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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O Espelho da Tia Margarida

"O Espelho da Tia Margarida", de Walter Scott (Quidnovi - Biblioteca de Verão JN)

Sinopse:
Poucos escritores gozaram de tão elevada reputação como o escocês Sir Walter Scott (1771-1832). Em seu tempo de vida e quase um século após a sua morte, Scott não foi apenas um escritor muito popular — aclamado como poeta e frequentemente considerado como o maior romancista da sua língua — mas uma verdadeira força cultural. Os seus romances Escocêses, principalmente Rob Roy, contribuíram em definitivo para resgatar um país à fraca auto-estima que adquirira após a rebelião de 1745 e torná-lo, uma vez mais, respeitável e romântico.
A sua descrição de paisagens e ruínas e o uso da História contribuíram em muito para moldar o romantismo inglês e criar o arquétipo vitoriano do cavaleiro medieval — exemplo de conduta para todos os cavalheiros oitocentistas — que ainda hoje perdura a nível popular.
São todas estas características que encontramos em O Espelho da Tia Margarida, um conto que hoje classificaríamos de gótico e que, numa mescla de factos históricos e descrição de ambientes, nos dá a conhecer a história de duas irmãs, Lady Forester e Lady Bothwell que consultam o misterioso Dr. Damiotti e o seu espelho sobrenatural. O resultado da consulta é surpreendente e aterrador…


Opinião:
Este livro é, possivelmente, um dos piores livros que li este ano. Dividido em dois contos, duas histórias diferentes, o autor escolheu uma forma de as contar que não me agradou de forma alguma.

A primeira história, "O Espelho da Tia Margarida", surpreendentemente, pouco tem a ver com o Espelho da dita Tia. O enredo em si (o central) é até interessante e seria uma boa ideia se tivesse sido escrita de outra forma.
O meu maior problema com este conto (e algo semelhante acontece com o outro) é que nas primeiras páginas somos apresentados ao sobrinho, ficamos a saber que a família está com problemas financeiros e que as terras em volta vão ser destruídas para construir prédios e casas. Tomamos conhecimento do quanto ele gosta da tia, que tomou conta dele desde bebé e depois finalmente conhecemos a senhora. E o leitor pensa, ok, vamos conhecer uma história sobre estes dois, que tenha algo a ver com as terras da família. Pensamos, mas pensamos mal!
A tia decide então contar-nos a história de alguém que viveu há muito tempo (possivelmente alguém da sua família) que, por sua vez, conta a história de outra pessoa, a sua irmã, e o seu marido.
Já perceberam o meu problema. A história central é sobre um antepassado da Tia Maragrida, que não tem nenhuma consequência na vida da Tia e muito menos do sobrinho. ou seja ambos eram completamente desnecessários à trama. Porque, então, estão eles logo no início da história, com tanto detalhe? Não. Faço. Ideia.
A real história do conto até é marginalmente interessante, mas está quase completamente exposta em diálogos. Ou seja, em vez de narrar, sabemos de tudo pelas falas das personagens, saltando de uma para a outra. O que é horrível!

A segunda história, "Um Drama na Montanha" segue o mesmo padrão, ou seja, o leitor está a ler a entrada do diário de uma Mrs. Bethune Beliolque algures na sua vida fez uma viagem em que o seu motorista lhe contou a história de Elspat. E, sim adivinharam, aqui a história central é a da Elspat e o resto é treta! Nem a Mrs Bethune nem o seu carroceiro (motorista da carroça, não sei se o termo se aplica) tem a menor influência na história.
Ainda assim, o enredo é mais interessante que o do primeiro conto. Tem mais significado, melhor caracterização das personagens e muitos factos culturais interessantes. Infelizmente também neste se mantêm a exposição por diálogo e as repetições de ideias são uma constante que irrita e torna o conto maçudo. 

A caracterização é praticamente inexistente, tanto no primeiro, como no segundo conto (se bem que no primeiro é pior).
A escrita do autor poderia ser interessante, se ele não perdesse tempo no início a apresentar-nos personagens e situações que não têm qualquer funcionalidade narrativa, enganando o leitor. O facto de usar diálogos como alternativa à narrativa é também um problema e o autor gosta de dar sermões, tanto em forma de diálogo como das poucas vezes que usa a narração. Isto fez com que uma história que pudesse ser contada em 5 páginas ocupasse 20, e uma que pudesse caber em 15 ocupasse 40.

Uma nota final para ambos os títulos que são ... permitam-me dizer: ridículos. Nenhum tem muito a ver com a história e o primeiro, em particular, é absolutamente enganador.

Em suma, um livro pequeno que me aborreceu, me irritou e não me deu qualquer vontade de ler mais nada deste autor. Um conto não deve, a meu ver, apresentar tão pormenorizadamente pessoas e situações que nada terão a ver com a história central. um conto deve ser focado. E sinceramente, acho que o estilo do autor nem num romance funcionaria. Não faz sentido apresentar o sobrinho, a tia, a terra em que vivem, se depois o que vamos contar é algo completamente diferente com outras personagens.
Um pequeno livro decepcionante em todos os aspectos.

Tradução (Maria Dias), Capa, Design e Edição:
A tradução, apesar de na maioria dos casos estar suficientemente eficaz, tinha um GRANDE problema: as vírgulas. A tradutora não sabia usar vírgulas! Era horrível.
Outro problema era os erros de teclado, quando temos letras trocadas no meio de uma palavra. Vi muitos, muitos mesmo!
A capa, convenhamos, nada tem a ver com nenhum dos contos. pensaram "Espelho (da tia)" e arranjaram uma imagem qualquer. Algumas pessoas, já vi, queixam-se da qualidade desta edição mas eu pessoalmente não tenho nada a dizer. Paguei 1€ por um livro cujas páginas são aceitáveis e que não se desfez todo quando o abri. Urrah!

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