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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Ler não é obrigação

Publicada no jornal Gazeta do Povo em 18/09/2012

Felipe Lindoso, pesquisador e consultor de leitura

O jornalista, tradutor e consultor Felipe Lindoso tornou-se uma voz necessária ao se falar de leitura no Brasil. Por uma razão prática – ele povoou de informações seguras um setor dado a discursos inflamados e bem-intencionados a favor do livro. O resultado é flagrante. Para ele, ler é atividade lúdica e necessária, mas também é algo tão concreto quanto o mercado da soja.

Parece exagero, mas ao costurar leitura e desenvolvimento, o especialista em políticas públicas criou uma estratégia para fazer do negócio dos livros e da leitura um assunto tão sério quanto os demais. Não é uma guerra vencida. Há muito que se palmilhar para que os índices de leitura no Brasil estejam à mesma mesa de negociação em que se discute o pré-sal ou o Código Florestal. Mas o pesquisador figura entre os que trabalham para criar uma cultura que considere as letras um capital decisório no vai não vai que balança as economias emergentes.

O livro O Brasil pode ser um país de Leitores?, de 2004, é uma prova de sua ambição. A obra radiografa os maus humores nacionais com o livro e a literatura desde os princípios da Nação. Entre uma tragédia e outra, o estudo levanta fontes para outros pesquisadores – como os interessados em entender um fenômeno como Ágape, o livro de 7 milhões de exemplares do padre Marcelo Rossi. E retoma pendengas já bastante debatidas, porém crônicas, como os tropeços da escola e da família na formação dos leitores.

Felipe Lindoso é entrevistado da série “Leitura na prática”, que a Gazeta do Povo publica até 21 de outubro. Confira:

Para que tornar-se um leitor?
Quem lê e amplia seus horizontes culturais tem mais oportunidades de se desenvolver. Mas essa é uma opção individual, desde que estejam dadas as condições de escolha. O que acontece hoje é que as oportunidades de acesso ao livro são reduzidas. As famílias não são leitoras, as escolas ainda não preparam as condições para essa escolha, e o sistema de bibliotecas públicas é precário, para usar uma palavra suave. Por isso, ser leitor ou não independe de uma escolha. Na maioria dos casos, não há oportunidades.

É possível reaprender a ler?
Em uma palestra, o professor Ítalo Moriconi [organizador de Os cem melhores poemas brasileiros do século] assinalou o quanto temos que aprender, inclusive sobre as posturas necessárias para uma boa leitura. Essa postura não é “natural”, é socialmente induzida. Ler é uma questão de aprendizado e de escolha. Mas é importante destacar que ler não é obrigação. Pode ser uma necessidade, inclusive profissional. Há pessoas que desfrutam da leitura por prazer. Outras, ainda, por convicções religiosas ou políticas. Por essas características, a leitura não acontece somente nos momentos de lazer e descanso, quando concorre com a tevê, o cinema, a música e a simples conversa. A leitura depende de circunstâncias...

Aproveitando a deixa, qual o papel da escola nessa seara...
Deixar de tornar a leitura obrigatória. Deixar os livros à disposição dos alunos para que escolham o que querem ler, em literatura. Aí o professor pode motivar os alunos para ler alguns títulos, mas sem obrigação. Como diz o Ziraldo, o importante é ler, não aprender...

O que diria das bibliotecas escolares?
Salvo as proverbiais exceções, são muito ruins. Começa que na maioria das escolas não existe biblioteca, nem como “salas de leitura”. Já vi escolas nas quais as diretoras “despejaram” a biblioteca para abrigar mais alunos. Mas as bibliotecas são ruins sobretudo porque as professoras não são leitoras, não foram formadas e capacitadas para transmitir o gosto pela leitura. Daí que não ligam para as bibliotecas. As bibliotecas muitas vezes viram lugar de “castigo”: aluno mal comportado vai para a biblioteca, na qual encontra muitas vezes professoras afastadas da sala de aula, por alergia a giz, problemas nervosos e outros quetais.

O que fazer para que melhorem?
Melhorando – e muito – a qualidade dos professores. Depois, é preciso capacitar adequadamente os encarregados das bibliotecas. Não que devam ser necessariamente bibliotecários – mas um conjunto de bibliotecas escolares deveria ser supervisionado por bibliotecários. Os que ali trabalham precisam ser formados para a função, e não ocupar o lugar como um quebra-galho qualquer. Finalmente, a biblioteca escolar precisa ter um acervo amplo, com diversidade de escolhas, tanto de literatura quanto dos chamados paradidáticos. E com liberdade para os alunos escolherem o que desejam ler. Sem imposições e muito menos vigilância e censura.

Na última edição da pesquisa de Retratos da Leitura no Brasil os professores aparecem como principais incentivadores do livro, ultrapassando em influência os pais. O que diria?
O grande problema é que a maioria das famílias é de não leitores. O contato com os livros não aparece em casa, tanto por essa razão como também por questões econômicas. Livros são caros, proporcionalmente ao nível de renda dos brasileiros. Programas como o “Agentes de leitura”, que vai às casas para trabalhar com as famílias a questão da leitura, levam livros e indicam as bibliotecas. É uma possibilidade.

Em seu livro O Brasil pode ser um país de leitores? o senhor fala do papel das religiões na difusão da leitura. Continua pensado assim?
Historicamente, os países do protestantismo clássico se beneficiaram da doutrina que dá aos fiéis o contato direto com a divindade, no qual a leitura da Bíblia assumia um papel de importância. A Igreja Católica, ao contrário, sempre acreditou nos intermediários. A primeira tradução da Bíblia em português só aconteceu em meados do século 19. Entretanto, hoje, os fundamentalistas evangélicos aqui no Brasil assumem esse papel de intermediação. A compra de Bíblias é o maior fenômeno editorial do Brasil – e do mundo – mas daí a dizer que a Bíblia é lida vai um grande passo. Hoje não acredito que qualquer religião contribua positivamente para a leitura e a ilustração, e aí estão os fundamentalistas negando a ciência e a evolução.

Podemos pensar em um índice de desenvolvimento a partir da leitura?
Basta ver a quantidade de bibliotecas e os índices de leituras dos países avançados econômica e socialmente. Só nos EUA existem quase 200 mil bibliotecas públicas. Na Europa Ocidental – França, Inglaterra, Itália e mesmo a Espanha e Portugal – a questão do acesso aos livros é considerado de importância estratégica. No Brasil, quando existem, as bibliotecas geralmente estão no centro que, quando não degradado, ainda é o reduto das elites.


Divulgação /

segunda-feira, 28 de maio de 2012

A nova leitura e a nova (re)escrita

28 maio 2012
 
O papel cada vez mais importante da biblioteca escolar

Por Cássia Furtado, especial para biblioo

O processo leitura e escrita tem forte relação com a história e com a cultura, influenciando e sendo influenciada pelas transformações que afetam a sociedade civil. Em época não muito remota, ao falar-se em leitura, vinha em mente os signos alfabéticos, livros e instituições como escola e biblioteca; hoje a leitura envolve uma multiplicidade de signos, de documentos e está desvinculada de uma instituição específica. Lê-se vídeos, sites, textos, imagens, chat… Considera-se que a tecnologia de informação e comunicação, de maneira especial a web 2.0, pode expandir as oportunidades de leitura e escrita, e dessa maneira ser parceira do livro tradicional no incentivo a essas práticas.

As tecnologias sociais, por valorizarem o contributo coletivo, oportunizam aos leitores a leitura interativa e capacidade de expressão, sendo assim instrumentos relevantes para aquisição de informações sobre o texto literário, interação entre leitores, livros e autores e, consequentemente, conduzem ao estímulo da prática da leitura e escrita. A web 2.0 oferece ainda maior motivação para a literatura devido à convergência de múltiplas linguagens e oportunidade de espaço para criação em torno do texto literário. As atividades colaborativas em torno da literatura envolvem ações, em que a pessoa precisa expor sobre sua leitura. Tal ato acarreta resultados positivos para todos os envolvidos, tanto para quem recebe a nova informação, que entra em contato com novos conhecimentos, experiências e interpretações, como, e ainda mais, para quem produz, pois tem a oportunidade de criar e expressar seu próprio conhecimento.

As imagens na vanguarda

O argumento fica mais intenso quando se trata de incentivo a leitura literária pelas crianças. Dessa maneira, deve-se utilizar o fascínio que as mesmas têm pela sinergia entre os vários códigos e aliar ao texto literário como estratégia. O uso e a importância de imagens na literatura infantil, desde o primórdio, representam uma atitude de vanguarda, pois precedeu a era da convergência de linguagens, ao unir palavras e ilustrações com o objetivo de atrair e estimular a leitura, sensibilizar o leitor, além de adornar e enriquecer a estética literária.

A biblioteca escolar incumbida da responsabilidade de efetivar o gosto pela leitura trabalha agora em novo panorama; seu usuário potencial tem as tecnologias incorporadas de forma natural e imediata nas suas rotinas sociais, comunicativas, informacionais, educacionais e de lazer. Nesse sentido, percebe-se a necessidade desta instituição se aproximar dos seus utilizadores. Conhecer as estratégias que usam para criar, compartilhar, colecionar e organizar a informação, a forma como se comunicam e se socializam, assim como também, aceitar a maneira como aproveitam o ócio, é fundamental para a biblioteca manter-se presente e viva para seu público e para a sociedade em geral.

