"Lisboa no Ano 2000 - Uma antologia assombrosa sobre uma cidade que nunca existiu", organizada por João Barreiros, com contos de A.M.P. Rodriguez, Ana C. Nunes, Carlos Silva, Guilherme Trindade, João Ventura, Joel Puga, Jorge Palinhos , Michael Silva, Pedro Afonso, Pedro G.P. Martins, Pedro Vicente Pedroso, Ricardo Correia, Ricardo Cruz Ortigão, Telmo Marçal.
Sinopse:
Bem-vindos à maior cidade
da Europa livre, bem longe do opressivo império germânico. Deslumbrem-se
com a mais famosa das jóias do Ocidente! A cidade estende-se a perder
de vista. O ar vibra com a melodia incansável da electricidade.
Deixem-se
fascinar por este lugar único, onde as luzes nunca se apagam, seja de
noite, seja de dia. aqui a energia eléctrica chega a todos os lares
providenciada pelas fabulosas Torres Tesla.
Nuvens de zepelins
sobem e descem com as carapaças a brilhar ao sol. Monocarris zumbem por
todo o lado a incríveis velocidades de mais de cem quilómetros à hora. O
ar freme com o estímulo revigorante da electricidade residual.
Bem-vindos ao século XX!
Lisboa no Ano 2000 recria uma Lisboa que nunca existiu. Uma Lisboa tal como era imaginada, há cem anos.
Opinião:
Demorei o meu rico tempo a ler a antologia da qual também faz parte um conto meu, mas deixem-me explicar-vos porquê: a antologia é bastante volumosa e eu decidi ler espaçadamente os contos, entre outras leituras. Podia tê-la lido toda de uma vez, mas não quis. E agora finalmente terminei.
Lisboa no Ano 2000 é um reinventar da capital portuguesa, como esta teria sido imaginada pelos autores do final do século XIX (com a monarquia ainda no poder e a electricidade como fonte de energia única). João Barreiros deu as regras e os outros autores exploraram os seus limites.
Fiquei agradavelmente surpreendida com alguns dos contos. Tive a oportunidade de conhecer, pessoalmente, quase todos os escritores (ou mesmo todos, se não estou em erro) e a grande maioria das histórias da antologia estão muito boas. Todas muito imaginativas.
Como em quase todas as antologias, existem uns contos que gosto mais que outros; os meus favoritos foram: "Dedos", A.M.P. Rodriguez; "Energia das Almas", João Ventura; "A Rainha", Pedro Vicente Pedroso; "Taxidermia", Guilherme Trindade; "Ex-Machina", Michael Silva; "Chamem-nos Legião", João Barreiros.
Podem ver as opiniões individuais nos posts que fiz para cada um dos contos:
"O Turno da Noite", João Barreiros- opinião (na Bang! 10)
"Venha a Mim o Nosso Reino", Ricardo Correia - opinião
"Os Filhos do Fogo", Jorge Palhinhos - opinião
"Dedos", A.M.P. Rodriguez - opinião
"As Duas Caras de António", Carlos Eduardo Silva - opinião
"Electro-dependência", Ana C. Nunes (o meu conto)
"Nanoamour", Ricardo Cruz Ortigão - opinião
"Energia das Almas", João Ventura - opinião
"Fuga", Joel Puga - opinião
"Tratado das Paixões Mecânicas", João Barreiros - opinião
"O Obus de Newton", Telmo Marçal - opinião
"Ex-Machina", Michael Silva - opinião
"A Rainha", Pedro Vicente Pedroso - opinião
"Taxidermia", Guilherme Trindade - opinião
"Quem Semeia no Tejo", Pedro G.P. Martins - opinião
"Coincidências", Pedro Afonso - opinião
"Chamem-nos Legião", João Barreiros - opinião
Em suma, Lisboa no Ano 2000 é uma antologia surpreendente, cheia de histórias imaginativas. Uns contos agradaram-me mais que outros, como sempre acontece, mas recomendo vivamente. E, claro que, esta opinião é independente da minha participação na mesma.
