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sexta-feira, 11 de abril de 2014

Hábito da leitura deve vir da infância


31ª edição da Feira do Livro de Brasília
Pesquisa mostra que mãe é apontada por 41% dos entrevistados como uma das duas pessoas que mais influenciam o gosto pela leitura  (Valter Campanato / ABr)
 
A leitura, além de ser um dos maiores prazeres da vida, ajuda a abrir um mundo de oportunidades. Quem lê sabe mais, aprende melhor, tira boas notas na escola e, depois de adulto, consegue bons empregos. Mas, infelizmente, poucos brasileiros têm o hábito da leitura.
 
O “leitor ativo” é a pessoa que lê pelo menos quatro livros por ano. De acordo com a Câmara Brasileira do Livro (CBL), em 2001 havia no País apenas 26 milhões de leitores ativos. Isso é muito pouco para um país como o nosso, de cerca de 170 milhões de habitantes. E segundo o Ministério da Educação, a grande maioria dos livros produzidos por ano no Brasil é de livros didáticos.

A pesquisa Retrato da Leitura no Brasil, de 2001, aponta que somente um terço da população adulta alfabetizada aprecia a leitura de livros. E existe grande diferença de região para região do País: mais da metade dos compradores de livros (58%) concentram-se nos estados do Sul e do Sudeste. Outra coisa a considerar é que, de cada 10 não-leitores, 7 são de classes com baixo poder aquisitivo.

Dados do Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (Inaf) mostram que mais de um terço da população (34%) nunca foi a uma biblioteca. Nas classes D e E, esse percentual é de 49%.

Quantos livros cada pessoa lê por ano?

- 7 na França
- 5,1 nos Estados Unidos
- 5 na Itália
- 4,9 na Inglaterra
- 1,8 no Brasil

No Brasil apenas 16% da população detêm 73% dos livros. De 1995 a 2003, a venda de livros caiu 50%, e o número de títulos lançados, 13%.
Da população adulta alfabetizada do país:
- um terço aprecia a leitura de livros
- 61% têm muito pouco ou nenhum contato com livro
- 47% possuem no máximo dez livros em casa

Mudança

E o que fazer para mudar essa situação? A família e a escola podem ajudar muito. "Quem nasceu em uma família de leitores, independentemente do poder aquisitivo dessa família, tem muitas chances de se tornar um grande apreciador dos livros", acredita o presidente do Instituto Brasil Leitor (IBL), William Nacked.

Um dado do Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (Inaf) parece sustentar essa opinião: a mãe é apontada por 41% dos entrevistados como uma das duas pessoas que mais influenciam o gosto pela leitura. Professores são citados por 36%, e o pai, por 24% dos entrevistados.

Você, desde cedo, precisa lutar pelos seus direitos, e um deles é o de ler e estudar sempre. Peça aos seus pais e professores para lhe darem acesso a bons livros. Nem sempre é preciso gastar dinheiro com isso: você pode usar as bibliotecas públicas da sua cidade e da sua escola, ou trocar livros com os amigos.
  • Direitos autorais: Creative Commons - CC BY 3.0
Fonte: EBC

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Livros: um Brasil de poucos leitores

23/04/2012
Especialistas analisam o desafio de incentivar e leitura em país onde a maior parte da população prefere assistir à televisão nas horas livres


O resultado da última edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil trouxe uma triste notícia: a de que os brasileiros estão lendo menos. Muito embora o mercado editorial tenha registrado, em 2010, um crescimento de 8,3% nas vendas de livros, entre todos os entrevistados da pesquisa, realizada pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Ibope Inteligência, a média de livros lidos nos últimos três meses é de 1,85 (uma queda em relação à última edição, em 2007, cuja média era de 2,4). E o que mais chama a atenção no novo resultado é que a maioria dos brasileiros não lê um livro inteiro dentro desse período.
foto: Divulgação
Monteiro Lobato, escritor - Editoria: Caderno Dois - Foto: Divulgação
Monteiro Lobato aparece em primeiro lugar nas pesquisas de 2007 e 2011  como o escritor brasileiro mais admirado pelo público
Como critério, a pesquisa definiu como leitores apenas aqueles que leram, inteiro ou em partes, pelo menos um livro nos últimos três meses. Com isso, registrou-se que, em 2011, cerca 50% da população brasileira são de leitores, o que equivale a 88,2 milhõres de pessoas. Na pesquisa realizada em 2007, o percentual era de 55% (95,6 milhões de pessoas).

Outro aspecto que chamou a atenção referiu-se aos hábitos dos entrevistados: a maioria (85%) prefere assistir à televisão durante o tempo livre. A segunda atividade fevorita é escutar música ou rádio. A leitura (de jornais, revistas, livros e textos na internet) surge apenas na sétima posição, com apenas 25% dos entrevistados (uma queda expressiva em relação a 2007, quando esse número era de 35%).

Entre as principais barreiras para a leitura, muitos entrevistados afirmaram que leem muito devagar ou não tem paciência para ler. Perguntados sobre a razão para não ter lido mais nos últimos três meses falta de tempo e falta de interesse ou de gosto pela leitura lideram.

Coordenadora da Biblioteca Municipal Adelpho Poli Monjardim, de Vitória, e mestre em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Eugênia Magna Broseguini-Keys aponta como razões para o baixo índice de leitura o fracasso da escola como formadora de leitoes, o preço alto dos livros, a existência de poucos espaços de bibliotecas e os parcos investimentos em bibliotecas públicos e escolares (onde os acervos estão desatualizados e há poucos profissionais especializados).

Ela acrescenta que a corrupção no país é um grande entrave para o fomento da leitura, uma vez que o dinheiro que poderia ser aplicado para melhorar a qualidade da educação e investir em mais acesso aos livros e às bibliotecas acaba sendo desviado. “O livro, a leitura e a biblioteca estão no discurso político em geral, mas não na prática”, lamenta ela.

foto: Divulgação
Monteiro Lobato, escritor - Editoria: Caderno Dois - Foto: Divulgação
O best-seller “A Cabana”, do escritor William P. Young (acima),
aparece em segundo lugar, como livro mais marcante,
ficando atrás somente da Bíblia

História

O psicólogo e escritor Gerson Abarca remete à história do Brasil para explicar um problema que é crônico: “Fomos colonizados dentro de uma perspectiva exploratória e não de construção, e livro é elemento de construção. Tivemos ainda um longo período escravagista. Hoje, 70% dos brasileiros são analfabetos funcionais. Um cenário nada favorável à leitura”.

