quarta-feira, agosto 27, 2008

O País Nos Jornais de 24 de Abril de 1974

Afinal parece que não se passa nada, no nosso país. São apenas alguns bandidos que resolveram passar férias em Portugal. A meados de Setembro volta tudo ao normal...

Era assim no tempo da outra senhora, graças ao exame prévio nunca havia notícias demasiado tristes ou aterradoras. Foi por isso que me apeteceu viajar na máquina do tempo e amenizar as últimas notícias de violência.
Não sei por onde começar, talvez por Loulé:
Três guardas da GNR, viram-se cercados por dezenas de meliantes, que os tentaram agredir. Contudo, os três elementos da força policial nunca baixaram os braços e resistiram às provocações, sem dispararem um único tiro, até chegarem os reforços necessários para impor a ordem e prenderem os insubordinados.
Agora as duas bombas de gasolina na margem Sul:
Três indivíduos encapuçados assaltaram duas bombas de gasolina na Margem Sul. A situação anormal foi prontamente controlada pelas forças policiais que montaram um cerco na região, estando por horas a sua detenção.
Volto ao Algarve, para falar do turista alemão baleado:
Um individuo perturbado tentou assaltar um turista alemão de meia idade, que resistiu ao assalto, percebendo o amadorismo do assaltante. Infelizmente o nervosismo do bandido fez com que este disparasse a arma e ferisse a vitima. A polícia local já está no encalço do bandido, que não terá muitas alternativas, senão entregar-se.
E por fim, os três bancos assaltados na Capital:
Aproveitando o período de férias e o menor movimento nas ruas, registaram-se três assaltos a bancos na grande Lisboa. Estes pequenos incidentes não registaram actos de violência nem foram muito bem sucedidos, já que as caixas estavam com muito pouco dinheiro e os assaltantes estavam com pressa, preocupados com a habitual prontidão da PSP.
Conclusão? Provavelmente, se ainda existisse exame prévio, estas notícias nem sequer seriam publicadas, mesmo depois de "trabalhadas". E sentíamos-nos mais seguros nas ruas, graças aos nossos polícias e aos nossos governantes. Só que a realidade não se deixa construir, como a ficção...

segunda-feira, agosto 25, 2008

Três Dias Depois...

Nunca é tarde para recordar, muito menos três dias depois...

Não estou a falar do Chiado, que está bem e recomenda-se, vinte anos depois do incêndio.
Estou a falar sim de Henri Cartier-Bresson, um dos grandes fotógrafos do século XX, porque no dia 22 de Agosto de 2008, comemorou-se o centenário do seu nascimento.
Ele um dia disse, sobre a sua arte:
Para mim a fotografia é o reconhecimento simultâneo, numa fracção de segundo, do significado de um acontecimento e da organização exacta das formas que o expressam.
Esta sua foto, "Leitura da Actualidade", tirada em Pequim, em 1948, também poderia ter sido postada no dia 19 de Agosto, Dia Mundial da Fotografia...

domingo, agosto 24, 2008

Os Limites Humanos

Os Jogos Olímpicos podem ser analisados de várias formas e terem várias leituras, mas mesmo as transversais, não podem passar ao lado dos fenómenos humanos.

Se por um lado os Jogos continuam a funcionar como um pólo de desenvolvimento da Sociedade onde estamos inseridos, ainda que com uma predominância local, como aconteceu agora em Pequim, por outro, dizem-nos que ainda estamos longe de estabelecer limites em relação à capacidade de superação dos atletas.
Não sei se antes do início da competição era possível encontrar muitas pessoas que tivessem levado a sério a promessa de Michael Phelps, de superar as sete medalhas de ouro de Mark Spitz, dos Jogos de Munique de 1972. Eu não acreditava mas Phelps conquistou mesmo oito medalhas de ouro...
Tal como também não achava possível que um jovem jamaicano de apenas 22 anos, Usain Bolt, ganhasse três medalhas de ouro na velocidade (100, 200 e 4x100m) com outros tantos recordes mundiais e olímpicos e com uma vantagem "anormal" sobre os adversários directos...
Estes dois exemplos são a prova de que continua a ser difícil estabelecer os limites humanos, a nível físico e até psicológico, com ou sem apoio genético.

sexta-feira, agosto 22, 2008

A Idade da Inocência (2)

Não estava à espera de ser apelidado, ainda que sorrateiramente, de foleiro e piroso, por fazer "posts" sobre os nossos campeões que têm andado pela Olímpia, que "acampou" em Pequim, na terra da gente dos olhos em bico, que adora iguarias como o escorpião e onde não deve existir espaço para cães vadios...

