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terça-feira, 31 de maio de 2011

Acesso à leitura ganha espaço

Crescem iniciativas que oferecem livros e uso gratuito de bibliotecas

MARLENE JAGGI

Detalhe da Borrachalioteca
Foto: João Gustavo Soares

O mineiro Marcos Túlio Damasceno, de 32 anos, sempre foi apaixonado por livros e um observador dos hábitos das pessoas. Licenciado em letras, não deixava de notar o interesse dos amigos e clientes da borracharia do pai pelos jornais e revistas que ficavam entre os pneus, à disposição de quem os quisesse ler. Solícito, decidiu ajeitar uma estante com livros no estabelecimento. A iniciativa agradou tanto aos moradores de Sabará, município a 25 quilômetros de Belo Horizonte, que o professor se jogou de corpo e alma no projeto. Resultado: dos primeiros 70 livros de 2002 passou a um acervo de 20 mil exemplares nas quatro unidades atuais da Borrachalioteca: a sede, que ainda funciona dentro da borracharia; a Sala Son Salvador, no bairro Cabral; o espaço Libertação pela Leitura, aberto dentro do presídio de Sabará, e a Casa das Artes (que abriga uma biblioteca infanto-juvenil e uma Cordelteca). “Acabamos nos tornando referência para os amantes da leitura na cidade”, conta Damasceno.

A Borrachalioteca é um dos milhares de projetos que avançam, Brasil afora, com o objetivo de oferecer à sociedade acesso gratuito à leitura. São iniciativas de todos os tipos e portes, criadas para todos os públicos, pelas mais diversas instituições – de representantes da sociedade civil às três esferas do governo – e que trazem à tona uma realidade pouco percebida: o brasileiro, de fato, lê muito pouco, mas crescem em número e diversidade as alternativas de acesso à leitura no país.

Essa onda pró-leitura inclui programas grandiosos, como o lançamento, em 2009, do Mais Livro e Mais Leitura nos Estados e Municípios, iniciativa do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), dos ministérios da Cultura (MinC) e da Educação (MEC) e do Instituto Pró-Livro, que visa incentivar essas instâncias de governo a criar seus próprios planos de promoção da leitura. Há também projetos pontuais de grande porte, como a reabertura em janeiro da Biblioteca Mário de Andrade na capital paulista, e a inauguração, há um ano, da Biblioteca de São Paulo, assim como iniciativas singelas semelhantes à Borrachalioteca ou ao Jegue-Livro, criado em 2005 em Alto Alegre do Pindaré (MA) e que lança mão dos recursos disponíveis para levar livros a comunidades que, de outra forma, não teriam acesso a eles: um jegue, que sai da Casa do Professor carregando dois jacás coloridos cheios de livros para levar literatura a cinco povoados da região.

“É incrível o poder multiplicador que projetos como esses têm sobre a sociedade”, diz Lourdes Atié, coordenadora pedagógica do Prêmio Viva Leitura. Criado em 2006 por iniciativa do MEC, do MinC e da Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), o concurso recebeu até agora 2 mil inscrições no Brasil inteiro. O projeto do Jegue-Livro ganhou o prêmio em 2006. A Borrachalioteca, em 2007. “No início, foi uma surpresa encontrar um Brasil feito de pessoas não eruditas, mas comprometidas em fazer alguma coisa pela cultura. Hoje percebemos que as experiências, vencedoras ou não do prêmio, ganham visibilidade e inspiram iniciativas semelhantes”, diz ela.

Assim como a borracharia, estabelecimentos como açougues e quitandas reservam um espaço para abrigar livros e emprestá-los aos moradores vizinhos. Há também quem desenvolva propostas para seu próprio pessoal. Foi o que fez Kátia Ricomini, de 29 anos, dona da paulistana Translig, empresa de motoboys. Para incentivar o hábito da leitura entre os funcionários, que não tinham o que fazer enquanto aguardavam novas entregas, ela criou, em 2006, o projeto Translivroteca. Três anos depois implantou também o Pegadas da Leitura, que estimula a troca gratuita de livros. Funciona assim: as obras levam na contracapa um resumo do projeto, onde se pede às pessoas que, depois de ler, passem o exemplar adiante, formando uma corrente de leitura. “A pessoa lê o livro, envia um e-mail para a Translig, conta o que achou e ‘liberta’ a obra em algum local. Pode ser no ponto de ônibus, na cafeteria, no metrô – em qualquer lugar onde ele encontre um novo leitor”, diz Kátia.

Para todos

A movimentação pela democratização do acesso à leitura lança mão de todos os meios de transporte. O que vale é deslocar materiais de leitura para pontos estratégicos, seja por meio de um jegue, barco, ônibus, caminhão ou metrô. O projeto Embarque na Leitura, por exemplo, gerenciado pelo Instituto Brasil Leitor e apoiado pelo MinC, colocou bibliotecas em seis estações do Metrô de São Paulo que emprestam livros de graça a quem utiliza esse meio de transporte. Desde 2004, 45 mil pessoas já se cadastraram e fizeram quase 500 mil empréstimos. No total, as seis bibliotecas reúnem quase 24 mil títulos.