De acordo com ele, o maior desafio para a formação de leitores é fazer a escola entender que a melhor tarefa educacional é incentivar o estudante a ler, no mínimo, dois livros por mês, tendo como base um bom projeto pedagógico. “Assim, em nove meses de ano letivo, nossas crianças poderão atingir a média de 18 livros por ano, como na França.”

Gerson lamenta, contudo, o fato de professores preferirem passar tarefas de disciplinas que não têm ajudado crianças e adolescentes tomar gosto pela leitura. “Lógico que teríamos de ter bibliotecas dinâmicas. O governo está comprando muito livro para as escolas, que estão mofando. Por isso aumentou a produção e venda de livros, por que o governo comprou mais, e não por que as pessoas se interessaram pelos livros. Precisamos levar a leitura aos pais e aos professores, que leem muito pouco. Professor bom é aquele que já leu todos os livros que indica aos alunos. Tenho a impressão que estamos brincando de fazer educação neste país.”

Segundo Eugênia, para conseguir mudar o panorama atual, é preciso investir na democratização do acesso ao livro, à leitura e à biblioteca, bem como realizar continuamente ações que favoreçam a inclusão de não leitores por meio de atividades que são realizadas nas bibliotecas públicas, a fim de promover ações permanentes para que a leitura faça parte do cotidiano das pessoas.

A pesquisadora e doutoranda em Linguagem e Educação pela USP Gabriela Rodella reforça a importância do papel da escola na formação dos leitores e, por isso mesmo, é fundamental investir com rigor na formação inicial dos professores e em cursos de formação continuada bem estruturados e sérios, que tenham como objetivo levar à reflexão, e não simplesmente “treinar” o professor. “Tornar a carreira docente atrativa é fundamental para a imagem da leitura e do estudo em nossa sociedade”, acrescenta.

Políticas

Quanto às políticas públicas e programas de fomento à leitura, o Brasil parece manter uma boa imagem no exterior. Ao menos foi a impressão que passou o vice-ministro de Educação da Colômbia, Mauricio Perfetti, na última quinta-feira, dia 19, durante a 25ª Feira Internacional do Livro de Bogotá. No encontro, ele afirmou que, ao se falar de inovação, um modelo a imitar é do Brasil. “A experiência de levar escritores às aulas é excepcional, e o tema das bibliotecas para setores rurais nos parece essencial para fomentar igualdade de oportunidades”, apontou.

Gabriela Rodella observa que as políticas de distribuição de livros didáticos e de literatura desenvolvidas pelo Ministério da Educação são extremamente bem-sucedidas, o problema, analisa, é que não basta distribuir livros: é preciso desenvolver as condições necessárias para que eles sejam efetivamente lidos. Ou seja: as condições para que práticas de leitura diversas possam ser desenvolvidas por professores e alunos.

“Em várias escolas públicas do Estado de São Paulo, por exemplo, os livros ainda são mantidos em salas fechadas, pois não há profissionais que possam trabalhar na organização e na administração de bibliotecas, consideradas, muitas vezes, ‘coisa’ dos professores de português. Dessa forma, torna-se muito difícil que os livros ocupem um espaço importante na vida dos estudantes e, em última análise, da população em geral.”

Entre as políticas públicas, Eugênia Broseguini Broseguini cita as ações do Ministério da Educação (MEC), que vem se ocupando apenas da distribuição de acervos por meio do Programa Nacional Biblioteca na Escola. “Se a maioria das escolas que recebem o acervo não possui biblioteca nem bibliotecários, como está sendo dinamizado este acervo?”, questiona, ressaltando que a ausência de bibliotecas escolares ainda é um dos maiores problemas no sistema educacional.

“De outro lado, temos a Lei 12.244, que dispõe sobre a universalização das bibliotecas nas instituições de ensino do país até 2020. Se consideramos urgente a democratização do acesso, deveríamos ter priorizado a implantação em menor tempo. Isso me preocupa, pois deixou  brecha para os estados e municípios implantarem à revelia quando o prazo se esgotar.”

As críticas de Gerson Abarca às políticas de fomento à leitura são mais contundentes. Para ele, essas ações não existem. Para ele, o Brasil entrou em uma bolha de crescimento econômico e criou uma ilusão no povo. “Como haverá livros, se os escritores não possuem estímulo para escrever e publicar. Um governo que permite a produção de livros na China, para serem vendidos a preço de banana no Brasil, só vai dificultar a vida dos editores e da indústria do livro no país. E, pior, só vende livro ao governo quem for ‘amigo do rei’ ou tiver um bom trânsito de influências políticas. No dia em que entendermos que estamos subdesenvolvidos e reconhecermos ainda que nosso povo não foi sequer bem alfabetizado, aí sim poderemos pensar a partir da realidade e não da fantasia.”

Números
50% - A leitura está presente na vida de apenas metade da população (88,2 milhões de pessoas, em 2011). Houve uma queda de 5%, em relação a 2007, quando o país tinha 95,6 milhões de leitores.

57% - As mulheres são maioria entre o público considerado leitor pela pesquisa. Apenas 43% dos homens entrevistados são leitores. Entre os entrevistados, 25% gosta muito de ler, 37% gosta um pouco e 30% não gosta de ler.

85% - Esse é o percentual dos entrevistados pela pesquisa que prefere assistir à televisão. Em 2007, esse número era de 77%. A leitura (de jornais, revistas, livros e textos na internet) vem em sétimo lugar e registrou uma queda de 26%, em 2007, para 28% no ano passado.

64% - A maior parte dos entrevistados afirma que a leitura é uma “fonte de conhecimento para a vida”. Apenas 18% consideram ler uma atividade prazerosa, enquanto 12% dizem que ocupa muito tempo.

