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sábado, 1 de novembro de 2014

O impacto dos ebooks na motivação e nas competências de leitura de crianças e jovens

Carlos Pinheiro 

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O National Literacy Trust do Reino Unido e a RM Books estão a investigar o impacto dos ebooks na motivação para leitura e nas competências leitoras das crianças e jovens de 100 escolas do Reino Unido. Os resultados deste estudo serão conhecidos apenas daqui a um ano, em outubro de 2015. Entretanto, foi disponibilizado um estudo exploratório de revisão de literatura – The Impact of ebooks on the Reading Motivation and Reading Skills of Children and Young People, – que faz uma síntese de diferentes estudos publicados nos últimos anos sobre o impacto das tecnologias na leitura.

Algumas das principais conclusões do National Literacy Trust:

  • Quase todas (97%) as crianças disseram que tinham acesso a dispositivos electrónicos, como computadores, tablets, telefones e e-readers, e quase todas ( 97%) tinham acesso à internet em casa.
  • As crianças inquiridas são propensas a dizer que leem mais no ecrã do que no papel fora da escola:
    68,7 % afirmam que leem num computador, telemóvel ou tablet, em comparação com 61,8% de leitura de formatos impresso (por exemplo, um livro, revista ou jornal).
  • Mais de metade (52,4%) prefer ler em dispositivos electrónicos, em comparação com apenas menos de um terço (32%) que disseram preferir ler em papel.
  • A proporção de crianças que já tinha lido um ebook subiu de 25% para 46% entre 2010 e 2012 .
  • A proporção de pessoas que sentiram que ebooks teria um efeito positivo sobre a sua motivação para a leitura
    aumentou de 33% para 49% em relação ao mesmo período.
Fonte: Ler ebooks

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Como a biblioteca ajuda na formação de jovens leitores

 A leitura para as crianças é importante para formar adultos leitores, com mais facilidade para escrever e se comunicar. Quase todos os brasileiros concordam com isso

Foto: Cintia Sanchez / Divulgação


A leitura para as crianças é importante para formar adultos leitores, com mais facilidade para escrever e se comunicar. Quase todos os brasileiros concordam com isso, mas apenas 37% costuma ler para as crianças, segundo pesquisa realizada pela Fundação Itaú em parceria com o Datafolha. Uma visita à biblioteca pode ajudar a mudar essa realidade.

Na biblioteca, há muito mais variedade de obras, além de espaços especiais para realizar a leitura. Para as crianças, ter o hábito de frequentar uma biblioteca, além de trazer grande aprendizado, pode ser uma grande diversão.

No entanto, essa também não é uma realidade no Brasil. Na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, encomendada pelo Instituto Pró-Livro, 67% dos entrevistados declararam a existência de uma biblioteca pública no bairro ou na cidade em que moram e, entre esses, 71% a classificaram como de "fácil acesso", porém apenas 24% afirmaram frequentá-las e somente 12% costumam ler em bibliotecas. Uma possível explicação para essa "impopularidade" das bibliotecas está na representação desses espaços no imaginário da população. A maioria as associa a lugares para estudar (71%) ou pesquisar (61%). Poucos veem as bibliotecas como espaços de lazer (12%) ou para passar o tempo (10%). Um outro dado que chama a atenção é que 33% afirmaram que "nada" os faria frequentar uma biblioteca.

Para falar sobre a importância e as possibilidades das bibliotecas, conversamos com Maria Antonieta Cunha, diretora do Livro, da Leitura, da Literatura e das Bibliotecas da Biblioteca Nacional, e Marcos Afonso Pontes de Souza, diretor da Biblioteca da Floresta, uma biblioteca especializada em assuntos e autores da Amazônia e do Acre, criada pelo Governo do Estado do Acre.

A função da biblioteca: O objetivo de uma biblioteca é colocar à disposição dos usuários materiais do seu interesse, mas foi-se o tempo em que as bibliotecas eram lugares chatos e empoeirados. "A biblioteca é extremamente dinâmica e progride cada vez mais com o desenvolvimento da própria ideia da ciência da informação", diz Maria Antonieta. "Em uma biblioteca, coexistem, por exemplo, o computador, a internet e outras artes que estabelecem um diálogo importante com a literatura para a formação da cabeça do cidadão".

A biblioteca não pode ser vista apenas como um lugar de consulta e pesquisa para complementar o currículo da escola.

Formando leitores: Para aproximar a população dos livros, a biblioteca não deve se limitar a suas quatro paredes. "Dá para criar uma série de atividades seja na empresa, na escola, na praça pública ou no presídio e aí a biblioteca estará cumprindo o seu papel que é ajudar a formar cidadãos leitores", explica Maria Antonieta. Para a diretora, a biblioteca cria leitores ao desenvolver neles o gosto pelo conhecimento e o gosto pela literatura e artes em geral. No entanto, no geral, as bibliotecas não estão preparadas para isso. "Os bibliotecários e os espaços que nós temos, muitas vezes, não facilitam essa ação", diz.

A biblioteca e as crianças: As crianças estão sempre em busca de conhecimento. Por isso, a biblioteca é o lugar ideal para os pequenos. Algumas bibliotecas têm atividades especiais para as crianças. A Biblioteca da Floresta, por exemplo, desenvolveu uma série de atividades na Semana da Criança, como contações de histórias e fantoches, jogos online educativos e jogos de tabuleiros, cantigas de roda e piquenique.

Fazer rodas de leitura, trazer autores de livros, inventar histórias ou até mesmo deixar a criança se movimentar livre para a biblioteca são bons exemplos de atividades, segundo Maria Antonieta. "Fazendo da biblioteca um espaço não só de leitura, mas de criação, nós conseguimos fazer a criança se interessar tanto pelo espaço da biblioteca quanto pela leitura, que é o objetivo maior", explica.

Como aproveitar a biblioteca: São os adultos, professores e pais, que despertam o interesse da criança pela biblioteca. No entanto, ir à biblioteca não deve ser um castigo ou uma obrigação. "É preciso fazer uma visita não burocrática, mas de sensibilização do espaço", diz Marcos Afonso. Para Maria Antonieta, "a biblioteca deve ser apresentada como um espaço de escolha de leituras. É um lugar para desvendar um mundo".

Pensando na comunidade: A biblioteca deve atender a comunidade. Nesse sentido, a Biblioteca da Floresta é inovadora por ser temática. O acervo é voltado para a história da região, com material sobre os índios, os seringueiros, a floresta e a trajetória da luta socioambiental da Amazônia. Maria Antonieta explica que algumas bibliotecas estão inseridas em espaços onde é importante ter essa especificidade, como é o caso de Rio Branco. "Conforme a localização e o interessa da comunidade, deve haver sim uma linha dentro do arquivo que contemple o tema que é uma grande demanda daquela comunidade". Porém, mesmo nas bibliotecas temáticas, é importante que o acervo também seja variado, para atrair e conquistar novos leitores.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Para aumentar número de leitores é preciso criar elo entre internet e literatura, diz professora

Publicado em 10/07/2012 Da Agência Brasil

Para a docente, os jovens também se dedicam à leitura e à escrita no ambiente virtual
 
A ampliação do hábito da leitura entre estudantes brasileiros requer a existência de mediadores preparados que entendam as novas ferramentas tecnológicas para levá-los a fazer a ligação com o mundo em que vivem por meio da literatura. Isso é o que defende a diretora adjunta da Cátedra Unesco de Leitura da PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), Eliana Yunes.

— Nós temos poucos mediadores aptos a entrar nesse diálogo, nesses suportes, nessas novas linguagens e que tragam uma herança cultural vastíssima.

Na avaliação de Eliana, os estudantes, mesmo no uso da internet, podem dedicar mais tempo à escrita e à leitura do que teriam as pessoas há cerca de 20 anos. 
— Eles são obrigados a ler, a escrever, a se comunicar.

Eliane admitiu, contudo, que sem uma mediação adequada, “existe uma simplificação do uso da língua”. A leitura dos estudantes que estão conectados às redes sociais acaba circunscrita a um universo muito estreito ao qual eles têm acesso com facilidade.

— Está na onda, está na moda. Tem a coisa da tribo, do grupo.

A professora disse que essa leitura, porém, não possui a densidade necessária para levar os alunos à formação de um pensamento crítico. Para ela, falta a esses estudantes um trabalho de ligação com a leitura criativa ( presente na literatura, por exemplo), algo que pode ser feito pelas escolas e até pelas famílias.

— Falta uma mediação que permita que esses meninos tenham acesso, mesmo via internet, a sites muito bons de poesia, de blogs, pequenas histórias, de museus, que discutem música, história.

Para ela, essa páginas na internet permitem que os alunos saiam desse “chão raso” e possam ser levados para uma experiência criativa da linguagem. 
 