Já agora, se leram ou lerem a antologia, agradecia que deixassem comentários a dizer o que acharam dela num todo e também do meu conto. :)
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quarta-feira, 6 de agosto de 2014
domingo, 15 de junho de 2014
Na Sombra das Palavras - divulgação
Título: Na sombra das palavras
Autores: Ângelo Teodoro | David Camarinha | Fábio Ventura | João Ventura | Mário Seabra
Disponível a partir de: 5 de Julho de 2014
36 páginas | Versão em papel e digital
Sinopse
“Na Sombra das Palavras” reúne cinco contos de autores portugueses, combinando thriller e fantástico em histórias de amor, memórias esquecidas e encontros com a Morte e Deus. As palavras transportam o leitor para labirintos, panópticos, livrarias e memórias longínquas. Com contos da autoria de Ângelo Teodoro, David Camarinha, Fábio Ventura, João Ventura e Mário Seabra.
Sobre os autores
Ângelo Teodoro nasceu em Torres Vedras, no ano de 1978. Licenciou-se em Psicologia, na área de clínica. Direccionou o seu percurso profissional para a área de formação e educação e coordenação de projectos de desenvolvimento local.
David Camarinha, nascido em 1986 em Vila Nova de Gaia, vive ainda na sua casa de infância, acompanhado dos quatro gatos e a cadela Luna. Licenciou-se em História no Porto e está a finalizar o Mestrado em Marketing em Aveiro. Prefere a leitura à escrita.
Fábio Ventura nasceu em 1986 em Portimão, onde vive e trabalha como livreiro. É autor dos livros “Orbias-As Guerreiras da Deusa” e “Orbias-O Demónio Branco”.
João Ventura gosta de escrever microcontos, mas às vezes saem-lhe estórias um pouco maiores... O que tem escrito está na Web e em algumas antologias...
O seu terreno preferido é a área do fantástico, mas não se preocupa muito com rótulos.
Mário Coelho tem 23 anos, grande parte deles passados a rabiscar ideias em papel ou a martelá-las no teclado. Escapuliu-se por um portão e hoje dá sinal de vida em Coimbra, no mestrado de Tradução. Nos tempos livres gosta de se arrepender dessa decisão e de escrever romances em que bebés morrem.
Mais informações no site da Editorial Divergência
domingo, 1 de junho de 2014
::Conto:: Energia das Almas
"Energia das Almas", João Ventura (incluído na antologia "Lisboa no Ano 2000")
Opinião:
Esta é uma excelente história, escrita de forma brilhante! Adorei o pormenor da escrita das palavras como antigamente (exemplo: Paíz, em vez de País). Só achei que o final não foi tão bom como o resto, mas não deixou de ser bombástico!
Opinião:
Esta é uma excelente história, escrita de forma brilhante! Adorei o pormenor da escrita das palavras como antigamente (exemplo: Paíz, em vez de País). Só achei que o final não foi tão bom como o resto, mas não deixou de ser bombástico!
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
Antologia de Ficção Científica Fantasporto
"Antologia de Ficção Científica Fantasporto", organizado por Rogério ribeiro, com contos de Afonso Cruz, Bruno Martins Soares, Isabel Cristina Pires, António Carloto, Madalena Santos, João Ventura, José Cardoso , Luís Roberto Amabile, João Leal, António de Macedo, Manuel Alves, João Paulo Vaz, Telmo Marçal, Beatriz Pacheco Pereira, Rodrigo Silva, Filipe Homem Fonseca, Ágata Ramos Simões (Edições 1001 Mundos)
Sinopse:
O Fantástico nasce da mente e imaginação humanas e encontra campo fértil de expressão nas mais diversas formas artísticas. Tem sido esse o espírito do "Fantasporto", e foi aqui objectivo da 1001 Mundos trazê-lo para a literatura. Esta antologia nasce fruto dessa colaboração, e do trabalho do organizador, Rogério Ribeiro.
Esperamos que apreciem estes momentos de um tempo que ainda não é - ou que nunca foi - e que saíram da imaginação de autores de três continentes, mas com um forte elo que os une - a Língua Portuguesa.
Opinião:
Vou começar por falar dos contos, um a um, e no final farei um apanhado geral.