O meio escolhido pela Secretaria Municipal da Cultura de São Paulo foi o ônibus. São quatro ônibus-biblioteca que percorrem 20 roteiros fixos para levar leitura à população da periferia carente de equipamentos culturais, na capital paulista. No lugar de ônibus, o Serviço Social do Comércio (Sesc) usa caminhões-baú como base para o projeto BiblioSesc. O primeiro foi implantado em Pernambuco, em 2005. A regional de São Paulo encampou o projeto em 2009 e hoje utiliza dois caminhões – um que vai a cinco comunidades em Interlagos e outro que vai a seis, em Itaquera. “Ainda este ano teremos outros dois”, afirma Francis Manzoni, assistente de leitura da gerência cultural do Sesc-SP.

O projeto atualmente está em todo o Brasil. No total são 27 veículos espalhados por vários estados onde o Sesc tem unidades regionais. Até o final do ano serão 52, diz Lisyane Wanderley dos Santos, assessora técnica de biblioteca. Em 2010, o BiblioSesc recebeu 26,6 mil inscrições de pessoas, em 35 municípios brasileiros.

Um dos critérios do projeto é atender comunidades carentes de equipamentos culturais. Cada caminhão tem estantes com cerca de 3 mil publicações, escada para acesso à carroceria, ar-condicionado (que funciona mediante parceria com instituições locais que cedem energia elétrica) e bibliotecário para dar suporte às atividades. O interessado entra e escolhe o livro, faz a carteirinha na hora e leva para ler em casa, devolvendo na volta do caminhão, 15 dias depois.

Avanço

De acordo com José Castilho Marques Neto, ex-secretário executivo do PNLL e diretor presidente da Fundação Editora da Unesp, o movimento para formar leitores cresceu muito nos últimos anos, principalmente a partir de 2003, quando passou a contar com a decisão política dos chefes de governo ibero-americanos de colocar a leitura como um objetivo a ser alcançado nos países da região. “Estamos num momento de inflexão importante e a hora é de avançar ainda mais nas conquistas, em todos os planos nacionais de leitura que acontecem em 19 países ibero-americanos”, diz ele.

Em sua opinião, no Brasil o projeto Mais Livro e Mais Leitura nos Estados e Municípios trará a capilaridade necessária e fará com que as cidades e estados se apoderem do PNLL, mas ele lembra que o governo federal precisa adotar outras medidas para constituir um país de leitores: institucionalizar o PNLL por lei, para garantir sua perenidade, criar o Instituto do Livro, Leitura e Literatura, para orientar e coordenar a política pública de incentivo à leitura no país, e formar um fundo específico para assegurar recursos continuados à área.

Até agora, os números oficiais preocupam. A última pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, de 2008, apontou o índice de 1,3 livro lido por ano por pessoa (descontadas as obras escolares, que, se incluídas, elevariam o resultado para 4,7). “Como o levantamento já tem quatro anos, estamos com a expectativa de que, com os milhares de ações pró-leitura mais recentes, tanto dos governos quanto da sociedade, esse índice tenha aumentado”, diz Castilho.

Apesar dos esforços, no entanto, nem sempre o resultado é o esperado. A intenção do governo Lula de garantir o funcionamento de pelo menos uma biblioteca pública em cada cidade brasileira até 2010 não se concretizou. Dos 1.126 municípios que receberam kits com estantes e livros, somente 215 comunicaram a abertura de bibliotecas ao Ministério da Cultura. Por outro lado, as metas governamentais já não parecem tão distantes. Segundo o 1º Censo Nacional das Bibliotecas Públicas Municipais, feito pela Fundação Getúlio Vargas a pedido do Ministério da Cultura e divulgado em abril de 2010, 79% das cidades brasileiras possuíam ao menos uma biblioteca em funcionamento. O levantamento mapeou os 5.565 municípios do país e identificou 4.763 bibliotecas em 4.413 deles. Em 13% das localidades havia unidades em fase de implantação ou de reabertura e em 8% estavam fechadas, extintas ou nunca existiram.

“O programa Mais Cultura fomentou centenas de projetos para construção, reforma e modernização”, diz Castilho, segundo o qual tão importante quanto o avanço quantitativo é a mudança de conceito de biblioteca – que migrou de espaço sisudo e vazio para áreas abertas a um público maior, com recursos multimídia, alcançando leitores de todas as idades e necessidades.

Renovação

São Paulo é um bom exemplo dessa mudança. A maior parte das 54 bibliotecas públicas da cidade foi revitalizada e quase todo o acervo de 2,2 milhões de exemplares já está no catálogo online. “Durante muito tempo as bibliotecas foram espaços escolares e até por isso havia uma separação entre as destinadas a adultos e as infanto-juvenis. Isso mudou. Além da integração do acervo, os espaços foram reformados, ganharam novos móveis, como estantes, tatames, pufes e mesinhas, e reforço na programação de eventos culturais, o que permite que uma família inteira encontre leitura e entretenimento”, avalia Maria Zenita Monteiro, coordenadora do Sistema Municipal de Bibliotecas de São Paulo.

