Não só de beleza vive um livro infantil com ilustrações. Ali tem história contada, arte representada e referência estética sendo construída
Um dos grandes fenômenos que acontece aqui literalmente no meu cantinho na CRESCER é o aumento da quantidade de livros infantis divulgados. Vocês nem imaginam como sou cercada de exemplares para todos os lados, o que me dá vantagens como mais armários, mais caixas, etc. Mas o melhor disso tudo é que nos últimos meses eu lutei para escolher os livros que saem na edição de CRESCER impressa. Vida dura esta minha...
E o mais impressionante é como a ilustração vem garantindo seu lugar. As referências hoje estão por toda a parte. Ah, não venha me dizer que não sabe o que é um bom livro. Porque vivemos – ainda bem – uma fase que vai além do “livro mais bonito” ou do “livro melhor produzido”. Hoje as belezas estão nas propostas, na criatividade da ilustração e, claro, no projeto gráfico.
E por que temos de celebrar essa atenção merecidamente dada ao pincel (lápis, carvão, o que seja) do ilustrador? Porque é uma maneira de todos nós termos melhores encontros com a arte. O que temos à disposição não é pouco. De traduções a premiados brasileiros – como Roger Mello, Eva Furnari, Fernando Vilela, Graça Lima - estamos diante de um leque que nos oferece muito mais do que opções: nos dão poesia, aguçam a imaginação e ampliam nossa referência estética, ou seja, as possibilidades que as artes plásticas nos provocam.
Passear por isso é tão importante quanto ler histórias com as quais a criança se identifique, se emocione, se divirta, se entenda. Os livros infantis hoje compensam nossa falta de contato com essas artes de um modo geral e precisamos deixar claro às crianças.
Se ainda é surpresa o que eu estou falando, dê um pulo em uma livraria mais próxima. Pegue um livro que chame a atenção. Acaricie a capa. Observe se é capa dura ou não, como é apresentado o título, o nome do escritor e do ilustrador, se a ilustração de dentro está na capa, se é repetição ou se é pensada para a capa. Folheie. Veja se as ilustrações também contam a história se o texto não existisse. Ou vejam como elas contam a história em parceria. Leiam o livro pelo olhar da ilustração.
Agora conto a vocês um fenômeno vivido em Massachusetts, Estados Unidos, na cidade de Brookline, que li no New York Times. Em uma determinada livraria de lá, os livros fartamente ilustrados estão “sobrando” na vitrine. A ponto de serem devolvidos às editoras. Segundo a reportagem, livros com “ilustrações chamativas, cores alegres, letras de tamanho grande e capa atraente vem perdendo espaço”. E, por isso, as editoras estariam reduzindo o número de lançamentos.
Isso não é tudo. Pior é o motivo: apesar da crise econômica ter sido um fator importante, diz o jornal que os pais começaram a pressionar os filhos em idade pré-escolar e primeira série para abrir mão dos ilustrados em favor de livros com mais textos. Estão de olho na escola, com avaliações cada vez mais rigososas. Ou seja, a pressão seria dos dois lados.
A quem as crianças podem recorrer? E quem disse que menos texto é mais “fácil” de ser lido? E ler os livros com mais texto, mais cedo, é uma espécie de competição? E para chegar onde? Afinal, o que pretendemos realmente ao dar um livro para uma criança ler? Que ela leia o mais cedo possível o máximo de palavras? Ou que ela se apaixone e descubra o prazer de ler?
Cristiane Rogerio é editora de Educação e Cultura da Crescer e adora se perder entre os livros.
Fonte: Revista Crescer