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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Livros interativos começam a ser usados na educação de crianças

Matéria publicada em 14/02/2011
Talita Bedinelli

Pedro Henrique Soares, 8, e Lui Furlan, 7, leem na tela do computador um livrinho que explica o significado da palavra "porta". Ficam encantados, não apenas pela história, mas pelos recursos que a acompanham: músicas, narração, vídeo e um "quiz" sobre o que leram.


Veja mapa múndi interativo dos biomas

Leitores vorazes dos livros de papel, segundo eles mesmos contam, os dois começam agora a se aventurar pelo mundo da leitura digital.

O colégio onde estudam, o Notre Dame, na zona oeste de São Paulo, adotou na semana passada uma biblioteca virtual de literatura infantil, criada pela editora Callis.

Ela será usada ao menos uma vez por semana com as crianças dos ensinos infantil e início do fundamental.

A biblioteca é a primeira do tipo no Brasil, segundo a Callis. Mas outras editoras, de olho no crescimento do uso de tablets tipo iPad, também investem em livros digitais para o público infantil, que vão além da simples digitalização do livro impresso.

O objetivo das editoras é criar livros mais interativos: além de poder virar a página e colori-las com o mouse, os leitores podem ouvir músicas e a narração das historinhas. Em versões para iPads, as crianças podem tocar na tela do dispositivo e mover os personagens, por exemplo.

Na última Bienal do Livro, em agosto, a Globo Livros lançou "A Menina do Narizinho Arrebitado", de Monteiro Lobato, em uma versão de aplicativo para iPad.

Com ilustrações atraentes, o livro permite que, com um toque, a criança mude letrinhas de lugar, faça a personagem espirrar ou toque um gongo para que apareça na tela um exército de grilos.

A Abril Educação também lançou em aplicativos similares dois livros de Walcyr Carrasco no final do ano passado. Em "Meus Dois Pais", a criança pode "montar" um retrato da própria família e, em "A Ararinha do Bico Torto", é possível pintar a ave.

As opções tendem a aumentar neste ano. A Zahar afirma que está estudando projetos de livros digitais mais interativos, assim como a editora Melhoramentos, que está desenvolvendo 12 livros em formato aplicativo, afirma Breno Lerner, superintendente da editora.

Ele acredita que os livros digitais interativos podem despertar o interesse da criança pela literatura.

LIVRO COMPLEMENTAR

Educadores ouvidos pela Folha dizem, entretanto, que o uso desses dispositivos requer cuidado: como funcionam como uma proposta diferente da do livro de papel, não devem substituí-lo. Os dois devem conviver.

A escola deve manter e estimular a ida das crianças à biblioteca tradicional. E os pais não podem trocar a leitura de historinhas em livro de papel pelas do iPad.

"É a emergência de outro tipo de mídia, que dá a possibilidade de usar outro suporte, como som, música. Mas o importante é saber lidar com a diversidade", afirma Maria José Nóbrega, assessora pedagógica de literatura da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e de colégios particulares.

Segundo ela, o livro digital, com recursos que simulam barulhos ou ações do personagem, acabam não permitindo que a criança imagine o que está lendo e exerça a criatividade, por isso é importante manter a leitura do livro de papel.

Ilan Brenman, doutor em educação pela USP e escritor de livros infantis, acredita que o livro digital interativo se aproxima mais da linguagem da televisão, do cinema e dos jogos eletrônicos.

"Quando você dá um iPad para a criança, ela brinca com aquilo. Leitura não é exatamente o que ela está querendo", afirma.

Fonte: Folha.com

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Futuro digital está aí. Precisamos agir já

Juergen Boos é presidente da Frankfurter Buchmesse. Nesta entrevista à Panorama, fala da importância do 1º Congresso Internacional do Livro Digital, em São Paulo, da parceria com a CBL e da transição vivida pela indústria editorial

Por Celso Kinjô e Márcia Negromonte

A Feira de Frankfurt firmou tradição como o maior encontro editorial do mundo. Realizado pela primeira vez em 1949, reuniu, na virada dos sessenta anos, mais de 7 mil expositores de todo o planeta. A Câmara Brasileira do Livro, com apoio da ApexBrasil, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, SNEL e Fundação Biblioteca Nacional, organizou a participação de nossas editoras. E foi na feira do ano passado que CBL e Frankfurter Buchmesse celebraram um acordo de cooperação, que terá seu primeiro grande resultado em março, com a realização, em São Paulo, do 1º Congresso Internacional do Livro Digital. A instituição alemã está encarregada do programa internacional do evento.

Nesta entrevista à PANORAMA EDITORIAL, o presidente da Frankfurter Buchmesse, Juergen Boos, faz uma avaliação do atual momento vivido pela área editorial, especialmente com o lançamento de novos modelos de leitores eletrônicos ao mercado.