Novinha, a Biblioteca Álvaro Guerra, do bairro de Pinheiros, tem tudo isso e até um jardim de leitura em que crianças, adultos e idosos da região podem ler ou emprestar qualquer um dos 25 mil exemplares do acervo, conta a coordenadora da unidade, Jamile Salibe Ribeiro de Faria. Essa renovação pode ser observada também na Biblioteca Mário Schenberg, localizada na Lapa. Fundada há 57 anos, ela era, até há pouco tempo, um depósito de estantes, lembra a coordenadora, Patrícia Marçal Frias. Inserida no projeto Descobrindo os Encantos da Biblioteca Pública, da Secretaria Municipal de Cultura, virou uma das oito unidades temáticas da cidade – projeto que acrescenta às características tradicionais uma área dedicada a livros e atividades de determinados temas. O da Mário Schenberg é ciência. Lá há livros específicos e ocorrem exposições e até shows, como os do grupo Mad Science.

Na Alceu Amoroso Lima, também situada em Pinheiros, a especialização é poesia. São 3 mil títulos do gênero. Para quem gosta de tradições populares, o endereço é a Biblioteca Belmonte, localizada no bairro de Santo Amaro, com seus 500 livretos de cordel. São também temáticas as bibliotecas Cassiano Ricardo (música), Roberto Santos (cinema), Viriato Corrêa (literatura fantástica), Hans Christian Andersen (contos de fadas) e Raul Bopp (meio ambiente). Até 2012, a cidade ganhará mais duas – uma delas, a de cultura negra, será aberta ainda neste ano, no bairro do Jabaquara.

Além das bibliotecas públicas e temáticas, a cidade tem oito Bosques da Leitura, que funcionam aos domingos em vários parques, como Anhanguera, Ibirapuera, do Carmo e da Luz, e 12 Pontos de Leitura – espaços com no mínimo 60 metros quadrados e acervo de 1,5 mil exemplares, instalados na periferia da cidade, em locais como Jardim Ângela e São Miguel Paulista. Em 2010, o Sistema Municipal de Bibliotecas de São Paulo registrou a frequência de 1,2 milhão de pessoas e emprestou cerca de 900 mil livros – não estão computados nesses totais os dados das bibliotecas Mário de Andrade e do Centro Cultural São Paulo.

Fechada desde 2007 para reforma, a Biblioteca Mário de Andrade foi reaberta em janeiro, após um processo de restauração e modernização do prédio e desinfestação do acervo de 200 mil livros, entre os quais uma coleção com 50 mil obras raras e especiais, 27 mil volumes de arte e 42 mil livros circulantes. Com 3,3 milhões de itens, ela abriga o segundo maior acervo documental e bibliográfico brasileiro (o primeiro é o da Biblioteca Nacional, no Rio de janeiro).

Além disso, o paulistano pode se preparar para mais novidades: a reforma da Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato; a inauguração neste ano do novo prédio da Biblioteca Sérgio Buarque de Holanda, em Itaquera, e a abertura do Centro de Formação Cultural de Cidade Tiradentes, que está em construção e prevê uma biblioteca de aproximadamente 500 metros quadrados.

Inclusão

Nesse processo de modernização e mudança de conceito das bibliotecas, os públicos com necessidades especiais são sempre lembrados. O melhor exemplo dessa preocupação está na Biblioteca de São Paulo, inaugurada em fevereiro de 2010 exatamente onde funcionava o Carandiru, o maior presídio da América Latina e um dos mais violentos que o país já teve. Ali, além de um acervo em braile, o usuário encontra cadeiras e estantes adequadas a faixas etárias e mesas reguláveis de fácil adaptação para cadeiras de rodas. A unidade dispõe ainda de mil títulos de audiobooks e até de um scanner que transforma páginas de livros convencionais em áudio ou placas de braile, o que permite acesso dos deficientes visuais à literatura geral. Para quem não pode movimentar as mãos, a biblioteca oferece folheadores automáticos de páginas. “A Biblioteca de São Paulo é um marco, um lugar mágico em que foram investidos R$ 12,5 milhões”, informa Adriana Ferrari, idealizadora do projeto e coordenadora da Unidade de Bibliotecas e Leitura da Secretaria da Cultura do estado de São Paulo. De fato, em vez de celas e violência, o que se vê ali é um parque arborizado e um prédio moderno, alegre, que recebe 30 mil pessoas por mês.

Outro diferencial desse estabelecimento, alinhado com o movimento atual que ocorre no país, é a determinação em fazer com que a leitura vire sinônimo de prazer e a biblioteca, um espaço de cultura e entretenimento. Assim, não é de estranhar que a Biblioteca de São Paulo tenha 94 computadores para o público acessar a web gratuitamente durante duas horas e meia por dia. Inspirada no modelo da Biblioteca de Santiago, no Chile, tem espaços organizados por cores que indicam as faixas etárias – os destinados às crianças têm mesas, tatames, estantes baixas. Resultado: virou um grande centro de convivência onde se pode ler o jornal do dia, uma revista estrangeira, fazer empréstimo de títulos de literatura, observar o ranking dos mais procurados no painel eletrônico, assistir a um show, jogar xadrez e até mesmo ter acesso a literatura erótica. No seu primeiro ano de funcionamento, recebeu 317 mil pessoas e emprestou mais de 180 mil livros, informa a diretora, Magda Maciel Montenegro.