Bíblia
Na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, a Bíblia aparece em primeiro lugar na lista dos livros preferidos. Houve, no entanto, uma redução de 45% para 42% de leitores, de 2007 para 2011. Os livros didáticos vêm em segundo lugar, com 32%, e romances ocupam a terceira posição, com 31%.

Análise
O maior desafio é formar professores
A leitura é uma prática cultural. Sendo assim, é preciso aprendê-la. Não se trata de algo que se desenvolve “naturalmente”. Como grande parte de nossa população não desenvolve a prática da leitura de livros no começo de sua vida – e não se trata apenas de acesso ao objeto livro –, as novas gerações continuam crescendo sem ler. O maior desafio é, certamente, a formação de professores. Sem acesso à prática da leitura em casa, a maioria dos alunos da rede pública depende do engajamento de seus professores para que se formem leitores. A questão, no entanto, é que muitas vezes os próprios professores são leitores, digamos, rarefeitos. Eles não desenvolvem práticas de leitura que vão além das que necessitam para exercer a profissão de docente, o que tem consequências negativas na formação dos estudantes.

Gabriela Rodella, pesquisadora e doutoranda em Linguagem e Educação pela USP
Fonte: Gazeta online

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Interiorizar o livro e a leitura no Brasil

"As atuais políticas de incentivo à cadeia do livro têm modificado a realidade leitora"
 
O caixeiro viajante era mais que um vendedor de tudo um pouco pelos lugarejos País afora. Ele levava também estórias, leituras de mundo; e de porta em porta chamava o povo também aos livros. As obras eram restritas a poucos que tinham como opção tomar de empréstimo a amigos ou fazer pedidos através de cartas às editoras.

Se hoje há um pouco mais de facilidade de acesso com as livrarias e bibliotecas existentes, a necessidade de buscar novos leitores não mudou. Não podemos tratar essa questão analisando apenas o fator econômico, mas também o educacional e a desvalorização do ato de ler.

As atuais políticas de incentivo à cadeia do livro têm modificado a realidade leitora. Os gestores estão mais sensibilizados que estas ações não podem ficar restritas aos grandes centros. Tanto que a Fundação Biblioteca Nacional (FBN) e o Ministério da Cultura (MinC) criaram o Circuito Nacional de Feiras de Livros que estimulará e apoiará tais eventos nos municípios.

Em Maranguape, duas iniciativas do governo municipal se destacam por dinamizar o acervo da Biblioteca Capistrano de Abreu e aproximar a população da leitura. Os livros saem deste ambiente formal e percorrem ruas, indo ao encontro da vida que pulsa em cada esquina até a zona rural. Os espaços da leitura de livros já não se resumem a salas de aula e bibliotecas, podem ser um banco de praça, a sombra de uma árvore.

No “lombo” de motores, os livros são levados aos 17 distritos do município, através do ônibus-biblioteca do “Ensino sobre rodas”, da Secretaria de Educação e do projeto “Literatura Rural”, onde um veículo Rural, sob a organização da Fundação de Turismo, Esporte e Cultura (Fitec), dá destaque à literatura de cordel.

A visita dos projetos mostra que o encanto não se perdeu e a cada nova chegada o entusiasmo é o mesmo. É nessa aproximação, mesmo que rápida, que o despertar pode acontecer: quando se descobre o cheiro do livro, o toque macio das palavras, o sabor das frases juntas, a alquimia que tudo isso junto pode “perigosamente” causar.

No corpo a corpo, entre mediadores e leitores, não basta contar estórias, é preciso transformar, provocá-las a tornarem-se leitoras, a fazer deste encontro com as letras, um ir e vir constante.

Será mesmo que o brasileiro não gosta de ler ou faltam-lhe oportunidades de provar do prazer que só uma boa leitura sem obrigação pode proporcionar?

Luiza Helena Amorim - Luiza.helena.amorim@gmail.com
Jornalista, escritora e conselheira Municipal de Políticas Culturais na área do Livro e Leitura

Fonte: O Povo

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Brasil fica em 53º lugar em prova internacional que avalia capacidade de leitura

Larissa Guimarães 07/12/2010

O Brasil obteve o 53º lugar, em uma lista de 65 países, numa prova internacional que avaliou a capacidade de leitura de estudantes com 15 anos. Além da leitura, o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) também avaliou as habilidades dos estudantes em matemática e ciências.

O exame, que é aplicado a cada três anos, é divulgado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Juntos, os países que participam do Pisa representam aproximadamente 90% da economia mundial.

No Pisa 2009, o foco de análise foi a leitura. Nesse ranking, o Brasil obteve 412 pontos -- a China, primeira colocada, chegou a 556 pontos. Foram avaliados diversos aspectos na leitura, como a capacidade de reflexão, avaliação e interpretação dos alunos, por exemplo.

De acordo com o relatório divulgado pela OCDE, o Brasil teve "um grande ganho" na nota de leitura nos últimos anos. Apesar disso, o país ainda fica atrás de Chile (44º), Uruguai (47º), Trinidad e Tobago (51º) e Colômbia (52º). Por outro lado, o Brasil conseguiu ficar à frente da Argentina (58º) e do Peru (63º).

Em ciências, os estudantes brasileiros ficaram com 405 pontos. Em matemática, a nota ficou em 386 pontos (a China obteve 600 nesse quesito).

DIFICULDADES

O relatório apontou que o Brasil tem dificuldades para melhorar a educação, uma vez que o país é grande e tem muitas escolas rurais.

Sobre o levantamento, o Ministério da Educação afirmou que o Brasil está entre os países que mais cresceram no Pisa nos últimos anos, cumprindo a meta do PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação) de atingir a média 395 pontos nas três matérias.













