sexta-feira, 31 de agosto de 2012

4 estratégias para os pais ajudarem os filhos a aprender a ler e a escrever

25 agosto 2012
 
Só 37% dos alunos que frequentam o 4º ano são considerados proficientes em leitura. Os dados são de 2005 e reportam-se aos EUA (1).  Em Portugal, os dados não divergem.

Os professores podem fazer muito mas os pais ainda mais (2). 

As crianças não aprendem a ler naturalmente. Não é suficiente apoiá-las na leitura. É necessário instrução directa por parte de professores e de pais. Convém ter presente que nem todas as crianças aprende a ler com os métodos globais. Para muitas é mais eficaz o uso de métodos fonéticos. Aprender o abcedário e a juntar letras, perceber a diferença entre um fonema e um grafema e associar o grafema ao som são tarefas difíceis mas necessárias ao processo de aprendizagem da leitura e da escrita.

Os professores ensinam na sala de aula recorrendo a métodos de instrução directa com muito treino, repetição e correcção de erros. Os pais ensinam em casa, reforçando o trabalho dos professores.

O que é que os pais podem fazer para os filhos serem bons leitores?

#1. Estabelecer uma rotina. 

O contacto com os livros deve constituir uma actividade diária. Se os pais criarem um horário semanal de estudo, onde constem as horas de leitura, as crianças ganham o hábito de ler e a leitura torna-se uma actividade rotineira.

2#. Dar liberdade para ler

Os pais devem dar liberdade às crianças para escolherem os livros que desejam ler. Visitas regulares à biblioteca também ajudam. 

3#. Ensinar leitura activa

Não basta ler. É preciso fazer perguntas sobre a história. Quem são os personagens? O que fazem eles? Como relacionar as imagens com as palavras? Fazer resumos da história. Debater a história. Interpretar as frases.

4#.Passar da leitura à escrita

Ler é bom mas escrever ainda é melhor. Pedir à criança para resumir por escrito a história. Pedir à criança para contar uma história e escrevê-la. 

Fonte:ProfBlog A Educação em Portugal

Ler com regularidade é benéfico para a saúde

27 de Agosto de 2012

Ler com regularidade é benéfico para a saúde

São cada vez mais as evidências de que ler faz bem à saúde. Estudos realizados por diferentes instituições de ensino superior internacionais revelam que os benefícios vão desde a memória e do aumento da plasticidade do cérebro à melhoria das relações interpessoais e da empatia, passando, até, pela redução da pressão arterial.
 
De acordo com jornal Daily Mail, o debate acerca da importância da leitura reacendeu-se graças a um estudo recente da Universidade da Califórnia, nos EUA, destinado a publicação na revista científica Archives of Neurology.
 
A investigação em questão mostrou que o desenvolvimento de atividades que estimulam o cérebro, nomeadamente a leitura diária desde tenra idade, pode ajudar a prevenir a doença de Alzheimer, inibindo a formação das placas amilóides, proteínas encontradas nos pacientes que sofrem do problema.
 
Os cientistas analisaram o cérebro de adultos saudáveis com idade igual ou superior a 60 anos e sem sinais de demências, concluindo que aqueles que levavam a cabo atividades como a leitura, o xadrez ou a escrita desde os seis anos de vida mostravam níveis muito baixos destas placas e, consequentemente, menor risco de desenvolver a doença.

Vantagens começam nos primeiros anos

 
As vantagens começam, aliás, a sentir-se desde os primeiros anos. Ouvida pelo diário britânico, a neurocientista Susan Greenfield salientou que a leitura ajuda a aumentar os níveis de concentração das crianças e a sua capacidade de pensar com clareza, o que tem impactos nas fases mais tardias da vida.
 
"As histórias têm um início, um meio e um fim, uma estrutura que encoraja os nossos cérebros a pensar em sequência, a associar causa, efeito e significado", explicou a especialista, acrescentando que esse facto justifica a importância de os pais lerem aos filhos e sublinhando que "quanto mais o fazemos, melhores nos tornamos" a nível cerebral.
 
Além disso, mais do que, por exemplo, um jogo de computador, a leitura ajuda a gerar empatia para com os outros e a melhorar as competências relacionais. "Num jogo podemos ter de salvar uma princesa, mas não queremos saber dela, só queremos ganhar. Mas, num livro, a princesa tem um passado, um presente e um futuro, tem relações e motivações. Podemos identificar-nos com ela", esclarece Greenfield.
 
Em 2009, dois outros estudos tinham já provado os efeitos positivos da leitura na saúde. Um grupo de investigadores norte-americanos mostrou, à data, que, ao ler, o nosso cérebro constrói as imagens, sons, cheiros e sabores descritos, fazendo com que sejam utilizadas as mesmas partes da sua estrutura usadas em experiências da vida real que, assim, são ativadas e criam novas ligações neuronais.
 
No mesmo ano, especialistas da Universidade de Sussex, no Reino Unido, concluíram ainda que ler durante apenas cinco minutos permite reduzir o stress em mais de dois terços, sendo mais benéfico do que, por exemplo, ouvir música ou dar um passeio. Este alívio da tensão está relacionado com a distração que advém da leitura, que relaxa os músculos e diminui a pressão arterial.