Com 30 mil itens, entre livros, DVDs, CDs, revistas, quadrinhos e jornais, a biblioteca tem até um terminal de autoatendimento, que permite ao usuário cadastrado liberar o empréstimo sozinho. Os mais procurados, contudo, podem desapontar os intelectuais: são geralmente best-sellers. “Todos temos um tempo próprio para amadurecer nossas leituras”, diz Adriana. “O que não se pode é não dar acesso aos livros.” É por isso, segundo ela, que o governo do estado prepara uma nova unidade nos moldes da Biblioteca de São Paulo, no Parque do Belém.

Na escola

Segundo Lourdes Atié, do Prêmio Viva Leitura, apesar de todo o esforço que vem sendo feito, o estímulo à leitura ainda tem um longo caminho a percorrer, principalmente nos estabelecimentos de ensino. “Não basta ter acervo. Falta intencionalidade; pensar no que se pode fazer para que a escola não vire um depósito de livros”, diz ela. Daniela da Costa Neves, de 28 anos, já tem o seu jeito. Professora orientadora da Sala de Leitura da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Maria Berenice dos Santos, que fica no Jardim das Flores, na região de Guarapiranga, criou o Projeto Semana Literária, que, pelo terceiro ano consecutivo, coloca 470 crianças de 6 a 10 anos em contato com ilustradores, escritores e contadores de histórias, para estimular nelas o prazer da leitura.

As 45 bibliotecas dos Centros Educacionais Unificados (CEUs) são outro exemplo de que a leitura vem ganhando espaço nas escolas, embora o censo escolar divulgado no ano passado pelo Ministério da Educação mostre que ainda há muito a fazer. Segundo o levantamento, entre as escolas do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental apenas 30,4% têm biblioteca. Do sexto ao nono ano, o índice sobe para 60% e, no ensino médio, para 73,2%.

Dentro ou fora das escolas, não é fácil elevar os índices de leitura no Brasil. “Não podemos nos esquecer de que o problema vem de longe, de nosso tipo de colonização, da exclusão histórica e contínua da maioria da população em relação aos bens culturais e, entre esses, aos livros em particular”, observa Castilho. Em sua opinião, a leitura ainda é considerada um “biscoito fino” pelas nossas elites. A saída? Elaborar uma política pública de longo prazo que assegure esse direito a todos os brasileiros.

sábado, 20 de março de 2010

No meio do caminho tinha um livro

Ideias inovadoras promovem a leitura, provando que com o estímulo certo cidadãos de todas as idades e classes sociais podem se tornar amantes das letras
 
Ele segura um livro de noções de eletricidade e explica que o volume foi o primeiro de sua coleção. Achada na famosa esquina das avenidas São João com Ipiranga, no centro de São Paulo, a obra foi salva de um destino que, para o catador de papel Severino Manoel de Souza, seria um “crime”: o reuso do papel. “Se um livro desses for para a reciclagem, quando ele for picotado, vai dar meio quilo”, avalia. “Isso vai render 10 centavos, não dá para comprar nem um pãozinho. Foi quando eu senti que era um crime.” Severino conta que assim iniciou uma coleção de livros, todos achados na rua. “Quando eu tinha uma faixa de 450, 500 livros, tive a ideia de montar a biblioteca.”

Hoje, no número 711 da avenida Prestes Maia, região central da capital, funciona a Biblioteca Comunitária Prestes Maia, dentro de um prédio ocupado pelo Movimento dos Sem-Teto do Centro de São Paulo (MSTC). “Não foi tanto por mim, foi pelo carinho que eu tenho pelo pessoal aqui dentro, pelo carinho que eu tenho pelas famílias daqui, pelo carinho que eu tenho pelas crianças.” E elas, juntamente com os jovens e adolescentes, formam um contingente de 600 pessoas, parte das 468 famílias que moram no local. Ao todo, são dois mil moradores.

Essa história foi apresentada no vídeo Um Abrigo entre os Livros, de 2006 – produzido pelas Edições SM, com direção de Luaa Gabanini e roteiro e pesquisa de Fabio Weintraub. Como ela existem muitas outras, mas não se sabe o número. Segundo a doutora em ciência da informação ?Elisa Machado, não existe um levantamento sobre o assunto. No entanto, para sua tese de doutorado “Bibliotecas Comunitárias Como Prática Social no Brasil”, defendida em 2008, a pesquisadora levantou 350 dessas experiências e estudou, detidamente, 29 casos. “Encontrei de tudo [entre os criadores dessas iniciativas]. Professores, pedreiros, catadores de lixo, ex-seminaristas, enfim, pessoas das mais diversas formações – ou sem nenhuma formação”, diz. Em comum, segundo Elisa, apenas a vontade de difundir a informação e o conhecimento.


Cultura e lazer

A tese de Elisa Machado relata algumas dessas iniciativas, como a Biblioteca Solidária, criada em São José dos Campos, interior de São Paulo, pelo bibliotecário Sidnei P. Rosa. “Sidnei propôs à Secretaria de Cultura daquele município a criação de uma biblioteca pública no seu distrito”, escreve a pesquisadora no trabalho. “Tendo em vista a recusa da proposta, decidiu montar uma biblioteca comunitária em sua casa.” Outro caso exposto é do ex-seminarista Devanir Amâncio, que montou, na cidade de São Paulo, a Biblioteca dos Garis. Há também a Biblioteca Comunitária T-Bone, que o açougueiro Luiz Amorim criou, em Brasília, dentro de seu estabelecimento. “Essa situação perdurou até que a Vigilância Sanitária fechou o açougue por causa da ‘convivência’ indevida entre livros e carnes”, comenta a pesquisadora na tese. “Foi a partir desse incidente que a biblioteca foi transferida para uma casa próxima.”