Por que ninguém lê direito no Brasil

Matéria publicada em 01/11/2010

O país nunca se sai bem na mais importante avaliação internacional de leitura. O que fazer para mudar essa realidade – em 40 anos

Camila Guimarães

A cada três anos, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês) compara o desempenho de alunos de 15 anos de diversos países em três áreas do conhecimento: leitura, ciências e matemática. Na próxima semana, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) vai divulgar como andam as habilidades de leitura dos jovens e até que ponto eles conseguem compreender um texto, localizar e associar informações, fazer um raciocínio lógico sobre elas e tirar conclusões. A prova foi realizada no ano passado por cerca de 50 mil alunos sorteados em 990 escolas públicas e particulares do país. A chance de o Brasil ficar bem colocado nesse ranking é diminuta. Em 2000, nossos alunos ficaram em último lugar. O país passou para a 37a posição em 2003, entre 41 nações. Em 2006, ficou em 48o entre 56 participantes, com uma nota pior que a anterior. Não há motivos para esperar que no Pisa 2009 o Brasil consiga uma posição melhor.

DIVERSIFICAÇÃO
O professor Luis Junqueira em sua aula de leitura.
Ele dá textos de gêneros diferentes, para
os alunos aprenderem a interpretar melhor

Não é que não tenhamos feito alguns avanços – o maior deles foi a universalização do ensino fundamental. Mas estamos longe de uma educação de qualidade, que inclui inculcar nas pessoas o hábito da leitura e desenvolver nelas a capacidade de compreender textos complexos. Para atingir essa meta, a escola precisa avançar muito. Não só ela, a sociedade também. Em alguns dos países líderes do ranking, como Finlândia e Canadá, o hábito de leitura vem de casa. Os pais influenciam, incentivam progressos nessa área, dão exemplo para seus filhos ao gastar tempo e energia com atividades culturais. A estrutura no país também é precária. O Brasil tem uma biblioteca pública para cada 33 mil habitantes (quase 70% das escolas públicas nem sequer têm uma). O brasileiro lê, em média, 4,7 livros por ano. Nos Estados Unidos e na França são dez. Na Finlândia, o país que mais ganhou o Pisa, 21.

Isso leva a crer que não devemos esperar grandes melhoras na leitura de um Pisa para o outro, e sim de uma geração para a outra. Como fez a Coreia do Sul. Há 60 anos, o país tinha altos índices de analfabetismo e quase metade das crianças e jovens fora da escola. Eles instauraram uma reforma educacional há 40 anos, apostando na leitura como base. Bibliotecas exclusivas para crianças, financiadas por empresas e fundações, tomaram conta de Seul. Uma das maiores redes, a Crianças e Bibliotecas, surgiu da iniciativa de um grupo de mães, preocupadas com o futuro dos filhos. Em 2006, a Coreia tomou da Finlândia o primeiro lugar em leitura no Pisa.

O ponto inicial desse processo é a escola. Nossos colégios não estão preparados para formar leitores – sejam eles de clássicos da literatura, gibis, jornais ou blogs na internet. Dentro das salas, o desafio começa pelos professores. Sem formação adequada, eles têm de ensinar o que não sabem. “Para que o aluno aprenda a ler, o professor precisa dominar a técnica da leitura”, afirma Mary Elizabeth Cerutti Rizzatti, do Núcleo de Estudos em Linguística Aplicada e professora da Universidade Federal de Santa Catarina. “Mas poucos tiveram a oportunidade de desenvolver a habilidade de ler um contrato das Casas Bahia ou um poema de Drummond.”

Quando os educadores não são eles próprios hábeis na interpretação de textos, pipocam projetos de leitura pouco eficientes. As rodas de leitura de livros literários, tão comuns em classes de qualquer idade, por exemplo. É claro que essa atividade é importante, especialmente para crianças, mas só ela não garante que o aluno entenda a questão de uma prova de matemática ou ciências, ou que se torne um bom leitor. Uma das maiores dificuldades é garantir que um leitor de conto de fadas se transforme em leitor de um texto de revista ou científico. Mas poucas escolas têm projetos de leitura para textos diferentes. “Uma criança que se dá bem lendo narrativas ou contos pode ser um desastre na hora de ler um texto informativo”, afirma Débora Vaz, diretora do Colégio Castanheiras, de São Paulo. Lá, a leitura em sala de aula é feita com a mediação do professor e com prioridade para ensinar gêneros diferentes. “O aluno mais fraco tem problemas em identificar o tipo de texto que lê, qual é a mensagem que ele passa e para quem”, diz Luís Junqueira, professor de português do 6º ano.

“A escola subestima a capacidade de leitura do jovem e não enxerga o leitor que ele é”
SIMONE ANDRÉ, do Instituto Ayrton Senna

A importância de ter habilidade de ler textos diferentes foi uma das principais razões de a Universidade de Campinas (Unicamp) mudar o formato da redação de seu vestibular. Neste ano, os candidatos a uma vaga na universidade tiveram de escrever três tipos de texto, de gêneros diferentes. “Errar o formato dos textos é mais grave que errar gramática”, diz Renato Pedrosa, coordenador do vestibular. “Infelizmente, a maioria não domina a leitura. E só quem tem essa habilidade vai se dar bem na universidade.”

Um dos tipos de leitura mais negligenciados pelos professores é justamente o mais cobrado em bons vestibulares ou pelo próprio Pisa: os enunciados informativos das questões. Por isso algumas escolas estão tirando a exclusividade do ensino da leitura dos professores de português – e dividindo a responsabilidade com o resto do corpo docente. Como fez uma escola pública de ensino médio s americana, a Brockton, do Estado de Massachusetts. Seus alunos, oriundos de comunidades carentes, tinham um péssimo desempenho nas avaliações estaduais e altas taxas de evasão (problemas parecidos com os do ensino médio brasileiro). Há dez anos, um grupo de professores começou uma campanha para estimular a leitura e a escrita em todas as disciplinas. Nos últimos dois anos, a escola ficou entre as 10% melhores de seu Estado.

Pela falta de estímulos em casa, no Brasil as escolas ainda assumem a tarefa extra de tornar a leitura interessante, principalmente para os adolescentes. E de novo se mostram inábeis: limitam a oferta de leituras a obras clássicas, difíceis de digerir, e obrigatórias. “A escola subestima a capacidade de leitura do jovem e não enxerga que tipo de leitor ele é”, diz Simone André, coordenadora da área de Educação Complementar e Juventude do Instituto Ayrton Senna, que trabalha com projetos de leitura em 200 escolas públicas de São Paulo. Na Finlândia não existe leitura obrigatória. Os alunos decidem com os professores quais livros vão ler e em quanto tempo.

