terça-feira, 31 de julho de 2012

Os 10 passos para amar livros

Dad Squarisi


Matéria publicada em 24/08/2010

O louco por livros não nasce por geração espontânea. Cultiva-se. Pais, avós, tios, amigos, professores contribuem para a formação e desenvolvimento da habilidade de ler. Como? O Instituto EcoFuturo dá 10 dicas. Ei-las:



1 – Leia em voz alta com as crianças . Explore com elas os livros e outros materiais de leitura – revistas, jornais, folhetos, almanaques, manuais de instruções, cartazes, placas… Todo material impresso pode ocasionar momento de troca centrado na leitura.

2 – Ofereça a elas ambiente rico em termos de letramento : faça atividades com leitura, mesmo com bebês e crianças bem pequenas. Continue fazendo com as crianças e jovens que estão na escola.

3 – Converse com elas e escute-as quando falam . O diálogo ajuda muito no desenvolvimento da linguagem oral.

4 – Peça-lhes que recontem histórias ou informações que você leu em voz alta . Cuidado para que a atividade não acabe virando aula. Não é esse o espírito da proposta. O encontro precisa ser agradável e descontraído.

5 – Incentive-as a desenhar e fazer de conta que escrevem histórias que ouviram . Peça, depois, que "leiam" em voz alta. Parece absurdo? Pois não é. Afinal, elas passam o tempo fazendo de conta que cozinham, que dirigem carros, que lutam com inimigos perigosos, que são médicos e professores. Não se esqueça: a ideia é brincar de ler.

6 – Dê o exemplo : faça que elas vejam você lendo e escrevendo. E, por favor, não faça a bobagem de dizer que elas devem aprender a ser diferentes de você, que não gosta de ler. O que conta não é o que você discursa sobre leitura, escrita, estudo. É o que você oferece como exemplo.

7 – Vá à biblioteca regularmente com as crianças . Se for uma biblioteca de empréstimo, é bom cada uma ter a própria ficha de inscrição.

8 – Crie uma biblioteca em casa e uma biblioteca pessoal para a criança, onde ela se acostume a guardar os livros e a buscá-los . Na hora de comprar presentes para seu filho, lembre-se dos livros. De quebra, ele ganha competência para lidar com o mundo e abertura da imaginação.

9 – Faça mistério para aguçar a curiosidade . Por exemplo: você tem três livros na mão e diz à criança que ela pode escolher entre dois. Ela certamente vai dizer que são três, não dois. Você faz de conta que se enganou e põe um deles de lado. Adivinha qual deles ela vai querer… Use a imaginação. É jogo. O resultado é que a criança ganha sempre – e para toda a vida.

10 – Leve as crianças sempre que houver hora do conto, teatro infantil e atividades similares na comunidade

Fonte: Blog da Dad

Leitura desde cedo: incentive seu filho a ter amor pelos livros

Matéria publicada em 02/02/2012

Maria Tereza Stancioli

A linguagem do afeto: assim é a hora da leitura ou de ouvir histórias.

É sentir, viver e compartilhar a arte da palavra.

Por isso a Trupe Maria Farinha dá uma força para todos aqueles que desejam cultivar este ofício.
 
 
"Foi assim: eu brincava de construtora, livro era tijolo; em pé, fazia parede, deitado, fazia degrau de escada; inclinado, encostava em um outro e fazia telhado. E quando a casinha ficava pronta eu me espremia lá dentro pra brincar de morar em livro." O relato é de Lygia Bojunga .

Quando criança, ela fazia do livro um brinquedo . Já adulta, transformou-se em uma das principais escritoras brasileiras de livros infantis.

A história de Lygia ilustra e comprova a teoria de que o contato com os livros desde cedo é importante para incentivar o gosto pela literatura.

Os benefícios da leitura são amplamente conhecido: quem lê adquire cultura, passa a escrever melhor, tem mais senso crítico, amplia o vocabulário e tem melhor desempenho escolar, dentre muitas outras vantagens.

Por isso, é importante ler e ter contato com obras literárias desde os primeiros meses de vida.

Mas como fazer com que crianças em fase de alfabetização se interessem pelos livros?

É verdade que, em meio a brinquedos cada vez mais lúdicos e cheios de recursos tecnológicos, essa não é uma tarefa fácil. Mas pequenas ações podem fazer a diferença. O comportamento da família influencia diretamente os hábitos da criança.


 Se os pais leem muito, a tendência natural é que a criança também adquira o gosto pelos livros.


Para seduzir pela leitura, há diversas atividades que os pais e outros familiares podem colocar em prática com a criança e, assim, fazer do ato de ler um momento divertido.


 No período da alfabetização - antes dela e um pouco depois também -, especialistas sugerem que se misture a leitura com brincadeira, fazendo, por exemplo, representações da história lida, incentivando a criança a criar os próprios livros e pedindo a ela que ilustre uma história.
Para encantar as crianças pequenas, é essencial brincar com o livro.
 


Dicas para incentivar o seu filho a ler, e a ser um pequeno grande leitor:

 
1. Respeite o ritmo do seu filho
Não se preocupe se o livro escolhido pelo seu filho parecer infantil demais. Cada criança tem um ritmo diferente. O importante é que o livro esteja sempre presente. A criança costuma dar sinais quando se sente preparada para passar para um próximo nível de leitura. "É preciso estudar o outro, entender o que ele gosta e respeitar as preferências."

 
2. Siga o gosto do seu filho  
Talvez o que o seu filho gosta de ler não seja exatamente o que você gostaria que ele lesse. Mas, para adquirir o hábito a leitura, é preciso sentir prazer.
 