Biblioteca, leitores e literatura

Sugere-se que a biblioteca escolar deva ser o principal caminho de interação entre os leitores e destes com a literatura, tanto em texto impresso como no mundo digital e fazer a convergência entre essas pessoas e linguagens. Partilhar leituras deve ser encarado como uma maneira de incentivar a prática da mesma. Torna-se relevante conhecer as atividades que as crianças desenvolvem quando usam internet, pois assim as bibliotecas podem desenvolver estratégias mais eficientes no incentivo à leitura, mais próximas da realidade do seu público e proporcionando maior interação com o mesmo. Dessa forma, poderá resgatar também o leitor que se encontra disperso, conquistando dessa maneira a formação de novos utilizadores.

Com a constante presença da internet no cotidiano das crianças, considera-se que a biblioteca deve incluir nas atividades de leitura os sítios de livros digitais, visando trabalhar com os dois formatos: livros impressos e livros digitais. Além do que, a biblioteca pode utilizar sítios diversos relacionados com a literatura e outras expressões culturais para o incentivo à leitura literária, fazendo a ponte entre as diversas manifestações culturais. Ainda mais com a web 2.0 que possibilita maior dinamismo à leitura, pois permite ao leitor amplo espaço de atuação: ler, recriar e criar em cima do texto. O leitor, agora, além de mais ativo e autônomo, tem mais oportunidade de seleção, de criação e até de reinvenção do texto, nas mais variadas formas de expressão.

A biblioteca é o único espaço na escola onde as crianças e jovens tem liberdade de leitura e escrita, longe de avaliação, tarefas e testes.  Dessa forma, deve cada vez mais aproximar-se do seu usuário, de suas formas de leitura e escrita, de comunicação e partilha. Assim, nasce uma nova biblioteca escolar!

Cássia Furtado é professora mestre da Universidade Federal do Maranhão, doutoranda em Informação e Comunicação em Plataformas Digitais na Universidade de Aveiro/Universidade do Porto (Portugal).

Fonte: Biblioo

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Biblioteca Escolar, Leitura-escrita e Web 2.0

Matéria publicada em 5/12/2011
 
Por Cássia Furtado e Lidia Oliveira especial para a biblioo

PORTO, PORTUGAL – A sociedade contemporânea, sob forte impacto das tecnologias de informação e comunicação, oferece mudanças nos processos de acesso e uso da informação por parte dos indivíduos, uma vez que têm à sua volta uma heterogeneidade de espaços a disponibilizar informação. Em decorrência dessas alterações, as instituições educacionais perderam o monopólio de detentoras do conhecimento e fontes de informação e aprendizagem.

Esse fato atinge a biblioteca escolar e de maneira mais aguda. Levado em consideração que, por estar inserida no sistema educacional, sofre as implicações das mudanças de paradigmas que atingem a educação, assim como também, o novo perfil do seu utilizador potencial, crianças e jovens, que sofreram mudanças drásticas se comparado com algumas décadas precedentes.
O conhecimento precoce das novas tecnologias

Os meios de comunicação e a forte introdução tecnológica no ambiente doméstico, possibilitam que os alunos, ao frequentarem uma instituição educacional, já carreguem um leque de informações vasto e diversificado, apesar de ainda não dominarem o código alfabético. Além do que, na maioria das situações, já utilizam com desenvoltura, as mais modernas tecnologias de comunicação e informação.

Esta realidade ratifica a responsabilidade da família em preparar as crianças e jovens para o uso benéfico das tecnologias e a escola com o encargo de converter o uso da internet em contributo para a aquisição de informação e construção do conhecimento.

A biblioteca escolar, tradicionalmente vinculada ao acesso à informação e à leitura, dentro do processo de educação formal, continua na Sociedade da Informação a ser o centro informacional da escola, que enriquece o processo ensino e aprendizagem. Mas, agora, assume novos papéis e responsabilidades, é o cerne gerador de ambientes leitores híbridos.

Considera-se como uma das competências mais necessárias dos indivíduos na sociedade atual a capacidade de leitura híbrida: “ler” diferentes conteúdos, em diversos formatos e suportes, somar a leitura de documentos impressos às informações advindas do media (?), com autonomia crítica face aos conteúdos dos mesmos e também, ter capacidade de se expressar e manifestar suas opiniões, de forma responsável, nos diversos tipos de documentos e meios de comunicação.

A leitura alfabética como competência básica

Todavia, esse conjunto de competências tem como base a leitura alfabética que continua a ser a competência básica e principal, é a forma de aquisição de informação e o ponto de partida para as habilidades decorrentes e futuras, condição fundamental para o exercício da cidadania. O indivíduo hábil nos processos cognitivos e mecânicos da leitura, de maneira plena, apresenta mais condições para dedicar-se à leitura por prazer, para ser absorvido pelo texto literário.

Considera-se que o ambiente virtual engrandece as práticas de leitura e escrita, mesmo que não sejam as práticas requeridas pelas instituições educacionais, mas estas não podem ser menosprezadas, pois a cada avanço da tecnologia a formação de leitores e suas práticas são afetadas, isto aconteceu desde a invenção da imprensa e continua a perdurar.

Com os meios de comunicação tradicionais tinha-se um desenho assimétrico da comunicação e uma divisão clara dos papéis, com a web 2.0 percebe-se alterações no processo da comunicação, mudanças de atitudes e de comportamentos dos usuários. A lógica divisória entre emissor-receptor fica cada dia mais tênue, têm-se a oportunidade de operar tanto como emissor como receptor, leitor como escritor, consumidor e produtor de informações e conteúdos.

Percebe-se então que, com a web 2.0, torna-se mais imperativo a formação de leitores e atividades inovadoras em torno da leitura a serem oferecidas pelo sistema educacional, em especial as oferecidas pela biblioteca escolar, que tem esta como uma das suas principais funções.

Dessa maneira, torna-se relevante conhecer as atividades que as crianças desenvolvem quando usam internet, pois assim as bibliotecas podem desenvolver estratégias mais eficientes no incentivo à leitura e mais próximas da realidade do seu público, buscando resgatar também o leitor que se encontra disperso, conquistando dessa maneira a formação de novos utilizadores.

Com a constante presença da internet no cotidiano das crianças, considera-se que a biblioteca deve incluir nas atividades de leitura os sítios de livros digitais, visando trabalhar com os dois formatos: livros impressos e livros digitais. Além do que, pode utilizar sítios diversos relacionados com a literatura e outras expressões culturais para o incentivo à leitura literária, fazendo a ponte entre as diversas manifestações culturais.

Leitor tradicional versus o moderno

A web 2.0 possibilita maior dinamismo à leitura, pois permite ao leitor amplo espaço de atuação: ler, recriar e criar em cima do texto. Em tempos remotos, o leitor se manifestava com escritos nas margens do livro e/ou marcação de trecho que considerava relevante, em um ato isolado e silencioso. Essa atitude perdura nos dias atuais, entretanto, afora essa manifestação solitária e resguardada, o leitor agora, pode partilhar suas experiências e emoções, através dos media sociais (?) e interagir com os outros leitores e até mesmo com o próprio autor. O leitor além de mais ativo e autônomo, tem mais oportunidade de seleção, de criação e até de reinvenção do texto nas mais variadas formas de expressão.

Dessa forma, pondera-se que esse espaço de incentivo à leitura na web social deva ser da responsabilidade da biblioteca escolar, tendo como repertório livros impressos e digitais e a formação de redes de leitores-escritores, congregando toda a comunidade escolar, aqui incluso os docentes e a família do educando, para interação e participação na temática da literatura infantil e juvenil, gerando assim uma nova forma de sociabilidade.

Cássia Furtado é professora mestre da Universidade Federal do Maranhão, doutoranda em Informação e Comunicação em Plataformas Digitais na Universidade de Aveiro (o Porto, Portugal) e Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão.

Lidia Oliveira professora doutora do Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro/PT. Pesquisadora do Cetac.media.

Fonte: Biblioo

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Edmir Perrotti: "Biblioteca não é depósito de livros"

Idealizador de redes de leitura em escolas diz que é função do educador ajudar os estudantes a processar as informações do acervo

Márcio Ferrari

Desafios como a criação do hábito da leitura entre crianças e adolescentes, as novidades tecnológicas, a ampliação do acesso ao ensino e a sofisticação do mercado editorial levaram o professor Edmir Perrotti a uma nova concepção de biblioteca escolar e de seu papel pedagógico.

Com formação em Biblioteconomia - área que combinou com seu interesse em Educação -, ele é docente da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, conselheiro do Ministério da Educação para a política de formação de leitores e autor de livros infantis.

Perrotti orientou a implantação de redes de bibliotecas inovadoras nas escolas municipais de São Bernardo do Campo, Diadema e Jaguariúna, no estado de São Paulo. Nessas estações de conhecimento, como ele prefere chamá-las, a aprendizagem é estimulada pela presença de suportes tecnológicos, como o computador e a televisão.

Em um ambiente que convida as crianças a descobrir e aprofundar o prazer da leitura, os livros convivem com outras linguagens, como a do teatro. "Assim trabalha-se o contato com as informações e também o processamento delas", diz. Ex-professor da Universidade de Bordeaux, na França, e de escolas de Ensino Fundamental no Brasil, além de editor e crítico literário, Perrotti concedeu a seguinte entrevista a NOVA ESCOLA.