— Quem não lê tem muita dificuldade de escrever, de ampliar o seu universo de escrita, de virar efetivamente um escritor. Como eles têm pouca familiaridade com a língua viva, seria necessário que os adultos se preparassem melhor, buscando conhecer essa nova tecnologia para que a mediação, tanto pela escola como pela família, pudesse ser exercida de forma a partilhar com os alunos leituras de boa qualidade.

A professora defende também que a mediação restaura o fio que liga o passado ao futuro no presente desses estudantes. Ela reiterou que a falta de conhecimento de professores e pais desses suportes modernos de comunicação e a falta de habilidade de envolver alunos em uma discussão de um universo mais rico impedem meninos e meninas de desfrutarem uma herança cultural, “da qual eles são legítimos herdeiros”.

— Acho que a questão da escola passa pelo problema da mediação. Se nós não formos leitores de várias linguagens, de vários suportes, nós perderemos realmente o passo com essa geração, que está velozmente à nossa frente, buscando outras linguagens, outras formas de comunicação. É preciso que os estudantes percebam que a literatura não é um peso ou uma obrigação. Literatura é vida.

Para Eliana, a literatura faz falta porque desloca o olhar das pessoas de uma coisa “líquida e certa”, para um lugar de reflexão, de discussão sobre o mundo e a vida humana. Isso pode ser encontrado não só no livro impresso, em papel, como também no livro digital.

— Esse jogo contemporâneo é muito rico. Quanto mais suportes a gente tiver para a palavra escrita e para abrigar a reflexão sobre a condição do ser humano, melhor a gente vai poder abraçar as várias modalidades, que estão vivas, da palavra. 
Pesquisa

De acordo com pesquisa do Instituto Mapear para a Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro com 4 mil estudantes e 1,2 mil responsáveis, 93% dos alunos do ensino médio da rede pública do estado tinham celulares em dezembro de 2011 e 78% possuíam computador, sendo que 92% tinham acesso frequente à internet.

Em contrapartida, 14% dos alunos declararam não ter lido nenhum livro nos últimos cinco anos. Entre os que não leram nada, 17% residiam no interior e 12% na região metropolitana. Um livro foi lido no período por 11% dos estudantes; dois ou três livros por 26% e quatro ou cinco livros por 17%.

Entre os alunos que leram mais que um livro em média nos últimos cinco anos, a pesquisa registrou que 14% leram entre seis e dez livros, 8% entre 11 e 20 e 10% leram mais que 20 livros em cinco anos.
 
Fonte: R7

sábado, 20 de agosto de 2011

Formar jovens leitores

MÁRCIA LORCA

Uma das buscas constantes do trabalho do professor é manter o gosto pela leitura nos alunos. É fato que, no início do ensino fundamental, essa competência se forma motivada pelas atividades desenvolvidas pelo professor em sala de aula. Entretanto, o problema emerge na passagem para os quatro últimos anos do mesmo ensino fundamental, momento em que o adolescente deixa de gostar de ler, abandonando os livros ao pó das prateleiras.
 
 
Nessa fase, o aluno passa a ter novos focos de interesse e a escola, que antes recebia a maior parte de sua energia curiosa, fica em segundo plano. Em consequência, a leitura, especialmente de obras literárias, diminui consideravelmente. Eis a grande inquietação de professores, pais e demais  educadores: por que a leitura é abandonada? O que motiva o aluno a criar,em alguns casos, aversão a isso?

Várias são as pesquisas em busca de identificar os fatores que incentivam o aluno à leitura. Elas apontam normalmente as influências da família, com a presença de pais leitores; o acesso direto aos livros; o trabalho pedagógico da escola e do professor; entre tantas outras. O que pouco se discute são as causas desse distanciamento entre o adolescente e o livro literário.

Como ponto de partida para tal discussão, seria ingênuo desconsiderar a fase de desenvolvimento por que passam os adolescentes. O momento é de busca da autocompreensão, da independência e da escolha de suas ideologias e filosofias vitais, isso sem contar as interferências tecnológicas muito mais atraentes. A energia passa a se concentrar em novos focos, especialmente no conhecimento do outro e da descoberta das emoções no envolvimento com o outro. E aqui ler não é, nem faz parte do gasto dessa energia.

Para acalorar a discussão, trago para a cena desse embate o trabalho docente com a leitura literária. Com raras exceções, o professor é quem mutila qualquer desejo de ler ao escolher as leituras obrigatórias que serão trabalhadas em sala de aula. A escolha não parte de um diagnóstico a respeito do gosto literário do aluno, mas é direcionada pela preocupação essencialmente pedagógica e, nos casos do ensino médio, fundamentada pelo vestibular. Buscar livros que eduquem moralmente nossos alunos ou pautar-se nas famosas listas de vestibular não é estímulo para a formação de leitores.

O que um educador deixa de lado é o fato de que, pela passagem ao longo dos anos escolares iniciais, o aluno forma gostos muito individuais sobre o que quer ler, sobre os temas que lhe são pertinentes determinados pela idade, crença ou sexo. Pesquisar esses gostos e investir neles pode ser um caminho na busca de, não apenas formar, mas ir além da construção de leitores críticos e vorazes por livros.

Dar as costas para os livros recém-lançados também não pode ser postura de formadores de leitores. É preciso lembrar que as obras não nasceram velhas, houve época em que se configuravam também como novas produções e que, muitas vezes, foram tomadas como expressões não artísticas, fora dos cânones estabelecidos pela crítica.

Ampliar nossas visões sobre livros e literatura é condição imprescindível para transformar mal  “ledores” em leitores. Quem sabe a aversão à leitura literária não seja reflexo da faltade criatividade nas formas de avaliar, responsáveis por destituir o livro como fonte de vivências e experiências que ampliam o horizonte de quem lê?

Márcia Lorca é mestre pela Unesp de Assis, pesquisadora da área de Literatura Infantil e Juvenil e professora de Literatura do ensino médio em Araçatuba

Professores e pais estimulam jovens a ler em Rio Preto

Depois de uma nota baixa na escola, estudante adquiriu prazer pelos livros

Suelen Silveira / TV TEM



Atrair os jovens para a leitura se tornou um desafio para os pais e professores. Como mostrar que um livro é interessante com acesso tão fácil à internet, por exemplo, cheia de fotos, sons e vídeos?

Na Biblioteca Municipal de São José do Rio Preto, é possível retirar bons livros sem pagar nada. É por meio da leitura que conhecemos novas palavras e ampliamos o vocabulário. Os livros também estimulam a criatividade, ajudam a formar opinião, ter um posicionamento sobre diferentes temas.

Uma das formas encontradas foi aliar as duas ferramentas, como as histórias de Harry Potter, que já atraíram milhões de telespectadores aos cinemas e já venderam mais de 400 milhões de livros.

Os recursos para incentivar a leitura estão cada vez mais fascinantes. Os tradicionais livros de papel dão lugar para outros bem diferentes; por exemplo, há publicações que podem ser levadas para piscina ou para o banho, porque as páginas são impermeáveis.

Em outro caso, a criança pode contar sua própria versão, com o fantoche que vem com o livro. Desta forma, os pequenos aprendem como a leitura pode levar a conhecer mundos bastante interessantes.

De algumas caixas, saem histórias fantásticas. Basta soltar a imaginação. Cada aluno interpreta o conto do jeito que quiser e mostra o resultado com as maquetes. Crianças e jovens brasileiros estão lendo mais. No ano passado, foram lançados 12 mil novos títulos no país, sendo 2,5 mil direcionados ao público mais novo.

E ao contrário do que muita gente imaginava, o computador não substitui o livro na vida dos jovens. Aliás, pode ser um bom aliado. Luis Antonio Gonçalves Neto é um leitor que surpreende: já leu mais de 2 mil livros. No blog, ele exercita outra paixão: a escrita. O estudante lê em média dois livros por dia, e o responsável por esse resultado é o pai. Depois de uma nota baixa na escola, ele obrigou o filho a ler dez livros. Aí, o adolescente não parou mais.

sábado, 21 de maio de 2011

Uma geração descobre o prazer de ler


Ler obras juvenis ou best-sellers é apenas o começo de uma longa e produtiva convivência com os livros. Essa é a lição que anima os jovens a se aventurarem na boa literatura atual e nos clássicos
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Bruno Meier
Para a catarinense Taize Odelli, de 21 anos, Vergonha, de Salman Rushdie, é uma fantasia feita para chocar e evidenciar até onde a pessoa, uma família ou um país pode chegar na desonra. Crime e Castigo é uma leitura atraente pela complexidade e pela construção do perfil psicológico dos personagens criados pelo russo Fiodor Dostoievski. Ma ela desdenha de Madame Bocary, de Gustave Flaubert. "As cinquentas páginas iniciais, até o primeirocaso da protagonista, são monótonas", opina. Desde 2009, Taize critica  dois livros por semana em seu blog, Rizzenhas. Tem parceria com quatro editoras, enviam a ela exemplares de seus lançamentos, com vista a atrair o público jovem por meio da resenhista novinha. Mesmo sem incentivo familiar, Taize sempre foi boa leitora. Mas o hábito virou vício quando pegou emprestado o terceiro volume da série Harry Potter. "Desde então, não fiquei uma semana sem ler."  Sua média é de 10 livros por mês - e o trajeto trajeto de 45 minutos enrtre São Leopoldo, onde mora, e Porto Alegre, onde estagia, favorece o ritimo da leitura. "A literatura ajuda a ter sensao crítico, diz.