Sorri de satisfação, por não conseguir atingir o patamar intelectual de algumas "prima-donas", alérgicas ao sucesso da Vanessa e do Nelson, que olham para o desporto como algo com sabor a torresmos ou curatos.
Pena que a Telma e o João Rodrigues, e claro a Naide, não tenham subido ao pódio, para me fazerem escrever sobre histórias momentâneas que fazem dos portugueses gente feliz, com sorrisos e lágrimas de emoção...
Talvez por ser "piroso", é que envio aqui do Largo, um forte abraço para o Marco Fortes e para a Vânia Silva, lançadores e recordistas nacionais do peso masculino e martelo feminino, que aprenderam como ninguém, que não se pode ser apanhado na "idade da inocência" olímpica...
O atleta da fotografia é o americano Bob Mathias, que se sagrou Campeão Olímpico do decatlo - uma das provas mais difíceis do calendário olímpico e que define o atleta mais completo do atletismo -, com apenas dezassete anos, nos Jogos Olímpicos de Londres, em 1948. Bob também foi o primeiro campeão olímpico na "idade da inocência", nesta modalidade. Ficou conhecido como o "invencível", pois nunca perdeu uma prova, embora se tenha retirado precocemente, com apenas vinte e dois anos, depois de repetir o Ouro Olímpico em Helsínquia...

quinta-feira, agosto 21, 2008

Mistérios da Memória

Pensamos em tanta coisa, sem termos uma explicação. Foi o que me aconteceu, quando comecei a pensar que a memória (de cada um de nós) é algo demasiado pessoal e selectivo.

Há quem recorde as coisas ao mais infimo pormenor, mesmo fisicamente. Conseguem ficar presas pela recordação de um olhar, um sorriso, um braço, um peito, um umbigo ou outra parte do corpo mais intima...
Outras pessoas prendem-se a lugares, conseguem viajar no tempo por caminhos e espaços que ficaram cravados na memória, por razões quase sempre felizes...
Mas há muito mais, há até quem memorize números e seja capaz de guardar quase uma lista telefónica ou os aniversários de toda a família...
É por isso que a memória é um mistério...
Eu fixo-me mais pelos lugares, por pormenores aparentemente simples, que ficaram guardados, sabe-se lá porquê. Sou um pouco distraído em relação a aspectos mais intimistas e sou péssimo em números.

quarta-feira, agosto 20, 2008

Uma Guerra Pouco Fria

O "filho da putin" e a sua marionete, que o Rodrigues dos Santos chama qualquer coisa como "metviediv", querem voltar a fazer "braço de ferro" com o mundo.
A Geórgia e os seus habitantes são as primeiras vitimas nesta nova fase do Kremlin.

Pergunto: porque será que esta gente nunca escolhe ninguém do tamanho deles, para se armarem em "grandes"? Fazem-me lembrar os putos cobardes dos recreios das escolas que escolhem sempre como vitimas os mais pequenos e inofensivos...
O mais grave é vermos que o resto do mundo continua a assistir de camarote, a este novo "medir forças", a acreditar na retirada falaciosa...
Provavelmente os russos já têm saudades de brincar aos "indios e cowbois" com os americanos...

O desenho do Rui, dos seus bons tempos da "Visão", explica um pouco a filosofia dos russos, que devem achar que as centenas de milhares de desalojados da Geórgia, é que são os fora-da-lei...

terça-feira, agosto 19, 2008

O Brio e o Profissionalismo

Incomodam-me as palavras dos "vicentes mouras" e de outros dirigentes desportivos, que à boa maneira portuguesa, se agarram aos lugares nas federações, associações e clubes como "lapas", onde permanecem décadas, sem conseguirem alterar as mentalidades, a política desportiva, os apoios e até a forma com que se preparam os Jogos Olímpicos e as outras grandes competições.

Falou de brio e profissionalismo. E falou muito bem. E é esse brio e profissionalismo que falta à maior parte dos dirigentes desportivos portugueses, que só se preocupam se está tudo bem, quando é necessário "inventariar" a participação portuguesa, alguns meses antes da partida, composta quase por tantos dirigentes e treinadores como atletas... eles sim, os verdadeiros "turistas" de ocasião.

Há treinadores em Pequim que nem sequer têm responsabilidades técnicas. Todos os portugueses devem ter ouvido as queixas dos dois atletas do remo, que alcançaram um histórico oitavo lugar, mas que não contaram com o apoio do seu técnico durante a competição, porque o lugar na comitiva já estava ocupado pelo responsável federativo...

É preciso de uma vez por todas definir objectivos. Se só querem levar atletas com possibilidades de ganharem medalhas e serem finalistas, tornem os mínimos mais rigorosos. Claro que quando fizerem isso, há modalidades que deixam de estar presentes com atletas, assim como os seus respectivos dirigentes e treinadores.
E esta é a melhor forma de se acabarem os "passeios" aos Jogos, principalmente de muitos dirigentes...
Claro que isso não vai acontecer, porque eles não querem perder esta oportunidade, de quatro em quatro anos, de conhecerem mais mundo e de falarem de brio e profissionalismo, quando lhes colocarem um microfone à frente...