O que deve orientar a constituição de uma biblioteca escolar?
Edimir Perrotti Ela não pode restringir-se a um papel meramente didático-pedagógico, ou seja, o de dar apoio para o programa dos professores. Há um eixo educativo que a biblioteca tem de seguir, mas sua configuração deve extrapolar esse limite, porque o eixo cultural é igualmente essencial. Isso significa trazer autores para conversar, discutir livros, formar círculos de leitores, reunir grupos de crianças interessadas num personagem, num autor ou num tema. A biblioteca funciona como uma ponte entre o ambiente escolar e o mundo externo.

De que modo se realiza essa abertura para fora da escola?
Perrotti O responsável pela biblioteca tem o papel de articular programas com a biblioteca pública e fazer contato com a livraria mais próxima, além de estar atento à programação cultural da cidade. Há uma série de estratégias possíveis para inserir a criança num contexto letrado. A biblioteca precisa ter outra finalidade que não seja simplesmente a de um depósito de onde se retiram livros que depois são devolvidos. Nós não trabalhamos mais com a idéia de unidades isoladas. O ideal é formar redes, um conjunto de espaços que eu chamo de estações de conhecimento, cujo objetivo é a apropriação do saber pelas crianças.

Qual é a necessidade das redes?
Perrotti Com o atual excesso de informações e a multiplicação de suportes, nenhuma biblioteca dá conta de todas as áreas em profundidade, até porque não haveria recursos para isso. O trabalho tem de ser compartilhado com outras unidades da rede, por meio de mecanismos de busca informatizados. Por exemplo: a escola guarda um pequeno acervo inicial sobre arte, mas, se o interesse for por um conhecimento aprofundado, recorre-se a uma biblioteca especializada na área. Hoje não há mais condições de manter o antigo ideal de bibliotecas enciclopédicas, que abarcavam todas as áreas de conhecimento.

Quem deve ser o responsável pela biblioteca?
Perrotti Processar as informações e criar nexos entre elas é um ato educativo. O responsável, portanto, é um educador para a informação, que nós chamamos de infoeducador, um professor com especialização em processos documentais. Uma rede de bibliotecas tem uma plataforma de apoio técnico-especializado, que é a área do bibliotecário, um especialista em planejamento e organização da informação. Junto com ele trabalham os educadores, que são especialistas em processos de mediação de informação. Dar acesso ao acervo não basta para que o aluno saiba selecionar e processar informações e estabelecer vínculos entre elas.

De que modo se estimula a autonomia numa biblioteca?
Perrotti É preciso desenvolver programas para construir competências informacionais. Isso inclui desde ensinar a folhear um livro — para crianças bem pequenas — até manejar um computador. Antigamente imperava a idéia de que os adultos é que deveriam mexer nas máquinas e pegar os livros na estante. Hoje deve-se formar pessoas que tenham uma atitude desenvolvida, não só de curiosidade intelectual mas de domínio dos recursos de informação. Essa é uma questão essencial da nossa época.

Por que a escola tem falhado em ensinar os alunos a processar informações?
Perrotti Porque se acredita que basta escolarizar as crianças para formar leitores. De fato, a escola tem o papel de construir competências fundamentais para a leitura, mas isso não quer dizer formar atitude leitora. Hoje, o que distingue o leitor das elites do leitor das massas é que o primeiro tem um circuito de trocas. Ele participa do comércio simbólico da escrita, da produção à recepção: sabe o que é publicado, informa-se sobre os autores, encontra outros leitores etc. Já a criança da escola pública muitas vezes não tem livros em casa e só lê o que o professor pede. Ela não tem com quem comentar. Está sozinha nesse comércio das trocas simbólicas.

Qual é o mínimo necessário para o funcionamento de uma biblioteca escolar?
Perrotti Estou convencido de que é a pessoa que trabalha ali, mediando relações entre a criança, a informação e o espaço. Não precisa ser alguém superespecializado, mas que compreenda a função da escrita e da imagem e que saiba qual é a importância daquilo na vida das pessoas. Assim, a compra de livros seguirá um critério de escolha consciente. É claro que é bom construir um ambiente agradável e funcional, mas não é indispensável, porque a leitura não depende das instalações da biblioteca; ela se dá em qualquer lugar.

Quem deve escolher o acervo?
Perrotti Nós temos trabalhado um modelo em que a escolha é feita por todos os que participam dos processos de aprendizagem: professores, coordenadores, diretores e alunos. Formulários são colocados à disposição para que sejam feitas sugestões de compra. O infoeducador não só coleta esses dados como divulga, por meio dos quadros de aviso, as informações sobre lançamentos que saem na imprensa e na internet. Depois, ele vai analisar os pedidos, separá-los em categorias — livros importantes para os projetos em andamento, leituras de informação geral ou complementares etc. — e, com base nessas listas, a escolha é feita de acordo com os recursos disponíveis.

Como comprometer o aluno com a organização e a manutenção da biblioteca?
Perrotti Ele participa da escolha do acervo e também pode estar pessoalmente representado nele, por meio de livros que ele escreve e de documentos de sua passagem pela escola. Uma parte do acervo vem da indústria cultural e outra é produzida internamente, com documentos e relatos referentes à história da instituição. Formar um repertório de dados locais cria relações com as informações universais.

Descreva a biblioteca escolar ideal.
Perrotti É aquela que possui todo tipo de recurso informacional, do papel ao equipamento eletrônico. O espaço é construído especialmente para sua finalidade e de acordo com quem vai usar. Se o público majoritário é infantil, a disposição dos móveis e do acervo deve permitir que a criança se mova com autonomia. É preciso ser um local acolhedor, mas que empurre rumo à aventura, porque conhecer é sempre se deslocar.

Por que se diz que os jovens não gostam de ler?
Perrotti Os interesses mudam na passagem da infância para a adolescência e a leitura que era feita antes já não interessa tanto, mesmo porque cresce a concorrência de outras mídias. Essa é uma transição crítica e ainda não foram definidas ações específicas para promover a leitura nessa faixa etária. Os adolescentes identificam o livro com as tarefas da escola, que reforça essa percepção porque raramente sai da abordagem instrumental da leitura. E no âmbito social, entre os amigos, a leitura não está presente. Mesmo assim, essa fase é a das grandes paixões. Portanto, há um espaço enorme para promover a leitura entre os jovens.

É possível formar leitores por meio de políticas públicas?
Perrotti O problema é saber que caráter elas têm. Eu não concordo com estratégias que pretendam ensinar os alunos a gostar de ler. A função do poder público é criar ambientes que dêem condições de ler, tentar despertar as crianças para as potencialidades da escrita, prepará-las para as competências leitoras — enfim, providenciar para que seja constituída a trama que sustenta o ato de ler. Mas gostar de ler é questão de foro íntimo, não de políticas públicas.

A escola deve obrigar um aluno a ler livros e freqüentar bibliotecas mesmo que ele não goste?
Perrotti Não se pode deixar de perguntar por que esse aluno não gosta de ler. Ele teve uma relação negativa com a situação de aprendizagem? Ninguém lê em casa? Tem dificuldades de visão? Não domina o código? Não tem circuitos culturais a sua volta? Tudo isso pode e deve ser trabalhado. Agora, se ele teve apoio para experimentar a prática da leitura e prefere fazer outras coisas, não adianta forçar. É claro que não estou falando da leitura funcional, indispensável para a vida diária. Nesse caso, é obrigatório negociar com a criança o "não querer ler".

É melhor ler literatura de má qualidade do que não ler nada?
Perrotti A pergunta já supõe que de fato existe uma literatura de má qualidade. Há leitores que são capazes de voar longe com um suposto mau livro, assim como há muitos trabalhos escolares que se utilizam de grandes textos, mas sufocam o interesse de aprender. Por outro lado, não é possível deixar o gosto do leitor imperar sozinho. É fundamental operar mediações entre as crianças e uma literatura que tenha condições de produzir significações importantes.

O uso do livro em sala de aula está em decadência?
Perrotti Ele está aquém do que gostaríamos que fosse e também do que seria necessário. Mesmo assim, o livro está entrando nas escolas numa medida que não entrava, nem que seja por meio das distribuições feitas pelo Ministério da Educação e as secretarias estaduais e municipais. Há 50 anos nem sequer se sonhava com isso no Brasil. O problema maior é o de mau uso desses livros, com estratégias impositivas de leitura. Muitas vezes falta penetrar no avesso dos textos com as crianças e realmente mergulhar numa viagem de conhecimento, de imaginação.

Até que ponto as bibliotecas levam ao hábito da leitura?
Perrotti Eu participei de uma pesquisa feita com as crianças usuárias das redes de biblioteca que ajudei a implantar no estado de São Paulo. Queríamos saber se elas estão incorporando a leitura a sua prática de vida e não apenas como lição de casa. Qual é a constatação? Houve um grande avanço e as crianças se mostram muito mais familiarizadas com os livros, mas infelizmente ainda não usam as novas competências para trocas culturais. Por exemplo: não têm o hábito de comprar e emprestar livros. A prática escolar não se transferiu para a prática cultural.