Para o antropólogo Felipe José Lindoso, também editor e estudioso do mercado editorial e das políticas públicas para o livro no Brasil, um dos aspectos mais interessantes sobre essas iniciativas populares é a posição que ocupam. “Elas borram totalmente a distinção entre ‘cultura’ e ‘lazer’”, afirma. “Ali se encontram os livros didáticos e de referência, que ajudam ?alunos de todos os níveis de escolarização a fazer seus trabalhos, romances de todos os tipos, livros de autoajuda, manuais técnicos, revistas e jornais.”

Letras e pneus


É esse o caso da Borrachalioteca, criada pelo borracheiro Marcos Túlio Damascena, no município de Sabará, em Minas Gerais. Desde 2002, quando ele levou os primeiros livros para a borracharia onde trabalha com o pai, o seu Joaquim, a biblioteca não parou mais de crescer. “A comunidade vinha aqui todos os dias para ler jornal”, conta Marcos Túlio. “Aí, eu, que sou um amante dos livros, pensei: por que não colocar alguns livros também?” Foi com essa ideia na cabeça que Marcos foi até a biblioteca pública da cidade solicitar ajuda. “Fui até lá e pedi alguns livros”, diz. “Eles doaram 70. Em 2004, nós já tínhamos mais de 500.” Com sete anos de vida, a Borrachalioteca possui dez mil volumes em seu acervo na borracharia e mais cinco mil disponíveis numa segunda unidade, a Sala São Salvador – além de fama nacional, sobretudo depois de um destaque no programa Globo Repórter, da Rede Globo, em 2005. “Quando a gente saiu na imprensa, imagine no que resultou”, diz o borracheiro, que hoje estuda letras, com meia bolsa paga pela universidade graças à notoriedade conferida por sua iniciativa. A Borrachalioteca também organiza ações de incentivo à leitura. “A biblioteca tem de ser viva, não adianta você só deixar os livros lá”, diz Marco Túlio.

Mediação


As atividades complementares que Marcos Túlio realiza consistem, segundo os especialistas, num ponto fundamental do trabalho que toda biblioteca deveria desenvolver: a mediação de leitura. Ou seja, ir além da oferta de obras, garantindo que os leitores, ou futuros leitores, estabeleçam sua própria relação com o livro. “A maioria das pessoas conhece pouco as narrativas literárias”, explica a coordenadora do instituto A Cor da Letra, Márcia Wada. O instituto, fundado em 1998, realiza ações socioeducacionais e culturais. Para Márcia, existe um longo caminho até que as pessoas adquiram gosto pelos livros. “Uma vez presenciei uma situação muito curiosa”, relata. “Um grupo de jovens que a gente formou num dos projetos foi até o Parque do Ibirapuera para fazer umas leituras para crianças. Fui lá visitá-los e, quando cheguei, havia um guarda do parque de pé ao lado deles, e os meninos todos assustados. O guarda estava dizendo que não entendia o que eles estavam fazendo ali. Ou seja, num parque enorme, aonde as pessoas vão para andar de patins, de bicicleta, para brincar e fazer as mais diversas coisas, os meninos não podiam estender um tapete, colocar uns livros e ler para as crianças.” Segundo Márcia, a situação se resolveu, mas só depois de todos serem levados até a administração para conseguir uma autorização para... Ler.

Livros na bike


O projeto de Robinson Padial, o Binho Poeta, não tem nada de convencional. O comerciante criou a Bicicloteca que, como o nome denuncia, leva os livros para “passearem” sobre duas rodas pelas ruas do Campo Limpo, Zona Sul de São Paulo. “Eu tinha vontade de sair emprestando livros”, afirma Binho, que desde 1997 promove em seu bar o sarau Noite da Vela, ao qual os frequentadores vão para ouvir música, declamar poesias e ler trechos de obras. “Aí eu pensei numa bicicleta.” A ideia nasceu anos atrás, durante uma das edições da Expedición Donde Miras, uma caminhada que reúne pessoas em itinerâncias por todo o país. Numa dessas andanças, Binho comprou uma bicicleta velha por R$ 39 e a encheu de livros. “E aí a gente foi trocando livros com as pessoas. Foi bem interessante esse processo.”
Em 2008, a iniciativa passou por uma requalificação. Isso graças ao dinheiro conseguido com o Prêmio Vivaleitura, iniciativa do Ministério da Educação (MEC), do Ministério da Cultura (MinC), da Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), e que faz parte do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL) do governo brasileiro. Com a verba, Binho adquiriu duas bicicletas novinhas em folha e mais 250 títulos para seu acervo, hoje com quatro mil volumes.