"O tempo tudo cura menos velhice e loucura", de António de Macedo
Um conceito engraçado com um bom desfecho, mas cuja execução deixou algo a desejar. Não entrei verdadeiramente na história e os 'factos' científicos que deveraim ter sido divertidos (entendi-os como uma sátira) foram um pouco aborrecidos. Já para não falar que a explicação do que aconteceu deixou muito a desejar.
"A inimaginável materialização de Samira", de João Paulo Vaz
Mais um excelente conceito que poderia ter dado um excelente conto, mas que se ficou apenas pelo mediano. O autor usou muito o 'contar' e pouco o 'mostrar'. Ou seja, relatou-nos os eventos de forma algo monótona, em vez de criar situações em que o leitor percepcioansse a mensagem sem ser por forma de relato.
"O Robot Auris", de Beatriz Pacheco Pereira
Uma história simples, que por momentos pareceu prestes a voltar para um lado completamente diferente, e que no fim me surpreendeu. gostei muito pelo seu tom sereno e pela caracterização, não só do Auris, como das crianças e dos seus pais.
"O Festival", de Filipe Homem Fonseca
Um conto com uma história interessante, com momentos muito bons e uma ideia base genial, mas que em certos momentos se perdeu e com isso esvaiu força. Se em certas cenas o autor nos mostrava como as personagens reagem, em outras apenas nos dizia, sem que o leitor criasse a empatia necessária. Mesmo assim foi uma boa história.
"Virgílio Bentley e o extra-terrestre", de Ágata (Ramos) Simões
Foi bom rever o Sr. Bentley e ri-me muitas vezes com este conto. O humor de Ágata Ramos Simões mantêm-se intacto (e como qualquer humor, não será do agrado de todos). O único problema do conto foi a falta de pormenores sobre o ET, a sua nave e o seu modo de comunicação. Os que havia pareceram insuficientes.
"As mãos e as veias", de Afonso Cruz
Se ao principio estranhei este conto, escrito em forma de peça de teatro, assim que o 'mistério' se desenrolou, tudo ficou diferente. Apesar de eu achar que um pouco mais de descrição seria agradável, pois até mesmo as peças de teatro descrevem dos movimentos e expressões, este foi um conto que me surpreendeu e agradou.
"Tsubaki", de Bruno Martins Soares
Com um início interessante e misterioso, esta história perde-se em tempos verbais desconexos, pontuação mal-conseguida (ao ponto de me irritar muito, apesar de em certos momentos me parecer que era propositada era tão errática que foi impossível perceber se o era ou não). A resolução não ajudou. A violência não fazia sentido algum no contexto da personagem que o autor nos mostrou antes (*SPOILER* se não matou o homem com quem entrou em duelo, porque o faria com o outro estranho? *Fim de SPOILER*).
Enfim, um conto decepcionante, apesar de ter potencial.
"Uma alforreca no quintal", de António Carloto
Apesar de ter gostado do tom do conto e da sua história simples mas significativa, fiquei decepcionada com a sua simplicidade e falta de explicações. Esperava mais do conto vencedor.
"Fogo!", de João Ventura
Um conceito excelente e uma execução inteligente. O final foi muito bom. Gostei muito do ritmo da história e da prosa, mas em certos momentos as explicações pareceram-me extensas de mais.
"O Cão", de Isabel Cristina Pires
Apesar de ter gostado da reviravolta final, a história não me cativou muito por se manter tão distante. o leitor não entra realmente na história. Se fosse experimentado de outra forma, seria ainda melhor, mas gostei.
"O mistério dos Uivos", de Madalena Santos
Confesso que estive quase, quase, para desistir de ler este conto, mas fui até ao fim. A ideia que fica é que a autora sabia tanto, queria mostrar tanto, que debitou informação como se não houvesse amanhã. Perdi-me, literalmente, na narrativa e só quase no fim consegui perceber afinal qual era o propósito do conto. As duas primeiras partes foram as piores e as mais dispensáveis. Não consegui sentir empatia pelas personagens e irritou-me bastante o facto de estas serem sempre narradas como "Técnica de Manutenção" ou "Bellvis Montesano", ou pior ainda "Técnica de Manutenção Bellvis Montesano" (nunca só um nome, só uma designação). Isto vezes sem conta.