Deixe-se o sexo para uma discussão posterior. No que diz respeito à leitura, uma graciosa menina carioca é uma das inúmeras evidencias do que se lê na capa de VEJA. Em janeiro, a universitária Iris Figueiredo, de 18 anos, anunciou em seu blog a intenção de organizar encontros para discutir clássicos da literatura. A ideia era reunir jovens que estavam cansados de ler as séries de ficção que lideram as vendas nas livrarias e passar a ler obras de grandes autores. Trinta respostas chegaram rapidamente. No mês seguinte, o evento notável de Iris começou: vinte adolescentes procuraram uma sombra junto ao Museu de Arte Contemporânea de Niterói - cada um com seu exemplar de Orgulho e Preconceito, da inglesa Jane Austen, debaixo do braço e sentaram-se para conversar. Durante duas horas, leram os trechos de sua preferência, analisaram a influência da autora sobre escritores contemporâneos (descobriram, por exemplo, que certas frases do romance foram emuladas em diálogos da série O Diário de Bridget Jones, de Helen Fielding) e destrincharam os dilemas pelos quais passaram a vivaz Elizabeth Bennett e o arrogante Mr. Darcy, os protagonistas do romance. Iris se entusiasma ao falar do sucesso de suas reuniões que já abordaram títulos como O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, 1984, de George Orwell, e Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca. Desde pequena, ela é boa leitora. Mas foi só ao descobrir a série Harry Potter que se apaixonou pela leitura e a transformou em parte central de seu dia a dia. Quando a saga do bruxinho virou mania entre as crianças e os adolescentes, uma década atrás, vários críticos apressaram-se em decretar que esse seria um fenômeno de resultados nulos. Com o eminente crítico americano Harold Bloom à frente, argumentavam que Harry Porter só formaria mais leitores de Harry Potter os livros da inglesa J.K. Rowling seriam incapazes de conduzir a outras leituras e propiciar a evolução desses iniciantes. Jovens como Iris desmentem essa tese de forma cabal. Ler é prazer. E, uma vez que se prova desse deleite, ele é mais e mais desejado. Basta um pequeno empurrãozinho como o que a universitária ofereceu por meio do convite em seu blog - para que o leitor potencial deslanche e, guiado por sua curiosidade, se aventure pelos caminhos infinitos que, em 3000 anos de criação literária, incontáveis autores foram abrindo para seus pares.

Várias vezes, no decorrer do último século, previu-se a morte dos livros e do hábito de ler. O avanço do cinema, da televisão, dos videogames, da internet, tudo isso iria tornar a leitura obsoleta. No Brasil da virada do século XX para o XXI o vaticínio até parecia razoável: o sistema de ensino em franco declínio e sua tradição de fracasso na missão de formar leitores, o pouco apreço dado à instrução como valor social fundamental e até dados muito práticos, como a falta e a pobreza de bibliotecas públicas e o alto preço dos exemplares impressos aqui, conspiravam (conspiram, ainda) para que o contingente de brasileiros dados aos livros minguasse de maneira irremediável. Contra todas as expectativas, porém, vem surgindo uma nova e robusta geração de leitores no país movida, sim, por sucessos globais como as séries Harry Porter, Crepúsculo e Percy Jackson. Em 2005, a rede de livrarias Saraiva vendeu 277000 exemplares de títulos voltados para o público infantojuvenil. Em 2010, foram 1,7 milhão - um estarrecedor aumento de 514%. O crescimento deve-se em parte à ampliação da rede, com a compra da Siciliano, em 2008. Mas nenhum outro segmento se desenvolveu tanto quanto o juvenil.

Também para os cidadãos mais maduros abriram-se largas portas de entrada à leitura. A autoajuda (e os romances com fortes tintas de autoajuda, como A Cabana) é uma delas; os volumes que às vezes caem nas graças do público, como A Menina que Roubava Livros, ou os autores que tem o dom de fisgar com suas histórias, como o romântico Nicholas Sparks, são outra. E os títulos dedicados a recuperar a história do Brasil, como 1808, 1822 ou Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, são uma terceira, e muito acolhedora, dessas portas. É mais fácil tornar a leitura um hábito, claro, quando ela se inicia na infância. Mas qualquer idade é boa, é favorável, para adquirir esse gosto. Basta sentir aquele comichão do prazer, e da curiosidade - e então fazer um esforço, bem pequeno, para não se acomodar a uma zona de conforto, mas seguir adiante e evoluir na leitura.


Um livro puxa outro, não há dúvida. Por isso, nas páginas desta reportagem. VEJA oferece sugestões de caminhos pelos quais enveredar a partir de certos pontos iniciais que as listas de mais vendidos comprovam ser eficazes: as séries Harry Potter e Crepúsculo, os best-sellers A Cabana e A Menina que Roubava Livros e os romances de Nicholas Sparks. Os aventureiros de espírito podem zarpar de um desses pontos e chegar a destinos fulgurantes como Moby Dick., Grande Sertão: Veredas ou Em Busca do Tempo Perdido.
Veja-se o exemplo da universitária catarinense Taize Odelli, de 21 anos. Taize, como a carioca Iris Figueiredo, caiu de amores pela leitura por meio de Harry Potter; anos atrás. Hoje, discute com desenvoltura sobre a obra do clássico russo Fiodor Dostoievski ou a do contemporâneo anglo-indiano Salman Rushdie. Taize percorreu esse trajeto levada por sua curiosidade, e agora cuida de despertá-la em outros jovens como ela. A cada mês, recebe cerca de dez lançamentos de quatro editoras nacionais e os resenha em seu blog. Para as editoras, ela é uma ponte com um público que resiste aos canais tradicionais de divulgação, como jornais e revistas. Para a garotada que acompanha seu blog (ou o de Iris, que, funcionando nos mesmos moldes, conta cerca de 16000 acessos mensais), ela é um caminho alternativo: os livros, na escola, costumam ser motivo de tédio; redescobri-los como fonte de deleite, passo a passo com pessoas da mesma idade, é um papel que a internet sim, uma daquelas invenções que iriam assassinar a leitura, segundo os pessimistas vem desempenhando de forma espontânea e com surpreendente eficácia. "Não gosto de Machado de Assis até hoje porque lembro que fui obrigado a lê-lo no colégio quando ainda não estava preparado", diz o administrador paulista Eduardo Ribeiro. Machado de Assis é frequentemente um dos primeiros autores a ser indicados como leitura obrigatória em sala de aula e tem se tornado um pesadelo para qualquer docente que deseja transformar a leitura em fruição e não em aversão. "Exigir a leitura de Memórias Póstumas de Brás Cubas e marcar uma prova semanas depois definitivamente não é o caminho", diz a pedagoga Elizabeth Baldi, fundadora da Escola Projeto, em Porto Alegre.

Os leitores adolescentes impulsionaram os maiores sucessos das livrarias na última década. Nunca se produziu, traduziu e fez circular tanto livro para eles como agora e na lista de mais vendidos de VEJA, na categoria ficção, eles figuram nas melhores posições. A série Harry Potter com vendas mundiais que ultrapassam os 400 milhões de exemplares (no Brasil, chegaram a 3 milhões), detonou essa onda, é evidente. Em 2008, um novo sucesso surgiu no país: a saga Crepúsculo, com 120 milhões de exemplares comercializados (5,5 milhões no Brasil). E aí o fenômeno começou a ganhar novos contornos: através de comunidades e perfis nas redes sociais, os adolescentes passavam horas discutindo o destino da menina Isabella Swan e do vampiro Edward Cullen - e, nessa fase, se um amigo demonstra um interesse, é rapidamente copiado pelos outros. "Não é mais possível lançar um livro para esse público sem pensar numa estratégia de atração por meio das redes sociais", diz Jorge Oakim, editor da Intrínseca. Ele é um caso exemplar de ajuste às mudanças ocorridas no mercado editorial. Desde a inauguração de sua editora, em 2003, viu seu negócio mudar radicalmente: no início, 15% dos lançamentos eram destinados ao público jovem - Atualmente; esse número saltou para 80% -, e esse mesmo percentual representa o faturamento atual da editora com os jovens.