Desde então, foram testados diferentes formatos para o funcionamento da Bicicloteca. Até que, há dois meses, Binho achou o jeito ideal. “Agora a gente decidiu ficar em dois pontos de ônibus, locais de grande circulação aqui. A gente enche os dois cestos de cada uma e estaciona lá.” O horário de funcionamento da Bicicloteca é das 10h às 17h, e a receptividade dos moradores, segundo Binho, é a melhor possível. “Não acontece, por exemplo, de as pessoas não devolverem o livro”, diz. “É incrível porque, como o nosso projeto é para desburocratizar o acesso, a pessoa não precisa dar nada além do nome, mesmo assim, todos os livros são devolvidos.” 
Estação biblioteca
Um outro exemplo de cuidado dos usuários com os livros pode ser conferido no projeto Embarque na Leitura, idealizado pelo Instituto Brasil Leitor (IBL) e desenvolvido pela Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) desde 2004. O trabalho consiste na criação de bibliotecas nas estações. A primeira surgiu em 1º de setembro de 2004, na estação Paraíso. Hoje, fazem parte do projeto as estações Tatuapé, Luz, Largo Treze e Santa Cecília, além de uma unidade na estação Brás da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Juntas, as seis unidades disponibilizam um acervo de 22.569 livros a 31 mil sócios. Ao todo, já foram feitos 270 mil empréstimos. O maior exemplo do êxito do projeto é o índice de não-devoluções das obras: 0,24%, o que equivale a um livro não devolvido a cada 400 emprestados. “Contrariando todos os pessimistas e confirmando nossas expectativas, o brasileiro respeita muito os livros e as bibliotecas”, informa a assessoria do Metrô. O projeto também oferece uma agenda de atividades ligadas à literatura, como tarde de autógrafos, conversas com escritores e contação de histórias. As bibliotecas funcionam de segunda a sexta-feira, das 11h às 20h.

Mundo de histórias


Programa BiblioSesc chega ao Sesc São Paulo com acervo de mais de sete mil volumes e atendimento nas zonas Leste e Sul da capital.
Há cinco anos rodando o país, por meio de iniciativas de outros departamentos do Sesc no Brasil, o programa BiblioSesc, há dois meses, faz parte das atividades do departamento regional de São Paulo. São dois caminhões com 3.800 livros cada um, para empréstimo sem a cobrança de nenhuma taxa. Nessa primeira fase de implantação podem ser encontrados em oito pontos da cidade, quatro locais na Zona Leste e quatro na Zona Sul. “O BiblioSesc é considerado pelo Sesc um programa porque tem uma ação contínua”, explica Francis Manzoni, assistente da Gerência de Ação Cultural (Geac) na área de literatura. “Ele começou como uma experiência no Sesc Pernambuco, levando livros para comunidades carentes, lugares onde não há bibliotecas disponíveis.” Esse foi o critério utilizado também pela experiência do Sesc São Paulo. “Foram escolhidas unidades que têm um entorno formado por bairros afastados e onde não há bibliotecas”, afirma Francis. “Interlagos e Itaquera são regiões distantes do centro e foram lugares onde o Sesc teve forte demanda de comunidades interessadas em receber esse tipo de serviço.”


O caminhão chega aos pontos onde fica estacionado – incluindo as duas unidades que sediam o programa – uma vez por semana, e o horário de atendimento é das 10h às 15h30. Segundo Francis, as equipes de implantação ainda estão trabalhando para que o programa atinja a plenitude de seu potencial de atendimento. “No começo, como estamos em período de implantação, o BiblioSesc está atendendo semanalmente”, explica o assistente. “Então, por exemplo, toda quinta-feira o caminhão estará na Praça Trabalhadores do Comércio. Mas a meta é atingir dez pontos com atendimento quinzenal. Assim, as comunidades vão se acostumar com os empréstimos e devoluções a cada quinze dias.” De acordo com Francis, está em andamento a aquisição de mais títulos infantis, pois esses primeiros meses revelaram que as crianças são as que mais procuram os caminhões cheios de livros. Segundo Francis, já se percebeu que esse é um “público em expansão no BiblioSesc de São Paulo.” “Mas isso não exclui, de maneira nenhuma, a terceira idade, adultos, famílias etc., que vão encontrar romances, clássicos e literatura contemporânea, e poderão compartilhar isso com filhos, netos e amigos”, diz. Além das estantes cheias de livros e do atendimento de pessoal treinado, o BiblioSesc oferece também um ambiente que convida à leitura. “Nós pensamos no início que, como as pessoas podem retirar o livro e levá-lo para casa, sem nenhum custo, elas não fossem ficar no caminhão. Mas, ao contrário, elas ficam, principalmente as crianças, que brincam e leem em torno do caminhão. Por isso, do lado de fora [de cada caminhão], há mesas para a consulta local, para leitura de revistas e jornais. As pessoas estão percebendo a biblioteca volante como um novo ponto de encontro nas comunidades.”
No que diz respeito aos títulos que podem ser encontrados no BiblioSesc, a diversidade mais uma vez marcará a ação do Sesc. Embora haja uma especial preocupação em oferecer e apresentar aos usuários clássicos e contemporâneos da literatura mundial, outros gêneros também poderão ser encontrados. “O BiblioSesc oferece livros diversos e que possam interessar a quaisquer pessoas, em diálogo com o repertório de leitura dos usuários nos bairros atendidos. Nosso objetivo é que comecem a ler e que tomem gosto pela leitura”, diz Francis. “Não pretendemos dizer o que é boa literatura, excluindo outros tipos de leitura. É claro que vamos oferecer a produção que consideramos importante, mas teremos um pouco de tudo.”