3. Faça passeios que tragam a leitura para o cotidiano
"Os pais precisam dar possibilidades para que as crianças se sintam envolvidas pela leitura". Por isso, no seu tempo livre, procure fazer atividades com o seu filho que você possa relacionar com um livro. Uma ida ao zoológico, por exemplo, torna-se muito mais interessante depois que a criança leu um livro sobre o reino animal. E vice-versa: uma leitura sobre animais é mais bacana depois que a criança teve a oportunidade de ver de perto os bichinhos. E, assim como essa, há muitas outras maneiras de juntar passeios de fim de semana com a leitura: livro de experiências + visita a museu de ciências, livro de história + passeio em local histórico, visita a museu de arte + livro infantil sobre arte... As possibilidades são inúmeras!

 
4. Incentive a leitura antes de dormir
Incentive o seu filho a ler todas as noites. E, se ele ainda não for alfabetizado, conte histórias para ele antes de dormir. Por isso, é importante que ele tenha uma fonte de iluminação direta ao lado da cama, como um abajur. Uma ideia bacana é dar um presente para a criança nos fins de semana: permita que ela fique acordada até um pouco mais tarde para ler na antes de dormir.

 
5. Improvise representações dos livros
"Concluída a leitura de um livro, os pais podem organizar peças de teatro baseadas na obra". Uma boa ideia é convidar outras crianças para participar da atividade. Os adultos podem ajudá-las a elaborar uma espécie de roteiro e pensar nas vestimentas e nos cenários a serem criados. Depois dos ensaios, a peça pode ser apresentada para um grupo de pais ou para toda a família.
  6. "Publique" o livro do seu filho
Proponha para o seu filho que ele faça o próprio livro. "As crianças gostam de criar histórias, viver personagens, imaginar paisagens". Primeiro, peça que ele tire fotos (e imprima-as) ou recorte figuras de revistas antigas. Depois, a partir das imagens, peça que ele escreva uma história. Ajude-o a criar uma capa para o livro e, por fim, coloque-o na estante, junto com outros livros. Que criança não adoraria ter um livro de sua autoria na biblioteca de casa?

 
7. Organize um clube do livro
Convide amigos e colegas de escola do seu filho para uma espécie de festa da leitura. No início, cada criança lê o trecho de um livro que pode até ser escolhido por eles (mas com orientação dos adultos). Depois de lida a obra, organize um debate sobre a história. Tudo isso pode ser feito durante uma tarde de sábado ou domingo, com direito a guloseimas que as crianças adoram, como cachorro-quente e chocolate quente (no fim de semana, pode!). Na infância, a leitura tem de estar ligada a uma atividade divertida.

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8. Ajude-o a ler melhor
Muitas crianças ficam frustradas por ler muito devagar em voz alta. Se é o caso do seu filho, você pode ajudá-lo fazendo exercícios, como cronometrar o tempo que ele leva para ler um texto ou o trecho de um livro em voz alta. A atividade pode ser repetida várias vezes em dias diferentes e, assim, a criança vai poder comprovar o próprio desenvolvimento. Para aprimorar a atividade, peça que ele faça vozes diferentes para cara personagem da história. "A sonoridade fascina as crianças".

 
9. Não pare de ler para ele
Após a alfabetização, é importante incentivar que a criança leia sozinha, mas isso não significa que você deva parar de ler para ela. Quando um adulto lê em voz alta um livro um pouco mais difícil, a criança é capaz de compreendê-lo, o que provavelmente não aconteceria se ela estivesse lendo sozinha. Abuse das vozes diferentes, dos sons, das entonações. Assim, a história fica muito mais emocionante. Parlendas e músicas, por exemplo, são ideais para serem lidas em voz alta. "Histórias lidas em voz alta e com emoção deixam as crianças mais leves, mais soltas".
 

10. Frequente livrarias e bibliotecas  
"Para adquirir o gosto pela leitura, a criança precisa se familiarizar com o ambiente de leitura". E, enquanto o acervo literário de casa é limitado, nas livrarias e nas bibliotecas a criança pode ter contato com uma infinidade de obras diferentes. Transforme as idas a livrarias, bibliotecas e feiras do livro em um programa de fim de semana. Hoje, nas grandes cidades, muitas livrarias e bibliotecas públicas oferecem atividades específicas para as crianças. E esse programa ainda é de graça. Algumas livrarias, inclusive, têm espaços para leitura (sem que os livros precisem ser comprados!).

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Outras dicas da Trupe são os sites de dois grandes escritores de livros infantis:


Ilan Brenman ,  pai do livro - Até as princesas soltam pum- www.ilan.com.br


 
João Marcos , cartunista do Maurício de Sousa, pai do livro - Histórias tão pequenas de nós dois - Mundo Mendelévio  - www.mendelevio.com.br/

Fonte: Dzai

A leitura da leitura

Fonte: Correio Braziliense (DF) - 29/07/2012

Lucília Garcez. Doutora em linguística, escritora, ex-professora da UnB, autora de técnica de redação, entre outros livros.

Se você está lendo este texto significa que está entre os 26% da população que atingiu o alfabetismo pleno. Você conquistou e dominou uma das tecnologias mais sofisticadas e refinadas que o processo civilizatório desenvolveu. Compreende que a leitura é emancipadora, libertadora, iluminadora e nos permite observar a vida através de muitos outros olhares, o que nos amplia a visão de mundo.