No meio do curso na faculdade, garotas como a carioca Iris Figueiredo e a catarinense Taize Odelli não estão ainda pensando em emprego. Mas não é exagero especular que, com seus blogs de resenhas, já estão se profissionalizando. Mesmo quando os benefícios dos livros não parecem tão imediatos. porém, eles são concretos e até quantificáveis. Um estudo divulgado no mês passado pela Universidade Oxford demonstra uma conexão inequívoca entre leitura e sucesso profissional. Conduzida pelo americano Mark Taylor, do departamento de sociologia, a pesquisa ouviu 17 200 pessoas nascidas em 1970. Comparou as atividades extracurriculares desenvolvidas por elas quando tinham 16 anos com a sua posição hierárquica aos 33. A leitura se revelou o único fator que, de forma consistente, esteve associado à ascensão profissional. Para as mulheres. a chance de ter um cargo mais elevado cresce de 25% para 39% quando lêem; para os homens, de 48% para 58%. Nenhuma outra atividade - cinema, esportes, visitas a museus e galerias - teve impacto significativo. O progresso pode estar associado ao desenvolvimento do vocabulário e ao domínio de conceitos abstratos propiciados pelo hábito da leitura. E vale enfatizar: a pesquisa centrou-se na leitura extracurricular. Ou seja, o livro lido por prazer - e não porque foi exigido em uma disciplina escolar - é o que realmente conta.

Para quem não tem o hábito da leitura (e, entre os brasileiros, muitos não o tem), o projeto de se tornar um leitor sofisticado pode parecer inatingível e tedioso, e cansativo. (Inútil não o é mesmo, como está demonstrado no parágrafo acima.) Mas imagine se, dez anos atrás, alguém pedisse a você que tomasse decisões com a carga de responsabilidade das que toma hoje, ou que manejasse os programas de computador que hoje lhe são habituais: impossível, assustador. Com a leitura, dá-se esse mesmo processo de aprendizado, cumulativo e, por que não, suave. Se atualmente a sua leitura preferida são os romances adocicados de Nicholas Sparks e outros autores do gênero, um livro como Guerra e Paz, de Leon Tolstoi, talvez pareça impenetrável (e chato). Ora, a saída simples e prazerosa é percorrer um circuito menos acidentado. Passe antes por Tess, de Thomas Hardy, ou até por um conto breve como Bola de Sebo, de Guy de Maupassant. Um livro não apenas puxa outro, como prepara para o seguinte. Em um ano, ou dois, ou três, quando abrir de novo as páginas de Guerra e Paz, é provável que a leitura já lhe pareça agradável e instigante e não mais um martírio.
Ler é indispensável para aqueles que querem se expressar bem: mostra as diversas possibilidades da língua, aumenta o vocabulário e enriquece o conhecimento. "E a forma mais eficiente de saber e de humanizar-se, colocando-se no papel do outro. Deixa a pessoa mais próxima da civilização e mais distante da barbárie" diz o escritor Miguel Sanches Neto, exemplo de cidadão que, mesmo num ambiente de pobreza material e cultural, buscou o melhor da literatura. Todas essas benesses, porém, só são adquiridas quando o leitor passa a buscar uma leitura mais seletiva e procura o melhor que os autores clássicos e célebres já produziram ao longo do tempo. "Existem livros que tratam a pessoa como consumidora e acompanhante passiva da história. Esses dispensam a atividade do leitor", diz Luís Augusto Fischer, professor de literatura brasileira na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e autor de Filosofia Mínima - Ler; Escrever; Ensinar, Aprender. E aí se chega a uma recomendação importante: nos primeiros meses, não importa muito o que a pessoa lê, desde que ela adquira a habilidade essencial de ler apenas por prazer. Tom Wolfe, um dos mais celebrados jornalistas e escritores americanos, leu apenas e tão somente sobre beisebol até os 16 anos de idade - mas leu.

A leitura consolidou-se como uma experiência individual e solitária. E lendo em silêncio, para nós mesmos, que melhor entendemos e apreciamos uma obra - qualquer obra. seja o árduo Paraíso Perdido, de John Milton, ou o saboroso Alta Fidelidade, de Nick Hornby. Relembrando a juventude em suas Confissões, Santo Agostinho expressa sua surpresa ao ver como, em torno do ano 384, Santo Ambrósio, bispo de Milão, realizava suas leituras: "Quando ele lia, seus olhos perscrutavam a página e seu coração buscava o sentido, mas sua voz ficava em silêncio e sua língua, quieta". Na Antiguidade, lia-se em voz alta, até para ajudar no entendimento das frases. pois ainda não existiam sinais de pontuação. Não admira, portanto, que Agostinho tenha registrado com tanta ênfase a quietude concentrada de seu mestre. O mergulho quase solipsista na página, a absorção na voz íntima do livro, que hoje reconhecemos na pessoa que lê em uma biblioteca universitária, em uma praça ou em um banco de ônibus, era ainda excepcional. Em Uma História da Leitura, Alberto Manguel informa que a leitura silenciosa só se tornaria usual no Ocidente a partir do século X. Em um ensaio sobre o culto aos livros, o escritor argentino Jorge Luis Borges - um dos maiores leitores do século XX - descobre na atitude descrita por Santo Agostinho a prefiguração de uma nova postura cultural em relação ao livro: "Aquele homem passava diretamente do signo da escrita à intuição, omitindo o signo sonoro; a estranha arte que se iniciava, a arte de ler em voz baixa, conduziria a consequências maravilhosas. Conduziria, passados muitos anos, ao conceito de livro como fim, não como instrumento de um fim.

Ainda assim, subsistem formas de congraçamento social em torno do livro. Ler para o outro pode ser uma forma de generosidade ou uma celebração do talento. No século XIX, o romancista ingles Charles Dickens atraía multidões para as sessões públicas de leitura de seus romances. Em âmbito bem mais modesto, no Brasil, José de Alencar lembra, em Como e Porque Sou Romancista, que era chamado por sua mãe e outras mulheres da família para ler em voz alta folhetins açucarados, que elas ouviam, às lágrimas, enquanto costuravam e faziam tarefas domésticas. Festivais de literatura contemporâneos continuam a trazer escritores consagrados para sessões de leitura de suas obras. De novo, pode ser também a tecnologia a varinha de condão que reúne os homens em torno dos livros e ideias: o Kindle, leitor digital comercializado pela megalivraria global Amazon, possui ferramentas que fazem com que o usuário tenha a sensação de que não está sozinho. Ao sublinhar um trecho de um capítulo que atraiu particularmente sua atenção, por exemplo, o usuário é informado do número de leitores que marcaram a mesma passagem. Outros recursos permitem o gesto amigável de emprestar um livro digital a outra pessoa, ou ouvir o texto em voz alta. O que hoje entendemos como literatura precede a escrita: a Ilíada e a Odisseia, os dois grandes épicos gregos compostos em torno de VII a.C. e atribuídos a Homero, surgiram como poemas a ser memorizados e recitados, e não lidos. Seja qual for o meio - a voz, o papel, a tela do leitor eletrônico -, a leitura existe para isso: para ligar os homens pelo fio comum de sua experiência.

Cena verídica observada em um dos mais caros shopping centers paulistanos: uma mãe passeia (1878), pelos corredores com seus dois filhos, de uns 5 e 8 anos, quando o mais velho exclama, entusiasmado: "Olha, uma livraria! Vamos lá, mamãe?" Ao que ela repreende, seguindo na direção contrária: "Livraria? E o que é que você quer fazer lá?". Ora, mamãe, por favor. Da próxima vez, deixe que seu filho a puxe pela mão e se perca entre as estantes. E aproveite para fazer o mesmo. Você vai se surpreender com o que encontrará lá e consigo mesma.

Fonte: Veja

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Leitura na era digital

Como os novos modos de ler na atualidade afetam os hábitos de leitura no Brasil e o público jovem

Por Flávia Gouveia


Matéria publicada em 15/09/2010

A primeira das quatorze definições do dicionário Houaiss da língua portuguesa para o verbete “ler” é bastante objetiva: ‘percorrer com a vista um texto, interpretando-o por uma relação estabelecida entre as sequências dos sinais gráficos escritos e os sinais linguísticos próprios de uma língua natural’. Assim definido, esse processo elementar de comunicação humana parece imutável. Mas, do ponto de vista dos desenvolvimentos (e dos entraves) relacionados à vida em sociedade, à economia e à tecnologia, o ato de ler sofre variações importantes de acordo com as pessoas, localidades e tempos considerados. “No Brasil, o processo de letramento sistematizado atrasou pelo menos um século. Hoje a situação da leitura no país é muito melhor, mas essa defasagem ainda se faz sentir”, afirma a professora de Sociologia da Cultura e da Literatura da Universidade Federal de São Carlos, Tânia Pellegrini.