Outro serviço que o BiblioSesc irá oferecer é uma programação de Literatura que irá enriquecer o atendimento, contemplando, além do empréstimo de obras sem combrança de nenhum tipo de taxa, também o incentivo à leitura. “Esse será um diferencial do regional de São Paulo”, adianta Francis. “Já na programação de lançamento, de 16 de outubro a 15 de novembro (veja mais informações no site http://www.sescsp.org.br/), o BiblioSesc oferece contação de histórias, encontros com escritores, intervenções artísticas, apresentações musicais, rodas de leitura, brincadeiras, oficinas e toda uma programação que irá propor a mediação da leitura, o que é muito útil porque, junto à oferta de livros, damos importância para a mediação entre livros e leitores, entre os conteúdos dos livros e o repertório e campos de interesse do leitor.

Conhecimento ambulante


Iniciada com o escritor Mário de Andrade, nos anos 1930, ideia de biblioteca circulante é retomada pela prefeitura de São Paulo.

Durante a gestão do prefeito Fábio da Silva Prado, entre 1934 e 1938, a cidade de São Paulo, mais especificamente o centro, viu rodar por suas ruas uma curiosa novidade: uma biblioteca circulante que “passeava” pela cidade a emprestar livros para quem se interessasse. A ideia era simples, mas ao mesmo tempo genial. Se nem todos podem ir até os livros, eles iriam até as pessoas. Quem teve o insight? O escritor Mário de Andrade, criador e primeiro diretor do Departamento de Cultura da cidade –, um órgão que pode ser chamado de avô da Secretaria Municipal de Cultura.
O acervo ambulante começou a rodar em 1935, mas com o passar dos anos, e das gestões, a iniciativa não se manteve exatamente na pauta do dia. No entanto, 70 anos depois, os paulistanos voltam a conviver com a antiga criação de Mário, reformulada, e instalada em ônibus. Ônibus-bibliotecas. “A gente pode dizer que o ônibus-biblioteca foi criado pelo Mário de Andrade”, comenta Marta Nose Ferreira, coordenadora dos serviços de extensão da prefeitura. “Ao longo de todos esses anos, a iniciativa foi sendo mantida de maneira bastante tímida, até que teve um ápice na década de 1990, quando havia dez desses veículos, que cobriam 40 roteiros da cidade.” Porém, os ônibus foram quebrando, os livros se deteriorando e o serviço mais uma vez quase cai no esquecimento. “Mas agora, desde 2007, nós estamos nos esforçando para requalificar esse projeto”, explica Marta. “Hoje temos quatro veículos que rodam de segunda a domingo, em diferentes pontos da cidade.” Cada um dos ônibus percorre 28 bairros, todos localizados em regiões afastadas do centro expandido da cidade. “O Mário começou com veículos rodando pelo centro, mas é óbvio que, em 1935, não existia essa periferia que temos hoje”, retoma a coordenadora. “Por isso a gente agora faz o contrário, vai para todas essas outras regiões e não abrange mais o centro, já que há mais opções de acesso à informação na região central do que nessas outras localidades.”

Os veículos ficam estacionados nos bairros das 10h às 15h, período em que os quatro funcionários de cada ônibus, segundo Marta, veem o acervo de quatro mil livros sofrer uma circulação vertiginosa. “Nós temos uma média diária de 250 visitantes”, revela a coordenadora. “Se você fizer as contas, tendo em vista que o ônibus fica cinco horas no local, dá uma média de uma pessoa a cada um minuto e meio.” Marta conta que, por mês, a biblioteca ambulante empresta livros para uma média de 25 mil pessoas.
Quanto ao acervo, a coordenadora ressalta que, nos ônibus, não há o que chama de “preconceito literário”. Ou seja, encontra-se de tudo: do autor russo Dostoievski às aventuras do bruxo inglês Harry Potter, passando pelo best seller vampiresco Crepúsculo e também por livros que ensinam artesanato ou que dão dicas de economia doméstica. “A gente tem tentado se manter sempre muito antenado com o que as pessoas procuram”, conta Marta. “Se alguém chega querendo um livro que não tem no ônibus, nós mandamos como dica para o departamento que faz as aquisições. A ideia é sempre ir ao encontro do que o leitor quer.” E uma surpresa: embora bruxos, guerreiros e vampiros façam um tremendo sucesso com as crianças e jovens – público predominante dos ônibus-biblioteca – um livro que, segundo Marta, “não para na estante” é o clássico A Hora da Estrela, de Clarice Lispector. “Temos demandas muito interessantes”, complementa. “Poesias de Mário Quintana e obras de Dostoievski, por exemplo, que não é um escritor popular e tão fácil de ser lido.” Marta relata ainda que, diante do que é presenciado a cada visita dos ônibus, a equipe começou a questionar mitos como os de que o brasileiro não lê ou o jovem ou as pessoas de classes sociais mais baixas ou mesmo os moradores da periferia. “Eles não leem ou não tem acesso à leitura?”, pergunta.