O boneco do António mostra-nos o popular Zé, "Ziguezagueando"...

segunda-feira, agosto 18, 2008

A Prata de Vanessa Vale Ouro

Vanessa Fernandes conquistou a primeira medalha portuguesa em Pequim, com mais uma excelente prestação na prova de triatlo.
Com muito suor, garra e espírito de sacríficio conseguiu a segunda posição numa das provas mais duras do programa olímpico.
Parabéns para a Vanessa, para a família e para o seu técnico, que têm estado sempre a seu lado, nas vitórias e nas derrotas.

sexta-feira, agosto 15, 2008

Uma História com Sessenta Anos...

Os Jogos Olímpicos de 1948, disputados em Londres, foram um marco importante na época, porque houve um esforço enorme para fazer desaparecer os destroços da Segunda Guerra Mundial.

A nossa participação foi a melhor de sempre, até então.
A dupla de irmãos, Fernando e Duarte Bello, conquistaram a nossa primeira medalha de prata, na Vela, apesar das muitas contrariedades, onde também se pode colocar a "fuga" da medalha de ouro, nas contas finais...
Fernando e Duarte partiram para esta aventura Olímpica com um barco emprestado (que se pode ver na imagem) e foram inscritos numa classe que nem sequer conheciam...
O seu talento, e claro, alguma sorte à mistura, fizeram com que vencessem a primeira regata da competição. Este resultado deu-lhes uma excelente moral e nunca mais abandonaram os lugares cimeiros ao longo das regatas.
É importante salientar que a medalha de ouro só lhes escapou na "secretaria", já que no fim da competição, os portugueses foram dados como vencedores, mas o coro de protestos e influências britânicas, acabaram por colocar a Inglaterra em primeiro lugar e Portugal em segundo (uma história a fazer lembrar a meia final do Campeonato do Mundo de 1966, em que o árbitro também deu um empurrãozito aos ingleses, para chegarem à final...)
Nunca percebi a razão de os países da "casa" (como é o caso da China, agora), precisarem de ajuda, para mostrarem a sua força, através do desporto. A Telma Monteiro, no final de um dos seus combates com uma chinesa, colocou mais uma vez o dedo na ferida.
Sem querer ser polémico, não existem dúvidas que há coincidências do arco da velha e dezenas de histórias conhecidas muito pouco Olímpicas, ao longo de mais de um século de Jogos...

quarta-feira, agosto 13, 2008

O Factor Sorte...

Numa das últimas conversas de café (desta vez não me apeteceu transformá-la em diálogo...), o factor sorte nas provas olímpicas saltou para a mesa.
Os meus companheiros de "tertúlia" mostravam algum desconforto por sentirem que o factor sorte era bastante importante na obtenção de resultados desportivos.
Lembrei-me logo de uma frase de Moniz Pereira, que dizia mais ou menos isto, que a sorte dava imenso trabalho...
Ou seja, há uma grande confusão no conceito "sorte". Claro que todas as modalidades desportivas enfrentam os chamados imponderáveis (condições atmosféricas, local da prova, acidentes de percurso, etc), mas quanto melhor os atletas estiverem preparados, melhor resposta darão a todos esses elementos, que se confundem com o tal factor sorte...
Claro que há modalidades que lidam mais com a dita "sorte" que outras. A Vela é uma delas, por ser disputada ao ar livre e estar dependente das condições atmosféricas do momento, e por isso mesmo, também das opções certas ou erradas dos navegadores...
Claro que isso não explica tudo, mas nestas competições de alto nível (e em todas...) anda-se no limite, correm-se demasiados riscos, que nos podem colocar nos primeiros ou nos últimos lugares...

Embora o quadro de Alfredo Keil esteja um pouco fora do contexto, a sua beleza acabou por ser determinante na escolha...

domingo, agosto 10, 2008

A Incompreensão "Olímpica"...