Gostei da comunidade que foi introduzida, dos conceitos e até da ideia central do conto, mas achei-o mal executado, enfadonho e muito disperso.
"Expedição ao Futuro", de José Cardoso
Com uma boa linguagem e algumas cenas bem conseguidas, este conto pareceu-me demasiado disperso, o que tornou difícil a sua apreciação. Não consegui fazer grande sentido da história e achei que podia bem ter sido poupado a algumas divagações.
"Déjà-vu", de Luís Roberto Amabile
Nada nesta história se sobressai e achei que tinha muito pouco de ficção científica. Além de que não foram dadas explicações nenhumas para nada do (pouco) que aconteceu.
"Acordar o Profeta", de João Leal
Uma história que soube agarrar o leitor do início ao fim. Gostei da prosa, do desenvolvimento da ideia e da acção. Um bom conto com o compasso certo e fundações bem vinculadas.
"Zé", de Manuel Alves
Um dos meus favoritos da antologia. Apesar de sentir falta de maiores explicações (sobre o que é ZÊ e o que é o professor), o desenrolar das cenas está muito bem conseguido, a prosa está excelente e fica a vontade de ler uma continuação (embora esta não seja obrigatória, pois o conto é autónomo). Uma agradável surpresa.
"As Moças do Campo", de Telmo Marçal
No início este conto não me cativou, mas à medida que a história avançava, fui gostando mais e mais. O final, para mim, não foi dos melhores. Achei a resolução um pouco mal-executada, mas no geral o conto é um curioso. No entanto o que me deixou mais decepcionada foi o facto de este conto, praticamente, nem ser muito FC (a ficção científica é muito ténue, não que isso seja necessariamente mau, mas neste caso sentiu-se falta de algo mais).
"A besta-fera", de Rodrigo Silva
Conceito interessante, início bom, mas péssimo desenvolvimento. Muito apressado e sem nada que o mantenha na memória
Em suma, esta antologia pecou um pouco em termos de qualidade e diversidade. Vários temas se repetiram e isso nem teria sido muito problemático se os enredos fossem verdadeiramente originais e interessantes, bem explorados e na dose certa. Infelizmente, muitos dos contos não o fizeram.
Apesar de ter gostado de alguns contos, não adorei nenhum e isso é raro acontecer-me em antologias (há sempre ou que se destacam e são diferentes de leitor para leitor).
Esperava mais, confesso, mas não é um livro mau, apenas mediano.
Capa, Design e Edição:
Gosto muito da capa. O conceito em si é genérico, mas as cores e os efeitos estão muito bonitos e tornam-no num trabalho chamativo.
Em matéria de edição, não percebi a disposição dos contos na antologia. Não estavam por ordem alfabética dos autores, nem por ordem de prémios, nem sequer por temas.
Apesar de ter discernido alguns erros na edição, não foi nada de muito relevante a em termos de edição acho que fizeram um bom trabalho. Já ao nível da coordenação e escolha dos contos, embora saiba que depende muito do gosto pessoal do organizador, confesso que a antologia não me conquistou por completo.
Em termos de design, achei que podiam ter feito algo mais único, alusivo ao tema. Está eficiente, mas por isso mesmo não se destaca. Também achei que fazia falta, no início dos capítulos do vencedor do concurso e das menções honrosas, uma menção desse facto.
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segunda-feira, 17 de setembro de 2012
Fénix 1
"Fénix, nº1", fanzine
Esta fanzine é dedicada à divulgação da Fantasia, Ficção Científica e do Horror, constituída por contos e artigos de variados autores portugueses.
Este número foi organizado pelo Roberto Mendes e a belíssima capa é da autoria de Hauke Vagt (um ilustrador de origem alemã a viver em Lisboa).
Opinião:
"O Navio de Teseus", de Carlos Silva
Uma excelente ideia, bem executada. Um bom conto,cuja única falha me pareceu ser nos (poucos) diálogos. Mas vale a pena.
"Natal em Little Town", de João Ventura
Gostei do conceito deste conto, no entanto achei que o final não foi tão bem entregue como poderia ter sido e caiu um pouco do nada.