PANORAMA EDITORIAL – Qual a sua expectativa sobre o 1º Congresso Internacional do Livro Digital, primeiro evento da parceria CBL/Feira de Frankfurt?
Presidente Juergen Boos: O objetivo da Frankfurter Buchmesse, ao levar especialistas internacionais a São Paulo, no final de março, é o de proporcionar às editoras brasileiras alguns insights que envolvem as discussões atuais sobre digitalização. Gostaríamos de criar conexões entre os participantes da conferência e os especialistas convidados e, ao fazer isso, conhecer melhor o mercado brasileiro de livros.

Como avalia a parceria, nas ações em prol da indústria do livro?
A Frankfurter Buchmesse tem a tarefa de apoiar a indústria do livro mundialmente através de sua rede e atividades de treinamento avançado. A conferência “Um Passo a Frente – Publicação Digital Hoje e Amanhã” é, na verdade, o segundo projeto que realizamos em parceria com a CBL. O primeiro passo foi uma viagem de jornalistas internacionais da área de livros e literatura, em setembro de 2009, a São Paulo, com o objetivo de atrair a atenção da indústria do livro internacional para o mercado brasileiro. Estamos conversando com a CBL sobre projetos adicionais.

Que mensagem o Sr. teria para as editoras brasileiras, em torno da polêmica entre o livro convencional de papel e o livro digital? Serão eles inimigos mortais ou serão capazes de uma convivência lado a lado nas próximas gerações?
Ainda estamos essencialmente nos primeiros estágios de um novo empreendimento, e os personagens deste mercado ainda não podem prever que tipo de proporções ele vai adquirir. Neste momento, é uma questão de primeiramente estabelecer as fundações básicas: por exemplo, resolver as questões sobre direitos autorais, desenvolver novos e sustentáveis modelos de negócio que, uma vez colocados à prova, sejam aceitos igualmente por editoras, autores e pelo público. Hoje, podemos dizer que, embora a evolução do livro digital esteja acontecendo com uma velocidade frenética, até agora nenhum leitor digital [e-reader] conseguiu chegar perto da qualidade do livro impresso de papel. O livro de papel não vai morrer ou desaparecer – não durante ainda muito tempo – mas o livro digital vai se tornar um componente substancial e adicional da nossa socialização de mídia – como o rádio, a TV e a internet antes dele. Para estarmos preparados para um futuro digital, precisamos agir agora.

O lançamento de novos leitores eletrônicos reflete diretamente no crescimento desse mercado consumidor?
Estudo recente sobre e-readers admite que haverá por volta de 50 modelos no mercado em 2010. Com base em estimativas conservadoras, o número vendido na Alemanha em 2011 chegará a aproximadamente 170 mil unidades. Por volta de 65 mil livros digitais foram vendidos nos primeiros seis meses de 2009 na Alemanha. Os números claramente nos levam a deduzir que a demanda de informação está crescendo, muito embora a disposição para comprar seja ainda pequena. Contudo, isso pode mudar em breve.

Como vê a digitalização de livros desenvolvida pela Google Books, que tem provocado tanta polêmica e processos judiciais?
Não há nada a ser contestado na iniciativa do Google de tornar acessíveis livros que estão sob domínio público e que não estão mais disponíveis no mercado. Ela só se torna problemática quando livros que ainda estão protegidos por direitos autorais são escaneados e explorados comercialmente online, sem terem sido verificados. A Börsenverein [Associação Alemã de Editores e Livreiros] já colocou claramente seu ponto de vista e, em conjunto com outras organizações e associações, provocou a revisão do acordo do Google [Google Settlement].

Há razões para temer que aquilo que aconteceu com a indústria da música, com perda do seu valor de mercado, venha a se repetir com a indústria do livro?
Independentemente do fato de envolver música, filmes ou textos, o conteúdo pago tem encontrado aceitação mínima entre os usuários de internet, mundialmente. Contudo, a cultura do “gratuito”, existente na rede, se tornou um problema existencial para as pessoas e as instituições que vivem da produção e exploração da propriedade intelectual – isso afeta a indústria da música tanto quanto a mídia e a indústria do livro. Editores em todo o mundo estão perdendo milhões em vendas por causa da pirataria – cujo combate se tornou prioridade máxima para que possamos ter o controle deste problema também.