Clique
AQUI para aceder ao estudo realizado pela Universidade de Berkeley (em inglês).

Fonte: Boas Notícias

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O livro certo para a pessoa certa

Publicado em 05/08/2012 | Yuri Al’Hanati
 
Indicação de amigos, professores e até mesmo dar um livro de presente são alguns bons caminhos para criar o gosto pela leitura

 Claudecir Rocha acredita que apresentar o livro certo a alguém pode formar um leitor

O cenário atual da literatura no Brasil não é dos mais favoráveis, a julgar pela última edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, levantada pelo Instituto Pró-Livro. O estudo, que foi publicado em março deste ano e será lançado em formato de livro na Bienal do Livro de São Paulo estima que apenas metade da população brasileira lê, e os que leem não consomem mais do que dois livros inteiros por ano, aumentando décimos de uma média que, historicamente, sempre foi baixa. 

Porém, alguns dados complementares da pesquisa guardam em si pequenas esperanças de reversão do quadro a longo ou, quem sabe, curto prazo. Por exemplo, a falta de gosto pela leitura não é um empecilho, já que 62% dos entrevistados dizem gostar pelo menos um pouco de ler. E embora 87% dos que não leem afirmem nunca ter ganhado um livro, 88% dos que ganharam garantem a importância do presente para despertar o interesse por ler.

Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

   O estudante Arthur Tertuliano quase sempre ganha livros de presente

O valor de um livro presenteado, portanto, pode ser maior do que se supõe. É no que acredita o comerciante Cássio Busetto, 36 anos. “Eu sempre parto do princípio de que se alguém não gosta de ler é porque nunca foi apresentado aos livros certos. E por livro certo me refiro aos livros de qualidade e também do interesse da pessoa, que possam trazer conhecimento ou uma visão de mundo interessante.” Busetto tem o costume de dar livros de presente para as pessoas quando sabe que há um mínimo interesse pela literatura, mas é criterioso. “Procuro dar um livro que combine um pouco o gosto dela com o meu, para não presentear com algo que eu considero de mau gosto. Quando a pessoa não lê, mas tem algum interesse, procuro dar algo mais leve e agradável, um entretenimento que possa levar a leituras mais densas.”

Hillé Puonto, pseudônimo da anônima autora do blog Manual Prático de Bons Modos em Livrarias, já ajudou muita gente a encontrar esse presente, e afirma: “o que mais percebo entre as pessoas que vão à livraria atrás de um livro como forma de presente é a necessidade de se comunicar com o presenteado. Há muitas que gostam de compartilhar experiências. Eu, por exemplo, adoro presentear meus amigos com livros que tenham, de alguma forma, representado algo para mim.”

Quem recebe o presente confirma as opiniões acima. O mestrando em estudos literários da Universidade Federal do Paraná, Arthur Tertuliano, 25 anos, ganha quase sempre um livro como presente, e diz que o mimo desperta seu interesse. “Às vezes, fico muito curioso com o que a pessoa pode estar querendo dizer com ‘este livro é a sua cara’, ou dou prioridade para lê-lo quando eu sei que ela está ansiosa para comentar sobre ele”, conta, citando como exemplo o livro Duna, de Frank Hebert, que ganhou de um amigo. “Estou lendo este não só porque a dedicatória é excelente, mas porque sei que meu amigo gosta bastante do livro e gostaria de comentá-lo comigo.”

Indicação valiosa

Esse compartilhamento de experiências no ato de presentear é outro fator de peso para criar leitores. A pesquisa aponta que o regalo representa 21% do acesso a livros e a indicação das pessoas é o terceiro maior fator de influência na hora de escolher um livro para ler, ficando atrás do título do livro e do tema. “Eu tenho um amigo que costuma pensar bastante nos presentes e, há três anos, os livros que ganho dele de aniversário estão entre os melhores que recebo”, comenta Tertuliano, concordando que uma boa indicação faz toda a diferença: “você pode dar algo no estilo do que a pessoa gosta, apresentando algo de que ela ouviu falar, mas com que nunca teve contato direto, ou mesmo abrindo seus horizontes em algum sentido.”

E a principal indicação acontece na sala de aula: 45% dos entrevistados que leem garantem que foi o professor que os influenciou ao hábito, mais do que a mãe (43%) e o pai (17%). O professor de ensino médio e ex-livreiro das Livrarias Curitiba, Claudecir Rocha, 32 anos, acredita que é só uma questão de fisgar o potencial leitor pelo título certo. “É preciso indicar algo agradável antes de apresentar o que eles precisam estudar. Se um aluno de ensino médio tiver de ler só Dom Casmurro, ele nunca mais vai ler Machado de Assis na vida, mas um conto do Machado já é mais apetecível”, afirma, e completa contando sua própria experiência: “li com meus alunos o conto ‘Feliz Ano Novo’, do Rubem Fonseca, e agora eles adoram o escritor. É só uma questão de despertar a curiosidade, e a pessoa nunca mais deixa de ler.”