Romeu de Melo e a Ficção Científica, artigo de Álvaro de Sousa Holstein
A amizade e respeito que Álvaro Sousa Holstein tem por Romeu de Melo transparece neste texto- confesso que desconhecia o autor e fiquei muito curiosa por descobrir trabalhos deste senhor que infelizmente já cá não se encontra.
"O Factor Genético", de Romeu de Melo
Apesar de este conto ter sido publicado pela primeira vez em 1978, permanece bastante actual, o que de certo modo chega a ser assustador, se pensarmos bem nisso. O conceito está brilhante: uma raça de extra-terrestres que estuda os poucos terrestres sobreviventes e que avaliam como estes se auto-destruíram.
No entanto confesso que o facto de toda a informação nos ser dada através de diálogos extensos e explicativos, tirou um pouco de energia à história. Mesmo assim, é um bom conto e fiquei com vontade de ler mais deste autor.
"Floresta de Homens", de Valter Marques
O conto começa um pouco fraco, mas tal acontece para estabelecer as personagens e por isso não se incia mal. O autor consegue desenvolver bem as personagens e até o cenário o que cria um conto rico e cujo final adorei. Sem dúvida o meu favorito da fanzine.
Entrevista a José Manuel Morais
É sempre interessante ler entrevistas com autores portugueses, especialmente aqueles já um pouco esquecidos pelo tempo e quando o entrevistador os conhece bem. Concordando ou não com algumas das coisas ditas, vale a pena ler.
No geral este foi mais um bom número desta fanzine, com contos interessantes e diversificados, e alguns artigos curiosos. Apesar de alguns erros ortográficos que não incomodaram muito, a fanzine está bem organizada. Só gostaria também de ter visto um pequeno artigo sobre o artista da capa (temos alguma informação básica mas sabe a pouco).
Fica a vontade de ver mais números da Fénix em breve.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Brinca Comigo!
"Brinca Comigo! (e outras estórias fantásticas com brinquedos)" de João Barreiros, David Soares, João Ventura, Luís Filipe Silva (Escrit'orio Editora)
Sinopse:
Quatro histórias fantásticas com brinquedos, forjadas na imaginação de quatros dos mais conceituados e inventivos escritores do género em Portugal. João Barreiros, David Soares, Luís Filipe Silva e João Ventura, aceitaram o desafio da Escrit’orio e surpreendem-nos com excelentes contos, repletos de originalidade e imaginação, subvertendo completamente o pendor cândido normalmente presente na abordagens clássicas à temática dos brinquedos!
Opinião (por conto):
"Brinca Comigo!", de João Barreiros
O conto que deu nome à antologia, narra a história de uma horda de brinquedos, num mundo dizimado por uma praga, em que as únicas coisas 'vivas', são as electrónicas, que ainda consigam recarregar baterias e substituir peças danificadas.
Este conto foi uma surpresa muito agradável. Denso, simbólico, e muito bem pensado. Nenhum detalhe foi deixado ao acaso e tudo tinha uma ordem, uma intenção e um significado. A lógica vasta, e ao mesmo tempo limitada, da horda, pareceu tão verosímil que nos esquecemos que estamos perante um exército de brinquedos.
E o final foi perfeito!
"Um erro do sol", de David Soares
O conto daquele que é considerado o maior (e possivelmente único) escritor vivo português do horror, narra a história de um homem, dono de uma marca de brinquedos que não tem grande sucesso. Ele descobre, num acaso, um brinquedo cuja tecnologia (ou falta dela) o maravilha. Decidido a encontrar o artesão por trás dessa criação, ele viaja, com a família, para uma pequena ilha deserta, chamada de "Garganta".
Há muitos problemas quando temos expectativas em relação a algo, e, depois de ouvir tantos louvores, tanto alarido em volta do trabalho do David Soares, não pude deixar de as ter.
Para começar, já sabia que seria um conto de terror, suspeita que se confirmou lá para o meio da narrativa, mas foi também exactamente aí que a história caiu na banalidade e previsibilidade.