O Sr. aceita a divisão estabelecida por Rupert Murdoch em 2005, entre “imigrantes” e “nativos digitais”, pela qual estes nativos digitais, por conviver com os aparatos da web, a longo prazo, produziriam uma nova cultura em detrimento de jornais e livros impressos?
A esta altura, já determinamos que a socialização de mídia dos chamados “nativos digitais” difere radicalmente da minha – ou seja, do grupo de usuários de internet com idade acima de 29 anos. Plataformas de mídia social e conteúdo gerado por usuário têm tido um papel preponderante para os nativos digitais. Mas esse conteúdo gerado pelo usuário não substitui, em um longo prazo, a qualidade jornalística ou a alta literatura. É por isso que é preciso aumentar a consciência das futuras gerações em relação à importância fundamental de um jornalismo bem pesquisado e coberturas jornalísticas bem produzidas, assim como de reportagens bem fundamentadas, para a compreensão da complexidade do mundo atual. E deve ficar claro que esta qualidade tem um preço.

Marifé, especialista em Brasil

Como vice-presidente da Frankfurter Buchmesse, a filóloga espanhola Marifé Boix Garcia pode ser considerada a maior especialista da entidade quando se fala em Brasil. Conhecedora profunda de tudo o que se refira ao nosso País, ela também falou à PANORAMA.

PANORAMA - Como vê a participação do Brasil no mercado editorial internacional?
Marifé Boix Garcia – O Brasil é um mercado editorial forte e auto-suficiente, que pode facilmente competir com os padrões internacionais. É o oitavo mercado editorial do mundo. A qualidade da sua produção de livros e o volume de publicações interessantes e diversificadas é surpreendente. Visto de fora, a exploração de seu potencial como parceiro de direitos autorais ou sócio de empresas do setor em escala maior, é pouco explorado. De um lado, por causa das barreiras com a língua e à predominância de grupos espanhóis em seus arredores, o mercado brasileiro não tem sido tão focado quanto o mundo de língua espanhola.

Apesar de ter grande população, o mercado consumidor de livros, no Brasil, é pequeno. O que recomendaria para melhorar esse cenário?
O Brasil já é um dos países líderes na situação do mercado educacional e deve encontrar medidas políticas para proporcionar à sua população um acesso mais amplo aos livros e à competência de leitura, especialmente se trouxer camadas além da classe média-baixa. A maioria das livrarias estão localizadas nas regiões Sul e Sudeste, enquanto apenas algumas existem em outras regiões. Suponho que este seja um dos pontos que leva à organização de tantas feiras de livros no País. Até onde eu sei, há mais de 15 feiras de livros durante o ano no Brasil. Elas são uma tentativa de “levar” os livros e a leitura para mais perto das pessoas.

Enquanto o livro for considerado um artigo de luxo pela maioria, um passo chave em direção ao leitor talvez seja a utilização digital e de multimídia e a comercialização de conteúdo (veja o crescente número de usuários de celulares!). Acesso ao conteúdo digital através de dispositivos múltiplos de leitura, uma diversificação na expansão de conteúdo disponibilizado ao leitor, é o que editoras e empresas de mídia precisam perseguir. Superar a questão do preço e da falta de dispositivos de leitura seriam os passos seguintes.

Quais as perspectivas de uma parceria entre a Alemanha e o Brasil na área editorial?
A Alemanha possui uma antiga tradição na área editorial. Em uma área de 357.027 km quadrados e com uma população de aproximadamente 82,2 milhões de habitantes, existem mais de 22.241 empresas que fazem parte do mercado de produção ou distribuição de livros no sentido mais amplo, das quais 15.853 são editoras. Desde 1/01/2009, a Associação de Editores e Distribuidores Alemães de Livros conta com 5.832 sócios, dos quais 1.756 são editoras. Mas a fatia do leão é contabilizada pelo comércio de livros, com 3.953 ­empresas.

Os mundos editoriais alemão e brasileiro já têm seladas fortes parcerias. Vários protagonistas e mediadores chave entre estas duas culturas (tais como Ray-Gude Mertin, Angel Bojadsen e muitos outros) já realizaram parcerias sustentáveis e inúmeros projetos de livros em comum. Agora, é uma questão de perseverança e reintensificação de conexões pessoais, também entre a comunidade editorial mais jovem. A barreira da língua precisa ser superada (especialmente no que diz respeito a projetos editoriais e material de revisão e listas estrangeiras) e oportunidades de networking precisam ser procuradas. Feiras de livros e outros programas de contato deveriam focar na intensificação do intercâmbio bilateral.

A Frankfurter Buchmesse é a maior e a mais importante feira mundial para a indústria internacional de livros e mídia. A empresa, além da Frankfurter Buchmesse, uma subsidiária da Associação Alemã de Editores, está especialmente engajada com o avanço internacional do networking dentro da indústria do livro e com a criação de práticas industriais mais profissionais. Enquanto organização de comércio internacional, ela tem uma missão cultural e política de representar mundialmente a indústria editorial alemã e de promover o intercâmbio cultural internacional. Estas responsabilidades incluem tornar a indústria do livro mais profissional através da transferência de conhecimento, da organização de conferências e seminários, bem como de outras atividades correlatas.