Incentivo à leitura


Unidades do Sesc realizam projetos e mantêm programas que difundem a importância do livro

Não é de hoje que o livro e a leitura estão entre os focos de atuação do Sesc São Paulo. São projetos pontuais, programas de caráter permanente e bibliotecas que, juntos, representam mais uma ação da instituição voltada à educação não formal. “O Sesc já tem um trabalho de incentivo à leitura em curso há muito tempo”, enfatiza Francis Manzoni, assistente da Gerência de Ação Cultural (Geac) na área de literatura. “São oito bibliotecas funcionando nas unidades Santo André, Campinas, Carmo, Ribeirão Preto, Piracicaba, Pinheiros, Araraquara e Pompeia. Todas oferecem empréstimo domiciliar, como o BiblioSesc, e nas demais unidades existem espaços de leitura com revistas, jornais e alguns livros para consulta local.”
Entre os exemplos dessa atuação encontra-se o programa Meus Livros de Viagem (foto), realizado pelo Sesc Consolação desde fevereiro de 2009. Trata-se de uma ação conjunta das equipes da biblioteca e o departamento de turismo social da unidade, que oferece uma seleção de obras literárias para serem consultadas e emprestadas ao viajante durante as excursões.

Outra atividade que merece destaque é o projeto Tertúlia, idealizado por Tiago Novaes. Descrita por Francis como “uma abordagem mais especializada sobre literatura”, a ação, desenvolvida de outubro a dezembro nas unidades Pinheiros, Ipiranga, Araraquara e São Carlos, consiste em encontros com escritores como Antonio Cícero e Ferreira Gullar comentando a obra de Fernando Pessoa, por exemplo, ou Cláudio Willer falando sobre Hilda Hilst ou ainda Bernardo Ajzenberg falando sobre Philip Roth. No Sesc Pompeia, a versão do projeto Tertúlia tem reunido tradutores de grandes escritores estrangeiros como Kafka, Virginia Woolf, Miguel de Cervantes, Fiódor Dostoiévski, Charles Baudelaire, Leon Tolstói, Gabriel Garcia Marques, entre outros. “Tradutores não são autores, mas participam de um modo indispensável na inserção de uma obra literária e do universo de um autor em uma língua, em outro universo linguístico, no modo mais particular de comunicação de um povo. Já publicaram, são em geral também autores, mas têm um estudo tão profundo, por meio da tradução, que podem falar sobre os escritores que traduziram com uma propriedade incomparável.” Em novembro, no Sesc Ipiranga, o projeto trará a escritora e professora de teoria da literatura e de literatura comparada da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Maria Esther Maciel para falar sobre o autor argentino Jorge Luis Borges, no dia 12, e o escritor e dramaturgo Márcio Souza para analisar a obra do paraense Inglês de Souza, introdutor do naturalismo na literatura brasileira.

No Sesc Araraquara, a literatura se destaca no projeto De Quem É Essa História, realizado desde 2007, cujo objetivo é estimular o hábito da leitura. O formato é o de contação de histórias. “A equipe aborda a produção literária infanto-juvenil por década. Neste ano, eles estão na década de 1980”, comenta Francis.

Com curadoria de Elizabeth D’Angelo Serra e direção artística de Márcio Pontes, o projeto, este ano, irá mostrar as inovações na produção desse gênero literário.

Na unidade Carmo, o livro vai até as empresas por meio do programa Baú de Letras. São caixas que se transformam em estantes e ficam disponíveis por dois meses nas empresas que se cadastram no programa. “Essa ação tem dado resultados há muitos anos no Sesc de todo o país, revela Francis. “Ela continua viva porque tem uma eficácia muito grande. Dentro de uma empresa, imagine, as pessoas não têm muito tempo de ir até uma biblioteca, de explorar títulos e conhecer autores.”

Já na terceira edição, o projeto Versões, criado e desenvolvido no Sesc Campinas, se volta para a literatura contemporânea brasileira e propõe encontros entre autores. “Um escritor escolhe o trabalho de outro para comentar e ambos se encontram. As escolhas se interligam de forma a criar um panorama da produção literária atual, comenta Heloísa Pisani, técnica da área de literatura da unidade. “Em outubro, Marcelino Freire comentou Santiago Nazarian, que indicou Ana Paula Maia como tema. Esta, por sua vez, preferiu a escritora Índigo, que falou sobre Rodrigo Lacerda. Fazem parte do programa workshops com os escritores, saraus e oficinas de produção de texto. Já o Sesc Ipiranga realiza o Versatilidades, desde março, com o objetivo de misturar várias linguagens artísticas para discutir literatura. Passaram pela unidade, em 2009, Marcelino Freire, Adriana Lisboa e João Anzanello Carrascoza. Shows, murais, espetáculos de teatro, filmes, leituras e saraus compõem a versatilidade da Literatura e dos autores.

Projetos como o Literatura Plural, que esteve na pauta de outubro do Sesc Osasco, têm experimentado diferentes vivências com a palavra e com a literatura, em permanente diálogo com zonas de interesse e territórios de leitura identificados na região.

No entrecruzamento com outras linguagens artísticas, a literatura está sempre presente na programação do Sesc. A exposição Quem Quiser que Conte Outra, em destaque no Sesc Santana durante os meses de outubro de 2009 a fevereiro de 2010, é um projeto que tem como objetivo discutir a importância dos contos de fada e da tradição oral. Por meio de uma grande instalação cenográfica são apresentadas histórias coletadas e recontadas dos Irmãos Grimm, das quais destacam-se Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida, Branca de Neve, Cinderela, entre outras.

Para saber detalhes sobre os programas e mais informações sobre os projetos basta consultar o Em Cartaz.

Fonte: Revista E SESCSP