Se o início era medianamente interessante e deixava espaço para algo de diferente, a partir do momento em que a família pousou os pés na ilha, tudo se tornou monótono e de um gosto muito discutível. Sem querer dizer de mais, basta afigurar que o final não fez 'clique' e não houve explicação nenhuma para o facto de ela, supostamente, descobrir o que eles eram. Nada no que ela viu, ou ouviu, daria a entender a realidade daqueles seres, e por isso a percepção dela é despropositada. Já para não falar nas "focas", porque afinal ninguém ia notar que todas as pessoas que iam à Garganta, acabavam desaparecidas, certo?
Espero apenas que este seja um trabalho menor do autor., mas como não sou de julgar nenhum autor baseado num pequeno conto, pretendo ler uma das obras mais extensas dele antes de finalizar a minha opinião.
"Boneca", de João Ventura
Este pequeno conto (possivelmente o menos extenso) conta o percurso de uma boneca de voodu, através dos tempos e das gerações.
Sei que num conto, temos de ir directos ao assunto e não andar com rodeios, mas o autor resumiu tanto a trama, a acção e o mundo, que foi impossível sentir o que quer que fosse com este conto. Quando cheguei ao fim, limitei-me a pensar "Huh?!?".
Em primeiro, uma boneca de voodu, tanto quanto sei, não pode ser direccionada "aos tiranos", pois se ela colocou uma mecha de cabelos do rei no interior, então a boneca só poderia ferir o rei. Eu até entenderia se chegasse a matar os descendentes da realeza, mas os outros? Todos os tiranos? Não faz sentido! Senão para quê a mecha de cabelo?
A história foi contada num compasso apressado, desprovido de emoções. A passagem do tempo foi abrupta, a evolução das terras e dos territórios, assim como as civilizações, foram muito mal explicadas e apressadas.
Em suma, este foi um conto que pecou por não ter recheio, nem nada que o redimisse. Talvez se não tentasse fazer tanto e tão pouco, a coisa tivesse saído melhor, mas assim apenas ficou a sensação de que nada ocorreu da forma certa.
"Não é que ignoras o motivo da tua queda mas o que pensas saber", de Luís Filipe Silva
Este conto narra a história de uma criança, do (quase) fim do mundo, e das pequenas e grandes coisas que vão acontecendo à volta dele.
Gostei muito desta pequena história por várias razões. Pelo facto de mostrar, através dos olhos de uma criança, como o mundo reagiu a uma ameaça de extinção, mas mais que tudo, à vida familiar dele, que se começou a desmoronar muito antes dos utara aparecerem no céu.
A felicidade que ele encontrou nas pequenas coisas, mesmo quando o mundo parecia ruir à sua volta, e todas as pessoas que ele conheceu, especialmente o irmão, e que o marcou da mesma forma que ele marcou o irmão. Aqui, o tema dos brinquedos é totalmente secundário, em detrimento do relacionamento de duas famílias, e quase de uma comunidade, que se une num momento de destruição.
Em suma, foi uma antologia que teve coesão de tema, mas não de qualidade narrativa, havendo dois contos que se elevaram acima dos outros (João Barreiros e Luís Filipe Silva).
Capa (Fotografia) de Pedro Vilela
Sinopse:
Quatro histórias fantásticas com brinquedos, forjadas na imaginação de quatros dos mais conceituados e inventivos escritores do género em Portugal. João Barreiros, David Soares, Luís Filipe Silva e João Ventura, aceitaram o desafio da Escrit’orio e surpreendem-nos com excelentes contos, repletos de originalidade e imaginação, subvertendo completamente o pendor cândido normalmente presente na abordagens clássicas à temática dos brinquedos!
Opinião (por conto):
"Brinca Comigo!", de João Barreiros
O conto que deu nome à antologia, narra a história de uma horda de brinquedos, num mundo dizimado por uma praga, em que as únicas coisas 'vivas', são as electrónicas, que ainda consigam recarregar baterias e substituir peças danificadas.
Este conto foi uma surpresa muito agradável. Denso, simbólico, e muito bem pensado. Nenhum detalhe foi deixado ao acaso e tudo tinha uma ordem, uma intenção e um significado. A lógica vasta, e ao mesmo tempo limitada, da horda, pareceu tão verosímil que nos esquecemos que estamos perante um exército de brinquedos.