Mas, segundo a recente pesquisa da Ação Educativa e do Instituto Paulo Montenegro, com o Ibope, 32,5 milhões de brasileiros acima de 15 anos são analfabetos funcionais, ou seja, apenas decodificam as palavras, mas são incapazes de compreender o que leem e de usar a leitura e a escrita como instrumentos de ação efetiva nas práticas sociais. E, mais grave, o ensino universitário não assegura solução, pois 38% dos portadores de diploma de curso superior não alcançam o nível de alfabetização plena.

Esses dados não são surpreendentes em um país de não leitores. A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil 2011, do Instituto Pró-livro, mostrou que 50% dos brasileiros não têm o costume de ler, 75% da população nunca entrou numa biblioteca, e a média de livros por habitante/ano é 4, inclusive os didáticos; sem os didáticos, a leitura cai para 1 livro por habitante/ano.

Em países de Primeiro Mundo, os índices indicam mais de 10 livros por habitante/ano. Se considerarmos que a leitura é fator essencial para o desenvolvimento humano, social e econômico de um país, pois o avanço tecnológico depende de qualificação e a qualificação está ligada à habilidade de leitura, encontramos um dos motivos do nosso atraso.

É urgente reverter o quadro da leitura no Brasil. Mas dominar essa competência envolve um percurso, muitas vezes descontínuo e cheio de obstáculos, e qualquer iniciativa em direção ao estímulo à leitura deve envolver diversos agentes e diferentes segmentos sociais: famílias, escolas, professores, bibliotecários, autores, meios de comunicação, governo.

O desenvolvimento da leitura depende de convívio contínuo com histórias, livros e leitores, desde a primeira infância; valorização da leitura pelo grupo social; disponibilidade de acervo de qualidade e adequado aos horizontes de desejo e aos diferentes estágios de leitura dos leitores; tempo para ler, sem interrupções; ambiente de segurança psicológica e de tolerância dos educadores em relação ao percurso individual de superação de dificuldades; e oportunidades para expressar e compartilhar interpretações e emoções vividas nas experiências de leitura.

O ato de ler, seja texto informativo ou de Guimarães Rosa, é, simultaneamente, atividade individual única e experiência interpessoal profunda e intensa, um exercício dialógico ímpar, pois, entre leitor e texto, se desencadeia um processo de decifração, interpretação, reflexão e reavaliação de conceitos absolutamente renovado a cada leitura.

A leitura exige procedimentos mentais complexos construídos pela mediação do outro: o pensamento abstrato, a memorização, a atenção voluntária, o comportamento intencional, as ações conscientemente controladas, a generalização, as associações, o planejamento, as comparações, ou seja, as funções superiores da mente que nos fazem humanos, como afirma Vygotsky.

Nem sempre é procedimento fácil. Ela faz inúmeras solicitações simultâneas ao cérebro. Desde a decodificação de signos, interpretação de itens lexicais e gramaticais, agrupamento de palavras em blocos conceituais, identificação de palavras-chave, seleção e hierarquização de ideias, associação com informações anteriores, antecipação de informações, elaboração e reconsideração de hipóteses, construção de inferências, compreensão de pressupostos, controle de velocidade, focalização da atenção, avaliação do processo realizado, até a reorientação dos próprios procedimentos mentais para a compreensão efetiva e responsiva, realiza-se um complexo processo cognitivo. E ler se aprende lendo.

Além disso, a leitura não se esgota no momento em que se lê, mas se expande por todo o processo de compreensão que antecede o texto, explora-lhe as possibilidades e prolonga-lhe o funcionamento para depois da leitura propriamente dita, enriquecendo a vida e o convívio com o outro. Como se vê, trata-se de atividade exigente, que vai na contramão dos apelos da nossa sociedade veloz. Em boa hora o Minc e a Biblioteca Nacional lançam a campanha Leia Mais, Seja Mais, no âmbito da ações do Plano Nacional do Livro e Leitura, que tem como um dos eixos a valorização social da leitura.



Fonte: Todos Pela Educação

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Divulgação Projeto: “Arteteca – Lendo Imagens"

Prorrogação do prazo de inscrição

Gostaríamos de convidá-los a nos ajudar a divulgar a novidade do projeto Arteteca: o prazo de inscrição foi prorrogado para 30 de agosto de 2012. Encaminho novamente, em anexo informações do projeto e a ficha de inscrição. Lembrando que os critérios de participação: 
- professores da rede pública que lecionem no 5º, 6º e 7º ano do Ensino Fundamental em cidades com menos de cem mil habitantes

Contamos com a ajuda de todos.
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Prezados,

É com prazer que convidamos professores e professoras que lecionem para turmas de 5º, 6º ou 7º anos do Ensino Fundamental, de escolas públicas brasileiras de cidades com menos de 100 mil habitantes, para participarem do projeto "Arteteca: Lendo Imagens".
Arteteca: Lendo Imagens é uma iniciativa do Programa Endesa Brasil de Educação e Cultura.
O programa foi criado em 2011 com o objetivo de contribuir na qualificação do processo de alfabetização e letramento das crianças em escolas públicas brasileiras. Desde então, milhares de escolas vêm participando de suas iniciativas, como os “Contadores de Histórias Encantadas” e o “Teatro de Brinquedo”.  Agora, o Programa Endesa Brasil de Educação e Cultura apresenta “Arteteca: Lendo Imagens”.
A participação no projeto é totalmente gratuita. Caso sua escola decida participar, a inscrição deverá ser feita em nome do professor ou professora que utilizará os materiais em sala de aula.  Somente 1 professor poderá ser inscrito e receberá um conjunto de materiais didáticos composto por:

·         1 exemplar do livro A História da Arte, E. H. Gombrich.