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

6º PRÊMIO UFF DE LITERATURA CONTOS, CRÔNICAS E POESIAS

6º PRÊMIO UFF DE LITERATURA
CONTOS, CRÔNICAS E POESIAS
REGULAMENTO
I – Do objetivo
Promovido pela Editora da Universidade Federal Fluminense (EdUFF), este concurso tem como objetivo estimular a produção literária e incentivar  a cultura, premiando contos, crônicas e poesias.
II – Das condições
1 – Poderão participar do PRÊMIO UFF DE LITERATURA escritores de língua portuguesa, editados ou inéditos, independentemente de sua nacionalidade.
2 – O texto apresentado deverá ser rigorosamente inédito, seja na forma impressa, seja na forma eletrônica.
3 - Serão automaticamente desclassificados textos que se descubra já terem sido publicados em blogs, sites ou em quaisquer outras formas de divulgação.
4 – Não serão aceitas obras póstumas nem assinadas por grupos.
5 – É vedada a participação de membros da comissão organizadora do 6o PRÊMIO UFF DE LITERATURA.
6 – Cada concorrente poderá participar com apenas 1 (um) texto, em cada categoria, sendo vedada a coautoria.
7 – Os participantes poderão concorrer em mais de uma categoria, enviando os trabalhos nas várias categorias com um único pseudônimo, num mesmo envelope.
8 - Celebrando o centenário do poeta niteroiense Luís Antônio Pimentel, o tema proposto é: “O contador de histórias”.
9 – As obras podem ser ficcionais, não tendo de se basear em figuras reais. O poeta Luís Antônio Pimentel apenas inspira o tema proposto. Os poemas, crônicas e contos não precisam mencioná-lo, nem se inspirar em qualquer figura real.
10 - CONTO: Os autores deverão utilizar fonte Times New Roman tamanho 12, com espaçamento 1,5 entre as linhas e todas as margens medindo 2cm. Os contos não poderão ultrapassar o limite de 4 (quatro) páginas.
11 – As crônicas e poesias não poderão exceder 3 (três) páginas. Os autores deverão utilizar fonte Times New Roman tamanho 12, com espaçamento 1,5 entre as linhas e todas as margens medindo 2cm. 

III – Da inscrição
1 – As inscrições estarão abertas até 15 de agosto de 2012.
2 – Os trabalhos deverão ser enviados pelo correio em carta registrada ou via Sedex para: 6oPRÊMIO UFF DE LITERATURA - EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE (EdUFF), RUA MIGUEL DE FRIAS, 9, ANEXO, SOBRELOJA, ICARAÍ, NITERÓI, CEP – 24220-900, ou entregues neste endereço. Os textos deverão ser remetidos a tempo de chegarem à EdUFF até o dia 15 de agosto de 2012.
3 – Serão automaticamente desclassificados os textos que chegarem à editora após o dia 15 de agosto de 2012.
4 – Os textos, em 4 (quatro) vias impressas, com as páginas numeradas e grampeadas, deverão apresentar apenas o título do trabalho e o pseudônimo do autor. O pseudônimo escolhido não pode permitir a identificação do autor. Logo, é vedada a utilização dos nomes literários, que o autor utilize ao publicar seus textos.
5 – As cópias impressas deverão vir acompanhadas de um CD com: versão digital (compatível com o Word do Windows) do(s) texto(s) e dos dados do autor (NOME, ENDEREÇO, E.MAIL, TELEFONES PARA CONTATO).
6- O concorrente deve escrever no próprio CD, com caneta adequada para que não se apague, o título do trabalho e o seu pseudônimo.
7 – Junto com este material deve ser encaminhado um envelope lacrado, identificado externamente apenas com CATEGORIA do(s) texto(s) (conto, crônica ou poesia) inscritos, TÍTULO (S) do(s) trabalho(s) e PSEUDÔNIMO do autor. Internamente, deve conter um documento informando: título(s) e categoria(s) do(s) trabalho(s), pseudônimo, nome completo do autor, nome que deve constar na antologia (em caso de classificação), além de endereço completo do mesmo, telefones e e.mail para contato, números de RG e CPF, bem como um minicurrículo de no máximo 1.000 (mil) caracteres ou 170 palavras.
IV – Da seleção
1 – O julgamento será feito por uma comissão julgadora composta por intelectuais de saber amplamente reconhecido e comprovado em literatura.
2 – A avaliação dos textos será realizada com base nos critérios de adequação ao tema proposto, originalidade, criatividade, qualidade técnica empregada e respeito à limitação de caracteres especificada nos itens 10 e 11, da parte II (Das Condições).
3- As decisões da comissão julgadora serão irrecorríveis.
4 – Serão selecionados 20 (vinte) textos em cada categoria para publicação de uma antologia pela EdUFF.
5 – A classificação final será divulgada em dezembro de 2012, em local a ser divulgado.
V – Da premiação
1 – O autor classificado em primeiro lugar em cada categoria receberá como prêmio um notebook. A editora se reserva o direito de definir marca e configurações do equipamento. Os vencedores farão jus também ao troféu Itapuca.
2 – A publicação dos textos selecionados se constituirá no prêmio para os primeiros lugares e demais classificados.
3 – Os autores classificados em primeiro lugar em cada categoria receberão 10 (dez) exemplares da antologia; os segundos colocados, 8 (oito); os terceiros, 5 (cinco). Os demais 17 autores selecionados receberão 3 (três) exemplares da coletânea.
4 – Ao inscrever-se, os participantes concordam em ceder os direitos autorais dos textos à EdUFF, para publicação ou divulgação por meio eletrônico.
5 – A EdUFF não será responsável por nenhuma despesa referente ao comparecimento dos participantes à cerimônia de premiação.
VI – Das disposições finais
1 – A Fundação Euclides da Cunha, a Pró-Reitoria de Extensão da UFF e a Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro são os patrocinadores deste concurso.
2 - Após o término do concurso, os textos recebidos não serão devolvidos.
3 – A participação neste concurso implica a aceitação total e irrestrita de todos os itens deste regulamento.
4 - Casos omissos serão resolvidos pela comissão julgadora e organização do concurso.