Assim, o perfil do “leitor médio” no Brasil difere daqueles observados em outros países, da mesma forma que os hábitos de leitura de um brasileiro diferem dos de outro leitor de diferente classe social ou faixa etária, também nascido no Brasil. De acordo com a pesquisa encomendada pelo Instituto Pró-Livro, Retratos da Leitura no Brasil, lançada em maio de 2008 e coordenada pelo Observatório do Livro e da Leitura (OLL), a maior parcela de brasileiros não-leitores (que não leram um livro nos três meses anteriores à pesquisa) está entre os adultos de 30 a 39 anos (15%) e de 40 a 49 (15%). A pesquisa constatou também que o número de não-leitores diminui quanto maior é a renda familiar e mais alta é a classe social. Quase não se encontram não-leitores na classe A, e há apenas 1% de não-leitores quando a renda familiar é de mais de 10 salários mínimos. Mas, no que se refere à dimensão tecnológica, houve uma mudança importante observável através do tempo.

Texto e hipertexto

A leitura na atualidade também não é como no passado, quando não se imaginava que um dia leríamos na tela de um computador, por onde se acessa um labirinto cibernético de textos e hipertextos, ou de um artefato próprio para leitura de livros digitais. Para o linguista, poeta e professor titular de semântica argumentativa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Carlos Vogt, há hoje uma dispersão da leitura causada pelas novas tecnologias e a forma eletrônica de tratamento do texto. “No meio eletrônico, de textos permeados por hipertextos, o leitor passa a ter diante de si várias ‘portas’ que levam a outros textos. A progressão linear da leitura tradicional dá lugar a uma miríade de mosaicos de fontes novas e inesperadas de informação”, comenta.

A professora Tânia Pellegrini lembra que já presenciamos uma grande mudança nos modos de ler no passado, quando foi inventada a imprensa. “Se na Idade Média tínhamos os imensos códices (manuscritos gravados em madeira), o advento da imprensa tornou o livro portátil. E bem antes disso, no Egito antigo, inventou-se o papel, suporte até hoje insuperável. Com os computadores, criou-se um suporte técnico antes inimaginável”, diz.

Vogt e Pellegrini concordam que o presente seja de revelação de uma transformação crucial e de certo modo arriscada nos modos de ler. “Ler em uma tela é muito diferente de ler em um livro, muitíssimo diferente de ler pergaminhos ou papiros. A leitura na tela tende a ser mais rápida, apressada e fragmentada, pois a organização dos textos obedece às possibilidades que o suporte oferece: procurar relações com outros textos, imagens, sons”, afirma a professora. Carlos Vogt aponta dois riscos que aumentam com a leitura de textos na internet: a limitação da imaginação e a dispersão da concentração. Para o linguista, “a leitura no computador leva ao esmaecimento da tensão entre a horizontalidade dispersiva e a verticalidade da semântica que leva à concentração, invertendo assim a ‘planitude’ do texto”.

Mercado tecnológico

Da perspectiva do mercado, a digitalização de livros e a venda de livros digitais têm crescido constantemente, ganhando adeptos que parecem não se importar com os possíveis riscos da leitura digital, mas sim com seus atrativos e funcionalidades, como a possibilidade de “aproximar” o texto e a imagem por meio de recursos de zoom, entre tantas outras. O livro digital também não é um produto caro, se comparado ao livro em papel. Muitas vezes é até mais barato. Mas sua leitura é mais apropriada se realizada em aparelhos desenvolvidos para essa finalidade - os chamados e-readers - e esses sim são bastante caros, comparativamente ao preço dos livros tradicionais. Ainda pouco conhecidos no Brasil, os aparelhos para leitura do livro digital conferem à palavra escrita oportunidades de acesso inéditas, permitindo ao leitor carregar na palma da mão uma biblioteca inteira.

Mas as opiniões sobre o futuro do livro digital não convergem para sua supremacia. Pelo menos não no curto prazo. Para Vitor Tavares, presidente da Associação Nacional de Livrarias, o livro digital é mais uma alternativa para quem gosta de ler, e pode incentivar a criação de novos leitores. “Mas não vai substituir o livro em papel, que ainda é bem mais acessível e democrático”, afirma. Pellegrini também não aposta na superação do livro em papel: “o novo suporte digital é volátil, evanescente, fungível e talvez não possa durar tanto. Mas isso ainda não se sabe”.

A revista Panorama Editorial, em sua edição de fevereiro e março de 2010, fez um levantamento dos aparelhos e-readers e compilou dezoito tipos (marcas) diferentes (com informações sobre preços). O mais conhecido é o Kindle, vendido na livraria digital Amazon e exclusivo leitor de seus livros digitais. Entre os mais cobiçados está o i-Pad, da Apple, que agrega múltiplas funções (como operações de notebook e telefone), além da leitura eletrônica.

Existe ainda outra forma de associação entre livros e tecnologia: os totens de produção instantânea de livros em papel, que já existem em livrarias na Europa. “O cliente escolhe o livro que vai comprar, faz seu pedido numa máquina, e, enquanto toma um café, seu livro é impresso e encadernado. É o fim dos estoques”, diz Tavares. Mas essa alternativa ainda parece distante do Brasil, onde a maioria das livrarias, embora tenha diversificado seus atrativos com a venda de outros produtos e serviços, afora os livros, ainda sequer oferece vendas pela internet (56%, segundo pesquisa da ANL).

Jovens leitores

No que diz respeito ao público leitor, Pellegrini e Tavares compartilham a opinião de que os leitores dos livros digitais serão, em princípio, majoritariamente os jovens, por sua familiaridade com as novas tecnologias. Mas há que se ressaltar uma mudança no hábito de leitura dos jovens brasileiros que não tem relação direta com a digitalização de textos ou conteúdos de livros. Na atualidade, muitos jovens percorrem com empolgação volumes grandes, com quatrocentas, quinhentas páginas, quando se trata de séries de aventuras surrealistas, com personagens fabulosos em lugares fantásticos. Os exemplos mais marcantes são Harry Potter e Crepúsculo, que se tornaram também filmes de grande sucesso.

Fenômenos como esses não eram comuns até pouco tempo atrás. A boa adesão do jovem à prática da leitura já é observada na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, segundo a qual crianças e jovens de até vinte e quatro anos leem mais que os leitores mais velhos, conforme ilustra o gráfico abaixo (para detalhes sobre gêneros lidos e faixa etária, ver infográfico nesta edição).


A relevância do público jovem também ficou evidente na 21ª Bienal do Livro de São Paulo, que aconteceu na capital entre os dias 12 e 22 de agosto. Segundo a pesquisa do Datafolha, contratada pelos organizadores da feira, grande parte do público era formada por jovens (33% com até 25 anos; 33% de 26 a 40 anos; 25% de 41 a 55 anos, e 8% de pessoas com 56 ou mais anos).

Vitor Tavares chama de “geração Harry Potter” os jovens que leem preferencialmente livros com temas de bruxarias e vampiros, que aguçam seu imaginário. Mas a leitura das obras literárias clássicas ainda fica por conta da pressão dos vestibulares, que nem sempre é acompanhada dos efeitos esperados sobre a compreensão de textos em geral ou o estímulo ao ‘prazer’ pela descoberta de seus possíveis significados por parte do jovem leitor (ver artigo de Vera Bastazin nesta revista). No tocante às preferências de leitura de forma geral, sem considerar alguma segmentação etária, o destaque fica com os livros de autoajuda (ver box a seguir).

Livros de autoajuda entre os mais vendidos

O pesquisador Arnaldo Cortina, da Faculdade de Ciências e Letras, da Unesp de Araraquara, tentou estabelecer um perfil do leitor brasileiro a partir de um levantamento nas listas de livros mais vendidos do Jornal do Brasil e do jornal Leia entre 1966 e 2004. “O que pude constatar é que os livros de autoajuda foram ganhando força a partir dos anos 1980”, afirma. O crescimento desse tipo de literatura, segundo ele, faz com que o “estilo de autoajuda” se dissemine em diversos campos de leitura, como a literatura médica, a psicológica, a nutricional, a de administração de negócios etc. “Chegamos a um ponto em que não conseguimos mais distinguir o que é ou o que não é aquilo que chamávamos inicialmente de ‘autoajuda’, tal como ela apareceu nos anos 1960 nos EUA, quando se voltava para a questão do ‘mentalismo’, do ‘pensamento positivo’ etc”. Arnaldo encaixa na categoria de autoajuda livros como O alquimista e Brida, ambos de Paulo Coelho, Amar pode dar certo, de Roberto Shinyashiki, e O sucesso não ocorre por acaso, de Lair Ribeiro. “Essa foi a grande mudança no panorama da leitura de massa contemporânea”, diz. Para ele a autoajuda cresce porque as pessoas perderam as certezas. As grandes crenças religiosas e políticas entram em crise, e o homem contemporâneo precisa se apegar a algo que substitua isso. “Por essa razão temos o esoterismo, a afirmação de valores de determinados grupos sociais, o individualismo, a aceleração do consumo nessa atual fase do capitalismo”, finaliza.

Motivos e motivações

O leitor no Brasil lê, em média, menos de dois livros por ano (1,3), sem contar os livros didáticos usados nas escolas, de acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. Bem menos que na Argentina (5), no Chile (3) e na Colômbia (2,5). E a explicação para o ainda baixo índice de leitura passa por questões tanto socioculturais quanto econômicas.