·         1 Guia do Professor com propostas de atividades para serem realizadas em sala de aula;
·         2 conjuntos compostos por 40 mini reproduções de obras de arte;

·         20 fichas ilustradas com obras de arte brasileiras;

·         CD com imagens das obras de arte digitalizadas;

·         Cartazes.

Para participar, o professor deverá preencher todos os dados solicitados na “Ficha de Inscrição”, que acompanha este documento.

Poderá enviar a “Ficha de Inscrição”:
Por correio:
Central de Relacionamento “Programa Endesa Brasil de Educação e Cultura” – Arteteca: Lendo Imagens.  Avenida Angélica, 2632, 10º andar, Consolação, São Paulo – SP. CEP 01228-200
Por email:
contato@arteteca.com.br  (as inscrições por email só serão aceitas se tiverem  todos os dados solicitados na “Ficha de Inscrição”).
Por telefone:
Ligue para 0800-770-2969 e tenha em mãos todos os dados solicitados na “Ficha de Inscrição”.
As inscrições serão aceitas até o dia 30 de agosto de 2012.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Geladeira quebrada vira biblioteca pública em praça de Araraquara, SP

Felipe Turioni 
Do G1 Araraquara e Região

"Geladeiroteca" customizada tem livros de diversos autores e assuntos. População pode realizar trocas e levar obras para casa.

Geladeiroteca em Araraquara (Foto: Felipe Turioni/G1) 
Geladeira customizada possui acervo com livros e revistas (Foto: Felipe Turioni/G1)
 
Uma geladeira quebrada passou a ter um destino diferente em uma praça na região central de Araraquara (SP). Nas prateleiras do antigo refrigerador, ao invés de condimentos e comida, estão livros. A ‘Geladeiroteca’ ganhou uma customização de um artista plástico local e chama atenção de quem passa pela Praça das Bandeiras, na Rua Voluntários da Pátria (Rua 5).

“A ideia pode parecer estranha, mas foi uma alternativa encontrada para conseguir deixar os livros ao ar livre, sem se preocupar com a chuva, por exemplo”, explica a atriz Fabiana Virgílio, idealizadora do projeto. “Poderia ser uma caixa de acrílico, mas não teria a mesma graça, além disso, a gente sempre abre uma geladeira quando está com fome e por que não abrir uma para alimentar a alma?”, acrescenta.

Dentro do refrigerador há obras de diversos autores e diferentes temas, desde literatura infantil até livros específicos de administração, economia e política. O ‘abastecimento’ inicial da geladeira foi feita pelos idealizadores, mas a proposta é que as pessoas também façam doações no local e troquem as obras. “Não queremos manter nenhuma amarra e a ideia é que os livros fiquem livres, as pessoas possam pegar, ler ali na praça, levar pra casa, trocar por algum outro livro”.

Customizada pelo desenhista Hugo Elias, a ‘Geladeiroteca’ pretende transmitir a ideia de coletividade do projeto. “Os desenhos lembram isso, essa troca, e é o que queremos manter”, diz a atriz. Algumas livrarias, sebos e centros espíritas doaram algumas obras para o acervo.

Geladeiroteca em Araraquara (Foto: Felipe Turioni/G1) 
Livros podem ser lidos no local ou levados para casa (Foto: Felipe Turioni/G1)
 
Para o porteiro Anderson Deodato, de 26 anos, a ideia é criativa. “Chamou a minha atenção e eu abri a geladeira, sem saber se poderia pegar algum livro. Depois perguntei ao pessoal que estava no bar e disseram que podia pegar e levei o ‘Pequeno Príncipe’ para casa”, comenta. “Hoje vim de novo para ver se a geladeira estava lotada para eu trazer alguns que minha mãe não tem interesse em guardar mais”, completa.

Amigos da praça

A idealizadora da ‘Geladeiroteca’ é integrante da Associação dos Amigos da Praça das Bandeiras, formada em 2010 para revitalizar o espaço, que vinha sendo utilizado para consumo e tráfico de drogas. “A praça era considerada a ‘cracolândia’ da cidade, e não havia melhor maneira de mudar a situação investindo na transformação do ser humano com cultura”, observa.

A associação será formalizada em breve. Na terça-feira (19), às 22h, haverá uma assembleia de fundação dos Amigos da Praça das Bandeiras para acertar os detalhes da oficialização. “Precisamos nos formalizar para obter mais apoio”, explica Virgílio. A proposta da associação é fazer eventos culturais no local. Atualmente, a praça recebe shows e games nos finais de semana.

Fonte: G1

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Para aumentar número de leitores é preciso criar elo entre internet e literatura, diz professora

Publicado em 10/07/2012 Da Agência Brasil

Para a docente, os jovens também se dedicam à leitura e à escrita no ambiente virtual
 
A ampliação do hábito da leitura entre estudantes brasileiros requer a existência de mediadores preparados que entendam as novas ferramentas tecnológicas para levá-los a fazer a ligação com o mundo em que vivem por meio da literatura. Isso é o que defende a diretora adjunta da Cátedra Unesco de Leitura da PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), Eliana Yunes.

— Nós temos poucos mediadores aptos a entrar nesse diálogo, nesses suportes, nessas novas linguagens e que tragam uma herança cultural vastíssima.

Na avaliação de Eliana, os estudantes, mesmo no uso da internet, podem dedicar mais tempo à escrita e à leitura do que teriam as pessoas há cerca de 20 anos. 
— Eles são obrigados a ler, a escrever, a se comunicar.