“Ler ou não ler" é, uma vez mais, a questão

Filipe de Sousa
Texto publicado originalmente no jornal: GAZETA VALEPARAIBANA
Julho/2012

Nas sociedades contemporâneas, a leitura (em contexto escolar, profissional ou de lazer) assume um papel importantíssimo na promoção do desenvolvimento cultural, científico, político e, consequentemente, econômico dos povos e dos indivíduos. Por isso, tanto se tem refletido sobre a forma de incentivar e motivar as pessoas para a leitura, em especial as crianças e os jovens, que ainda não criaram e enraizaram esse hábito tão enriquecedor.

Interlocutor privilegiado, pelo tempo que partilha com os mais novos, a escola pode ajudar a criar e a sedimentar hábitos de leitura quer promovendo e explorando o livro, com temáticas adequadas e atrativas para as correspondentes faixas etárias, quer dinamizando atividades inovadoras e interessantes com livros na biblioteca escolar, quer propondo a navegação em sites diversificados que põem o aluno em contacto com a leitura de diferentes suportes, muitas vezes interativos. Estas são, fundamentalmente, as questões sobre as quais nos debruçaremos no artigo que se segue.

As crianças e os jovens aprendem muito do que sabem acerca do mundo e da vida espontaneamente, em contextos muito diversificados que abrangem o grupo familiar, o círculo de amigos, as micro-sociedades ou grupos em que se inserem e os meios de comunicação social, desde a televisão até à Internet.

Mas é, sem dúvida, na escola e, frequentemente, através do livro, que aprendem de forma mais organizada a sistematizar as informações e os conhecimentos, a pensar, a olhar com espírito crítico a realidade circundante, a problematizar o mundo, a encontrar resposta para os problemas que enfrentam, a respeitar as  diferenças étnicas, sociais e pessoais e, muitas vezes, a interiorizar os seus direitos e deveres, como pessoas e como cidadãos. Enfim, o contacto com o livro enriquece culturalmente o indivíduo e promove a sua autonomia. Para já não falar, especificamente, da importância do livro e da leitura para o melhoramento da competência linguística oral e para a aprendizagem do código escrito da sua própria língua.

De ano para ano vamos tendo cada vez a sensação mais nítida de que aumentam os problemas relacionados com a competência linguística oral e escrita dos jovens em geral, problemas esses denunciados diariamente pela própria família, pelos meios de comunicação social e, claro, amargamente constatados por todos os professores. É visível e constrangedora a dificuldade de certos adolescentes em exporem claramente um raciocínio. No âmbito da escrita já não são só os problemas ortográficos, mas é também o domínio deficiente da pontuação, da acentuação gráfica, da própria construção sintática da frase, bem como o da construção de um simples texto.

Neste contexto, afigura-se-nos óbvia a importância do livro e da leitura como fonte de saber e de cultura e como meio eficaz de aperfeiçoamento linguístico. Todavia, o difícil é ser capaz de conduzir as crianças e os jovens à leitura, quando estão rodeados de tantas e tão diversificadas solicitações e quando, por vezes, até o próprio meio familiar parece avesso a esta atividade e a tudo o que com ela diretamente se relaciona (nomeadamente, consagração efetiva de uma parcela do tempo livre à leitura, discussão de aspectos sobre os quais o livro que lemos nos fez refletir, exteriorização do prazer de ler, visita regular à biblioteca e à livraria e aquisição habitual de livros).

Não pretendemos refletir aqui sobre as razões sociológicas desta falta de tempo familiar para a leitura, senão mesmo falta de vontade, mas é certo que ela não contribui minimamente para a motivação intrínseca para ler que as crianças e os jovens deveriam ter.

Por outro lado, se a própria comunidade escolar (digo, comunidade escolar, e não só professores de Português) não conseguir mostrar aos alunos uma atitude muito positiva em relação ao prazer de ler, quer a finalidade seja informativa ou recreativa, e se não encarar a biblioteca como um espaço de cruzamentos curriculares, de modo a que a sua dinamização seja contínua e feita por todos, dificilmente conseguirá cativar os alunos para a leitura.

Primeiro de Julho dia Mundial das Bibliotecas. Vamos valorizar?

Todos pela dinamização das Bibliotecas Escolares e Públicas.