Celso Renato Teixeira, diretor da escola estadual Luis Gonzaga Travassos, na periferia de São Paulo, descobriu em 2005 que seus alunos de 5a a 8a série gostavam de ler. Mas não o que a escola mandava. Um ano antes, quando chegou à escola, Teixeira deparou com um alto índice de analfabetismo funcional nas séries finais do ensino fundamental. Teve de dar prioridade a isso. Em seguida, pensou no projeto de leitura. Os alunos foram convidados a escolher na biblioteca da escola os livros de que mais gostavam. Na mesma época, a garotada visitou a Bienal do Livro em São Paulo e de novo os gostos pessoais ficaram perceptíveis. “A maioria escolheu livros que falavam sobre adolescência, namoro, relação com os pais”, diz Teixeira.

ESTÍMULO
Crianças e jovens no espaço infantil de uma biblioteca na Coreia do Sul.
Lá, o investimento em leitura deu retorno – em quatro décadas

Esses temas viraram iscas para os alunos. Aos poucos, a escola incentivou a passagem para outros tipos de leitura. Hoje, a biblioteca é abastecida com livros que os próprios alunos escolhem. Segundo Teixeira, alunos que antes não sabiam ler frases simples agora fazem resenhas dos livros – e os classificam com estrelas para recomendá-los aos colegas, em uma feira organizada toda semana. “Só entram os de quatro e cinco estrelas”, afirma Teixeira. Em cinco anos, os empréstimos na biblioteca aumentaram 79% e o rendimento da Travassos aumentou 33% na avaliação estadual.

O esforço dentro das escolas não basta. É mais difícil seduzir os alunos se eles não encontram fora do colégio (em casa, entre os amigos, na biblioteca do bairro) o mesmo ambiente de estímulo ao conhecimento. Eles acabam vendo o livro como uma “coisa de escola”. E, como a escola é uma obrigação, ler passa a ser considerado chato. Por isso, muitas escolas adotam projetos que envolvem os pais dos alunos. Há seis anos, a escola estadual Astor Vasques Lopes, em Itapetininga, interior de São Paulo, incluiu em seu projeto de leitura uma lição de casa para os pais. Os alunos do 1o ao 5o ano levam o livro para casa para ler junto com alguém da família. Pode ser o pai, a mãe, a avó. O importante é que quem leia faça um relatório sobre o livro, com suas impressões, e o mande para a professora. Com o filho matriculado na escola há pouco mais de um ano e meio, Roseli de Fátima Moreira diz que lê muito mais agora, depois de escrever relatórios e participar das rodas de leitura na escola. Ela diz ter comprado – e lido – por conta própria os dois primeiros livros da série Crepúsculo. “Eu me sinto mais estimulada.”

Os três casos citados nesta reportagem mostram avanços. Mas são progressos pontuais. Não há garantia de continuidade, seja pela falta de recursos ou por uma possível troca no grupo de professores. Mesmo colégios de elite, particulares, sofrem com a ausência de uma cultura da sociedade que estimule as crianças e os jovens a ler. Por isso, o resultado do Pisa 2009 deve ser similar ao de 2006. Se fizermos tudo certo (investir nas escolas, valorizar os professores, aumentar a carga horária, fornecer livros e material...), poderemos melhorar essa nota nos próximos anos. E só assim daremos condições para que a próxima geração dê o salto de que o país precisa para entrar na sociedade do conhecimento.

Fonte: Época

terça-feira, 31 de agosto de 2010

O mapa da leitura no Brasil

Revista CP Geografia - 30/08/2010


Todos os estabelecimentos de ensino do Brasil – os públicos e os privados – devem ter uma biblioteca. Isso, que até pouco tempo atrás era só um desejo, agora virou lei, sancionada em maio pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e já está em vigor. A aplicação da nova lei pode mudar o mapa brasileiro da leitura, traçado pela pesquisa Retratos da Leitura do Brasil. O levantamento, no qual 77 milhões de brasileiros admitem que não são leitores (enquanto outros 95 milhões, ou 55% dos brasileiros, declaram ter lido pelo menos um livro nos últimos três meses), mostra uma situação terrivelmente desigual.

De acordo com esse mapa da leitura, elaborado a partir do estudo encomendado pelo Instituto Pró-Livro, 45% dos leitores brasileiros estão na região Sudeste, onde seis em cada dez habitantes se confessam leitores. Nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste estão os menores números de leitores do país – 8%, 25% e 7%, respectivamente. Na região Sul, estão 14% dos leitores brasileiros.

Os índices de leitura – 4,7 livros lidos por habitante/ano pela população acima de cinco anos de idade, em contraste com a média de 1,8 encontrada em 2001 entre os brasileiros acima de 15 anos e pelo menos três de escolaridade – também se diferenciam de acordo com as regiões do Brasil. O Sudeste e o Sul aparecem na frente, enquanto que o Nordeste e Norte ficam na rabeira. Também estão nessas regiões, proporcionalmente aos índices verificados por pesquisas do IBGE e um estudo recente da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a pedido do Ministério da Cultura, os piores déficits de bibliotecas públicas.

“As mesmas desigualdades sociais encontradas em outras áreas infelizmente se reproduzem na questão da leitura, o que é, sem dúvida, uma grande dificuldade para combater as desigualdades verificadas em quesitos como renda per capita, nível de salários e qualidade de vida”, afirma o diretor do Observatório do Livro e da Leitura, Galeno Amorim, que coordenou a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil.

O escritor gaúcho Jéferson Assumção observa que os atuais retratos da leitura do Brasil resultam da história da colonização do País. Ele lembra que autores como Sérgio Paulo Rouanet e Renato Ortiz já apontavam problemas educacionais e de valor simbólico na prática da leitura entre os brasileiros.