Há perspectiva de mudança para essa situação?
Perrotti Eu vejo uma tendência de funcionalização. Os meios eletrônicos trouxeram, aparentemente, uma presença maior da escrita, mas o uso que se faz dela é cada vez mais abreviado. Vai-se transformando a língua no elemento mínimo para a transmissão da mensagem. Nós estamos a anos-luz de formar pessoas que, ao cabo do período de escolaridade, vão se relacionar com a escrita como uma ferramenta de conhecimento e de experiências estéticas, numa dimensão não pragmática. Restringir as ferramentas de linguagem a sua função utilitária é retirar de nós mesmos aquilo que nos humaniza — a capacidade de dizer de uma forma articulada. As novas bibliotecas têm de enfrentar essa questão.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

10 pontos para uma biblioteca escolar nota 10

Não podemos negar a importância da biblioteca escolar na promoção de hábitos de leitura. Os professores Fantinati e Ceccantini resumem em 10 pontos positivos as funções das bibliotecas escolares, que hoje estão incorporados aos projetos educacionais das escolas:


Fonte: FANTINATI, Carlos Erivany; CECCANTINI, João Luís C. T. Um país se faz com homens, livros e bibliotecas. In: PEREIRA, Rony Farto; BENITES, Sonia Aparecida Lopes (Org.). À roda da leitura: língua e literatura no jornal proleitura. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2004. Cap. 3, p. 41-52.

sábado, 2 de abril de 2011

Biblioteca escolar: ranços e avanços

Cintia Barreto
Mestra em Literatura Brasileira pela UFRJ, professora da rede pública estadual (RJ) e da Universidade do Grande Rio
Publicado em 08 de julho de 2008

Pegar um livro e abri-lo guarda a possibilidade do fato estético. O que são as palavras dormindo num livro? O que são esses símbolos mortos? Nada, absolutamente. O que é um livro se não o abrimos? Simplesmente um cubo de papel e couro, com folhas; mas se o lemos acontece algo especial, creio que muda a cada vez. Jorge Luís Borges

Pensar sobre a importância da biblioteca escolar hoje para o processo de ensino-aprendizagem constitui repensar a própria prática de leitura na escola. Isso porque sabe-se que a biblioteca guarda os mais diversos tipos de livros e que, teoricamente, estão todos à disposição do aluno sempre quando precisar. No entanto, não é isso que de fato acontece.

No cotidiano escolar, percebemos a pouca (ou nenhuma) utilização da biblioteca como espaço educativo e informacional que promove leituras, análises, debates e encontros entre livros e indivíduos. A biblioteca, não raras vezes, é palco de punições. Basta um aluno atrapalhar a aula de um professor que logo é enviado, sem aviso prévio, à biblioteca ou à sala de leitura. Por isso, é de suma importância que repensemos o papel da biblioteca dentro da escola e sua significação.

Antes de qualquer proposta que leve os educandos a frequentar a biblioteca escolar, é preciso pensar nos principais problemas que dificultam essa prática. São eles:

1º) O espaço físico – não raras vezes a biblioteca fica num canto escondido da escola. Um local pouco arejado, úmido, mal-iluminado, desconfortável e apertado. Para agravar a situação, muitas escolas dissociam a sala de leitura da biblioteca, apresentando-as como lugares distintos, quando deveriam estar num único espaço. Nesse sentido, a biblioteca em si não passa de um "depósito de livros".

2º) O acervo – geralmente desatualizado; os livros que se encontram na biblioteca diversas vezes estão em péssimas condições de uso. Muitos são doados pelos próprios professores que, querendo se livrar do "entulho", depositam-nos como doação. A falta de recursos para a compra de livros de qualidade contribui para a estagnação e o empobrecimento do acervo.

3º) Organização do acervo – a catalogação do acervo acontece de forma confusa, desorganizada e difícil. O sistema de números e letras dificulta o acesso ao objeto de pesquisa não só para o usuário como para o próprio profissional da biblioteca. Um catálogo mal-organizado e com classificação obscura colabora para a falta de interesse dos usuários pela biblioteca. A verdade é que muitas bibliotecas nem têm seu acervo arquivado de forma que permita a pesquisa dos usuários. Algumas escolas anotam seu acervo num velho caderno que só pode ser consultado pelo próprio funcionário da biblioteca para procurar o material solicitado. Dessa forma, o material não pode ser manuseado pelos usuários. Ou seja: não é permitido fazer descobertas no acervo.

4º) Empréstimo de material – algumas bibliotecas não adotam o sistema de empréstimo, permitindo apenas a consulta do material no local. Alegam que os alunos danificam os livros, arrancam folhas, rabiscam, demoram a devolver ou não devolvem o material. Por conta disso, não ocorre o sistema de cadastro e empréstimo de material do acervo.

5º) Horário de funcionamento – deparar-se com a biblioteca trancada não é pouco comum. O horário de funcionamento nem sempre condiz com os horários que professores e alunos podem e desejam utilizá-la. O fato é que o horário da biblioteca fica a cargo do horário da pessoa que lá trabalha.

6º) Profissional encarregado da biblioteca – infelizmente o que se vê são muitos professores em fim de carreira ou com problemas de saúde encostados nela. Assim, na biblioteca encontram-se muitos profissionais que precisam de um lugar tranquilo, silencioso e vazio para passar os últimos dias, meses ou anos de suas vidas profissionais. Por isso, esses educadores preferem manter a ordem, o silêncio sepulcral e a disciplina no local. O pouco ou nenhum contato com o usuário é, assim, almejado; quando acontece, é frio, técnico e monossilábico. Às vezes, é adotado um sistema de empréstimo no qual o usuário solicita o livro por meio de um envelope. No dia seguinte ao pedido, o bibliotecário, em vez de orientar o consulente, deposita o pedido no mesmo pacote para que o usuário receba sua encomenda. A relação usuário-bibliotecário, nesse sentido, acontece também de forma impessoal. Outro ponto importante a se ressaltar é a condição desse profissional: não-leitor e não-incentivador da prática da leitura no local.

7º) Utilização da biblioteca escolar – é válido atentar para a falta de planejamento pedagógico, de projeto que integre a biblioteca ao projeto político-pedagógico da escola. Muitas vezes os usuários reduzem-se a alunos que vão ao local tão-somente para copiar verbetes de grandes enciclopédias e dicionários antigos e empoeirados. Quando a pesquisa na biblioteca não tem como base a cópia, o lugar é mal-utilizado, servindo como local de descanso ou conversa de alunos ou, o que é pior, como espaço de punição.

Alguns professores exigem que os alunos que não estão em sala de aula sejam castigados na biblioteca. Essa postura contribui para fazer da biblioteca a grande vilã da escola.

Promovendo a leitura na biblioteca escolar

Libere sua criatividade. Deixe-se levar pela criança curiosa que há dentro de você e provoque os leitores, provoque a leitura, promova o prazer de ler o mundo. Ao contrário do que se vê, é necessário pôr em prática todas as estratégias de incentivo à leitura, a fim de aumentar a frequência na biblioteca escolar.

Primeiro, é preciso pensar em sugestões para melhorar todo o quadro descrito. Para promover a leitura, a pesquisa, a frequência, a troca de ideias, o interesse dos usuários (antigos e novos), são necessárias algumas medidas, tais como:

1ª) Proporcionar um agradável ambiente de leitura – com a criação de espaços agradáveis para o convívio com os livros e demais suportes de leitura e diversidade de linguagens, é possível oferecer ambiências de leitura. Para tanto, podemos utilizar:

1.tapetes
2.almofadas
3.cadeiras confortáveis
4.cestos com revistas e jornais
5.baús com gibis e livros
6.quadros
7.cartazes com citações e frases de incentivo à leitura
8.espaço colorido
9.estante ou prateleira com novidades

É preciso criar um ambiente adequado para ler ou ouvir com prazer uma boa história, discutir ideias e trocar experiências. Na verdade, é imprescindível mexer com o preestabelecido. Faz-se mister revitalizar o espaço da biblioteca escolar, a fim de permitir e, inclusive, incentivar a permanência dos usuários no local.

2ª) Atualizar o acervo – é importante que a biblioteca escolar passe a ser seletiva e recuse livros impróprios (desatualizados ou medíocres), a fim de acomodar melhor um material que realmente tenha utilidade e urgência para o usuário.

Para atualizar e melhorar o acervo, é preciso solicitar a ajuda de todos: governo, direção da escola, comunidade, professores, alunos, funcionários e editoras. Todos podem e devem contribuir para a melhoria do acervo da biblioteca escolar, começando pela seleção do que é conveniente doar para o local. Tal doação não ocorrerá porque está atravancando a casa, mas porque será útil e despertará o interesse dos usuários.

Disponibilizar livros de qualidade também é imprescindível. Dessa forma, os usuários poderão escolher entre o que há de melhor e mais atual no mercado editorial. Assim será possível fazer a real democratização do conhecimento e da leitura. O usuário da biblioteca escolar deve ter acesso não apenas a livros didáticos (de qualidade), mas também (e principalmente) a obras literárias clássicas (originais e/ou adaptadas) bem como a obras atuais. Revistas, jornais e histórias em quadrinhos também devem fazer parte do acervo da biblioteca escolar.

3º) Organizar o acervo – é imprescindível que o usuário possa manusear diversos tipos de livros e conhecer diferentes gêneros textuais. Para que seja possível fazer novas descobertas, o usuário deve poder procurar os livros nas estantes. Dessa forma, ele irá não apenas encontrar os livros indicados pelos professores em sala de aula como também poderá descobrir um mundo de possibilidades de leitura.

A organização dos livros nas estantes deve ser facilitada por um sistema simples de catalogação – que deve ser um aliado dos usuários e não mais um empecilho entre o indivíduo e o acesso aos livros. O sistema de cores geralmente é o mais utilizado nas bibliotecas escolares. É preciso também reservar um espaço para a hemeroteca (seção das bibliotecas em que se colecionam jornais e revistas).