Fonte: Ofaj

Ler ou não ler? Eis a questão…

Elvis Rocha
Quem testemunha hoje a minha paixão pela comunicação escrita, esse meu prazer explícito em ler e escrever, não imagina como foram difíceis pra mim, os primeiros passos nesse sentido.Aos 7 anos, morando em um sítio, fui matriculado no primeiro ano e, depois de 6 meses, quando morreu a única professora (Dona Genília, que Deus a tenha!), que ensinava do primeiro ao quarto ano (tudo junto), eu não havia aprendido a desenhar uma única letra, sequer.

No ano seguinte fui para a casa de parentes na cidade, matriculado no SESI, permaneci 4 meses, até a morte do meu avô materno e, mais uma vez saí sabendo desenhar o nome da escola e, nada mais.
De volta ao sítio, ainda sem uma professora na escolinha, eu olhava com desgosto para o meu material escolar  e me considerava um incapaz, que queria muito saber, mas, que não conseguiria aprender nada, nunca.

Meu pai, embora soubesse um pouco, achava que era da escola e dos professores a função de  alfabetizar e ensinar, mas, minha mãe, que só sabia (e sabe) o pouco que aprendera no Mobral, arriscou-se a me ensinar e, diferentemente da didática clássica, ela me dava sílabas inteiras para juntar e formar palavras, fugindo de consoantes e vogais separadas: Ba-la, sa-pa-to, ma-ca-ca, quei-jo, pi-po-ca, etc… O resto, eu aprendi errando (muito). Quando eu já sabia formar as palavras, ela ensinou-me os números e as quatro operações básicas, sem que eu aprendesse a contento, contas de dividir (Até hoje eu apanho disso).
Ainda meio atrapalhado e inseguro, como a criança que começa a andar, eu buscava entre as coisas do patrão, no escritório dele, tudo que pudesse ler: Revistas, jornais, livros, gibis, palavras cruzadas, tudo, tudo que me trouxesse informação e assim, eu me senti, de verdade, descobrindo um novo mundo, um novo e mágico universo. Quando não entendia o sentido de uma palavra, perguntava para alguém ou apelava para o dicionário do patrão (Juiz de direito). E o próprio patrão, percebendo que eu gostava de aprender, me ensinava e corrigia, quando eu escrevia ou falava errado, além de me contar muitas histórias do Brasil, da humanidade e, dele próprio, como exemplo.

Como a letra da minha mãe é bonita e ela começou a me ensinar desenhando pontilhados pra eu sobrescrever, a minha letra também nasceu relativamente boa, a ponto de, no ano seguinte, a professora de outra escola, na cidade, duvidar de que eu não tivesse concluído o primeiro ano e insistido para que eu fosse mandado direto para o segundo, o que eu prontamente, recusei. Foi um ano fácil, de notas excelentes e muita satisfação por constatar que eu não era aquele incapaz que me julgava antes. Faltava apenas aquele primeiro empurrão da minha mãe, para que eu pegasse no tranco e seguisse em frente, sozinho.

O segundo ano eu estudei em outro sítio dos mesmos patrões dos meus pais, para onde eles haviam se mudado. A escola ficava a quatro quilômetros da minha casa, mas, era um percurso que eu fazia todos os dias, a pé, com prazer, sem jamais reclamar. Eu me desesperava sim, quando, por algum motivo, não podia ir.

Nesse novo sítio pra onde nos mudamos, morava Luiz, um rapaz de 16 anos, que nunca havia pisado em uma sala de aula e ele, vendo o meu entusiasmo com os estudos, interessou-se em aprender comigo. Do mesmo modo como minha mãe havia me ensinado, ensinei pra ele e, em pouco tempo ele já fazia algumas leituras curtas na igreja, muito orgulhoso. Se hoje ele disser pra alguém que jamais entrou em uma escola, pela maneira como é inteligente e conhecedor de muitos assuntos, poucos acreditarão nele.
Eu, depois de adulto, percebi que um sobrinho estava tendo dificuldades parecidas com as minhas, para aprender na escola. Encerrou o terceiro ano seguido de estudos sem sair do primeiro ano e, brincando, como fez minha mãe comigo, resolvi arriscar com ele e, para minha surpresa, em apenas uma semana, com muita paciência, ele já sabia desenhar, juntar as letras e formar palavras com as vogais, tipo eu, ei, oi, ui, ia, etc… e, daí pra ele sair do primeiro para os outros anos letivos sendo sempre bem aprovado, foi um pulo.

Por fim, eu acho que, independentemente de hoje as crianças já praticamente nascerem em creches e escolinhas, de terem todas as facilidades e incentivos para estudarem e aprenderem, o incentivo inicial em casa é imprescindível para uma decolagem mais fácil, na escola. O pai, a mãe ou outra pessoa que vá ensinar, precisa ter muita paciência, jamais se irritar e nunca chamar a criança de burra, lesada, incapaz… Mesmo quando o aproveitamento não parecer satisfatório, elogiar, incentivar e mostrar que e como dá para melhorar e recomendar aos instrutores de reforço, que ensinem e não façam pelo seu filho, as tarefas que ele não entender na escola; acompanhar o desempenho dele e exigir da escola, qualidade no ensino, não permitindo jamais que ele seja aprovado, sem méritos para isto, porque um boletim forjado poderá lhe abrir muitas portas no futuro, mas não garantirá que ele fique em um emprego ou que cresça como pessoa ou profissional.