No capítulo que escreveu para o livro Retratos da Leitura do Brasil, publicado pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e Instituto Pró-Livro, e organizado por Galeno, Assumção descreve que a relação dos brasileiros com o livro é recente e “herdeira de uma história bastante problemática”.
“Enquanto na França de 1890 cerca de 90% dos habitantes eram alfabetizados, e na Inglaterra de 1900 este número chegava a 97%, em Portugal havia apenas de 20% a 30% de alfabetização no mesmo período, ou seja, pouco menos de cem anos”, descreve ele. Na última década do século 19, o índice de analfabetismo no Brasil era de 84%.

Atual secretário de Cultura de Canoas (RS), Assumção observa que a miscigenação proporcionada pela colonização dá riqueza cultural expressa em cores, sons e movimentos. No Brasil só a pouco mais de 200 anos deixou de ser proibida a impressão de livros. A imprensa, aliás, desembarcou com a família real, em 1808, e restringia-se à fabricação de documentos e livros oficiais.

Além da herança histórica, a formação de leitores sofreu o impacto da ditadura militar, na avaliação de David Plank, autor da obra Política Educacional no Brasil: Caminhos para Salvação da Pátria. A reforma educacional daquele período eliminou dos currículos escolares disciplinas como francês, latim, filosofia e sociologia – as duas últimas voltaram a ser ministradas em 2007.

“A educação virou ensino, adestramento para a formação de mão de obra para aquecer o desenvolvimentismo capitalista brasileiro”, complementa Jerfferson Assumção. Esse perfil da educação brasileira fez a formação de leitores depender exclusivamente de esforços individuais, que não têm força para produzir o volume de leitores críticos dos quais o Brasil precisa.

Direito

Para Galeno Amorim, que coordenou a criação, em 2006, do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), do Ministério da Cultura e Ministério da Educação, é fundamental que o Estado brasileiro trate a questão da leitura um direito de cidadania. “O acesso aos livros e a outros suportes de leitura, via bibliotecas públicas, deve ser encarado como um serviço público de natureza essencial”, defende Galeno, ao apontar a necessidade de enraizar mais as políticas públicas do livro e leitura, a partir da instituição de Planos como o PNLL, nos estados e municípios.

Galeno Amorim também aponta a necessidade da criação urgente de uma ampla e vigorosa política nacional de revitalização das bibliotecas públicas, sejam elas municipais, escolares, universitárias ou comunitárias. “Somente políticas públicas permanentes, a partir de uma mobilização da sociedade e a pressão dos agentes sociais, é que podem enfrentar esse quadro da desigualdade no acesso e na prática da leitura, que perpetua e mesmo aprofunda das outras desigualdades sociais”, afirma Galeno.

“O conhecimento, a autonomia intelectual e a capacidade transformadora que gera fazem da prática de leitura uma questão de cidadania”, observa o diretor do Observatório do Livro e da Leitura, que em 2005 comandou no Brasil as comemorações do Ano Ibero-americano da Leitura, o Vivaleitura, que mobilizou 100 ações, entre projetos e programas, e é considerado um marco na virada que está ocorrendo nesse tema nesta década no País.

A questão, adverte Galeno, no que é apoiado pelo ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, de quem foi secretário municipal da Cultura em Ribeirão Preto (SP), é que o País dificilmente conseguirá alcançar bons índices econômicos sem investir em conhecimento. “Nem um país do mundo, entre os desenvolvidos, chegou a esta condição sem ter resolvido, antes, a questão do acesso à cultura e à educação de qualidade”, observa Palocci. “O acesso aos livros, portanto, é um direito que o Estado tem de garantir”, defende Galeno.

Segundo o IBGE, no início da década, existiam 1300 bibliotecas públicas no país. A lei que determina a implantação das bibliotecas é fruto dos esforços empreendidos por meio do PNLL, que conseguiu ampliar os recursos destinados pelo Ministério da Cultura de R$ 6 milhões, em 2003, para os cerca de R$ 180 milhões atuais. “Para alterar o mapa da leitura no Brasil é necessário muito investimento, sobretudo em educação”, diz Galeno Amorim.

Afinal, uma parcela considerável das pessoas que não leem no País justifica que não o fazem por não serem alfabetizadas. Esses – 15% segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil – não conhecem as letras. Outros 7% são analfabetos funcionais, ou seja, declaram que não leem por não compreenderem a maior parte do que está escrito. O levantamento também revelou que a dificuldade de acesso está entre as principais razões para não lerem entre aqueles que já são leitores. 18% justificaram falta de dinheiro e 15% falta de bibliotecas.

Na cidade de Passos (MG), foi justamente a existência de uma biblioteca pública que fez de Benedita Imaculada Bastos uma leitora voraz. Ela vive em Divisa Nova, cidade de apenas 5 mil habitantes, no Circuito das Águas, em Minas Gerais, e já perdeu a conta de quantas vezes foi a uma biblioteca. A Ilha do Tesouro foi o primeiro livro que leu, há 40 anos. E nunca mais parou.

“Leio no quarto, antes de dormir e quando acordo de madrugada, pego o livro de novo”, diz. Ela vê novelas, mas lê nos intervalos comerciais. “Sou muito caseira, minha companhia são os livros”, afirma a mulher, que trabalha como doméstica há mais de três décadas para a mesma família e estudou até a 4ª série do ensino fundamental.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

As políticas públicas para o livro e a leitura no Brasil

 Fabiano dos Santos Piúba - Diretor Nacional de Livro, Leitura e Literatura do Ministério da Cultura – MinC, onde também foi Coordenador de Articulação Federativa do Programa Mais Cultura. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Ceará e Mestre em História pela PUC-SP. Escritor e Professor Universitário. No Ceará coordenou a Políticas do Livro e de Acervos da Secretaria da Cultura do Estado no período de 2005 a 2007, onde concebeu e coordenou o projeto Agentes de Leitura, transformado em política pública nacional pelo MinC.