“Ainda hoje temos um índice de analfabetismo não desprezível [no Brasil], sem mencionar os chamados analfabetos funcionais, que leem, mas não sabem explicar o que leram”, diz Tânia Pellegrini. Outra questão colocada pela professora é a do preço dos livros. “O livro no Brasil sempre foi muito caro em relação aos salários”, diz. Para Tavares, no entanto, o problema de hábito de leitura no país não é justificado pelo preço dos livros, pois há alternativas à compra, como bibliotecas, feiras, livrarias, e mesmo a internet, onde se pode ler de graça. “É a família a grande incentivadora do hábito”, comenta.

Para os leitores que desejam ler e veem o preço dos livros como um obstáculo, vale lembrar que muitos livros estão disponíveis gratuitamente (e legalmente) na internet. Sites de bibliotecas digitais, como o Domínio Público e o Brasiliana USP, oferecem milhares de obras para download gratuito, de importantes autores, como Machado de Assis, Eça de Queiroz, Lima Barreto, José de Alencar, Fernando Pessoa, Shakespeare, Dante Alighieri e muitos outros (box a seguir).

O Portal Domínio Público, lançado em 2004 pelo Ministério da Educação (MEC), já conta com um acervo de mais de 171 mil obras. Até agosto de 2010 já foram baixadas 31,3 milhões de cópias, entre textos, imagens, sons e vídeos. Já a Brasiliana, uma iniciativa da Universidade de São Paulo, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e com o Ministério da Cultura (MinC), já disponibiliza de forma online parte do acervo de 17 mil títulos doado pelo bibliófilo José Mindlin em 2006. Entre os dias 13 e 15 de outubro, durante o Seminário Mindlin 2010 – O Futuro das Bibliotecas, será lançada a versão 2.0 da Brasiliana Digital.


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Saiba mais:


•Associação Nacional de Livrarias: www.anl.org.br/web/index.php
•Câmara Brasileira do Livro: http://www.cbl.org.br/
•Revista Panorama Editorial: http://www.panoramaeditorial.com.br/
•Biblioteca Brasiliana USP: http://www.brasiliana.usp.br/
•Portal Domínio Público: http://www.dominiopublico.gov.br/

Fonte: Univesp

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A leitura como agente do conhecimento


Matéria publicada em 14 de outubro de 2010

Ricardo Azevedo

É lendo que desenvolvemos nosso pensamento crítico. Sem ele, os jovens serão sempre presa fácil da propaganda enganosa e da alienação


Recentemente, no rádio, um locutor falava em liberdades individuais, no direito de cada cidadão ser o agente de suas próprias decisões e na importância da diversidade de opiniões. Imaginei que fosse alguma ONG em defesa da democracia. Nada disso. O texto era patrocinado por um fabricante de cigarros! A liberdade a que se referia, no fundo, era uma só: a de optar por ser fumante, contrariando todas as informações médicas disponíveis.

São complexos os desafios da educação nos dias de hoje. Creio que alguns deles nem sempre são lembrados. É preciso formar nossas crianças e jovens de maneira que sejam capazes de perceber que discursos válidos e civilizadores podem ser utilizados como ações de marketing e propaganda (e também por políticos corruptos e regimes autoritários).

Fazer com que compreendam o funcionamento das sociedades fundadas em economias de mercado, para que saibam, por exemplo, separar consumo de consumismo ou propaganda de propaganda enganosa. Que discutam o que é autoridade (a confiança conquistada legitimamente), autoritarismo (a obediência obtida à força) e omissão (a desresponsabilização diante, por exemplo, de pessoas inexperientes ou dependentes e, num outro patamar, diante da sociedade).

Que tenham claro que a liberdade é muito boa, mas tem limites: ninguém tem direito de desrespeitar o direito dos outros. Que compreendam que são responsáveis também pela sociedade em que vivem.

Que aprendam a estudar (poucas escolas ensinam isso) e tenham o melhor preparo técnico possível sem esquecer de certas características de qualquer ser humano: somos incapazes de viver sem uma sociedade; somos capazes de construir linguagens e símbolos; temos dificuldade de distinguir a subjetividade da objetividade; somos efêmeros (morremos), corporais e passíveis de prazer e sofrimento; podemos pensar em assuntos abstratos como justiça, moral, política e estética; transformar a natureza e a sociedade e, ainda, fazer projetos para, com sorte e competência, construir um futuro melhor.

É importante que saibam respeitar, conviver e ser capazes de se identificar com hábitos, valores e crenças diferentes dos seus. Que discutam sobre por que têm sido levados a escolher suas profissões sem um mínimo de autoconhecimento (considerando apenas salários e a profissão da moda em detrimento de vocações). Que debatam formas alienantes e sub-reptícias de exclusão, como o “culto da celebridade” (que valoriza a pessoa “descolada” e sua “imagem”, desprezando a pessoa “comum”). E também os hábitos culturais que misturam o público e o privado, para que possam analisar as práticas que transformam vidas e relações humanas em ações de marketing e pessoas em produtos de consumo.

Que conheçam os extraordinários avanços da modernidade, mas também suas inúmeras contradições. Que tenham acesso à multifacetada cultura de nosso país. Que estejam conscientes das desigualdades de nossa sociedade (por serem imorais e injustificáveis, elas costumam deixar nossas crianças e jovens confusos e céticos).

E ainda que sejam levados a compreender que não são a plateia, mas sim os protagonistas do futuro e que, na escola, estão se preparando para construí-lo e ressignificá-lo.

Não sou pedagogo e conheço pouco os diferentes métodos educacionais. Sejam quais forem, a meu ver, deveriam ter por base assuntos como esses. Eis por que a leitura sempre terá um papel fundamental: desenvolvemos nosso pensamento crítico, principalmente, por meio dela. Sem ele, nossas crianças e jovens, tanto faz de que classe social, serão presa fácil da propaganda enganosa, da alienação e do niilismo.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

"Acredito que os jovens leiam mais hoje", diz historiador francês

Roger Chartier defende leitura na internet, mas duvida que livros sumam

André Miranda escreve para “O Globo”:

Diretor do Centro de Pesquisas Históricas na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais da França, o historiador francês Roger Chartier é um dos maiores especialistas do mundo no estudo da prática da leitura.

São de sua autoria os livros “Práticas da leitura” (Estação Liberdade), “História da leitura no mundo ocidental” (Ática) e “Os desafios da escrita” (Unesp), entre outros. Em entrevista ao Globo, Chartier falou sobre as mudanças que as tecnologias podem promover sobre a leitura.

- Um jovem de hoje lê menos do que um jovem de 30 anos atrás?

Parece-me difícil estabelecer um diagnóstico geral. Alternando os países, os meios sociais ou as condições culturais, a resposta poderia ser muito distinta. No caso francês, acredito que os jovens leiam mais hoje, mas eles lêem textos que não são os que tradicionalmente se consideram leituras legítimas. Eles lêem na frente do computador, lêem histórias em quadrinho, revistas, livros escolares, literatura de bolso. O que é verdade é que os jovens não valorizam de forma alguma sua representação como leitor. Mas, como escreveu o sociólogo francês Christian Baudelot, “ainda assim lêem”, indicando que as práticas de leitura são mais freqüentes do que indicam os discursos sobre leitura. Não conheço os dados estatísticos do Brasil, mas a mesma conclusão me parece válida.

- É possível falar sobre a “qualidade” do tipo de leitura? É aceitável que alguém diga que a leitura de blogs ou sites de notícias tem menos valor do que a leitura de um romance?

A leitura frente a uma tela de computador é descontinuada, segmentada, e se atém a um fragmento (uma informação de um banco de dados, um artigo num periódico ou blog, uma voz numa enciclopédia), sem a necessidade ou desejo de relacionar esse fragmento com a totalidade textual de onde foi extraído. Acredita-se que a leitura de textos cuja estrutura é fragmentada pode pôr em perigo o conceito de obra que supõe a compreensão. É a razão pela qual a edição de livros eletrônicos encontrou mais êxito com os gêneros enciclopédicos do que com romances, ensaios ou livros de história. É a razão, também, que explica a inquietude dos jovens leitores que se apropriam desses gêneros com as mesmas práticas de leitura que eles lêem blogs ou websites. Mais do que a qualidade dos textos, o essencial é a relação entre os tipos de textos e a maneira de ler.

- Mas um pai deveria se preocupar com um filho que passe horas lendo blogs e não pegue nunca num livro impresso?

O que é um livro? Para nós, é um objeto específico, diferente de outros objetos da cultura escrita (cartas, periódicas, revistas etc.) e é uma obra que tem sua identidade própria, sua coerência, sua lógica intelectual ou estética. Ainda que a percepção dessa identidade do livro como obra seja mais difícil frente ao computador que em contato com o impresso, não há razão para que a nova forma dos textos destrua a composição e leitura de obras notáveis. A História ensina que as obras do passado sobreviverão às mutações morfológicas e técnicas do livro: desde os rolos da Antigüidade e manuscritos medievais, até depois de Gutenberg com o livro impresso.