4º) Emprestar o material – é necessário que os livros sejam emprestados a toda a comunidade escolar: professores, alunos, funcionários. Os livros da biblioteca escolar compõem um acervo público e, como tal, devem servir ainda à comunidade periférica. Assim, familiares também devem poder solicitar empréstimo de livros e praticar a leitura em casa junto aos filhos.

5º) Adequar o horário de funcionamento com o horário das aulas e com o recreio – a biblioteca é um espaço escolar que precisa estar sempre aberto, pulsante e com novidades. Para isso, é preciso que pessoas fiquem encarregadas de manter a biblioteca aberta praticamente todo o tempo de atividades da escola.

6º) Qualificar o profissional encarregado da biblioteca – o funcionário da biblioteca deve ser, de fato, um leitor voraz e apaixonado por livros. Somente uma pessoa que realmente gosta de ler consegue incentivar a leitura no ambiente escolar. Ele deve ser visto algumas vezes lendo. Além disso, deve ter bom conhecimento a respeito dos gêneros textuais, conhecer um bom número de autores e obras.

Deve ainda ser um sujeito criativo e gostar do contato com o público, alguém que ocupa o espaço para fazer a diferença, para trocar ideias, para orientar o usuário, habilitado a sugerir leituras e a conduzir pesquisas. Dessa forma, será capaz de modificar a atual condição da biblioteca escolar. Um educador comprometido com a prática pedagógica está apto a alterar certos conformismos.

Para uma constante atualização desse profissional, é preciso que a escola disponibilize palestras, cursos e eventos com temáticas relacionadas à leitura, à literatura, à escrita, bem como à organização da biblioteca. Esse profissional deve ir a muitas outras bibliotecas (particulares e públicas) e ser assíduo frequentador de livrarias e sebos. Isso lhe dará mais subsídios para fazer constantes alterações na biblioteca, dinamizando-a e atraindo mais usuários.

Por fim, o funcionário da biblioteca é, acima de tudo, um educador e deve trabalhar em conjunto com os professores regentes de turma, mostrando tendências de pesquisa, de leitura e ainda divulgando os materiais e livros mais procurados. Ele pode ainda apresentar as novidades da biblioteca à comunidade escolar, a fim de que sejam realizadas novas práticas no espaço. Por isso, ele é uma presença imprescindível no conselho de classe e na elaboração do projeto político-pedagógico da escola.

7ª) Promover atividades para dinamizar o acervo e utilizar a biblioteca – aguçar a curiosidade dos usuários e seduzi-los a frequentar a biblioteca é parte da tarefa do profissional encarregado da biblioteca e, em parte, dos professores e coordenadores pedagógicos, da direção e do governo.

Para tanto, é preciso pensar na biblioteca como um espaço de diálogo entre autores e leitores, entre o conhecimento e a autonomia discente. A escola precisa possibilitar o acesso à leitura. Assim, a biblioteca escolar deve promover práticas criativas de leitura, práticas que agucem o desejo de conhecer algo novo. É preciso instigar a curiosidade discente, e o melhor para isso é apresentar textos variados. Quanto mais eclética for a biblioteca, mais ela atenderá à comunidade escolar marcada pela pluralidade.

É curioso notar que é justamente a pluralidade que atenderá à singularidade. Uma biblioteca que atenda essa urgência será capaz de fazer a diferença no desenvolvimento do currículo e proporcionará um avanço no processo de ensino-aprendizagem da comunidade escolar.

Maria Helena Martins, em O que é leitura, aponta três níveis de leitura: sensorial, emocional e racional. A leitura sensorial é manifestada pelo tato, visão, olfato, audição e gosto. A leitura emocional lida com sentimentos. Ela fala à emoção, há identificação do leitor com a obra sem necessidade de analisar como o texto foi elaborado. Já a leitura racional enfatiza o intelectualismo e analisa o texto isolado do contexto e da emoção. Esses três níveis devem ser considerados na hora de propor alguma atividade leitora.

Obrigar alguém a ler algo sem que tenha generosamente seduzido à prática de leitura é, no mínimo, desgastar a relação entre saber e sabor. Não podemos esquecer nunca essa origem comum entre leitura e prazer.

Também devem ser considerados os direitos do leitor, que, segundo Daniel Pennac, são os seguintes:

Direitos imprescritíveis do leitor

1) O direito de não ler.

2) O direito de pular páginas.

3) O direito de não terminar um livro.

4) O direito de reler.

5) O direito de ler qualquer coisa.

6) O direito ao bovarismo (doença textualmente transmissível).

7) O direito de ler em qualquer lugar.

8) O direito de ler uma frase aqui e outra ali.

9) O direito de ler em voz alta.

10) O direito de calar.

Assim, são imprescindíveis atividades como contação de histórias, rodas de leitura, cirandas, concursos de poesias, contos e crônicas, encontros com escritores, ilustradores e especialistas em literatura. É importante também levar os alunos a visitar bibliotecas públicas e livrarias. Isso possibilita a reflexão acerca da organização do acervo, da multiplicidade de autores e estilos e do zelo pelo material da biblioteca, bem como a conduta de liberdade e respeito dentro dela.

Liberdade para fazer encontros entre leitores e livros, gostos e des-gostos. Respeito, traduzido em cuidado, com os livros e com o espaço da biblioteca, a fim de deslegitimar questões como o empréstimo de livros.

Apresentando a biblioteca a seu público

Na biblioteca escolar, podem ser desenvolvidas ainda atividades como estas:

Conhecendo o acervo da biblioteca: os alunos vão à biblioteca escolar e lá são recebidos pelo encarregado. Ele, tal qual um guia turístico, apresenta as seções de livros e indica pelo menos um exemplo de cada gênero, a fim de aguçar a curiosidade do usuário para os diferentes tipos de texto. Essa atividade proporciona ao usuário conhecer o acervo da biblioteca e auxilia a exploração do espaço durante o ano letivo.
Quem procura acha: nesta atividade, o professor distribui algumas indicações de leituras, respeitando o sistema de catalogação da escola e solicita que os alunos as encontrem nas estantes. Isso promove autonomia aos usuários.
Deu rato na biblioteca: os alunos são instigados pelo encarregado da biblioteca a achar livros antigos (de gêneros variados: romances, contos, crônicas, poesia, livros de arte, biografias etc.). Com os livros nas mãos, os usuários farão uma pesquisa mais aprofundada sobre a época em que aquele livro foi escrito, bem como seu autor e a obra. O resultado pode ficar registrado depois num mural dentro da biblioteca. Quem sabe sua biblioteca não possui um livro raro que será descoberto ou redescoberto pelos alunos?! Essa atividade proporciona a valorização do acervo como um todo e possibilita a prática da pesquisa.•Troca-troca literário: os alunos de uma turma levam livros de literatura usados e trocam com colegas de outra turma. O troca-troca é mediado pelo encarregado da biblioteca, que organiza o desenvolvimento da atividade. O educador poderá, antes da sessão de troca, fazer uma pequena introdução sobre a importância da atividade. Isso possibilita a socialização dos alunos e de suas leituras.
Na caixa-postal: o professor solicita que os alunos escrevam cartas com teor crítico a respeito de leituras feitas na biblioteca em dias anteriores. Nas cartas, os alunos indicam ou não indicam a leitura de tais livros e textos, argumentando, ou seja, apresentando justificativas que comprovem sua indicação. As cartas serão depositadas em grandes "caixas de correio" que serão confeccionadas pelos professores e alunos. Serão duas caixas: uma para leituras indicadas e outra para leituras não-indicadas. Essas caixas farão parte dos materiais da biblioteca. Isso estimula a produção de textos críticos, proporcionando ainda a percepção de tendências e gostos de leitura por parte dos alunos.
O meu, o seu, o nosso: o professor pode solicitar que cada aluno compre um livro de uma lista apresentada por ele (ou do gosto de cada um). Os livros circularão pela turma em sistema de empréstimo, de forma que todos leiam os livros até o fim do ano letivo. Ao final, os livros serão doados para a biblioteca da escola, a fim de que todos tenham, no ano seguinte, acesso aos livros sem exceção.
Conheça minha história: o professor (ou o encarregado da biblioteca) solicita que sejam escolhidas biografias de escritores, pintores, cientistas, artistas etc. Após a leitura, em duplas, das biografias, além de um dia de apresentação dos textos, os alunos produzirão suas próprias biografias. Essas biografias serão elaboradas em forma de livro, confeccionado artesanalmente pelos próprios alunos. Nesse momento da confecção, a criatividade será chamada à ação.