Eliane admitiu, contudo, que sem uma mediação adequada, “existe uma simplificação do uso da língua”. A leitura dos estudantes que estão conectados às redes sociais acaba circunscrita a um universo muito estreito ao qual eles têm acesso com facilidade.

— Está na onda, está na moda. Tem a coisa da tribo, do grupo.

A professora disse que essa leitura, porém, não possui a densidade necessária para levar os alunos à formação de um pensamento crítico. Para ela, falta a esses estudantes um trabalho de ligação com a leitura criativa ( presente na literatura, por exemplo), algo que pode ser feito pelas escolas e até pelas famílias.

— Falta uma mediação que permita que esses meninos tenham acesso, mesmo via internet, a sites muito bons de poesia, de blogs, pequenas histórias, de museus, que discutem música, história.

Para ela, essa páginas na internet permitem que os alunos saiam desse “chão raso” e possam ser levados para uma experiência criativa da linguagem. 
 
— Quem não lê tem muita dificuldade de escrever, de ampliar o seu universo de escrita, de virar efetivamente um escritor. Como eles têm pouca familiaridade com a língua viva, seria necessário que os adultos se preparassem melhor, buscando conhecer essa nova tecnologia para que a mediação, tanto pela escola como pela família, pudesse ser exercida de forma a partilhar com os alunos leituras de boa qualidade.

A professora defende também que a mediação restaura o fio que liga o passado ao futuro no presente desses estudantes. Ela reiterou que a falta de conhecimento de professores e pais desses suportes modernos de comunicação e a falta de habilidade de envolver alunos em uma discussão de um universo mais rico impedem meninos e meninas de desfrutarem uma herança cultural, “da qual eles são legítimos herdeiros”.

— Acho que a questão da escola passa pelo problema da mediação. Se nós não formos leitores de várias linguagens, de vários suportes, nós perderemos realmente o passo com essa geração, que está velozmente à nossa frente, buscando outras linguagens, outras formas de comunicação. É preciso que os estudantes percebam que a literatura não é um peso ou uma obrigação. Literatura é vida.

Para Eliana, a literatura faz falta porque desloca o olhar das pessoas de uma coisa “líquida e certa”, para um lugar de reflexão, de discussão sobre o mundo e a vida humana. Isso pode ser encontrado não só no livro impresso, em papel, como também no livro digital.

— Esse jogo contemporâneo é muito rico. Quanto mais suportes a gente tiver para a palavra escrita e para abrigar a reflexão sobre a condição do ser humano, melhor a gente vai poder abraçar as várias modalidades, que estão vivas, da palavra. 
Pesquisa

De acordo com pesquisa do Instituto Mapear para a Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro com 4 mil estudantes e 1,2 mil responsáveis, 93% dos alunos do ensino médio da rede pública do estado tinham celulares em dezembro de 2011 e 78% possuíam computador, sendo que 92% tinham acesso frequente à internet.

Em contrapartida, 14% dos alunos declararam não ter lido nenhum livro nos últimos cinco anos. Entre os que não leram nada, 17% residiam no interior e 12% na região metropolitana. Um livro foi lido no período por 11% dos estudantes; dois ou três livros por 26% e quatro ou cinco livros por 17%.

Entre os alunos que leram mais que um livro em média nos últimos cinco anos, a pesquisa registrou que 14% leram entre seis e dez livros, 8% entre 11 e 20 e 10% leram mais que 20 livros em cinco anos.
 
Fonte: R7

quarta-feira, 11 de julho de 2012

É preciso construir pontes entre sala de aula e biblioteca'

09 de julho de 2012  

Educadora acredita que o professor deve sugerir leituras desafiadoras, mas não impor filtros aos best-sellers

OCIMARA BALMANT - O Estado de S.Paulo
 
"É preciso acabar com as dicotomias e estimular a leitura sem preconceito, tanto na infância como na adolescência. Esse desafio deve instigar o trabalho do professor", afirma a argentina Cecilia Bonjur. 

Formada em Letras e especialista em literatura infantil e juvenil, Cecilia é crítica de livros para crianças e adolescentes, com atuação na formação de professores e mediadores de leitura. Ela esteve no Brasil para participar do seminário Conversas ao Pé da Página, onde conversou com o Estado.

Como a senhora avalia o trabalho de fomento à leitura que os docentes fazem em sala de aula? Eles estão preparados para a tarefa? 

Acredito que toda formação dirigida a professores precisa partir do princípio de que eles são leitores e acreditar, de fato, que são capazes de fazer. Se pensarmos no que não sabem, no que não têm, apenas os desvalorizamos. E não se pode subestimá-los. Isso não significa tirar deles a responsabilidade sobre sua formação, mas ter confiança no que podem realizar e lhes dar ferramentas para isso.
Quais tipos de ferramentas?

É importante criar dispositivos de formação contínua que deem conta da carência de formação de base dos docentes, porque jornadas e cursos curtos são insuficientes. Pode ser custoso e demorado, mas vale a pena se pensarmos que a atitude do professor pode determinar se uma criança vai ou não gostar de ler.
Mesmo porque esse estímulo tem diminuído dentro das famílias, não é?

Isso é fato. Há muitas casas sem livros e sem leitores. Por isso, é tão importante que as bibliotecas escolares cresçam, que seus acervos sejam mais profundos, que se aproveitem todas as oportunidades de construir pontes entre o conteúdo das salas de aula e a biblioteca. E estamos em um momento bom para pensar nessas pontes.

Por quê?

