"Lock In", de John Scalzi (ainda não publicado em Portugal)
Comecei a ler este livro praticamente sem saber dele, excepto que tinha lido a premissa há uns meses e me tinha parecido interessante, e também que na imprensa se falava bem dele.
Lock In passa-se uns bons anos após uma doença chamada Síndrome de Hayden ter matado milhares de pessoas enquanto outras vítimas permaneceram vivas mas impedidas de operar os seus corpos. Ou seja, os seus cérebros continuam activos mas não se conseguem movimentar ou ser auto-suficientes. Os avanços científicos permitem a estas pessoas andarem no mundo real através do uso de uma espécie de robots (thrips) ou através dos Integradores (Integrators) que são pessoas que também contraíram o Síndrome de Hayden mas que não ficaram em
Lock In e que conseguem deixar entrar Haydens na sua mente através de software e hardware instalados nos seus cérebros.
A história começa no primeiro dia de trabalho de Shane, no FBI, com a investigação de um crime que envolve um Integrador, e o que parece ser um caso simples acaba por ser bem mais complexo e com ramificações em toda a comunidade Hayden.
Ora o conceito está excelente e o autor explora-o muito bem e a um ritmo fácil de seguir. A princípio achei que o autor estava a arriscar demasiado porque atira o leitor para aquele mundo futuro sem grandes bases de compreensão, mas a forma como decidiu ir explorando a sociedade futura, aos poucos, funcionou bem melhor do que se tivesse debitado a informação toda logo no início. Isso teria sido bem aborrecido. Assim o leitor vai percebendo as coisas lentamente e realmente não existem grandes momentos em que a dúvida seja mais persistente que a curiosidade por ler mais.
Este mundo futuro está bem construído e é bastante plausível. Gostei especialmente de o facto de as pessoas que vivem em
Lock In começarem a considerar que não precisam do mundo físico para nada (por mais contraditório que isto seja, visto que eles existem no virtual apenas se os seus corpos terrenos sobreviverem).
O protagonista, Shane é uma personagem de quem é fácil de se gostar, embora não seja um daqueles protagonistas que marca. Mais única foi a sua parceira, Van, que era um pouco maluca mas ao menos sempre se destacava. O Shane era um pouco perfeitinho de mais e uma coisa que estranhei bastante foi o facto de, apesar de ser a sua primeira semana no trabalho, ele ser quem fazia quase tudo. A Van estava lá a fazer o quê, afinal? (Além de ser diferente, quero eu dizer) E o mesmo pode ser dito de todas as pessoas que se cruzavam no caminho do Shane, pois todos acabavam por ter um papel nesta intrincada situação. Muito conveniente.
Mas eu já estou a pensar demasiado, pois a verdade é que Lock In me manteve agarrada à história do princípio ao fim.
O mistério desenrola-se aos poucos e é muito interessante, especialmente no meio, no entanto o final desiludiu-me um pouco; achei que o desfecho foi fácil de mais, que houveram complicações a menos naqueles últimos dois capítulos. Tanta coisa podia ter corrido mal e teria sido mais interessantes se pelo menos uma delas tivesse. Faltou-lhe brilho, ou melhor … Fogo!
Como já referi, custou-me um pouco a entrar na história mas foi coisa que durou pouco tempo. Logo, logo estava embrenhada e curiosa por saber mais deste mundo futurista. E isso deve-se em grande parte à prosa do autor. Certamente que ficarei atenta a mais trabalhos do autor, que soube conduzir esta história de mistério com a dose certa de ficção científica. Apenas gostava que tivesse dedicado um pouco mais de tempo a tornar as personagens ainda mais especiais.
Em suma,
Lock In, que escutei em versão audiolivro, foi uma boa surpresa. Um livro que me manteve agarrada e cujo fim, apesar de um pouco abaixo das minhas expectativas, não deixou de ser bem encaixado na história. Gostei e recomendo.
Bónus: Wil Wheaton foi quem narrou o audiolivro. Conhecem?
Bónus 2: O audiolivro vinha com um extra que não sei se faz parte do livro original: chama-se “Unlocked: An Oral History of Haden's Syndrome” e é bastante curioso, especialmente por ser lido depois do livro em si, apesar de narrar acontecimentos anteriores à trama do livro. Gostei deste extra!
Sinopse (em inglês):
A blazingly inventive near-future thriller from the best-selling, Hugo Award-winning John Scalzi.
Not
too long from today, a new, highly contagious virus makes its way
across the globe. Most who get sick experience nothing worse than flu,
fever, and headaches. But for the unlucky one percent - and nearly five
million souls in the United States alone - the disease causes "Lock In":
Victims fully awake and aware, but unable to move or respond to
stimulus. The disease affects young, old, rich, poor, people of every
color and creed. The world changes to meet the challenge.
A
quarter of a century later, in a world shaped by what’s now known as
"Haden’s syndrome", rookie FBI agent Chris Shane is paired with veteran
agent Leslie Vann. The two of them are assigned what appears to be a
Haden-related murder at the Watergate Hotel, with a suspect who is an
"integrator" - someone who can let the locked in borrow their bodies for
a time. If the Integrator was carrying a Haden client, then naming the
suspect for the murder becomes that much more complicated.
But
"complicated" doesn’t begin to describe it. As Shane and Vann began to
unravel the threads of the murder, it becomes clear that the real
mystery - and the real crime - is bigger than anyone could have
imagined.