Que o diploma seja a campainha que abrirá muitas portas pra ele e o aprendizado, a rodovia sem fim por onde ele seguirá com segurança e sabedoria…

Ler ou não ler: eis a questão

William Grigsby Vergara é Desenhista Gráfico, estudou na UCA, Nicarágua. Veja este artígo completo na revista Envío. Visite: www.envio.org.ni

Artigo publicado originalmente em agosto/2008
Segundo o escritor marroquino-francês Daniel Pennac, o ser humano leitor é sujeito de dez direitos. O primeiro de todos, o direito a não ler. Parece que uma maioria de jovens nicaragüenses, consciente ou inconscientemente, não conseguiram ir além desse primeiro direito. Constituem a maioria quem se concede, diariamente, o direito a não ler. Entre um bom livro e um filme de televisão de má qualidade a oferta televisiva sai ganhando com mais freqüência do que nos agradaria confessar.

Pennac afirma que o dever de "educar" consiste em ensinar meninos e meninas a lerem, em iniciá-los na literatura, em dar-lhes os meios para julgarem se sentem ou não a "necessidade dos livros". E diz também que, embora se possa admitir sem problema que alguém recuse a leitura, torna-se intolerável que qualquer um seja –ou se sinta– recusado por ela. E na Nicarágua, rejeitamos a leitura? Por quê? Estamos perante um fenômeno de apatia generalizado, nacional? Por que estamos como estamos? Porque somos como somos? Como leitor meticuloso quis acercar-me a algumas das causas da não-leitura, quis saber se a juventude na Nicarágua exerce ou não e como os exerce os famosos dez direitos que têm como leitores, segundo Pennac: o direito a não ler, o direito a folhear os livros, o direito a não terminar um livro, o direito a reler, o direito a ler qualquer coisa, o direito a emocionar-se ao ler, o direito a ler em qualquer parte, o direito a somente folhear, o direito a ler em voz alta e o direito a guardar silêncio sobre o que leram.

A UCA: UMA GRANDE MASSA DE ESTUDANTES INCOMUNICADOS COM A LEITURA

Meu primeiro "caso" a ser estudado foi realizado na Universidade onde estudei. Vejamos o que acontece por trás dos muros da bela Biblioteca José Coronel Urtecho (JCU) e em suas antigas prateleiras. Segundo um estudo recente da Universidade Centroamericana (UCA), a média de empréstimos anuais de livros é de 26 por aluno. A cifra é algo escandalosa, considerando que a UCA tem pelo menos 6 mil estudantes em suas salas de aula. Na área de sala, onde não permitem retirar os livros emprestados, a média é de 20 empréstimos anuais por aluno. Isto significa que os universitários da UCA só fazem empréstimo de dois livros em cada quadrimestre, apesar de que em cada quadrimestre têm pelo menos quatro aulas.

Procuro à Coordenadora da Direção de Pesquisa da UCA, Wendy Bellanger. Também está muito surpresa. Explica-me que a Universidade está promovendo "cursos de leitura compreensiva" tentando remediar o escasso hábito de leitura entre os jovens. Também realizam oficinas de redação com estudantes de certas carreiras e nos mestrados e doutorados incluem uma oficina de leitura compreensiva que é dada também aos professores. Wendy faz aulas na Universidade: Introdução à Antropologia. Seus alunos, sociólogos e trabalhadores sociais, são incapazes de fazer referências corretas sobre a bibliografia que empregam. "Em vez de citar o autor, dizem-me: segundo o folheto tal e tal…".

QUANDO "A VERDADE" ESTÁ NA INTERNET

Outro problema é que até chegar ao livro que deseja ler, o estudante deverá passar por toda uma parafernália burocrática de trâmites institucionais. "Um estudante da UCA sempre tem que fazer fila para encontrar seu livro –diz Wendy– e por sua vez, a instituição tem medo de emprestar abertamente os livros, porque existe a idéia de que os estudantes não cuidam deles, estragam-nos". Uma biblioteca que tem medo de que roubem ou estraguem seus livros limita a experiência de pesquisar e interagir amistosamente com os livros. Em outras ocasiões, quando o livro é muito antigo e não há edições novas que evitem a queda das folhas só com o contato das mãos do leitor, o livro resulta tão pouco atraente que o jovem estudante o rejeita.

A experiência docente de Wendy contribui com outro interessante dado ao perfil da crise: "Cria-se a falsa idéia de que "a verdade" está na Internet. Com freqüência meus alunos fazem referências a Wikipedia, a nova autoridade dos estudantes". A inovadora oferta das bibliotecas virtuais está enchendo as salas com uma raça de preguiçosos buscadores. "Não lhes ensinam a serem seletivos com a Internet", queixa-se Wendy. O fato de que os professores se colocam atualmente em ambos pólos piora a situação: aqueles que apostam na riqueza da literatura on-line, pensando que o melhor canal de informação é a Rede; e os que são críticos das novas tecnologias, temem o desaparecimento do formato físico e o plágio da informação acadêmica. Com os professores polarizados, os jovens andam um pouco perdidos, navegando nesse grande oceano de sinais e significados que é a Internet. E o lado escuro que tem toda tecnologia fomenta as rotinas ociosas dos estudantes.