- Mas daqui a 40 ou 50 anos, quando a internet fizer parte da formação inicial de todas as gerações, um livro impresso ou um jornal não poderia se tornar obsoleto?

Não desejo e nem acredito nisso, porque ler um “mesmo” texto na frente do computador e num objeto impresso leva a leituras diferentes. A primeira é realizada por rubricas, temas, palavras-chave e dá acesso a informações segundo uma ordem enciclopédica na qual cada fragmento tem como contexto os outros textos que se encontram sob a mesma rubrica de sua origem. Já o sentido da segunda leitura é construído por cada fragmento em relação a todos os textos presentes na mesma página ou publicados no mesmo exemplar. É a intenção editorial, intelectual ou estética que mostra o contexto. As pessoas podem comprovar o que estou dizendo lendo um mesmo artigo num banco de dados de uma revista eletrônica e em seu exemplar impresso. Assim é possível medir a diferença de expectativas, curiosidades ou modalidades de compressão que existe entre as leituras.

- Num país como o Brasil, onde a educação é deficiente e a renda da população é baixa para a compra de livros, projetos de inclusão digital podem ser uma solução de incentivo à leitura?

Acredito que sim. As telas de computador que existem hoje são telas escritas, que podem ajudar a ensinar a ler e escrever, e que podem proporcionar um acesso a uma biblioteca sem limites. Mas acho também que, como disse certa vez a (psicóloga e pedagoga argentina) Emilia Ferreiro, a presença de computadores nas salas de aula não basta para resolver as dificuldades de aprendizado. Para o fomento da leitura, é preciso a mediação de mestres capazes de situá-la em frente ao computador dentro de uma cultura escrita global, que exige o aprendizado de escrever à mão e que propõe outros suportes de comunicação. O livro impresso é um desses suportes e deve estar presente nas classes e em espaços sociais como bibliotecas e livrarias. Como disse Bill Gates: “Quando quero ler um livro, eu o imprimo”.

Matéria publicada em 17/08/2008

Fonte: O Globo

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Adolescente lê, sim, senhor!

Ana Elisa Ribeiro

Há algum tempo, quando fiz o especial Leituras, leitores e livros, em quatro partes, aqui no Digestivo, algumas pessoas demonstraram curiosidade em saber se os adolescentes responderiam da mesma maneira que os adultos à pergunta: O que você está lendo?

Um guri, em especial, enviou mensagem sugerindo uma coluna sobre as leituras dos adolescentes. A idéia não era uma espécie de "pegadinha". Era mesmo para saber se as leituras dos mais jovens são muito diferentes das leituras citadas por "gente grande".

É de suma importância considerar, como ponto de partida, que o adolescente é (ou deveria ser) um leitor em formação. Ainda não pegou o jeito da coisa, não degustou o suficiente e tem um mundão de possibilidades diante de si. Nos tempos atuais, o garoto e a garota se vêem dentro de um mosaico em que concorrem (?) várias mídias, mundo muito diferente, por exemplo, do da minha avó e mesmo do de meus pais. De dentro deste mosaico é possível vislumbrar máquinas eletrônicas portadoras de textos e, também (!), máquinas analógicas em que o texto está armazenado há centenas de anos. Livros, jornais e revistas de papel ainda não opção para quem vive no século XXI. Sabe-se lá como será o "sistema de mídias" (vejam aí Peter Burke e Asa Briggs, por favor) dos meus bisnetos, mas o fato é que os meninos e meninas de hoje podem desfrutar dos meios que quiserem, conforme a vontade e a ocasião.

O leitor em formação foi alfabetizado, sim, desde a infância, mas não consolidou o que pode fazer com a técnica alfabética que adquiriu. Usa-a com finalidades cotidianas, mas também pode fazê-lo para outros fins, tais como aprender mais ou buscar informação que não vem de mão beijada. A escola é (ou deveria ser) uma das "agências" em que o jovem consolida habilidades com as palavras (ouvidas, faladas, lidas, escritas ou todas juntas). Sem dúvida, para grande parte da população, é na escola que há livros e precárias bibliotecas. Em casa, jornal serve para pôr no chão da gaiola do passarim.

Nós outros, de dentro de nossas redomas, não admitimos, por vezes, que exista gente neste mundo criada longe das possibilidades do livro ou do computador, mas é o que mais existe. É só dar um esticadinha no pescoço, para fora da redoma de cristal Swarovski.

Dia desses, batendo um papo acadêmico com professores do Vale do Jequitinhonha, num curso apelidado de Semi-árido, eles me contavam das condições em que dão aulas, nas escolas do Estado e também nas particulares (quando digo que essa polarização é ridícula e improcedente, ninguém me dá ouvidos...). Pasmem: todas têm laboratórios de informática e bibliotecas. Pasmem mais: os laboratórios ficam trancados e as bibliotecas, idem! Curioso também é saber que os alunos não conseguem acessar as máquinas não apenas porque o professor se indisponha a dar aulas com elas (ou nelas ou por meio delas), mas também porque não há técnicos responsáveis pelos labs ou porque é tudo tão burocrático que desanima a investida.

O caso dos técnicos é impressionante. São dois rapazolas para atender a 21 cidades da região inteira. Nem quis saber quantas escolas há em cada cidade, que era pra eu dormir em paz. O que acontece é que se uma máquina estragar, a espera é de, em média, dois meses. E dá-lhe quadro-de-giz.

Outro dia, no Jornal da Cultura, a Salete dava lá a notícia de que se estima que os estudantes de primeiro ano de curso superior deveriam gastar, em média, três mil reais por ano em livros. É claro que isso não acontece. Logo apareceu o depoimento de um estudante no balcão da lojinha de xerox. Claro, sai tudo bem mais barato. O próximo depoimento era de uma autoridade do setor livreiro. A idéia é boa: fazer uma coisa apelidada de "pasta do professor". Os trechos e capítulos indicados pelos mestres são impressos, com capa, sob demanda. O custo disso, para o aluno, ficaria bem próximo do xerox. Mas quem controla uma coisa dessas?

O que os meninos andam fazendo para ler? Vão até a banca, à biblioteca e à casa dos amigos mais providos. Ou não fazem nada, que é o que muita gente espera deles. Não é o caso dos guris que pintaram por aqui. Depois da minha pergunta, a Cora, 18 anos, aluna do curso técnico de Turismo, veio logo socorrer a categoria. Está lendo O amor nos tempos do cólera, de García Márquez, e diz que é porque leu Memória de minhas putas tristes, "como eu gostei do livro, procurei mais obras do autor, aí eu achei esse livro aqui em casa e desde então estou lendo". Cora afirma que desde que entrou numa escola pública muito "apertada", não lê com a freqüência que gostaria.

Bárbara Braga gosta mesmo é de romances históricos. Está lendo Anjos das sombras, de Karleen Koen, e diz que gosta da obra "por descrever como era o cotidiano das cortes dos reis de outras épocas". Já Pedro Henrique Silva, o "Itabirito", de 16 anos, aluno do curso técnico em Transportes e Trânsito, diz que lê livros "simplesmente por prazer". Já a leitura de revistas, para ele, "se deve à importância de estar bem-informado nos dias atuais". Aos domingos, Pedro lê jornais. O "Itabirito" anda com um Stephen King embaixo do braço (A torre negra) e atualiza-se com Época.

Ana Flávia, 16 anos, também aluna de Turismo, está lendo As Crônicas de Nárnia, de C. S. Lewis. "Foi um livro que recebeu uma boa crítica e esteve por várias semanas na lista dos mais vendidos. Por isso, decidi lê-lo, já que achei a história interessante". A garota diz que lê freqüentemente, embora a escola a impeça (!) de ler tanto e tudo quanto gostaria. "Pelo fato de estudar em tempo integral, infelizmente não tenho tido muito tempo para leitura".

Dez leis para ser feliz, de Augusto Cury, este é o livro escolhido por Débora, que começou a ler porque acha o tema interessante. "Num mundo de tanta correria como o nosso, a gente às vezes esquece de como é importante ser feliz e perdemos as rédeas da situação e acabamos nos embaraçando nas preocupações do dia-a-dia. E também comecei a ler porque minha mãe estava lendo um livro deste autor e me contou sobre a sensibilidade dele ao escrever." Débora gosta de saber sobre o comportamento humano, além de ler a revista Superinteressante. Também curte livros de história, crônicas e romances.

Guilherme, 16 anos, tem na cabeceira Memórias de uma gueixa, de Arthur Golden. Diz ele que achou o filme tão bom que resolveu ler a obra. "Pensei que o livro podia completar a história". Boa pedida. Gui não lê com freqüência porque não tem acesso a todo tipo de leitura, aproveita para denunciar a falta de tempo e a falta de obras interessantes na biblioteca do colégio.

