A leitura faz parte do cotidiano de poucos brasileiros, quase sempre relacionada à escola. Em Brasília, um empresário trabalha para aproximar o livro da rotina da população, levando mini-bibliotecas para pontos de ônibus e em um açougue. A repórter Viviane Basile foi conferir o projeto Parada Cultural e registrou o sucesso da empreitada.
Quem é de Brasília já está acostumado com as perguntas indelicadas. É só viajar, dizer que é daqui, para ouvir um sonoro: “De Brasília? Aquela cidade de ladrão?”. Nós, brasilienses, costumamos ser comparados também com corruptos e mentirosos. Pagamos um preço alto por sediarmos o Poder.
Por esse simples motivo é tão bacana poder contar um boa história daqui. Sim, em Brasília há gente trabalhadora, honesta e cheia de ideais para mudar o País. É o caso do Luiz Amorim, o açougueiro-livreiro mais querido do pedaço! Luiz, de origem pobre, revolucionou as paradas de ônibus de uma das avenidas mais movimentadas da capital federal, a W3 norte. Montou 35 bibliotecas ao ar livre, abertas 24 horas para qualquer um pegar o livro que desejar.
Na rua, enquanto preparávamos o material para o Cidades e Soluções, eu e o repórter cinematográfico Josuel Ávila constatamos que o sonho do Luiz faz a diferença na vida de muita gente. Conversamos com diaristas, empregadas domésticas e camelôs que começaram a ler depois da instalação das bibliotecas nas paradas. São pessoas que não entrariam numa livraria para comprar. O livro, infelizmente, ainda está bem distante do dia-a-dia de muitos brasileiros.
Das paradas seguimos para a Esplanada. Brasília é uma cidade de muitos contrastes. Concordo que as diferenças estão presentes em todo o Brasil, mas aqui há um destaque. Especialmente para os jornalistas. É que você pula do povo para o ministro em minutos. Foi o que aconteceu nessa reportagem. Dos leitores da W3 fomos conversar com o ministro da Cultura. O ministro conhecia o projeto do Luiz e outros mais que também são mostrados nessa edição do Cidades e Soluções. Ele reconheceu que há falhas nas políticas de incentivo à leitura. Mas disse que está trabalhando firme para tentar mudar isso. Enquanto o governo não encontra a solução, prosperam os sonhos do Luiz e de outros brasileiros, que de pouco em pouco oferecem as palavras para quem dificilmente teria acesso à elas.
Viviane Basile, repórter da TV Globo / Brasília