Porque o problema da leitura sempre foi menos grave nos países com mais possibilidade de acesso a bens culturais. Mas hoje temos um momento migratório muito grande e, além disso, o primeiro mundo está vivendo uma crise econômica que parecia que só pertencia a países pobres. A desigualdade está repartida e isso é bom para pensar estratégias mundiais de aumento do acesso aos livros. 

Não parece difícil conquistar leitores de material impresso na era da internet?

Devemos fazer com que os leitores tenham acesso aos múltiplos suportes e deixar claro que no mundo das tecnologias não está todo o conhecimento estabelecido. Há algumas limitações que só deixam de existir quando a aprendizagem é vinculada aos livros. Quando os alunos começam a encontrar os tesouros e desafios dos livros, eles se deixam seduzir. 

Daí, a importância do mediador bem formado...

Sim, porque a criança se deixa seduzir quando os mediadores são sedutores, transmitem essa paixão. Por isso, a importância do bibliotecário, que é o profissional que conhece tanto os livros quanto os alunos. Porque o professor conhece os alunos de seu curso. O bibliotecário vai além. Ele abre o jogo da descoberta e acompanha o crescimento dos leitores dia após dia. Se houver um trabalho em parceria com o professor, é o cenário ideal para o nascimento de leitores potentes que podem influenciar a família toda.

Com a participação da escola?

Isso. Porque há pais realmente omissos em relação à leitura e incentivo aos filhos. Mas muitos deles não o fazem porque realmente não têm condições materiais ou por achar que não têm capacidade, que os bens culturais não são para eles. É aí que a escola entra na história, e as bibliotecas são lugares excelentes para essa manifestação contracultural que gere confiança e hospitalidade.
E como fica a seleção dessa literatura a ser apresentada? 

Eu não subestimaria nenhum tipo de leitura. Acredito que as escolas e as bibliotecas devem receber os leitores com o mundo que eles trazem, com as leituras que têm e, a partir daí, ampliar os horizontes, sugerir aprofundamentos. Se você opõe o best-seller à cultura culta, gera outra falsa dicotomia. Me parece muito mais interessante a convivência de cultura, a mestiçagem, as hibridações.
E, no caso das crianças, vale desafiá-las? 

Sim. Entre adultos, há uma falsa impressão de que a leitura infantil deveria ser simples e representar coisas próximas às crianças. Essa visão é equivocada e tem a ver com preconceitos e versões simplistas de teorias psicopedagógicas. O professor não pode agir assim. Ele precisa saber quem são seus leitores e pensar em didáticas mais profundas e flexíveis, em vez de simplesmente ignorar o tipo de leitura que, previamente, ele pode considerar inadequada.

O que é adequado?

Qualquer coisa. Desde que se considere o leitor como poderoso, potente. Não se pode esquecer, nunca, que a valorização dos leitores passa por colocar à disposição deles textos desafiantes, que comovem e colocam para funcionar a inteligência e o coração ao mesmo tempo. Quando se faz isso, fica clara a constatação: as crianças são ávidas leitoras de mundos estranhos, distantes e metafóricos, e se sentem muito agradecidas quando os adultos as tratam como gente que pode, que consegue. Todo pai e todo professor deveria ter isso em mente.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Leitura na aurora da globalização

Especialista em História da Literatura e ganhadora do Prêmio Jabuti, Márcia Abreu fala da popularização do livro no século XIX
Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro: coleção abordará trajeto internacional do livro no período oitocentista, com 37 estudiosos de vários países

Por Oscar D’Ambrosio

Pelo livro Impresso no Brasil: dois séculos de livros brasileiros, que organizou com Aníbal Bragança, Márcia Abreu recebeu o Prêmio Jabuti, o mais importante da área editorial brasileira, em 2011, na categoria Comunicação. Licenciada em Letras e doutora pela Unicamp em Teoria e História Literária, fez pós-doutorado em História Cultural na École des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris. Livre-docente em Literatura Brasileira pelo Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, coordena o projeto temático da Fapesp “A circulação transatlântica dos impressos – a globalização da cultura no século XIX”. O conteúdo do livro e o acervo histórico da Editora Unesp foram a base da exposição itinerante “Impresso no Brasil”, que percorre os Câmpus da Universidade, com painéis organizados pela Editora em comemoração aos seus 25 anos de existência. O início da jornada ocorreu em abril, no Instituto de Artes da Unesp, em São Paulo, com palestra de Márcia sobre a obra premiada.

 
Márcia: atenção ao romance

Jornal Unesp: Como foi a organização deste projeto que recebeu o Prêmio Jabuti?

Márcia Abreu: A ideia original era comemorar os 200 anos da primeira tipografia oficial instalada no Brasil, em 2008, mas tivemos alguns percalços na elaboração do livro, que saiu apenas em 2011, mas teve a honra de receber o Prêmio Jabuti. A organização foi muito complexa. São 40 autores de um livro dividido em duas partes: a primeira é sobre editores, tipógrafos, livreiros e instituições responsáveis pela divulgação do livro no Brasil; e a segunda, sobre os leitores. Esta segunda parte foi a mais desafiadora, pois é mais difícil ter informações sobre os leitores da época.

JU: Por quê?

Márcia: Geralmente, os editores e tipógrafos deixam registros, documentos, enquanto o leitor não deixa nada oficial sobre quem é e como lê. Nossas informações são baseadas nos comentários que os leitores fizeram no canto das páginas ou na margem dos livros. 

JU: Quais motivos levaram a senhora a se especializar em história da leitura?