Para esta turma, leitura e lazer andam de mãos dadas, pelo menos fora da escola. Lá dentro, não é exatamente lugar de leitura. Pelo menos não esta de que eles querem desfrutar com prazer, por escolha própria. Lá parece ser o lugar apenas das obrigações. Inclusive daquelas que não ajudam na hora de ler um livro espontaneamente.

Também é interessante como as outras mídias (tevê e cinema, principalmente) influenciam na escolha dos garotos. É claro que isso é importante, mas é bacana também se outras influências puderem alterar a rota mass media desses leitores em formação. A mãe, o pai, o irmão são potenciais multiplicadores. Aí é que entra a agência de formação que o ambiente doméstico deveria ser. É bastante comum que, numa casa em que a leitura não é sequer valorizada, as pessoas repitam um discurso pró-leitura. Ou mesmo que os pais cobrem da escola o milagre de fazer o que eles mesmos não fazem. Embora muita gente goste de dar palpites impulsivos, a questão da formação de leitores não é, de forma alguma, só da escola. Trata-se de uma empreitada para várias frentes de trabalho: a escola, sim, mas a casa, a família, os amigos, a televisão, a Internet e mesmo as políticas públicas. Os meninos lêem sim, basta olhar por cima do muro.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

A leitura e a escola

Aldenira Silva de Oliveira - Jornalista

Diversas pesquisas têm apontado que são poucos os brasileiros, principalmente os mais jovens, que cultivam o hábito da leitura. Esse fato é atribuído, segundo alguns estudiosos da literatura, à falta de incentivo dos pais e dos professores. Outros admitem que a diminuição do número de leitores deve-se à revolução tecnológica que oferece informações “mastigadas”, e que, pela velocidade como são divulgadas, não permitem interpretações ou maiores reflexões sobre os temas abordados.

Há ainda aqueles que justificam o fato esclarecendo que os brasileiros não gostam de ler porque lhes falta concentração, ou porque acreditam que a mídia televisiva é suficiente fonte de informação para o seu dia-a-dia.

Apesar de toda essa polêmica, entretanto, em um aspecto os estudiosos têm opinião unânime: a mídia, de um modo geral, exerce grande influência na sociedade e é considerada essencial para fortalecer os processos de formação de opinião pública e da prática da cidadania. No entanto, as informações obtidas via eletrônica devem ser aprofundadas por aquelas veiculadas em livros e jornais, ainda por muito tempo insubstituíveis. E, por isso, tema recorrente quando a discussão é a leitura.

Escritores e professores têm estimulado essa discussão. Para eles, é preciso que o brasileiro, desde criança, entenda que a leitura é indispensável para o seu aprimoramento pessoal e profissional.

Na escolaridade, a leitura está veiculada à alfabetização, à decifração de um código escrito. Assim sendo, passa a ser compreendida como um processo que envolve expressões formais e simbólicas que se dão a conhecer através de várias linguagens. Ou seja, aprende-se a ler quando se estabelece uma ligação afetiva entre o sujeito que lê e o texto que o desafia.

Saber ler é, pois, saber o que o texto diz e o que não diz. É tanto decodificar quanto compreender, pois “decodificar sem compreender é inútil; compreender sem decodificar é impossível”. O ato de ler e registrar o que é lido mecanicamente sem que haja criticidade não leva o leitor à geração de novos significados nem à conscientização do que está sendo assimilado. Ler não é simplesmente reter ou memorizar, mas compreender e criticar.

Dessa maneira, à medida que a leitura vai se desenvolvendo, perguntas e respostas vão ocorrendo, simultaneamente, formando um processo criativo, crítico e pessoal, atingindo contextos (político, econômico e social) aos quais o leitor está inserido. É imprescindível, pois, que na fase inicial da leitura, quer de livros, quer de jornais ou de revistas, o leitor conte não só com o apoio dos pais, mas também de professores, educadores de um modo geral.

Assim, partindo-se do pressuposto de que a escola é uma instituição estabelecida pela sociedade moderna para a transmissão da cultura às novas gerações e por meio da qual são trabalhados determinados estímulos que visam ao desenvolvimento de potencialidades, é difícil concebê-la sem leitura. Logo, é dever das instituições de ensino criar um ambiente propício para a formação do leitor brasileiro.

Mas o que as escolas vêm fazendo para facilitar esse processo?

Sabe-se que, atualmente, algumas escolas já incluem em seu programa anual atividades que priorizam a leitura, inclusive de jornais e revistas informativas, por meio de atividades para os alunos e através de palestra-oficina para os seus pais. Essa iniciativa parte do princípio de que para uma criança habituar-se à leitura é preciso ter pais que também gostem de ler.

Acredita-se que, agindo desse modo, será possível desfaze-se a percepção disseminada de que a geração atual não gosta de ler ou não sabe interpretar o que ler.

Pesquisa aponta aumento de mercado de livros para crianças e adolescentes

Autor: Redação JL

A leitura não é apenas uma das ferramentas mais importantes para o estudo e o trabalho, é também um dos grandes prazeres da vida. Ajudar as crianças e os jovens a descobrirem essa verdade é uma missão importante, que cada cidadão deve abraçar com entusiasmo.

A indústria livreira do Brasil tem feito a sua parte. Segundo a pesquisa “Produção e Vendas do Mercado Editorial 2008”, que a Fundação Instituto de Pesquisas Econômica (Fipe) elaborou a pedido da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), no período de 2008 o número de títulos voltados ao público infantil cresceu 14,02% na comparação com 2007. Também houve um incremento de 41,88% nos lançamentos de novas obras de literatura juvenil. Esses percentuais, num universo total de 13,39% novos títulos colocados no mercado, revela uma clara disposição em atingir mais crianças e jovens.

Além de apostar em mais títulos, as editoras também colocaram mais exemplares no mercado: foram 4,95% a mais de livros infantis e 9,26% a mais de livros juvenis do que em 2007. Vale ressaltar que, na média geral, a produção de novos exemplares foi 3,17% menor em 2008 do que no ano anterior.

O fato de os jovens e as crianças estarem lendo mais do que os adultos já havia sido evidenciada em levantamentos anteriores. A "Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil", de 2007, revelou que cerca de 39% dos 95,6 milhões de leitores brasileiros têm entre cinco e 17 anos. Entre os entrevistados de até 10 anos de idade, a média foi de 6,9 livros por ano. A estatística aumenta na faixa etária dos 11 aos 13 (8,5 livros por ano) e cai levemente entre os jovens de 14 a 17 anos (6,6). Infelizmente, porém, a maior parte das leituras é feita por exigência da escola: somente 0,9 livro é escolhido por iniciativa própria entre os leitores de até 10 anos, subindo para 1,4 na faixa dos 11 aos 13 anos e para 1,6 entre os jovens de até 17 anos.

A mesma pesquisa também demonstrou que o incentivo para a formação de jovens leitores vem da escola e da família, sobretudo das mães. Cerca de 73% dos leitores com idade entre cinco e 10 anos citaram as mães como principais incentivadoras do hábito e da leitura. E, entre os adultos que cultivam o hábito de ler, um em cada três disse ter lembrança da mãe lendo um livro, e 87% afirmaram que os pais liam para eles antes de dormir.

Para estimular as crianças e os jovens a, cada vez mais, lerem por prazer e não por obrigação, algumas medidas são importantes. A primeira delas consiste em facilitar o acesso às obras literárias. De acordo com a presidente da CBL, Rosely Boschini, estimular a leitura significa construir mais e melhores bibliotecas, equipada com mobiliário especialmente desenhado e estantes com altura adequada, de modo a facilitar o acesso dos pequenos leitores aos seus objetos de interesse. "Aumentar o número de bibliotecas é fundamental, pois há um grande número de municípios brasileiros que não dispõem de nenhuma. Mais livrarias também são necessárias. O Brasil tem hoje menos de 4 mil estabelecimentos do gênero, enquanto o ideal seria existirem pelo menos 10 mil", diz.

Outro ponto importante apontado por ela é que o livro tem que ser atrativo e interessante. "Neste ponto, as editoras brasileiras vêm cumprindo seu papel. Dos livros laváveis para bebês aos romances de aventura destinados aos jovens, há um universo de publicações lindamente encadernadas, com acabamentos primorosos e enredos variados, perfeitos convites para quem está começando a vida ingressar num mundo novo de aventuras, sonhos, fantasias e experiências variadas. Tanto isso é verdade que o produto editorial brasileiro vem obtendo grande sucesso nas feiras internacionais do setor, como a de Bolonha, principal eventual mundial do setor de livros infanto-juvenis".

Igualar as condições de acesso, incentivar as crianças de maneira positiva e envolver cada vez mais os pais e os professores na missão de iniciarem os mais jovens no universo infinito da leitura são providências urgentes e fundamentais para todos.