Com estas realidades –uma onipresente cultura da transmissão oral nos professores, uma ausência de crítica perante os meios em massa dos estudantes e a ambigüidade das informações recebidas pela Internet sem o radar da seletividade – o que se colhe são deficiências na formação. O mundo universitário não fomenta a cultura que dá importância à transmissão escrita como veículo de informação e conhecimento. "O oral resulta mais fácil de digerir e de reter. E eu creio que isto não pode ser resolvido somente com cursos de leitura compreensiva. Para superar a apatia em relação aos livros deve-se começar a trabalhar nas escolas", conclui Wendy.

QUANDO PREFEREM A TELEVISÃO E O COMPUTADOR

Reybil Quaresma, 52 anos, motorista do Bibliobus desde o começo, conta-nos que é nos primeiros meses escolares, entre janeiro e abril, quando uma média de 200 meninos e meninas visitam diariamente o Bibliobus à procura de materiais para documentar-se e cumprir com suas tarefas escolares. Vêm das escolas que rodeiam a BAN na região de Las Brisas. Reybil parece preocupado: os moços só chegam para pesquisar temas acadêmicos, procuram textos escolares de Espanhol, Matemática, Física, Biologia e Ciências Naturais, mas não aparecem muitos leitores que procurem prazer e reflexão na leitura, apesar de que a biblioteca conte com um bom fundo bibliográfico (13 mil títulos). "Só procuram leitura-trabalho" . E Elizabeth acrescenta: "Hoje os jovens preferem a televisão e o computador".

O Bibliobus empresta uns 140 livros mensais em cada sistema penitenciário. Segundo Reybil, nos cárceres de Granada, Matagalpa, Chinandega e La Esperanza -único cárcere de mulheres no país- emprestam muitos livros de filosofia, poesia e auto-ajuda. "Cuidam dos livros, temos quatro ou cinco livros danificados durante o ano", afirma satisfeito o velho motorista desta biblioteca ambulante. O lugar onde se emprestam menos livros é no cárcere de mulheres: uns 47 livros em cada visita. "É que nem todas as detentas sabem ler, às vezes sobem ao Bibliobus só para folhear livros com ilustrações".

OS LIVROS DESAPARECERAM ALGUMA VEZ ?

Não se pode subestimar o valor de alguns jovens interessados em ler literatura como necessidade pessoal, que chegam ávidos à livraria, deixam um depósito de 20%, levam o livro que desejam e depois terminam de pagá-lo. Na maioria dos casos, estes jovens não são só leitores, são escritores novatos.

Na América Central os livros são caros em relação ao poder aquisitivo das pessoas. "Um livro que custa 13 dólares (250 córdobas) é um livro caro na Nicarágua, mas nos Estados Unidos ou na Europa não é. Na Europa um livro pode valer até 50 euros e ser acessível para quase qualquer cidadão. Nos Estados Unidos vi livros de autores nicaragüenses a 20, 25 ou 30 dólares que lá não são caros, mas aqui são", aponta Salvadora. Segundo sua experiência, há dois tipos de leitores jovens: aqueles que procuram a qualidade editorial e têm como pagá-la e os que compram na calçada da universidade ou num quiosque bem montado O amor nos tempos do cólera a 50 pesos numa versão empastada manualmente com um xerox pirateado. Consitui a maioria.

Salvadora Navas tem uma visão menos pessimista diante do eventual desaparecimento do livro em formato físico arrasado pelo boom das bibliotecas virtuais. "Eu acredito –diz– que o livro nunca desaparecerá. Desfrutar um livro é também tocá-lo. A Internet pode ser uma ferramenta para ampliar seus conhecimentos, mas é melhor ter um contato mais direto com o livro. A Internet só serve para você se atualizar e nem todos os jovens têm acesso a Internet. Para ler em profundidade um livro é preciso tempo suficiente e esse tempo você não o tem num cyber café. Creio que o livro nunca vai desaparecer. Para nós, que somos ávidos leitores, o maior prazer é que cada livro tenha marcado uma etapa de nossa vida".

O "DISCO RÍGIDO" CEREBRAL: LER COMPREENDENDO O QUE SE LÊ

Imaginando-me o sistema educativo nacional como uma grande escola cheia de professores que deveriam ser alunos, porque arrastam enormes deficiências para desenvolver sua tarefa, quero saber mais do que significa a " compreensão leitora". Como é o processo mental que, nos primeiros anos da educação primária, dá-nos a capacidade para compreender um parágrafo de linguagem escrita, condicionando assim nossa capacidade futura para compreender um livro inteiro?