Márcia: Ela associa duas paixões particulares: literatura e história. Trabalho, por exemplo, com os registros de censura. Pensa-se que esses registros só servem para vetar determinados textos e publicações, mas nem sempre foi assim. Os censores, nos séculos XVIII e XIX, eram pessoas que avaliavam a adequação das obras para a sociedade e escreviam longamente para aprovar os textos, inclusive para dizer que eram ótimos. Eram pareceres enviados para uma banca de homens cultos, que avaliavam e tomavam decisões sobre aquelas obras. Eu me especializei nas leituras que eles faziam sobre
os romances.

JU: Como era visto o romance nesses séculos?

Márcia: As escolas proibiam os romances, pois eram direcionados para o grande público, para as mulheres e para os jovens. Os homens sérios tinham que ler poesias. A grande literatura da época eram os poemas épicos como Os Lusíadas e Odisseia. Apenas no final do século XIX, os autores de romance conseguiram legitimar o gênero, argumentando que existiam obras difíceis e bem elaboradas, diferentes dos romances populares que apopulação consumia. Hoje, as escolas incentivam a leitura de romances, mas ainda existe uma resistência aos best-sellers, como a saga de Harry Potter. O aluno gosta daquilo, mas o professor quer que ele leia outros romances mais elaborados.

JU: Em que consiste o projeto “A circulação transatlântica dos impressos: a globalização da cultura no século XIX”, que a senhora coordena?

Márcia: A proposta é fazer uma história do livro no século XIX em escala internacional. Reunimos 37 pesquisadores num projeto com docentes de Inglaterra, Portugal, França e Brasil. Vamos pesquisar a interação literária entre essas nações.

JU: Como surgiu a sua aproximação com a Editora Unesp?

Márcia: Começou com a publicação pela Editora Unesp, principal editora acadêmica do país, de Cultura letrada, em 2006, livro que teve grande aceitação e sobre o qual ainda sou convidada a dar palestras. Impresso no Brasil, de 2011, foi muito bem divulgado e já teveuma grande repercussão entre os leitores, mesmo antes da premiação do Jabuti.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

E-books ajudam editoras a entender hábitos do leitor

O leitor típico leva apenas sete horas para ler o último livro da trilogia "Jogos Vorazes" no leitor digital Kobo — cerca de 57 páginas por hora. Quase 18.000 leitores que usaram o Kindle, da Amazon.com, marcaram a seguinte frase do segundo tomo da série de Suzanne Collins: "Porque, às vezes, acontecem coisas com as pessoas com as quais elas não estão preparadas para lidar". Já no Nook, o leitor digital da Barnes & Noble, a maior rede americana de livrarias, a primeira coisa que a maioria dos leitores faz ao terminar o primeiro volume da trilogia é baixar o segundo.

Antigamente, nem editora nem autor tinham como saber o que acontece quando um leitor senta para ler um livro. Desiste depois de três páginas? Ou termina o livro em uma sentada? A maioria pula a introdução? Ou a lê com interesse, sublinhando trechos e fazendo anotações nas margens?

Isso mudou. O livro eletrônico — o "e-book" — abriu uma janela para a história por trás das cifras de vendas, revelando não só quanta gente compra um determinado livro, mas com que intensidade a obra foi lida.

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Durante séculos, a leitura foi, basicamente, um ato solitário e privado, uma troca íntima entre o leitor e as palavras impressas no papel. Mas a popularização do livro digital provocou uma profunda mudança na modo como se lê, transformando a atividade em algo mensurável — e de caráter quase público.

Os principais nomes no setor de e-books — Amazon, Apple e Google — podem facilmente saber o quanto um leitor já avançou no livro, quanto tempo dedica à leitura e que palavras usou na pesquisa para encontrar a obra. Aplicativos de leitura para tablets como iPad, Kindle Fire e Nook registram quantas vezes o leitor abre o aplicativo e quanto tempo passa lendo. Varejistas, e certas editoras, começam agora a digerir esses dados, que renderão uma visão sem precedentes da relação do público com livros.

O meio editorial sempre perdeu para o resto da indústria de entretenimento na hora de determinar gostos e hábitos do consumidor. Na televisão, produtores testam incessantemente novos programas em grupos de discussão; estúdios de cinema submetem filmes a uma bateria de testes e alteram o produto final com base na reação do público. Já no mundo editorial, a satisfação do leitor até aqui era avaliada com dados de vendas e resenhas — o que dá uma medida "post mortem" do êxito, mas não ajuda a influenciar ou a prever o sucesso. Isso começa a mudar à medida que editoras e livreiros vasculham a montanha de dados a seu dispor e que mais firmas tecnológicas entram no negócio.

A Barnes & Noble, dona do leitor digital Nook e de 25% a 30% do mercado de livros eletrônicos nos Estados Unidos, começou há pouco a estudar os hábitos de leitura digital do público. Dados colhidos via Nook revelam, por exemplo, até onde o leitor chega em um determinado livro e qual a relação de leitores deste ou daquele gênero com o livro. Jim Hilt, diretor de e-books da empresa, diz que a Barnes & Noble já começa a dividir suas descobertas com editoras para ajudá-las a criar livros que prendam mais a atenção das pessoas.

Para a empresa, que busca uma fatia ainda maior do mercado eletrônico, há muito em jogo. No último ano fiscal, as vendas do Nook subiram 45% e a de livros digitais para o aparelho, 119%. No todo, a Barnes & Nobble faturou US$ 1,3 bilhão com Nooks e e-books, em comparação com US$ 880 milhões no ano anterior. A Microsoft há pouco pagou US$ 300 milhões por uma fatia de 17,6% do Nook.