Bibliografia sugerida sobre leitura, literatura infanto-juvenil e biblioteca escolar

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1991.
BUENO, Silveira. Minidicionário da língua portuguesa. São Paulo: FTD, 2000.
CAMPELLO, Bernadete et al. A biblioteca escolar: temas para uma prática pedagógica. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria, análise, didática. São Paulo: Moderna, 2000.
FARIA, Maria Alice. Como usar a literatura infantil na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2004.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler, em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 2002.
KLEIMAN, Angela B. Oficina de leitura. São Paulo: Cortez, 1993.
______. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 2ª ed. Campinas: Pontes, 1992.
KUHLTHAU, Carol. Como usar a biblioteca na escola: um programa de atividades para o ensino fundamental. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
LAJOLO, Marisa. Literatura: leitores & leitura. São Paulo: Moderna, 2001.
LAJOLO, Marisa & ZILBERMAN, Regina. Literatura infantil brasileira — história & histórias. São Paulo: Ática, 2003.
_____________________________ . Um Brasil para crianças: para conhecer a literatura infantil brasileira: história, autores e textos. São Paulo: Global, 1986.
MACHADO, Ana Maria. Balaio: livros e leitura. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.
____________. Como e por que ler os clássicos universais desde cedo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
MARTINS, Maria Helena. O que é leitura? São Paulo: Brasiliense, 2006.
MEC - Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: língua portuguesa. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.
MIGUEZ, Fátima. Nas arte-manhas do imaginário infantil: o lugar da literatura na sala de aula. Rio de Janeiro:Zeus, 2000.
PAULO, José Maria & OLIVEIRA, Maria Rosa D. Literatura infantil: voz de criança. São Paulo: Ática, 2003.
PENNAC, Daniel. Como um romance. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.
PRADO, Janson e CONDINI, Paulo (Org.). A formação do leitor: pontos de vista. Rio de Janeiro: Argus, 1999.
SANDRONI, Laura & MACHADO, Luiz Raul (org). A criança e o livro. 3ª ed. São Paulo: Ática, 1991.
SILVA, Waldeck Carneiro da. Miséria da biblioteca escolar. São Paulo: Cortez, 2003.
VARGAS, Suzana K. de. Leitura: uma aprendizagem de prazer. Rio de Janeiro: José Olympio, 1995.
ZILBERMAN, Regina. Como e por que ler a literatura infantil brasileira. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.

Este texto foi elaborado para o I Encontro Regional de Bibliotecas, realizado maio de 2008 em Araruama-RJ pela Coordenadoria Regional das Baixadas Litorâneas II da Secretaria de Estado de Educação, um evento realizado com diretores, coordenadores pedagógicos e profissionais de biblioteca e sala de leitura.

Fonte: Revista Educação Pública

segunda-feira, 21 de março de 2011

Biblioteca: seja bem-vindo

Marcus Tadeu
Matéria publicada em 20/03/2011

“O papel do bibliotecário é acima de tudo incentivar as práticas de trabalho voltadas para a formação do público leitor, lutando para transformar o aluno em um adolescente/adulto leitor. Ele é um mediador de leitura, já que instiga no aluno o desejo pelo livro, e ajuda a desenvolver a capacidade informacional do aluno dentro do ambiente escolar”, destaca Marília Dias


Marília Dias adora livros. O gosto é tão grande que ela trabalha diretamente como eles. Seguiu a carreira de biblioteconomia e desde então resolveu trabalhar em bibliotecas escolares. Sua paixão é uma só: conquistar a atenção de professores e alunos e incutir-lhes o gosto pela leitura e, consequentemente, pela escrita.

Para isso, ela não para de pensar e redigir projetos. Acredita que a sua função soma-se à do professor no sentido de oportunizar aos estudantes a entrada no mundo da leitura. Em entrevista à revistapontocom, Marília ressalta a importância dos bibliotecários, da tecnologia no dia a dia e da democratização dos espaços.

Acompanhe:

revistapontocom – Qual é a função da biblioteca escolar?
Marília Dias – A biblioteca escolar tem algumas funções, todas importantes: acompanhar o aluno e o professor durante o processo educacional fornecendo material complementar e, permitir que eles tenham, dentro do ambiente escolar, um local para ler e fazer trabalhos, oferecendo farto material para pesquisa, à disposição em tempo integral. Além disso, é também papel da biblioteca trabalhar no aluno o gosto pela leitura, o prazer pelo conhecimento e pela arte. A biblioteca escolar é a terceira grande oportunidade de o ser humano se familiarizar com o conhecimento, esteja ele em qualquer suporte. A primeira é a família, por ser a primeira fonte de informação que todos nós temos. É na família que começamos a coletar histórias, explicações sobre o mundo à nossa volta e, se for uma família onde a leitura seja valorizada, ela será a semente que vai germinar um futuro leitor. A segunda oportunidade é a escola. No momento em que o aluno começa sua vida acadêmica, ele une duas oportunidades numa só. Infelizmente, ainda é comum no Brasil a biblioteca escolar funcionar como único meio de contato do aluno com os livros. Se forem bem aproveitadas e fizerem um bom trabalho de acompanhamento dos alunos, as bibliotecas podem realmente vir a fazer a diferença na vida intelectual da criança.

revistapontocom – Mas num mundo midiático, ainda há espaço para a biblioteca?
Marília Dias – Não somente há espaço, como um desejo muito grande dos bibliotecários de que a tecnologia venha a fazer parte do dia a dia das bibliotecas de todo o país. É inegável que toda biblioteca que conta com investimento maciço em modernização oferece um trabalho muito melhor ao seu público, que tem acesso a dados atualizados e pode acompanhar pesquisas em andamento. Para os alunos, o computador é um diferencial muito grande, pois além do uso para digitação ele pode levar para a realidade escolar o blog mantido por ele, o site de pesquisas que ele conhece ou mesmo montar projetos de estudo baseados em material colhido na internet. Para o bibliotecário, a internet é inexplicável. Esta se mostrou ser para nós, eternos pesquisadores, uma ferramenta de trabalho extremamente rica. Hoje os bibliotecários trabalham conectados, através das listas de discussão e dos sites especializados em biblioteconomia. As bibliotecas que pertencem a organizações e que conseguem se conectar umas às outras facilitam muito a pesquisa do usuário. Um exemplo muito bem sucedido desta conexão é o trabalho da Universidade Cândido Mendes. Todas as bibliotecas da instituição estão conectadas e têm link direto para pesquisa no acervo no site da universidade. O aluno que mora na Baixada Fluminense, por exemplo, pode acessar, de casa, o link da biblioteca e verificar em qual unidade tem o material que ele precisa, bem como a disponibilidade para empréstimo. Isso antes da era digital era impensável. Já trabalhei em bibliotecas tradicionais: sem computador, só com máquina de escrever (que eu usei, em 2004!) e fichinhas de papel. Assim que saí dali fui para outra totalmente informatizada, não tinha uma ficha sequer, tinha setor reservado para pesquisas na internet e muitos materiais multimídia. Era outro mundo. Ninguém acreditava como era o meu cotidiano anterior, achavam que eu estava brincando. Quando você tem acesso à tecnologia todo o trabalho se torna mais fácil e rápido: se for um usuário, você encontra material mais rápido. Se for um funcionário, você tem a possibilidade de alimentar e corrigir a base de dados durante todo seu expediente. Ainda consegue esclarecer dúvidas sobre catalogação no site da Biblioteca Nacional, o que para nós é essencial.

revistapontocom – Como a escola pode e deve promover o bom uso da biblioteca por parte dos alunos/estudantes?
Marília Dias – Para a promoção do uso da biblioteca é essencial que a biblioteca trabalhe aliada à equipe docente e pedagógica. O professor nesse momento é o maior aliado do bibliotecário: cabe a ele incentivar o aluno em sala de aula para que ele vá à biblioteca ler, pesquisar, navegar na internet da forma correta, sem perder tempo em sites ruins. Na escola em que trabalho, o Instituto Elo de Educação, as professoras têm uma parceria muito boa com a biblioteca: incentivam os alunos a ler e todas as semanas. Os alunos – da Educação Infantil ao 5º ano – têm que ir à biblioteca para pegar algum livro e levar para casa. Faço muitas atividades com os alunos também: só para este ano tenho 15 programadas. Com o apoio das professoras e da coordenação, realizo oficinas de restauração de livros danificados com os alunos, contação de histórias, confeccionamos livros de acordo com a vontade do estudante, fazemos sessões de leitura e brincadeiras educativas, bem como uma exposição literária com livros e músicas criados pelos alunos na Semana Literária da escola. Levar o aluno para a biblioteca em horários vagos também é muito importante, faz com que ele ande pelo acervo sem obrigação nenhuma, lendo o que quer, navegando na internet, fazendo desenhos no paint ou simplesmente sentado nas almofadas, deitado no meio dos livros. Este contato é muito bom para eles.

revistapontocom – Mas como fazer isso se, de acordo com algumas pesquisa, o Brasil possui poucas livrarias, poucas bibliotecas?
Marília Dias – Realmente, faltam livrarias, sebos, projetos de incentivo à leitura e à escrita e pior: faltam bibliotecas, assim com bibliotecários. Muitas bibliotecas estão dentro de organismos fechados (como escolas, empresas e instituições), disponíveis somente para quem faz parte destes organismos. E elas se tornam invisíveis à população. Mas percebo que ultimamente vêm aumentando muito o número de projetos relacionados à expansão da leitura no Brasil. Pesquisa do MEC realizada na rede pública de Ensino Fundamental, em 2003, destacou que de 149.968 escolas públicas, somente 34.307 tinham biblioteca. E pouquíssimas com bibliotecário, pois o mais comum é um professor readaptado (deslocado de função em virtude de aposentadoria ou incapacitado para dar aulas) assumir a função. Mesmo nas bibliotecas existentes, com raras exceções, as condições de trabalho e do acervo são péssimas. Para este ano, o governo resolveu destinar mais verbas para os municípios com bibliotecas, mas mesmo assim o número de bibliotecas ainda é muito baixo. Tentando mudar esta situação, o governo vem investindo em projetos de valorização da leitura nas escolas, como o Plano Nacional Biblioteca na Escola, que visa enviar livros para a biblioteca escolar. Há outros programas também, como o PROLER. Só falta agora capacitar os profissionais da educação para dar continuidade ao processo de uso dos materiais. Na iniciativa privada existem projetos incríveis. Acredito que o Rio de Janeiro seja o maior incentivador da leitura em comunidades carentes.Um bom exemplo é a história de vida do pedreiro sergipano Evandro dos Santos. Ele só aprendeu a ler com 19 anos de idade. Mas hoje tem uma biblioteca – com projeto arquitetônico cedido gratuitamente pelo Oscar Niemeyer – com 40 mil volumes. Ele dá palestras até em faculdade sobre a importância da leitura e já mandou mais de 7 mil livros para o nordeste. Em Niterói, há um projeto de distribuição de livros dentro do terminal João Goulart, chamado Espaço Livro em Movimento, onde você pode entrar, pegar o livro que quiser, ou doar o livro que quiser. Existem muitos projetos pelo Brasil, o que falta é incentivo para que se estendam. O brasileiro lê pouco na maior parte das vezes por absoluta falta de acesso à leitura.