Em entrevista exclusiva à Revista ANL, Fabiano dos Santos Piúba - Diretor Nacional de Livro, Leitura e Literatura do Ministério da Cultura, fala sobre as ações de sua diretoria, sua participação na Convenção da ANL de 2009 e sobre as expectativas para o Fundo Pró Leitura brasileiro

Revista ANL - Qual o balanço que o Sr. faz de sua participação na mesa “O papel e o lugar das Políticas do Livro e Leis de defesa das livrarias. Lei do fomento ao Livro e à Leitura”?
Fabiano dos Santos Piúba - O fato da Convenção da ANL inserir o debate da política pública do livro e da leitura em sua programação, já expressa a importância do tema para o setor e de como os livreiros estão conectados com essa questão, como uma dimensão importante nas suas estratégias econômicas e sociais. Não se trata mais de apenas discutir as questões da lógica própria do mercado. E o título da mesa sugere um diálogo e uma relação de mão dupla entre o lugar das livrarias nesse processo. A mesa foi bastante significativa, por tínhamos uma composição que contava com o Congresso Nacional na pessoa do Dep. Marcelo Almeida que vem capitaneando uma importante frente parlamentar em defesa da leitura, o setor livreiro com as presenças de João Carneiro da Câmara Riograndense e da professora Graça da Editora e Livraria da UFGO. A participação do Governo Federal por meio da Diretoria do Livro, Leitura e Literatura do Ministério da Cultura não significou apenas uma presença do Ministério na Convenção. Fomos com propostas para serem lançadas ao debate, na perspectiva de uma construção coletiva com o setor.

Revista ANL - Quais os benefícios diretos que este tipo de debate pode trazer ao segmento?
Fabiano dos Santos Piúba - São benefícios estratégicos em torno da economia do livro. O livreiro tem que perceber que ele não é apenas sua livraria situada na rua tal de alguma cidade do Brasil. Ele compõe uma rede, um elo vital na cadeia produtiva do livro. O elo que estabelece um contato direto com o público. Portanto, seu papel não se restringe ao componente econômico da venda de livros. A livraria é um espaço cultural que tem um papel social relevante na formação de leitores. Daí a importância desse debate. Ao mesmo tempo em que a Convenção propiciou debates em torno da qualidade do atendimento nas livrarias, das rodadas de negócios, das novas tecnologias, ela abriu espaço para o debate das políticas públicas de cultura. Isso, por si só, expressa o amadurecimento do setor na percepção de inserir esse tema em sua agenda.

Revista ANL - O Sr. teve a oportunidade de assistir também a mesa “O ano da França no Brasil. Ações de apoio às livrarias francesas. Políticas de Estado em apoio ao Livro e à Edição: o exemplo da França”, que antecedeu sua apresentação. Como o Sr. vê o exemplo francês de políticas públicas para o livro? eria possível algum tipo de adaptação para o Brasil?
Fabiano dos Santos Piúba - A mesa foi bastante elucidativa e bem conduzida pela Milena Duchiade. Devo dizer, inclusive, que foi ali que compreendi melhor a questão do preço fixo do livro. Debate que penso que deve ser retomado no Congresso Nacional. No entanto, o que me chamou mais atenção naquela mesa foi a forma de como os franceses atuam junto às livrarias na formação das competências culturais dos livreiros, de como a dimensão cultural é vital na qualificação das livrarias, de seu quadro de funcionários, mas, sobretudo na relação com o cliente, com o público leitor. Nada mais instigante do que chegar em uma livraria e o atendente ser uma pessoa que detenha um repertório cultural diverso e que seja um leitor daqueles livros que estão nas prateleiras. Ao invés de um mero atendimento, a sua abordagem passa a ser de uma conversa literária ou acadêmica, e o livro deixa de ser uma mera mercadoria e passa a ser um objeto de desejo e de consumo cultural. Para isso, torna-se necessário uma qualificação profissional em torno das competências culturais que uma livraria possa desenvolver. Nesse sentido, mais do que inspirador, ouvir os relatos das experiências francesas, foi perceber de como essas políticas podem se tornar referências importantes para nós do Brasil. Inclusive, ao final daquele dia, nos reunimos no Consulado Geral da França, no Rio de Janeiro, já pensando em possíveis intercâmbios e em uma cooperação internacional.

Revista ANL - Como os recursos do Fundo Pró-Leitura, contribuição do setor editorial e livreiro poderão, de fato, estimular e aumentar o índice de leitura do brasileiro?
Fabiano dos Santos Piúba - O Fundo Setorial Pró-Leitura tem um objetivo claro: contribuir na construção de um país de leitores. Esse desafio cabe a todos, governo e sociedade, atuando juntos na democratização do acesso ao livro, na formação de leitores e no fomento da própria economia do livro. Por isso mesmo, sua proposta já nasceu como uma parceria estratégica entre governo, editores, livreiros e distribuidores que – na ocasião da desoneração do PIS/CONFINS do setor produtivo no ano de 2004 – compreenderam a responsabilidade mútua na construção de uma política pública de livro e leitura no Brasil. Portanto, sejamos claros. A criação do Fundo Setorial Pró-Leitura não é um novo imposto. Pelo contrário, trata-se de um gesto nobre de cidadania empresarial e de visão estratégica de desenvolvimento do país. Abordando o Fundo Setorial Pró-Leitura como investimento estratégico, tal afirmação fica explícita logo na sua primeira diretriz, definida no eixo do Plano Nacional do Livro e da Leitura, que trata das ações de democratização do acesso. Financiar essas ações implica em um retorno direto ao setor produtivo, na medida em que, para possibilitar o acesso se faz necessário compor e adquirir acervos bibliográficos para bibliotecas públicas municipais, bibliotecas comunitárias, bibliotecas escolares, pontos de leitura, casas da leitura, agentes de leitura e para os milhares de projetos de incentivo à leitura existentes no Brasil. E quais os lugares de venda dos livros? As editoras, distribuidoras e as livrarias. Portanto, trata-se de um retorno e investimento direto ao setor produtivo. Além disso, o fundo poderá vir a financiar cursos de formação continuada para editores e livreiros, criar linhas de créditos para pequenas empresas do setor e apoiar programações culturais em ambientes de livrarias. Além disso, vale ressaltar que os recursos do Fundo Setorial Pró-Leitura serão provenientes não apenas da contribuição oriunda do setor produtivo do livro. A maior parte dos recursos partirá do orçamento próprio da União e do Fundo Nacional de Cultura. Ou seja, o investimento do Governo Federal será superior à arrecadação da contribuição oriunda das editoras, livrarias e distribuidoras. Algo que já vem sendo praticado na gestão do governo Lula e do Ministro Juca Ferreira. Para termos noção desse dado, basta analisar que o investimento do Ministério da Cultura na área do livro e leitura no ano de 2003, não passava de R$ 7 milhões. Em 2008, só com o programa Mais Cultura, esse investimento ultrapassou a casa dos R$ 100 milhões com ações de implantação e modernização de bibliotecas municipais e estaduais, bem como ações de reconhecimento de centenas de projetos de incentivo à leitura desenvolvidos por entidades da sociedade civil, selecionados por meio do prêmio Pontos de Leitura. Em 2009 esses recursos foram ampliados ainda mais, por meio de uma articulação federativa com estados e municípios que decidiram também investir em políticas públicas de livro e leitura. Mas não podemos pensar o Fundo Setorial Pró-Leitura apenas como investimento da economia do livro. Seu mérito consiste no investimento social e humano por meio de financiamentos e apoios a programas e projetos que visam fazer deste país, uma nação de leitores. Sabemos que o acesso ao livro e a experiência da leitura ampliam os conhecimentos e horizontes, a capacidade crítica e inventiva das pessoas, bem como a capacidade de leitura do mundo e a percepção do lugar de cidadão na sociedade. O acesso à leitura e a formação leitora são, em suma, uma política pública de cidadania, de educação e de inclusão social. E o desenvolvimento do setor do livro e da leitura ainda requer uma participação vital do estado no fomento das políticas públicas nessa área.