Telma Monteiro foi a primeira verdadeira candidata lusa a sucumbir na "lotaria" das medalhas...
Espero que os jornais e os jornalistas não a "massacrem", e percebam, que se há alguém triste e desiludido com o nono lugar alcançado, é ela...
Estas histórias de incompreensão desportiva, levam-me sempre a pensar no Fernando Mamede, um dos melhores atletas de sempre do nosso país, que foi inclusive recordista mundial dos 10.000 metros e imbatível durante algum tempo nas principais competições mundiais de atletismo, se ignorarmos os Campeonatos da Europa, do Mundo e Jogos Olímpicos.
Nestas competições acusava de tal forma a responsabilidade da conquista de uma medalha, quase exigida pelos portugueses, que ficava sempre aquém das expectativas, por não aguentar a pressão...
Se Mamede tivesse contado com o acompanhamento psicológico que existe na actualidade, acredito que a sua carreira teria sido diferente.
Quando me lembro das reacção dos jornalistas e de muitos portugueses (até lhe destruíram a loja na Avenida de Roma...), pergunto, como foi possível que um atleta com tanta qualidade e capacidade de trabalho, fosse tão incompreendido, especialmente pela comunicação social, nesses tempos muito pouco especializada e esclarecida em relação a tudo aquilo que era marginal ao futebol no mundo do desporto...
Para Fernando Mamede, para a Telma e para todos aqueles que sonham com medalhas (que eventualmente lhes escaparão, pois só existem três por competição...), o meu abraço de companheirismo e agradecimento, pelo muito que têm feito pelo desporto português.
A fotografia que ilustra este texto é de Fernando Mamede, abraçado ao seu treinador de sempre, Moniz Pereira, uma das poucas pessoas que sempre o compreendeu e tentou proteger, ao longo da sua carreira, depois de ter batido o Recorde do Mundo dos 10.000 m.

sexta-feira, agosto 08, 2008

Começaram os Jogos...


Gostei desta ideia da "Omega"...
Agora que venham as competições e as medalhas.
Era bom que os portugueses colocassem os adversários com os olhos em "bico"...

terça-feira, agosto 05, 2008

O Sol de Pequim

O Sol em Pequim é qualquer coisa de deprimente, quer aparecer mas todo aquele amontoado de gases que fazem desta cidade a mais poluída do mundo (segundo a Organização Mundial de Saúde), não deixa, funcionam como uma cortina...

Claro que não se fazem milagres num mês. E é tão hipócrita o fecho de centenas de fábricas e a proibição da circulação de viaturas automóveis nas ruas da Capital Chinesa, desde 1 de Julho...
Um jornalista da SIC disse que respirar aquele ar diariamente era a mesma coisa que fumar setenta cigarros. Provavelmente é um exagero, mas dá que pensar...
É perfeitamente compreensível que Sérgio Paulinho, ciclista medalhado nas últimas Olímpiadas de Atenas, tenha recusado participar na maior festa desportiva do mundo, por razões de saúde.
Só espero que toda aquela humidade e aquele clima "amarelo", bem à medida dos chineses, que se sente mais nas competições longas (ciclismo, maratona, triatlo, marcha, etc) não provoque muitas desistências e desilusões nos sonhos Olímpicos de tantos atletas...
A pintura é de Helena Justino.

domingo, agosto 03, 2008

Os Jogos Olímpicos e a Política

Os Jogos Olímpicos são tão grandes, que foram quase sempre usados como uma arma "política", especialmente a partir de Berlim 1936.

Não é por isso de estranhar que exista tanta gente contra a realização dos Jogos Olímpicos na China, por todas as razões divulgadas, especialmente em relação aos diminutos direitos humanos do povo chinês e também à longa ocupação do Tibete.
Embora compreenda todas estas manifestações contra os Jogos, penso que estão atrasadas alguns anos. O mais sensato no meu ponto de vista, seria não se ter atribuído a realização da maior prova desportiva do mundo à China, por todas as razões evocadas pelos manifestantes, espalhados pelo mundo inteiro. Era nessa altura que todos deveriam ter manifestado o seu descontentamento em relação a um país que trata as pessoas quase como escravas (e o mais grave é que o exemplo chinês está a tornar-se um exemplo, até para a Europa. Querem melhor prova que a proposta de legislação do aumento das 65 horas de trabalho semanais?...).
Mas já em 1980, os Jogos realizaram-se incompreensivelmente em Moscovo, mesmo com o boicote do Ocidente...
É por isso que, apesar de todos estes exemplos, que nos envergonham, é tempo de apreciar o espectáculo magnífico que nos espera (para quem gosta de desporto, claro) e de ver o resultado de mais de quatro anos de trabalho de milhares de atletas do mundo inteiro, que estão prestes a lutar pelas medalhas sonhadas...

sexta-feira, agosto 01, 2008

O Senhor Silva Voltou à Ribalta...

O secretismo tão usual da figura, que agora é primeira, neste país solarento, sempre embrulhada em tabús, lembrou-me outro Silva, felizmente, mais alegre e bonacheirão.
E também mais teatral, sem dúvida, mas sem artes de escolher o último dia de Julho, para falar ao país, enquanto os senhores deputados e alguns ministros estão de férias, em paraísos distantes...
O senhor Silva, como ficará irremediavelmente conhecido nas ilhas, deve-se ter lembrado apenas dos 60% de portugueses que têm de passar as férias em casa...
O verdadeiro Silva, um autêntico "leão da estrela", diria: «Tanto barulho por causa duma galinha...»