revistapontocom – Qual é o papel da bibliotecária(o) nos dias de hoje? Parece-me que é cada vez mais de mediador, de provocador, de instigador? Seria o mesmo papel do professor?
Marília Dias – O papel do bibliotecário é um e o do professor é outro. Um professor não substitui um bibliotecário e vice-versa. Eles devem trabalhar em conjunto. Hoje, o papel do bibliotecário é acima de tudo incentivar as práticas de trabalho voltadas para a formação do público leitor, lutando para transformar o aluno em um adolescente/adulto leitor. Ele é um mediador de leitura, já que instiga no aluno o desejo pelo livro, e ajuda a desenvolver a capacidade informacional do aluno dentro do ambiente escolar. Cabe também a este profissional equipar a biblioteca com a maior variedade possível de materiais no acervo e cuidar para que todo o corpo docente e discente o utilizem. O bibliotecário conhece sites, jornais, documentários e muitos outros materiais que facilitam o trabalho de ensino do professor.

revistapontocom – Na sua biblioteca, o que mais é lido pelas crianças e jovens?
Marília Dias – Crianças têm fases de leitura, se é que se pode falar assim. Quando são muito pequenas, por volta dos 2/3 anos, adoram livros de pano com desenhos simples. Quando alcançam os 4 anos, começam a demonstrar mais interesse por livros com historinhas cujas imagens lhes chamem a atenção. Por isso é essencial dar a elas livros com pouco texto e muitas figuras. Contos de fadas que elas já tenham ouvido são ótimos para incentivar a leitura. Aos 6 anos, elas começam a procurar livros cuja história, conteúdo lhes chame atenção. Por mais incrível que possa parecer, as minhas demonstram uma certa preferência por histórias com bruxas, fantasmas e que brinquem de forma bem humorada com o medo. Os jovens seguem uma tendência mundial: adoram Harry Potter e livros como os da Thalita Rebouças. Mas algo parece ser comum neles todos: gostam de bons livros. E cada aluno tem que ser observado e acompanhado para que o bibliotecário saiba valer duas leis da biblioteconomia: a cada livro o seu leitor e a cada leitor o seu livro. Começamos no ano passado um trabalho intenso de incentivo à leitura aqui na escola, com os alunos da Educação Infantil ao 5° ano.

revistapontocom – Neste ano, que projeto você vai desenvolver?
Marília Dias – No Instituto Elo de Educação, será implantado um projeto de incentivo à leitura e à escrita, chamado “Exercendo o Talento”, que visa incentivar os alunos a desenvolverem seus talentos, seja escrevendo, desenhando ou compondo. Temos alunos que escrevem muito bem e têm o desejo de publicar seus textos, mas alguns não sabem como desenvolver seus talentos muito bem, nem conhecem o processo de criação e edição do livro. Para isto, teremos esclarecimentos de autores como Pedro Bandeira, João Carlos Marinho, Rogério Andrade Barbosa e Thalita Rebouças. Temos palestras planejadas como o autor niteroiense Emerson Rios e o dono da editora NitPress, Luiz Augusto Erthal. Já para esclarecer os alunos participantes do projeto sobre inspiração e criação teremos alguns músicos ajudando, como o Hyldon que me deu várias ideias para o projeto e se propôs até a dar um depoimento filmado para mostrar aos alunos. Este projeto vai durar o ano todo e culminará com a impressão na escola do material produzido pelos alunos e irá aproximá-los mais ainda do universo da cultura, através da biblioteca. Tenho sorte de trabalhar numa escola que incentiva as artes, a música e a permanência dos alunos na biblioteca.

revistapontocom – E ao mesmo tempo você desenvolve duas pesquisas sobre o papel da biblioteca?
Marília Dias – Sim. Faço duas pesquisas diferentes: pesquiso sobre a realidade das bibliotecas escolares no Brasil junto a uma aluna da UFF, Natalia Caetano, que também se interessa pelo tema, e pesquiso sobre a influência nos leitores dos trabalhos realizados nas bibliotecas. Infelizmente, mais de 15 milhões de alunos estão excluídos do uso das bibliotecas. Descobri, por exemplo, que o estado de Sergipe não tem o cargo de bibliotecário no quadro de profissões do governo. Resultado: as bibliotecas do governo de lá não tem bibliotecários, só auxiliares e professores. Aí fica difícil… Os profissionais envolvidos com projetos educacionais têm lutado muito pela contratação de bibliotecários. São essas situações que encontramos no Brasil. Enquanto outros países investem em capacitação e infraestrutura, o Brasil ainda pensa como fazer sua população ler! Mas creio que isto mude nos próximos anos. Em 2010, foi sancionada a Lei 12.244, que obriga todos os estabelecimentos de ensino público e privado do país a terem bibliotecas com bibliotecários formados, administrando-as num prazo máximo de 10 anos. Isto levou a uma melhora significativa no quadro de trabalho dos bibliotecários, pois as escolas estão tendo que se adaptar à lei contratando-os. Se cada um fizer sua parte: escola, cidadãos e governo, os próximos anos terão uma realidade nova. Vi hoje um cartaz de incentivo à leitura destinada às crianças conclamando os pais a incentivá-las. É deste tipo de ação que o Brasil precisa.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Biblioteca investe na parceria da escola com as famílias e conquista leitores

Ao invés de frequentadores passivos, leitores criativos e que vestem a camisa da biblioteca. Esse sonho, embalado aberta ou veladamente por todo bibliotecário escolar, tem sido uma conquista gratificante para a bibliotecária Tânia Garcia, em seu trabalho na Biblioteca Infantil Miriam Mangelli, da escola Professor Jairo Grossi, em Caratinga, Minas Gerais, onde os 360 alunos alcançam uma média anual que supera os 30 mil empréstimos.

“É muito explícita a diferença do que se pode conseguir por meio do carinho, da dedicação e da parceria entre escola e família, realizando um trabalho em sintonia também com a direção da escola”, avalia Tânia, ao descrever sua alegria ao ver “no rostinho de cada criança o prazer de estar em contato com os livros, a magia das novas descobertas, a sede de aprender e principalmente o desenvolvimento delas neste grande laboratório chamado escola”.

Graduada pela Escola de Biblioteconomia de Formiga, Minas Gerais, em 1984, Tânia Garcia (CRB 6 1089) reside em Caratinga desde 1985, onde trabalha também na FUNEC, mantenedora do Centro Universitário de Caratinga (UNEC).

Ela conta que seu primeiro objetivo foi transformar a biblioteca em um lugar agradável, divertido e colorido. “Lembro que o meu primeiro painel dizia 'Biblioteca, lugar de ser feliz'. Isso tinha o intuito de tirar as amarras, pois precisamos parar de impor silêncio. As crianças querem se expressar, perguntar, viver as histórias no teatrinho de fantoches improvisado a cada visita”, relata.

Um dos projetos desenvolvidos por Tânia é o de brindes de materiais reciclados, que consiste em confeccionar e
distribuir brinquedinhos, fazer tatuagens, desenhos, minilivros. “Isso faz com que as crianças sintam que são bemvindas”, afirma. Assim, segundo ela, logo se interessam pelos livros, que a cada dias estão mais atrativos.

O trabalho com os pais dá sequência à tarefa de conquistas os novos leitores. “Através dos empréstimos domiciliares, e com a finalidade resgatar o hábito de contar histórias, desenvolvemos o projeto Leitura em família, um carinho a mais, que consta de uma bolsinha com livro selecionado e uma apostila com atividade de interpretação, desenhos e o ponto que considero o clímax do projeto, que é a pergunta 'O que aprendi com este livro'. O projeto é adaptado para alunos do maternal ao 5º ano”, explica a bibliotecária.

Para continuar motivando a frequência, ela utiliza também os projetos Leitor destaque, Campeões de leitura, Artistas da semana (que consiste em expor desenhos realizados na biblioteca ou mesmo em casa) e Hora do conto, além de teatrinhos de fantoches, teatro improvisado pelos alunos durante a aula de literatura, pesquisas feitas pelos alunos do 3º ao 5º anos. Nesse caso, na hora do recreio, os alunos, usam fantasias para divulgar trabalhos realizados na biblioteca.

