Provavelmente tenho perdido algumas oportunidades na vida, por não correr muito atrás das coisas, por não andar a bater em "portas", que normalmente estão fechadas (e é preciso insistir, ser chato...). Talvez continue iludido que além do talento, a sorte manda muito no mundo das artes, mesmo sabendo que não é bem assim (empurrão daqui, empurrão dali, são a sorte de muita gente...).
Mas pelo menos ando com os pés no chão, olho para o mundo de frente, sigo o meu caminho, sem curvas e contracurvas, e não só consigo, como gosto de sorrir para as coisas simples.
Não sei se algum vou escrever um grande livro, se vou ter mais leitores do que esperava.
Sei apenas que não vou deixar de olhar para o mundo com a minha visão peculiar, nem prender os dedos da mão, quando sentem aquela vontade enorme de escrever (sim continuo a escrever em papeis (guardanapos, talões de multibanco, recibos de compras - o que está no bolso) porque as ideias surgem-me por todo o lado.
Às vezes pergunto-me: «o que andas à procura?». E não sei responder. Provavelmente de nada. Escrevo apenas porque gosto, escrevo porque preciso, escrevo porque quero ser melhor amanhã. Sim, a busca da perfeição também é uma constante na vida, por mais imperfeitos que sejamos...
Não sei se escrever é um dom. Sei que não aprendi a escrever (com a imaginação) em escola nenhuma. Nem venho de uma família de "artistas". A rua e as pessoas continuam a ser minha melhor a "escola" e a grande fonte de "inspiração".
O óléo é de Alice Brueggermann.