Existem estudos que medem a capacidade das crianças para ler e escrever. Vanessa Castro me explica: "Este estudo, para medir a capacidade em lecto-escritura, começou a ser aplicado na África e depois no Peru, já em espanhol. Com a ajuda do RTI (Research Triangle Institute) e com fundos de USAID quisemos ver se poderia ser aplicado na Nicarágua. Conseguimos. Ele foi feito na língua mískita e em espanhol, em outubro e novembro de 2007. Visitamos 47 escolas -um dia em cada escola- fazendo uma prova curta e oral em cada uma para ter a certeza de que o aluno a compreendesse. Como projeto piloto, aplicamos esta prova em 2.200 crianças. Depois refizemos a prova com os erros já corrigidos -sempre com o apoio da USAID e RTI-, desta vez em 125 escolas".

" Sobre a prova de espanhol que fizemos em abril e maio de 2008, com 6.700 crianças, comprovamos que quanto mais pobres forem os meninos mais difícil será o domínio da lecto-escritura. Medimos a prova por letras, palavras lidas em um minuto e no final por um ditado. Depois o domínio foi medido através da compreensão leitora, fazendo perguntas sobre o que leram. Segundo o padrão mundial ideal e já fixado –sobretudo com os dados de Cuba e do Chile, que vão à cabeça–, no final do segundo grau o menino deveria estar lendo de 46 a 60 palavras por minuto, porque o processo de aprendizagem que o cérebro segue é este: em 12 segundos o cérebro humano deve processar em sua memória curta uns 7 itens, que são: primeiro as letras, depois as palavras e a seguir as orações".

OS JOVENS NICARAGÜENSES QUE LÊEM E QUE ESCREVEM

Com o que aprendi sobre o processo que se desenvolve no cérebro na compreensão leitora, noto um futuro comprometido. Não estamos à altura das exigências de um mundo competitivo, de países com musculaturas econômicas e culturais baseadas no exercício educativo que oferecem a seus estudantes, muito superior ao nosso. De todas formas, resulta-me paradoxal que um país com tantos escritores e poetas leia tão pouco.

Vou, finalmente, à procura de uma escritora de longa trajetória. Quero conhecer suas reflexões, perguntar-lhe o que fazer para que a juventude se aproxime mais da leitura, indagar por que se tornou quase moda ser escritor sendo um jovem leitor.

Vidaluz Meneses é escritora, bibliotecóloga, membro da ANIDE (Associação Nicaragüense de Escritoras) e vice-presidenta do CEN (Centro Nicaragüense de Escritores). Ela acredita que a juventude lê, mas lê na Internet. No entanto, admite que "um livro inteiro é algo excessivo para ler na Internet". "Por um lado -diz- a juventude se aproxima da Internet porque é uma das exigências do mundo moderno, e por outro lado as universidades mandam seus estudantes pesquisarem na Internet".

Será que o livro sobreviverá ?, pergunto à leitora e escritora. "O livro sempre vai existir -me diz, segura-. Não podemos negar as vantagens da Internet, mas deve-se procurar um balanço. O risco que corremos é que nem sempre há informação qualitativamente verificável na Internet. A Rede é uma excelente fonte de consulta e cada vez mais pessoas se somam à massa de internautas. A Internet tem uma graça que os livros físicos não têm : dá a você a possibilidade de interagir. Existem fóruns onde você coloca sua opinião, blogs com pontos de vista diferentes e informação multimídia de intercâmbio. Para o jovem isso é interessante, essa possibilidade torna o meio mais atraente e de alguma maneira o induz ao hábito da leitura. O que preocupa da Internet é que ela causa problemas na ortografia e empobrece a linguagem. O Chat/Bate-papo se transforma em um canal de mensagens onde a linguagem se deforma. O mesmo ocorre com o celular. Os blogs cumprem uma função interessante na afirmação da identidade juvenil. O jovem encontra ali uma maneira de se projetar para os demais, ajudando-o a se autoafirmar".

NEM TUDO ESTÁ PERDIDO

Alguma conclusão? Penso que nem tudo está perdido. Ainda que os jovens mergulhem lenta, mas profundamente nas águas virtuais da Internet, os grupos reduzidos que lêem estão exercendo seus dez direitos como leitores. Não interessa se escolhem literatura contemporânea ou se preferem os clássicos, retirando-os de suas tumbas. Não importa se acreditam que escrevendo bem jovem, influenciados pelas velhas vanguardas, e enchendo as bases de tantos concursos literários, talvez se tornem intelectuais precoces e escritores novatos. O que importa é que, segundo Daniel Pennac, o verbo ler não suporta o imperativo, uma aversão que compartilha com outros verbos: o verbo amar e o verbo sonhar. Ame-me! Sonhe! Não funciona. Leia! Leia! Você vai ter que ler, rapaz! Suba para o seu quarto e leia! Resultado? Nenhum.


Crianças e jovens lerão cada vez mais à medida que nosso sistema educativo dê espaço à literatura de todas as épocas, incluindo a moderna, e melhore as políticas dirigidas às escolas públicas. Na medida em que se levem mais a sério os indicadores dos estudos sobre lecto-escritura haverá mais participação de leitores nas bibliotecas. Se isto acontecer, os jovens encontrarão no mundo dos livros matéria-prima, para imaginar um mundo melhor do que o conhecido atualmente, entenderemos melhor o que nos espera no século 21, nosso século.

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Fonte: Amaivos
Fonte: (Fonte: Agência Brasil)