Hilt, diz que a empresa ainda está "nos estágios iniciais de um profundo [processo] de análise" e está vasculhando "mais dados do que poderia usar". Mas toda essa informação — reunida por grupos de leitores, não individualmente — já rendeu dados úteis. Algumas simplesmente confirmam o que o varejo já sabia só de examinar listas de best-sellers. Um exemplo: quem usa o Nook para ler o primeiro livro de uma série infanto-juvenil popular como a "Divergente", da escritora Veronica Roth (que a Rocco lança no Brasil em novembro), tende a emendar a leitura de um tomo com a do seguinte, quase como se estivesse lendo um único romance.

Graças à análise de dados gerados pelo Nook, a Barnes & Noble já descobriu que se o livro é de não ficção a leitura tende a ser intermitente, que um romance costuma ser lido de uma só vez e que livros de não ficção tendem a ser abandonados antes. Fãs de ficção científica, romances populares e policiais costumam ler mais obras, e mais depressa, do que leitores de ficção literária.

São revelações que já estão influenciando o tipo de obra que a Barnes & Noble vende no Nook. Hilt diz que quando os dados mostraram que o leitor volta e meia não chega ao fim de longas obras de não ficção, a empresa buscou maneiras de envolver mais o leitor de não ficção e longos ensaios jornalísticos. Daí veio a ideia de lançar a coleção "Nook Snaps", com obras curtas sobre temas variados como religião e o movimento Ocupe Wall Street.

Saber exatamente em que ponto o leitor se cansa também poderia ajudar editoras a criar edições digitais com mais firulas — um vídeo, um link ou algum outro recurso multimídia, diz Hilt. Daria para saber, por exemplo, que o interesse em uma série de ficção está caindo se leitores que compraram e devoraram os dois primeiros volumes de repente perdem o pique para ler novos tomos da série, ou simplesmente desistam.

"A maior tendência que estamos tentando descobrir é em que ponto ocorre esse abandono com determinados tipos de livro e o que daria para fazer com as editoras para evitá-lo", explica Hilt. "Se pudermos ajudar escritores a criar livros ainda melhores do que hoje, todo mundo ganha".

Tem escritor que adora a ideia. O romancista Scott Turow diz que sempre achou frustrante a incapacidade do setor de estudar a base de clientes. "Quando reclamei a um dos meus editores que, depois de tanto tempo publicando, ele ainda não sabia quem comprava meus livros, ele respondeu: 'E aí? Ninguém no meio editorial sabe.'". Turow, que é presidente da associação dos escritores dos EUA, a Authors Guild, acrescenta: "Se der para saber que um livro é longo demais e que é preciso ser mais rigoroso no corte, eu, pessoalmente, adoraria ter essa informação".

Outros temem que esse apego a dados acabe impedindo o escritor de assumir o risco da criação — risco que produz a grande literatura. Um livro "pode ser excêntrico, do tamanho que tiver de ser e, nesse quesito, o leitor não devia meter o bedelho", diz Jonathan Galassi, diretor de operações da editora Farrar, Straus & Giroux. "Não vamos encurtar 'Guerra e Paz' só porque alguém não conseguiu chegar ao fim".

A Amazon, em particular, tem uma vantagem na arena: por ser, ao mesmo tempo, varejista e editora, tem condições únicas de usar dados que coleta sobre os hábitos de leitura de clientes. Não é segredo que a Amazon e outras lojas de livros digitais coletam e guardam informações sobre o consumidor — que livros comprou, que livros leu. Usuários do Kindle assinam um termo que autoriza a empresa a armazenar dados gerados pelo aparelho — incluindo a última página lida pelo usuário, além de seus marcadores, observações e anotações — em servidores da empresa.

A Amazon consegue saber que trechos de livros digitais são populares com o público leitor — e exibe parte dessa informação publicamente em seu site.

"Vemos isso como a inteligência coletiva de todas as pessoas que leem pelo Kindle", diz Kinley Pearsall, porta-voz da Amazon. 

Certos defensores da privacidade acham que quem lê um livro eletrônico devia ter a garantia de que seus hábitos de leitura digitais não serão registrados. "Há um ideal na sociedade de que o que alguém lê não é da conta de ninguém", diz Cindy Cohn, diretora jurídica da Electronic Frontier Foundation, uma ONG que defende direitos e a privacidade do consumidor. "Hoje, não há nenhuma maneira de dizer à Amazon que eu quero comprar um livro [no site], mas não quero que xeretem o que estou lendo".

A Amazon não quis comentar a análise e o uso que faz de dados coletados via Kindle.

A migração para o livro digital deflagrou uma verdadeira corrida entre novas empresas de tecnologia interessadas em faturar com a montanha de dados reunida por leitores digitais e aplicativos de leitura. A Kobo, que fabrica leitores, tem um serviço que armazena 2,5 milhões de livros e conta com mais de oito milhões de usuários, verifica quantas horas os leitores dedicam a este ou àquele título e até onde avançam na leitura.

Certas editoras já estão começando a testar digitalmente livros antes de lançar a versão impressa. Mas poucas foram tão longe quanto a Coliloquy. A editora digital, que vende pelo Kindle, pelo Nook e em leitores com sistema Android, tem um formato — o "escolha sua própria aventura" — que permite ao leitor alterar personagens e tramas. Engenheiros da empresa consolidam os dados obtidos de seleções feitas por leitores e mandam o resultado para o autor, que pode ajustar a trama dos próximos livros para refletir a opinião do público.

"Queríamos criar um mecanismo de feedback que até então não existia entre escritor e leitor", diz Waynn Lue, engenheiro da computação que é um dos fundadores da Coliloquy.