Para motivar o respeito e os bons hábitos dentro da biblioteca, Tânia implantou também os projetos Bibliotecário
do dia e Montagem do regulamento da biblioteca. No primeiro, as salas da educação infantil recebem duas viseiras que são usadas pelos alunos são responsáveis por ajudar na organização do acervo após a visita da sala. No Montagem do regulamento da biblioteca, alunos das séries mais adiantadas visitam as salas da educação infantil, também devidamente fantasiados, e fazem duas perguntas básicas: “O que pode e o que não pode fazer na biblioteca?” Com base nas respostas, é montado o regulamento anual.

“Para motivar redação e o gosto pela arte desenvolvemos diversos projetos, como o Utilizando a poesia Convite de José Paulo Paes onde trocamos poesias por pirulitos e também fazemos a exposição dos trabalhos realizados”, conta a bibliotecária, ao citar também o Projeto escritor mirim para alunos do 2º ao 5ª ano – concurso em que o aluno redige um livro com o tema sugerido pela biblioteca, e são selecionados três ganhadores, que recebem cestas de chocolates e publicação dos livros. “Eles também têm direito à promoção da tarde de autógrafos, onde distribuímos os livros gratuitamente para todos os alunos e funcionários da escola, e para os familiares dos escritores. Este ano levaremos a distribuição desses livros gratuitamente para a praça da
cidade, com o objetivo de divulgar o nosso trabalho e motivar a leitura e a escrita na comunidade caratinguense”, diz Tânia Garcia.

O Projeto ilustrador mirim também é um concurso que seleciona os três melhores trabalhos, com direto a prêmios e divulgação dos desenhos. Já o projeto Recadinho do coração tem por objetivo motivar a frequência à biblioteca, bem como a redação ea troca de carinho entre pais, filhos, professores, alunos, funcionários e colegas. “Todos esses são projetos desenvolvidos pela biblioteca, mas temos muitos outros desenvolvidos pelos professores, com a finalidade de motivar a leitura, como o passaporte do leitor, resumo de obras, apresentação teatral, onde eles apresentam para os familiares, geralmente no sábado à tarde, apresentação de obras, jornal literário e indicação de obras”, destaca a bibliotecária.

“Quero deixar registrado que não conheço um método para criar o hábito da leitura, e creio que o verbo 'ler' nunca deve ser usado no imperativo. O que acredito é na motivação e no acompanhamento por parte dos professores, bibliotecários e principalmente da família para despertar esse estímulo. O carinho e o hábito de contar histórias desde muito cedo vai fazer toda a diferença na formação dos futuros leitores”, comenta Tânia Garcia, que destaca seu agradecimento pelo envolvimento da direção da escola onde trabalha. “Nossa principal atividade, como bibliotecários, é o atendimento aos nossos clientes, que são o principal objetivo da existência e sucesso de qualquer empreendimento. Tenho sempre em mente o nosso poeta maior Carlos Drummond de Andrade: 'O leitor é o meu objetivo... para cada leitor existe um livro e para cada livro encontrarei o seu leitor'.“

Matéria publicada em 17/07/2010

sábado, 31 de julho de 2010

DIREITO À LEITURA - Lei manda uma biblioteca em cada escola

Para atingir a meta no prazo determinado, que é de 10 anos, será preciso construir 25 bibliotecas por dia no País

Ana Paula Nascimento

Parecia ser o óbvio, mas só agora o País ganha uma lei determinando que todas as escolas públicas e privadas tenham uma biblioteca e um acervo mínimo de pelo menos um livro por aluno matriculado. A Lei 12.244, de autoria do deputado federal Lobbe Neto (PSDB-SP), foi publicada no dia 25 de maio no Diário Oficial e prevê o prazo de 10 anos para as instituições se adequarem. Com a estimativa do Ministério da Educação de que 37% das 200 mil escolas brasileiras de educação básica ainda não têm biblioteca (Censo/2008), o desafio é grande: seria necessário construir 25 bibliotecas por dia para atingir a meta.

Na biblioteca da Escola Municipal Carlos
da Costa Branco o acervo de mais de 3 mil
livros inclui dicionários, enciclopédias, revistas e gibis

Em Londrina, praticamente todas as 80 escolas municipais (incluindo as rurais), que atendem aproximadamente 37 mil alunos, possuem um bom acervo de livros, mas a Secretaria Municipal de Educação não soube precisar quantas ainda não têm um espaço adequado para biblioteca. É o caso da Escola Municipal América Sabino Coimbra, no Jardim Paulista (Região Norte). Com 110 alunos atendidos em dois turnos, o pequeno espaço improvisado de cerca de nove metros quadrados não comporta de forma confortável mais do que seis crianças por vez.

O local é um dos espaços preferidos dos alunos,
com boa iluminação, mesas, cadeiras e prateleiras
adequadas ao tamanho das crianças

Em prateleiras altas, o acesso aos 600 livros do acervo não é facilitado e a professora regente de biblioteca, Kátia Valéria Rodrigues Monteiro, se desdobra para atender as crianças. A Hora do Conto é feita na sala de aula, assim como o empréstimo dos livros, que são levados em baús. ‘‘Sabemos que isso não é o ideal, que os alunos perdem por não terem um espaço adequado para a leitura, o acesso ao computador e um ambiente mais lúdico’’, lamenta a diretora Marly Guagnini Sander. Recentemente, devido a um problema de infiltração no telhado, cerca de 500 livros novos ficaram estragados.

Por causa da falta de espaço, a Hora do
Conto é feita na sala de aula, assim como o
empréstimo dos livros, que são levados em baús

Segundo a assessoria de planejamento da Secretaria Municipal da Educação, está prevista para o ano que vem a reconstrução da escola – que ainda mantém a estrutura de madeira da sua fundação em 1968 – com a instalação de uma biblioteca adequada.

Ao ser informado sobre esta possibilidade, os olhos do aluno Rafael Alves da Silva, 7 anos, brilharam. ‘‘Sério? Que legal! Eu estava querendo mesmo isso’’, comemora. A aluna Gabriela Moraes Guise, 8 anos, também aprova a iniciativa: ‘‘Eu gosto muito de ler e seria muito bom ter uma biblioteca maior e mais confortável, onde nós mesmos pudéssemos pegar os livros nas prateleiras’’.

Em época de Copa do Mundo, a professora
Maria de Cássia lê um livro que fala das
riquezas da cultura africana

Na Escola Municipal Professor Carlos da Costa Branco, no Jardim Piza (Região Sul), esse sonho já é realidade há seis anos. Inaugurada em 1977, a pequena escola de madeira com cinco salas foi reconstruída em 2004 e, desde então, tem mais salas de aula e uma biblioteca bem estruturada. O acervo de mais de 3 mil livros infantis e infantojuvenis, ainda conta com 14 enciclopédias, 74 dicionários ilustrados, revistas e gibis para o deleite dos 450 alunos que frequentam a instituição.

Na Escola Municipal América Sabino Coimbra a
biblioteca ainda está em um espaço apertado e improvisado

Arejada, com boa iluminação, ventiladores, mesas, cadeiras e prateleiras adequadas ao tamanho das crianças, o local é um dos espaços preferidos delas. A professora regente de biblioteca Maria de Cássia Zamaia Zendrini confirma que o local é ideal para a contação de histórias. Em época de Copa do Mundo ela está trabalhando com os alunos o livro ‘‘A África, Meu Pequeno Chaka...’’ (Cia das Letrinhas), que explora de forma afetiva, através do diálogo entre um avô e seu neto, as riquezas da cultura africana. ‘‘Procuro complementar nas leituras o conteúdo que está sendo trabalhado em sala de aula e também aspectos da vida cotidiana dos alunos através das mensagens dos livros. Eles prestam atenção, gostam da atividade, lêem mais e ficam curiosos’’, comenta a professora.

Na opinião do diretor de bibliotecas do município Rovilson José da Silva a nova lei é um passo importante para a valorização das bibliotecas escolares. ‘‘O ideal é que não fosse necessário ter uma lei para isso, mas ela ajuda a reforçar o compromisso do Estado, da União, com esse intrumento de educação. Não é só mandar livros; é preciso ter espaços adequados para o incentivo à leitura, à educação’’, ressalta.

Segundo ele, até pouco tempo a biblioteca escolar era considerada o ‘‘patinho feio’’ e a prioridade dos investimentos ficava por conta das bibliotecas públicas e universitárias.

A nova lei prevê ainda um bibliotecário atuando nas bibliotecas escolares. ‘‘Isso pode gerar uma mudança até na grade curricular do curso de Biblioteconomia. É preciso um olhar diferenciado na capacitação desse profissional que vai atuar diretamente com crianças. Há todo um processo de mediação da leitura, que é fundamental e vai além do aspecto técnico da manutenção do acervo’’, avalia.

Ao saber que sua escola vai ganhar uma biblioteca nova,
Rafael se anima: ‘Sério? Eu estava querendo mesmo isso

Lançado em 2002, o projeto Palavras Andantes, idealizado por Silva, conseguiu modernizar mais de 60% das bibliotecas municipais e impulsionou o incentivo à leitura na rede municipal – de 72 mil livros emprestados em 2002 passou para 650 mil em 2008 (último levantamento realizado). O projeto prevê formação continuada de professores, contação de história e empréstimos de livros semanais, além de revitalização de acervo e infraestrutura das bibliotecas. Há um ano sem coordenadoria, depois que Silva assumiu seu cargo atual, uma nova coordenação deverá ser confirmada ainda nesta semana.

Matéria publicada em 22/06/2010