Revista ANL - Como o Sr. vê o segmento livreiro no Brasil. Qual é o seu real papel dentro da cadeia do Livro?
Fabiano dos Santos Piúba - O setor livreiro tem um papel estratégico no desenvolvimento econômico e social do Brasil. A cada dia o segmento vem se modernizando e ampliando seu raio de atuação sem perder o foco no objeto livro e nos suportes da leitura. Dentro da cadeia do livro, penso que a livraria tem um papel social importante, pois ao mesmo tempo em que ela é o canal de venda, é também de contato direto com o público. Veja que percurso instigante: o livro nasce da inspiração e do trabalho de um escritor, passa por todo um processo de produção editorial e chega às mãos do leitor por meio de uma outra mão, a do livreiro. Isso é muita responsabilidade. Nessa perspectiva, podemos dizer que a livraria não apenas pode gerar emprego, renda e contribuir com o crescimento do PIB no Brasil. Ela pode ser um ponto de contato com o livro, como bem definiu Tuchaua Pereira Rodrigues da Câmara Riograndense do Livro. Nessa perspectiva, o Ministério da Cultura, por meio do programa Mais Cultura está inserindo em 2010 duas ações importantes para o setor livreiro: a primeira consiste no apoio a um projeto de capacitação de competências culturais para os livreiros e a segunda será um edital voltado para financiar projetos de programação cultural nos ambientes das livrarias no Brasil. Pois entendemos que as livrarias são também pontos de cultura importantes para o acesso ao livro e formação leitora.

Revista ANL - Quais os próximos passos do Governo Federal a favor do Livro, da Leitura e Literatura no Brasil?
Fabiano dos Santos Piúba - O presidente Lula e o Ministro Juca Ferreira inseriram a política pública de livro e leitura como dimensões estratégicas. Temos o Plano Nacional de Livro e Leitura e a partir de suas diretrizes, o MinC vem desenvolvendo seus programas e ações, sobretudo por meio do Programa Mais Cultura. Estamos trabalhando para zerar o déficit de municípios sem bibliotecas públicas. Não haverá mais nenhum município nesse país que não tenha uma biblioteca. Simultaneamente estamos modernizando bibliotecas públicas municipais e estaduais, bem como reconhecendo, premiando e financiando projetos de incentivo à leitura desenvolvidos pela sociedade civil, naquilo que estamos denominando de Rede dos Pontos de Leitura do Brasil. Além disso, estamos realizando em parceria com os estados, a seleção e formação de mais de três mil agentes de leitura que irão em suas próprias comunidades, cadastrar famílias, realizar empréstimos de livros, rodas de leitura, saraus artísticos, criar clubes de leituras. Esses agentes estarão integrados aos projetos pedagógicos das escolas, além de ser agentes de bibliotecas públicas municipais, lugar que, para nós, deve ser um espaço de difusão, produção, fruição cultural, mas sobretudo, o epicentro da formação de leitores das cidades. Para o ano de 2010, nossas metas são mais ousadas ainda. No âmbito da política, estamos trabalhando com o projeto Mais Livro, Mais Leitura para implantação de planos estaduais e municipais de livro e leitura. Esse projeto, feito em parceria com o MEC e com o Instituto Pró-Livro, é uma ação de pactuação federativa na perspectiva de envolvermos os estados e municípios na formulação e execução de políticas públicas na construção de cidades, estados e de um país de leitores.

sábado, 22 de maio de 2010

Livro: "Retratos da Leitura no Brasil", agora tem acesso digital

O livro Retratos da Leitura no Brasil, publicado pelo Instituto Pró-Livro (IPL), em parceria com a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, já pode ser acessado em formato digital. O IPL disponibilizou o conteúdo com o objetivo de possibilitar o acesso de todos às análises sobre o comportamento dos brasileiros em relação à leitura.

Retratos da Leitura no Brasil foi lançado na Bienal Internacional do Livro de São Paulo, em 2008, e reúne artigos de especialistas que se debruçaram sobre os resultados da pesquisa Retratos da Leitura II, divulgada pelo Instituto Pró-Livro no início do mesmo ano. A coordenação dos trabalhos é de Galeno Amorim, e entre os nomes presentes no livro estão o escritor Moacyr Scliar, o ex-diretor da Unesco Jorge Werthein, o coordenador do projeto Livro de Leitura do MinC Jéferson Assunção e o secretário executivo do PNLL José Castilho Marques Neto.

Livro Retratos da Leitura no Brasil (capa)
Livro Retratos da Leitura no Brasil (miolo)
(Necessita do programa Adobe Acrobat Reader)


Font: Pró-Livro