E o final foi perfeito!
"Um erro do sol", de David Soares
O conto daquele que é considerado o maior (e possivelmente único) escritor vivo português do horror, narra a história de um homem, dono de uma marca de brinquedos que não tem grande sucesso. Ele descobre, num acaso, um brinquedo cuja tecnologia (ou falta dela) o maravilha. Decidido a encontrar o artesão por trás dessa criação, ele viaja, com a família, para uma pequena ilha deserta, chamada de "Garganta".
Há muitos problemas quando temos expectativas em relação a algo, e, depois de ouvir tantos louvores, tanto alarido em volta do trabalho do David Soares, não pude deixar de as ter.
Para começar, já sabia que seria um conto de terror, suspeita que se confirmou lá para o meio da narrativa, mas foi também exactamente aí que a história caiu na banalidade e previsibilidade.
Se o início era medianamente interessante e deixava espaço para algo de diferente, a partir do momento em que a família pousou os pés na ilha, tudo se tornou monótono e de um gosto muito discutível. Sem querer dizer de mais, basta afigurar que o final não fez 'clique' e não houve explicação nenhuma para o facto de ela, supostamente, descobrir o que eles eram. Nada no que ela viu, ou ouviu, daria a entender a realidade daqueles seres, e por isso a percepção dela é despropositada. Já para não falar nas "focas", porque afinal ninguém ia notar que todas as pessoas que iam à Garganta, acabavam desaparecidas, certo?
Espero apenas que este seja um trabalho menor do autor., mas como não sou de julgar nenhum autor baseado num pequeno conto, pretendo ler uma das obras mais extensas dele antes de finalizar a minha opinião.
"Boneca", de João Ventura
Este pequeno conto (possivelmente o menos extenso) conta o percurso de uma boneca de voodu, através dos tempos e das gerações.
Sei que num conto, temos de ir directos ao assunto e não andar com rodeios, mas o autor resumiu tanto a trama, a acção e o mundo, que foi impossível sentir o que quer que fosse com este conto. Quando cheguei ao fim, limitei-me a pensar "Huh?!?".
Em primeiro, uma boneca de voodu, tanto quanto sei, não pode ser direccionada "aos tiranos", pois se ela colocou uma mecha de cabelos do rei no interior, então a boneca só poderia ferir o rei. Eu até entenderia se chegasse a matar os descendentes da realeza, mas os outros? Todos os tiranos? Não faz sentido! Senão para quê a mecha de cabelo?
A história foi contada num compasso apressado, desprovido de emoções. A passagem do tempo foi abrupta, a evolução das terras e dos territórios, assim como as civilizações, foram muito mal explicadas e apressadas.
Em suma, este foi um conto que pecou por não ter recheio, nem nada que o redimisse. Talvez se não tentasse fazer tanto e tão pouco, a coisa tivesse saído melhor, mas assim apenas ficou a sensação de que nada ocorreu da forma certa.
"Não é que ignoras o motivo da tua queda mas o que pensas saber", de Luís Filipe Silva
Este conto narra a história de uma criança, do (quase) fim do mundo, e das pequenas e grandes coisas que vão acontecendo à volta dele.
Gostei muito desta pequena história por várias razões. Pelo facto de mostrar, através dos olhos de uma criança, como o mundo reagiu a uma ameaça de extinção, mas mais que tudo, à vida familiar dele, que se começou a desmoronar muito antes dos utara aparecerem no céu.
A felicidade que ele encontrou nas pequenas coisas, mesmo quando o mundo parecia ruir à sua volta, e todas as pessoas que ele conheceu, especialmente o irmão, e que o marcou da mesma forma que ele marcou o irmão. Aqui, o tema dos brinquedos é totalmente secundário, em detrimento do relacionamento de duas famílias, e quase de uma comunidade, que se une num momento de destruição.
Em suma, foi uma antologia que teve coesão de tema, mas não de qualidade narrativa, havendo dois contos que se elevaram acima dos outros (João Barreiros e Luís Filipe Silva).
Capa (Fotografia) de Pedro Vilela
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