formava uma verdadeira pirâmide, desde o primeiro ano (primeira classe) até ao ensino superior, que só estava acessível às classes mais privilegiadas, economicamente.

A maior parte das crianças ficavam-se pela quarta classe, especialmente no interior, onde escasseavam os liceus e as escolas técnicas nas Vilas e Cidades da maior parte dos distritos. Apesar da obrigatoriedade de todas as crianças frequentarem o ensino primário, imposta nos anos 1960, não se conhecem exemplos de qualquer tipo de penalização, para os pais que colocavam os filhos a trabalhar desde tenra idade, em vez de estudarem...

Se em algumas aldeias, as crianças para puderem ir à escola tinham de percorrer distâncias, por vezes superiores a dez quilómetros (só existiam escolas nas sedes de freguesia...), em relação ao ensino secundário, tudo piorava. Quem morava em Aldeias e Vilas mais afastadas, chegava a ter de percorrer distâncias entre os 20 e os 50 quilómetros, o que era um convite ao abandono escolar...

(Fotografia de Luís Eme - Foz do Arelho)


quarta-feira, abril 03, 2024

Um Outro País, a 3 de Abril de 1974...


Nem sei por onde começar.

O País que existia a 3 de Abril de 1974, não tem nada a ver com este, em que vivemos, em 2024.

Onde se notavam mais diferenças era nas Aldeias, especialmente as das regiões do interior. Era um mundo vivido "à luz do candeeiro e à água do chafariz". Do saneamento básico nem vale a pena falar, porque só chegou a algumas aldeias, e já no século XXI...

Mesmo na aldeia dos meus avós maternos, que ficava a apenas a cinco quilómetros das Caldas da Rainha, já existia electricidade antes da Revolução, mas não em todos os lares. Como o meu tio Zé, estudava electricidade, na escola técnica, assim que esta apareceu em Salir de Matos, ele fez logo a instalação e passámos a ter "luz" (deve ter sido alguns anos antes do 25 de Abril, porque eu não me lembro da casa dos avós sem lâmpadas...), Mas recordo-me de visitar algumas casas de outros familiares (afastadas do centro da Aldeia) e de não existir luz eléctrica. Adorava o espectáculo proporcionado pelos candeiros a petróleo, com verdadeiros jogos de sombras  refletidos nas paredes, graças aos nossos movimentos. Sei que andava sempre de um lado para o outro com o meu irmão a ver a nossa sombra a crescer e a diminuir nas paredes (quando somos crianças brincamos com tudo...).

A água canalizada só deverá ter chegado a todas as casas, já nos anos noventa do século passado. Isso até se percebe, por o Oeste ser uma zona muito rica em água e quase toda a gente ter um poço. 

É curioso, que o chafariz onde se ia buscar a água para beber, da bica, com cântaros, hoje tenha um aviso, de que aquela água não e tratada e recomenda-se que não seja bebida,,,

Em relação ao saneamento, também deverá ter chegado nos anos noventa à aldeia, mas uma boa parte das casas, ainda mantêm o velho sistema da "fossa" (uma espécie de poço...).

Mas se falar da aldeia dos meus avós paternos, na Beira Baixa (Zebras), as coisas mudam de figura, para pior. Lembro-me, já depois do 25 de Abril, de a electricidade ainda não ter chegado. Havia uma única televisão na aldeia,  no também único café existente, que tinha um gerador para lhe fornecer energia... 

(Fotografia de Luís Eme - Salir de Matos)


terça-feira, abril 02, 2024

A Gente Boa de Abril e de Almada


Cresci numa cidade conservadora, que nunca se livrou (por vontade da maioria das pessoas que votavam...) do domínio da chamada direita democrática (PSD). Mesmo hoje é governada por um movimento independente, cujo presidente é um "dissidente" dos sociais democratas. Embora tenha sido uma "lufada de ar fresco" não se podem esperar rasgos demasiado revolucionários na sua governação.

Falo de Caldas da Rainha. A minha ligação à prática desportiva desde cedo fez com que passasse ao lado de muitas coisas. Mas aquela mania de querer "mostrar aos outros", o que se tinha e não tinha, sempre me fez confusão à cabeça. Sim, ter vontade de fazer uma casa com mais um divisão ou comprar um carro mais caro, que o familiar, vizinho ou até amigo (é uma maneira estranha de se ser amigo, mas acontece...), só para mostrar que tinha subido mais um degrau da tal "escadaria social", como se isso fosse a coisa mais importante do mundo.

Felizmente foi possível partir aos dezoito anos para a Cidade Grande, viver os meus primeiros tempos com um casal solidário e amigo, cuja formação superior não os desviou das preocupações sociais, de olhar os outros, nem de sentir que o País se começava a desviar de uma forma significativa do sonho de Abril...

O Zé e a Elisete foram muito importantes para uma ainda maior consciencialização política, e para o bom uso que se devia fazer da liberdade individual. Embora os meus pais fossem de esquerda (tal como eu perdiam as eleições todas nas Caldas...), não tinham a cultura social e política dos primos.

Mas a grande mudança deu-se quando eu tinha 24 anos e escolhi Almada como o meu porto de abrigo. Em pouco tempo, senti logo que pertencia aquela gente, sem preconceitos e manias de grandeza. Por ser governada pela CDU, a cidade tentava resistir (e conseguiu por alguns anos...) ao cavaquismo e ao mundo dos "novos-ricos", que essa figura tão bem caricaturada como "múmia", trouxe para o poder.

Apesar das muitas transformações do País, a gente de Almada que tive o prazer de conhecer, era a minha gente. As pessoas que trato orgulhosamente pela "Gente Boa de Abril".

Não as vou enumerar, até porque são bastantes as pessoas que me ajudaram a ser um melhor ser humano e cidadão. Gentes que valorizavam sobretudo os valores colectivos e que continuavam (e continuam...) a sonhar com o "País de Abril"...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


segunda-feira, abril 01, 2024

Bom dia Abril!


Há meses que achamos que são melhores que os outros, por razões várias. A escolha prende-se quase sempre com o clima. Depois há um ou outro caso, que se prende com acontecimentos, com memórias, e até mesmo com o mês em que nascemos.

É por isso que se eu dizer que Abril e Maio são os meus meses preferidos, é quase um lugar comum. Quem gosta de vida, de cor, de cheiros, dos campos, tem de gostar destes dois meses únicos (nem as alterações climáticas ainda lhe conseguiram roubaram algumas características muito próprias).

Abril tem ainda o atractivo de ser o mês da nossa Revolução mais recente, que comemora 50 anos daqui a pouco mais de vinte dias. É por essa razão que lhe irei dar uma atenção especial, com regressos ao passado, comparações que poderão ser uteis para quem "tem pouca memória" e passa o tempo a dizer mal de tudo (sem se preocupar muito em dar a sua pequena contribuição para que sejamos um País melhor...).

E é por isso que digo: bom dia Abril!

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda)